Representantes do governo afirmam que não há risco de colapso do Rio São Francisco

Tércio Ribas Torres | 25/11/2015, 17h24

Representantes do governo participaram, na tarde desta quarta-feira (25), de uma audiência pública sobre o risco de colapso do Rio São Francisco. Na audiência, promovida pela Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas, eles relataram ações do governo em favor do rio, reconheceram a situação delicada da seca e afirmaram que não há risco de colapso.

O diretor da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Luís Napoleão Casado, disse que a geração de energia e o consumo humano devem ser as prioridades no trato com o rio. Para Casado, a concepção do multiuso e o diálogo são instrumentos importantes na administração das atuais necessidades do São Francisco. Para recuperar o rio, explicou o diretor, a Codevasf tem acompanhado o uso de bombas de irrigação e a construção de canais de adução e patrocinado ações de desassoreamento, entre outras medidas.

- A sociedade pode estar segura de que a Codevasf vai tomar atitudes antes que o pior aconteça – prometeu.

O diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, disse que tem feito reuniões com representantes de órgãos envolvidos com o Rio São Francisco. Segundo Guillo, as decisões e ações conjuntas desses órgãos foram essenciais para a manutenção da reserva da usina de Sobradinho. A redução de vazão das hidroelétricas foi uma dessas decisões. Ele disse que no dia 15 de dezembro vai participar de mais uma reunião para avaliar a situação dos reservatórios ao longo do São Francisco.

Chuvas

Para o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, as medidas preventivas são importantes para garantir o consumo de água ao longo do rio. Ele reconheceu que os anos de 2014 e 2015 foram “críticos” em relação às chuvas, mas disse que há uma expectativa de melhoria nas regiões do médio e do alto São Francisco, por conta do início da estação chuvosa.

A coordenadora-geral de Infraestrutura de Energia Elétrica do Ibama, Regina Generino, informou que o instituto tem acompanhado a situação do São Francisco. Ela disse que o rio exige cuidados e relatou uma série de ações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) em favor do rio. Como exemplo, Regina citou o acompanhamento da “cunha salina”, que é o avanço da massa salgada do oceano em direção ao rio. Segundo Regina, quanto mais chuva, menor a cunha salina e, assim, menor o risco de comprometimento da água doce.

O superintendente de Operação e Contratos de Transmissão de Energia da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique Franklin, informou que a barragem de Sobradinho tem hoje a acumulação de água de apenas 1,7% de sua capacidade. Segundo Franklin, é o menor índice desde o início das operações da barragem, em 1979.  Ele registrou que o volume está 40 centímetros abaixo do mínimo considerado como volume operativo.

De acordo com o superintendente, a expectativa é que não haverá necessidade de uso do volume morto, por conta da chegada das chuvas. Com a barragem no volume morto, Sobradinho poderia não mais gerar energia. Mas se isso ocorrer, acrescentou Franklin, a usina poderá liberar a vazão para que a hidroelétrica Paulo Afonso possa gerar mais energia. Ele disse que se ações preventivas, como o controle de vazão, não tivessem sido tomadas, Sobradinho teria enfrentado uma crise mais grave ainda no ano de 2014.

- Apesar da expectativa [de chuva], precisamos continuar o trabalho para nos preparar para um volume chuvoso que não seja suficiente – declarou Franklin, lembrando que o Nordeste vem enfrentando secas graves há três anos.

O presidente da comissão, senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), agradeceu a disposição dos convidados . O senador, autor do requerimento para a realização da audiência, reconheceu que a situação do São Francisco é delicada, mas elogiou o trabalho de articulação do governo, ao congregar diversos órgãos e entidades na tentativa de preservar o rio.

- O ponto positivo é que não teremos o colapso hídrico para os perímetros irrigados – disse o presidente, fazendo referência a regiões de Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe.

Temor

O relator da comissão, deputado Sergio Souza (PMDB-PR), relatou viagem que fez, há três anos, pelo interior do Nordeste. O senador disse que os rios intermitentes chamaram sua atenção. Ele afirmou que “é muito triste ver um rio cujo leito é pedra e areia”. Na Região Sul, acrescentou o relator, muitos rios estão hoje com metade do volume que tinham há poucas décadas. Para o deputado, os órgãos do governo precisam encarar com muita seriedade a situação do São Francisco, para que o rio não fique comprometido.

- Nosso maior problema é a gestão dos recursos hídricos – afirmou Sergio Souza.

O vice-presidente da comissão, deputado Sarney Filho (PV-MA), manifestou preocupação com as mudanças climáticas e sugeriu que os órgãos responsáveis pelo rio já pensem na manutenção da água para o consumo humano – caso a seca se agrave. Ele disse que o governo deveria ter revitalizado o Rio São Francisco antes de começar a obra de transposição. O deputado JHC (SD-AL) disse que a obra é grandiosa, mas admitiu “temor e preocupação” com o futuro da transposição.

- Apesar do esforço de todos, as pessoas em volta da obra ainda não estão sendo beneficiadas – lamentou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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