Argentina e Brasil devem buscar novos mercados, defende embaixador

Marcos Magalhães | 16/06/2016, 13h10

A Argentina e o Brasil devem ser mais “agressivos” na busca de acordos de comércio com outras partes do mundo, disse nesta quinta-feira (16) o embaixador argentino em Brasília, Carlos Alfredo Magariños. Em audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), a pedido do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), o embaixador defendeu a rápida resolução de conflitos bilaterais e a elaboração de uma estratégia conjunta do Mercosul de inserção na economia internacional.

— Os países emergentes já representam mais da metade do Produto Interno Bruto global em paridade de poder de compra. Uma nova classe média global terá, em 2020, 3,2 bilhões de pessoas, das quais 54% na Ásia. Empresas de países emergentes estão alcançando liderança na economia mundial. Que lugar terão as empresas de Brasil e Argentina nesse processo? Creio que temos de pensar nos mercados que estão fora de nossa região — afirmou Magariños.

O embaixador citou o exemplo da China, que neste momento está empenhada em criar a Nova Rota da Seda, um conjunto de ferrovias e rotas de navegação que permitirá grande ampliação do comércio chinês com a Europa e a Ásia Central. Em sua opinião, Argentina e Brasil deveriam analisar como se integrar melhor à economia internacional.

Automóveis

Em relação ao comércio bilateral, Magariños disse que os dois países podem chegar “muito rapidamente” ao livre intercâmbio de automóveis, desde que sejam superadas “desconfianças” que existem dos dois lados. Para isso, ressaltou, deve-se buscar “nivelar o campo de jogo”, uma vez que existem diferenças entre os regimes tributários dos dois países, especialmente em função do programa Inovar Auto. Por outro lado, observou, será necessário garantir proteção ao setor de auto-peças da Argentina.

O embaixador defendeu uma rápida resolução dessa questão no âmbito bilateral, uma vez que estão em andamento negociações dos dois países com o México, cuja indústria automobilística compete no mercado internacional com a argentina e a brasileira.

Durante o debate, o senador Jorge Viana (PT-AC) lembrou que o comércio bilateral chegou a alcançar, nos dois sentidos, US$ 39,6 bilhões em 2010, e que agora limita-se a US$ 23 bilhões. Ele defendeu a retomada dos níveis anteriores de trocas comerciais, além de maior intercâmbio nos setores de cultura e ciência e tecnologia. O embaixador admitiu que a falta de divisas da Argentina levou o país, nos últimos anos, a impor barreiras às suas importações, mas lembrou que o presidente Maurício Macri tem levantado obstáculos ao comércio internacional.

Ponte

O senador Lasier Martins (PDT-RS) pediu empenho do embaixador argentino e do futuro embaixador brasileiro em Buenos Aires, Sérgio Danese, também presente à audiência, na construção de uma ponte sobre o rio Uruguai ligando os dois países. Ele sugeriu, com a aprovação de Magariños, a adoção de novos modelos de financiamento para a obra, como parcerias com a iniciativa privada.

O senador Armando Monteiro (PTB-PE) disse que Argentina e Brasil, como “sócios majoritários” no Mercosul, precisam buscar formas de “dinamizar o bloco”, como a elaboração de acordos de compras governamentais e de proteção de investimentos. Por sua vez, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) demonstrou preocupação com a possibilidade de o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, assumir em julho a presidência rotativa do Mercosul, no momento em que o bloco negocia um acordo de livre comércio com a União Europeia. Ferraço criticou o governo da Venezuela pela falta de liberdades democráticas, em comportamento incompatível com as normas do Mercosul.

Foro

No início da reunião, foram criados o Grupo Parlamentar Brasil-Argentina, a ser composto por deputados e senadores, e o Foro Parlamentar Brasil-Argentina,  que será integrado por senadores dois dois países. A iniciativa foi do presidente da comissão, senador Aloysio Nunes, que lembrou a necessidade de atuação dos dois parlamentos em empreendimentos conjuntos como a Hidrovia Binacional, que só será implementada após a superação de questões regulatórias, ambientais e trabalhistas nos dois países.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)