Brasil deve manter presença na África apesar da crise, dizem embaixadores

Marcos Magalhães | 23/06/2016, 14h12

Apesar da crise econômica que o país atravessa, o Brasil deve manter a aproximação com a África, segundo dois embaixadores designados para postos naquele continente — Raul de Taunay para a República do Congo e José Carlos de Araújo Leitão para Cabo Verde. As indicações foram aprovadas nesta quinta-feira (23) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Na mesma reunião, também foi acolhida a indicação de João Inácio Oswald Padilha para a embaixada na República do Chipre.

Primeiro a expor seus planos aos senadores, Taunay anunciou que partiria com “doses elevadas de cautela” para Brazaville, capital da República do Congo, país que experimenta grande instabilidade política. Depois de mais uma reeleição neste ano do presidente Denis Sassou N’Guesso, no poder desde 1997, relatou o embaixador, o país tem sido tomado por muitas manifestações populares. A disputa política também tem-se aprofundado pela interferência de potências estrangeiras no país, quarto maior produtor de petróleo na África.

— A República do Congo vive momentos imprevisíveis de instabilidade. Vou precavido, mas com espírito de missão, humanitário e filantrópico. A região está sujeita a conflitos, e buscarei na precaução e na prudência garantir a segurança da comunidade brasileira residente e implementar uma agenda realista, pragmática e possível — disse Taunay, ao lembrar que empresas brasileiras atuam no Congo.

Custos

Após ouvir a exposição de Taunay, o senador Lasier Martins (PDT-RS) colocou em dúvida a necessidade de o Brasil enviar embaixador a Brazaville, capital de um país em guerra civil, com doenças, pobreza e falta de infraestrutura para atrair investimentos.

— O que o Congo tem a nos dar? Numa época em que o Brasil tem dificuldades econômicas, por que gastar com embaixadas em países que, no terreno pragmático, não têm nada a nos dar? Temos gastos imensos e aluguéis de embaixadas atrasados — questionou Lasier.

Ainda no debate, o senador João Alberto (PMDB-MA) recordou a “dívida do Brasil com a África”, enquanto Cristovam Buarque (PPS-DF) ressaltou a importância de manter as representações brasileiras no exterior, uma vez que o custo de mantê-las é menor, a seu ver, que o prestígio que garantem ao Brasil.

Benefícios

Em resposta, Taunay considerou “justa e válida” a discussão, mas informou que a embaixada em Brazaville é “barata” para o Brasil.

Atual embaixador em São Tomé e Príncipe e indicado para representar o Brasil em Cabo Verde, joão Carlos Leitão também defendeu a manutenção dos postos em países africanos. A embaixada em São Tomé, informou, foi a primeira de 19 embaixadas instaladas na África nos últimos anos. Depois dessa aproximação, foram eleitos candidatos brasileiros para comandar a Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) — respectivamente José Graziano da Silva e Roberto Azevêdo.

— O Brasil não teria o comando da FAO e da OMC sem o apoio africano — afirmou.

Cooperação

Em sua exposição, Leitão disse que Cabo Verde é “parceiro preferencial” do Brasil, tanto por falar a mesma língua como pelo fato de estar pronto para receber cooperação oriunda do que chamou de “ilhas de excelência” da administração brasileira. Um dos principais atores dessa cooperação, em sua opinião, é o Serviço Nacional da Indústria (Senai), que tem atuado na África e construiu um centro de capacitação profissional em Cabo Verde.

O embaixador indicado defendeu ainda maior presença no país da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), intenção elogiada pela senadora Ana Amélia (PP-RS).

Por sua vez, o embaixador designado Oswald Padilha informou que o Chipre, depois de passar por turbulências políticas nos últimos anos, em função da disputa entre a Grécia e a Turquia por influência no arquipélago, pode atualmente ser considerado um “país europeu em vias de retomar o ciclo de prosperidade”. Ele observou que o Chipre tem grandes reservas de gás e um setor portuário que poderia ter parcerias com portos brasileiros.

A reunião foi presidida pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)