Goldfajn: com reformas, Brasil pode voltar a crescer em 2017

Da Redação | 07/06/2016, 16h50

Aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para a Presidência do Banco Central o economista Ilan Goldfajn considerou “factível” a volta do crescimento da economia em 2017, desde que sejam aprovadas as reformas propostas pelo governo ao Congresso Nacional. Sabatinado por mais de quatro horas na comissão, nesta terça-feira (7), Goldfajn recebeu 19 votos favoráveis e 8 contrários.

O economista disse que a inflação está no "caminho de retorno" para o centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,5% ao ano. Para Goldfajn, “esse é o desafio do Banco Central”, que ele espera ser vencido “num horizonte não muito distante”.

Em vários momentos da sabatina, ele defendeu a manutenção do regime de câmbio flutuante e disse ao senador Cristovam Buarque (PPS-DF) que, nesse mecanismo, “o câmbio não é a âncora”. A âncora, conforme Goldfajn, é “a capacidade de reação do Banco Central a qualquer desvio”.

Sobre a atuação do BC, Goldfajn disse ser a favor da autonomia do banco e não da independência total. Para ele, o governo deve traçar seus objetivos e a autarquia precisa ter liberdade técnica e operacional para alcançá-los.

Dívida

Goldfajn ouviu críticas do senador Alvaro Dias (PV-PR) à falta de propostas com o objetivo de solucionar “a monumental dívida pública”. O parlamentar observou que, no Orçamento deste ano, estão reservados R$ 1,328 trilhão para o pagamento de juros e serviço da dívida e apenas R$ 46 bilhões para investimentos, “um contraste gritante e lamentável”.

O economista considerou a dívida pública “a questão mais iminente que temos hoje no Brasil” e disse que, por isso, as medidas recentemente anunciadas incluem um teto para despesa pública.

– Havendo um teto para despesa, no final das contas acaba tendo-se um teto para o endividamento.

Para Goldfajn, há duas vantagens nas medidas fiscais. Primeiro, a redução da incerteza, com a volta do investimento e do consumo. A segunda vantagem apontada é a redução dos custos da política monetária. Com as contas públicas em ordem, acrescentou, os custos da desinflação são reduzidos.

Questionado por vários senadores, o economista disse que há uma relação entre juros subsidiados e altos na economia. Quanto maior for o nível de subsídios, maior será o impacto para a elevação dos juros livres na economia. Para Goldfajn, o Brasil não vive a chamada dominância fiscal, situação em que o Estado não consegue gerar receita, por meio de impostos ou contribuições, suficientes para financiar seus gastos.

A senadora Lúcia Vânia (PSB-GO) questionou o economista sobre a existência de instrumentos alternativos a um ajuste fiscal severo. Ele disse que não há como “prescindir do ajuste fiscal” e defendeu medidas complementares, como a transparência e a administração das expectativas na economia.

Conflito de interesse

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) levantou uma situação de possível conflito de interesse no fato de o Banco Central ter a responsabilidade de fiscalizar o ex-empregador de Ilan Goldfajn, o Itaú Unibanco, do qual era até recentemente economista-chefe e acionista.

O economista respondeu que não tem mais ligação com seu antigo empregador e que vendeu sua participação acionária, que considerou parte de sua remuneração. Para ele, “é extremamente rico o setor público fazer uso da experiência, da vivência e do conhecimento de atores do setor privado”.

– Atuando no Banco Central, caso seja aprovado, eu vou me comportar como me comportei em toda a minha carreira: de forma isenta, apartidária, ética e honrada - afirmou.

O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) disse que, ao examinar a indicação de Goldfajn, a CAE não está atropelando nenhuma norma legal. Ele afirmou que a indicação atende a todas as normas vigentes e que o indicado tomou o cuidado de se desvincular da instituição financeira para a qual trabalhava e se desfazer da sua posição acionária.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) anunciou a decisão de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para anular a sabatina de Ilan Goldfajn. O parlamentar criticou a decisão, aprovada pelo plenário da comissão, de abrir o painel de votações antes do término dos questionamentos dos senadores. Lindbergh comparou a "pressa" na votação desta terça-feira com a sabatina dos indicados para o Federal Reserve (FED), o banco central norte-americano, que demora vários dias.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)