Segurança de usinas nucleares é questionada em seminário no Senado

Tércio Ribas Torres | 27/10/2015, 17h16

O engenheiro alemão Dieter Majer afirmou que o acidente da usina de Fukushima, no Japão, evidencia que a produção de energia nuclear traz riscos inaceitáveis. Especialista em segurança nuclear e com trabalhos prestados em vários ministérios alemães, Dieter Majer participou na tarde desta terça-feira (27) do seminário Usinas Nucleares — Lições da Experiência Mundial. O seminário é patrocinado pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) e tem o objetivo de discutir os benefícios e os riscos da energia nuclear.

Falando da Alemanha, por meio de um vídeo, Dieter Majer relatou que, historicamente, a energia nuclear dividia a população daquele país: 50% a favor, 50% contra. No entanto, o acidente da usina japonesa de Fukushima, em 2011, mudou o pensamento alemão. O acidente ocorreu por conta do derretimento de reatores, depois que um tsunami atingiu as instalações da usina. Os níveis de radiação no entorno superaram em oito vezes o limite de segurança. Cerca de 300 mil pessoas tiveram de ser evacuadas da região e aproximadamente 1.600 mortes foram relacionadas às condições de evacuação, como viver em habitações temporárias.

— A energia nuclear não tem mais futuro na Alemanha. As 19 usinas do país serão desativadas até 2022 — informou.

Angra 2 e 3

O engenheiro alemão lembrou que a construção das usinas brasileiras Angra 2 e 3 é baseada em projetos alemães. Segundo Majer, todos os testes mostram que as usinas alemãs que serviram de base para as brasileiras não passariam nos critérios atuais de segurança. Assim, afirmou ele, Angra 3 estaria longe do estado atual — e considerado ideal — “de tecnologia e prevenção”. Na visão de Majer, as estruturas teriam de ser refeitas e a usina passar por uma reconstrução completa. Ele acrescentou que Angra 2 também representa um risco de segurança.

— É preciso saber se o público aceita [esse nível de segurança]. As autoridades devem informar a situação à população brasileira — pediu o engenheiro.

Segurança

A doutora em Física e presidente do Agrupamento de Cientistas para a Informação sobre a Energia Nuclear (Gsien), Monique Sené, da França, abordou a questão técnica das usinas nucleares e criticou o sistema de segurança das usinas francesas. Ela lembrou que a usina francesa de Saint-Laurent registrou acidentes graves em 1969 e 1981, em reatores diferentes. A pesquisadora acrescentou que em Chernobil, na Ucrânia, o acidente de 1986 ainda não terminou, porque as consequências ainda estão presentes.

— Os acidentes obrigam a modificações, na busca da segurança. Não podemos negligenciar nada — afirmou a doutora.

O engenheiro de segurança nuclear Eduardo Souza Motta, membro da Associação dos Fiscais de Radioproteção e Segurança Nuclear (Afen), apresentou os órgãos que administram a produção de energia nuclear no Brasil. Ele disse que o foco deve ser a segurança total das instalações e sugeriu a criação de uma agência governamental especializada no assunto. O engenheiro Sidney Luiz Rabello, também membro da Afen, na mesma linha, apoiou a criação de uma agência para a energia nuclear e disse que os critérios para a segurança precisam ser altamente criteriosos.

Seminário

O seminário, que ocorre no Auditório Interlegis até esta quarta-feira (28), tem como objetivo discutir os benefícios e os riscos da energia nuclear. Foram convidados para o evento especialistas, cientistas e autoridades da área no Brasil e em cinco países. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), presidente da CCT, informou que as conclusões do encontro serão reunidas em uma carta a ser enviada ao governo.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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