Coutinho defende investimento no grupo JBS e nega prejuízo com Eike Batista

Anderson Vieira | 14/04/2015, 20h06

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou que o investimento no grupo JBS Friboi foi feito sem uso de dinheiro público. Segundo ele, os negócios foram feitos pela BNDESPar, que é uma subsidiária do banco criada especificamente para atuar no mercado de capitais. O executivo participou, nesta terça-feira (14), de audiência pública conjunta nas Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Infraestrutura (CI).

Luciano Coutinho garantiu que a BNDESPar tem lucros acumulados nos últimos oito anos de R$ 23 bilhões e é sócia de grandes empresas de capital aberto, além de mais de 200 pequenas empresas consideradas inovadoras.

— Nenhuma participação acionária da BNDESpar se deu com um centavo de subsídio público, porque não é dinheiro que veio do Tesouro Nacional. Foi dinheiro do giro da carteira de ações e com o objetivo de realizar lucro. A BNDESpar gera lucro para o BNDES e tem respondido por 40% do lucro do banco [...]. Foi um negócio rentável e vai gerar recursos para novos investimentos em novas empresas — declarou.

O líder do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO), criticou o investimento maciço do banco num grupo empresarial, afirmou que a iniciativa prejudicou os produtores do Centro-Oeste e classificou de estarrecedora a situação das plantas frigoríficas na região.

— Todas as plantas frigoríficas foram fechadas porque o BNDES elegeu o JBS, o qual, aliás, repassou R$ 368 milhões para campanhas e R$ 144 milhões para o PT. Em vez de cumprir sua função social, ao alavancar uma empresa como a JBS, depredou toda a estrutura frigorífica do Centro-Oeste. Ou seja, desenvolveu uma estrutura de oligopólio na área de carne — reclamou Caiado.

O senador Reguffe (PDT-DF) também saiu em defesa da desconcentração dos investimentos da instituição. Para ele, para um banco que tem a letra "S" no nome, seria mais justo financiar milhares de pequenos empreendedores que precisam de ajuda financeira.

— O BNDES apoiou a Sete Brasil Investimentos para construção de sondas no valor de R$ 10 bilhões, numa operação sobre a qual paira uma série de dúvidas. Independente disso, com este valor o banco poderia financiar 100 mil pequenos empreendimentos no valor de R$100 mil.  Ou seja, em vez de dar R$10 bi para uma única empresa, o BNDES poderia financiar 100 mil pequenos empreendimentos — argumentou.

Segundo Coutinho, 62% do mercado frigorífico brasileiro ainda é dominado por pequenas e médias empresas e, além disso, entre 2005 e 2008 houve um ciclo de investimento muito intenso, com euforia em relação ao potencial do segmento.

— Com isso, formou-se grande capacidade ociosa, que gerou disputa forte e levou a dificuldades sérias muitas empresas. Estamos submetidos ao Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] e temos que zelar pela concorrência — explicou.

O presidente do BNDES esclareceu que o investimento na Sete Brasil não chegou a ser concretizado, e, se tivesse sido feito, teria envolvido uma grande cadeia produtiva, alcançando 200 mil empregos.

— Além disso, o banco realizou, no ano passado, mais de 800 mil operações de crédito com microempresas, pequenas empresas, através do cartão BNDES — acrescentou.

Eike Batista

O senador Lasier Martins (PDT-RS), por sua vez, citou reportagem do jornal Financial Times, segundo a qual 60% dos empréstimos do BNDES vão para grandes conglomerados econômicos, os chamados campeões nacionais.

— E aí a pergunta que é feita pelo jornal inglês, e nós brasileiros temos o direito de fazer: como justificar, por exemplo, que a BNDESPar seja dona de 17,3% da Petrobras? Como justificar o empréstimo para o empresário Eike Batista? — questionou.

Coutinho negou que o BNDES tenha sofrido prejuízo com investimentos no Grupo X, de Eike Batista. Segundo ele, o banco não deu crédito à OGX, companhia responsável por boa parte dos problemas do conglomerado.

— O BNDES não concedeu crédito e nem investiu na empresa que foi a origem de todo o problema do grupo, a OGX. A empresa foi financiada no mercado de capitais e houve expectativa de que apresentaria desempenho extraordinário; isso não ocorreu, e as ações caíram. Não havíamos investido e não fomos afetados — garantiu.

Campanhas políticas

O investimento em empresas que financiaram campanhas políticas foi outro tema abordado na reunião. O executivo afirmou que é impossível associar a concessão de crédito pelo BNDES a promessas de doação de qualquer tipo, inclusive de campanhas políticas. Ele enfatizou que doar ou não para candidatos é decisão privativa das empresas.

— Temos participação transitória nos conselhos e não interferimos na gestão da empresa privada, salvo para zelar pelas regras de governança e respeito à lei. Não há no processo de concessão de credito qualquer coisa dessa natureza, dado o caráter técnico do processo — explicou.

Caminhoneiros

O senador Blairo Maggi (PR-MT) mostrou-se preocupado com a dívida dos caminhoneiros e pediu apoio do banco para aprovação da Medida Provisória 661/2014, que autoriza o refinanciamento de dívidas contraídas por caminhoneiros e por empresas com faturamento de até R$ 42, milhões na compra de veículos.

— O setor ameaça uma nova greve agora, no dia 22. Houve todo um esforço que foi feito na comissão mista, com essa medida provisória, para dar o sinal de que, sim, será feita a renegociação — disse.

Prestação de contas

Depois de criticar o que classificou de "empréstimos com viés ideológico" a países da América Latina, o senador José Agripino (DEM-RN) sugeriu que o presidente do BNDES compareça ao Senado de dois em dois meses para dar informações sobre as atividades do banco, assim como já faz o presidente do Banco Central.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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