Caso do césio 137 mostra os elevados riscos da radiação nuclear, diz pesquisadora

Da Redação | 28/10/2015, 13h25

Uma pequena quantidade de material radioativo já é suficiente para produzir uma tragédia de grandes proporções. O alerta foi feito na manhã desta quarta-feira (28) por uma das principais pesquisadoras do país sobre efeitos da radiação no corpo humano, Emico Okuno, durante o seminário internacional Usinas Nucleares — Lições da Experiência Mundial. O evento é organizado pela Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado (CCT).

A professora de Física das Radiações do Departamento de Física Nuclear da USP, deu como exemplo o caso da radiação de césio 137, ocorrido em 1987 em Goiânia (GO). Considerado o maior acidente radioativo em área urbana do mundo, ele teve como fonte radioativa uma pastilha de sal de cloreto de césio do tamanho de um comprimido. Segundo ela, o vazamento de material radioativo das usinas instaladas em Angra dos Reis (RJ) poderia ser catastrófico:

—  O acidente que aconteceu em Goiânia foi uma coisa horrível, que ocorreu apenas com uma fonte do tamanho de uma pastilha. Vejam o que uma pequena fonte pode causar! Um acidente com um reator nuclear pode ser muito pior – avaliou Emico Okuno.

Embora o acidente em Goiânia tenha afetado a vida de centenas de pessoas, o governo de Goiás e as autoridades envolvidas só assumiram quatro mortes em decorrência do acidente.

O acidente

Em setembro de 1987, dois catadores de materiais recicláveis encontraram em instalações do antigo Instituto Goiano de Radioterapia uma máquina que desconheciam ser um aparelho usado em tratamento radioterapêutico. Wagner Mota Pereira e Roberto Santos Alves venderam o material ao dono de um ferro-velho, Devair Alves Ferreira, que, ao abrir a cápsula radioativa, se encantou com um pó que emitia brilho azul. Ele começou então a distribuí-lo a parentes e amigos como se fosse algo precioso.

Em pouco tempo, várias pessoas que tiveram contato com o pó começaram a passar mal. As primeiras vítimas fatais da contaminação pelo césio foram a esposa do dono do ferro-velho, Maria Gabriela, que morreu no dia 23 de outubro de 1987, e sua sobrinha, a menina Leide.

O ferro-velho, residências da região e pertences das famílias envolvidas foram destruídos, gerando toneladas de rejeitos radioativos. Um depósito foi construído em Abadia de Goiás, cidade próxima a Goiânia, para abrigá-las.

Seminário

O seminário prossegue à tarde. As conclusões do encontro, que começou na terça-feira (27), serão reunidas em uma carta a ser enviada ao governo federal.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)