Prolongamento do El Niño agrava a crise hídrica, destaca diretor da ANA

Sergio Vieira | 08/12/2015, 14h02

O prolongamento do fenômeno El Niño, que teve entre suas consequências ambientais o fortalecimento da seca no Nordeste e em parte da Amazônia, marca um novo desafio na gestão dos recursos hídricos no Brasil. Esse foi um dos pontos destacados em audiência realizada nesta terça-feira (8) pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), com a presença do diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo.

Guillo ressaltou previsões de especialistas, segundo as quais o El Niño deve durar até setembro de 2016. Segundo o diretor, essa deve ser a ocorrência do fenômeno que mais irá impactar a elevação das temperaturas, e isso num quadro já de cinco anos de estiagem no semiárido nordestino.

— Ali só costuma chover entre fevereiro e abril, mas já se sabe que no ano que vem essas ocorrências já serão menores do que a média — adiantou.

Na opinião do presidente da comissão, senador Otto Alencar (PSD-BA), essa situação aumenta a preocupação com a bacia do Rio São Francisco, uma vez que a seca deve atingir 70% de sua vazão. Guillo ainda informou que o prolongamento do El Niño contribuirá para chuvas mais intensas na Região Sul, no Acre e nos locais mais próximos a esse estado.

Reservatórios

A situação de crise hídrica que já atinge algumas regiões do país torna prioritária a retomada da construção de grandes reservatórios, observou Andreu Guillo. Ele lamentou que o debate público em torno do tema destaque apenas os impactos negativos, como os que se refere ao meio ambiente, esquecendo-se dos benefícios que esses reservatórios trazem para a sociedade.

— Precisamos de grandes adutoras e reservatórios para água de uso múltiplo. Isso hoje é uma questão de segurança hídrica, eles são os mais adequados nos períodos de longa estiagem — afirmou.

Fazendo eco a essa preocupação, o senador Blairo Maggi (PR-MT) pediu que a ANA e o Ministério do Meio Ambiente flexibilizem as restrições ambientais para que produtores rurais atuem na acumulação de água da chuva.

Outro ponto pelo qual o pais precisa se ocupar, no entender de Guillo, é com o excesso de consumo e o desperdício na utilização da água, marcas ainda de grande parte da população brasileira.

— Em plena crise, os padrões de consumo por habitante superam 250 litros/dia, quando o recomendado para situações normais é de 150/litros dia — afirmou.

Ele fez questão de destacar que parte desse alto índice se dá por problemas de desperdício nas redes de distribuição, mas que ainda assim o país precisa repensar o padrão de consumo nas cidades, que deve estar em equilíbrio com seu uso por parte dos setores da agricultura e da indústria.

— De nada adianta priorizar o consumo urbano e depois faltar alimentos e empregos para quem mora nessas cidades. Não é certo vilanizar o uso da água pela agricultura ou pela indústria — advertiu.

Durante a reunião, o senador Otto Alencar voltou a criticar as empresas Vale e Samarco pelo desastre ambiental em Mariana (MG), fruto do rompimento de uma barragem.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)