Crise hídrica no São Francisco exige atuação do governo, avalia Fernando Bezerra Coelho

Paulo Sérgio Vasco | 10/04/2015, 17h49

O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) pretende encaminhar nos próximos dias ao governo federal  reivindicações para evitar o colapso da fruticultura irrigada do semiárido do Nordeste, que enfrenta a pior estiagem em 100 anos. Com a redução do nível do São Francisco, as estações de bombeamento usadas na irrigação não conseguem captar água, o que inviabiliza os investimentos e gera apreensões no setor.

O lago da reserva de Sobradinho – considerado o terceiro maior do mundo em volume d’água e 14 vezes maior que a Bahia de Guanabara - encontra-se com 18% de sua capacidade de armazenamento, o que compromete não só a geração de energia, mas a agricultura irrigada da região, que gera R$ 2 bilhões anuais na produção de frutas, 240 mil empregos diretos e 960 mil atividades indiretas.

Entre as medidas estão a construção de mais barragens para aumentar a vazão dos rios tributários do São Francisco; a recuperação da mata ciliar; a transposição para o São Francisco das águas do Rio Tocantins, por este ter uma vazão 12 vezes superior ao primeiro; e a aquisição de bombas flutuantes para ajudar na captação de água. A redução imediata da vazão da barragem de Sobradinho de 1.000 para 900 metros cúbicos por segundo, aguardada pelos produtores e sob análise do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), dará mais tempo para a adoção de ações emergenciais, disse Fernando Bezerra Coelho.

Na tarde de segunda (13), Fernando Bezerra Coelho terá encontro com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Ele disse que a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) vai precisar de R$ 120 milhões para atender projetos de suprimento de água e em perímetros de irrigação em Minas, Alagoas e Sergipe.

Crise hídrica

Nesta sexta-feira (10), o senador participou de audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) que discutiu os efeitos da crise hídrica na fruticultura irrigada no Vale do São Francisco. O auditório do Sest/Senat, em Petrolina (PE), ficou lotado de autoridades estaduais, produtores e lideranças comunitárias da região, algumas das quais acusaram o governo federal de não ter levado adiante diversos projetos na região. O debate foi comandado pela senadora Ana Amélia (PP-RS), que preside a comissão. Na próxima sexta (17), a CRA fará audiência publica em Itabuna (BA) para discutir a crise atual na lavoura cacaueira.

O primeiro perímetro irrigado na região do São Francisco foi implantado no final dos anos de 1950. Hoje, Juazeiro e Petrolina representam o maior polo de irrigação do Brasil. Aproximadamente 94% dos fruticultores da região têm propriedades pequenas e medias que vão de cinco a 20 hectares, onde produzem manga, uva, coco, melão, melancia e acerola que abastecem os mercados nacionais, dos estados unidos e países europeus.

— Precisamos manter esse arranjo produtivo, que demandou tanto trabalho e investimento. Estamos discutindo como não deixar de haver abastecimento de água para abastecer os perímetros irrigados. O maior sindicato do Nordeste é o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolina, o que mostra a importância da fruticultura irrigada do ponto de vista do emprego — ressaltou Fernando Bezerra Coelho.

Ana Amélia também defendeu o encaminhamento das medidas ao governo, e a adoção de ações emergenciais e de médio e longo prazo, dada a importância da fruticultura irrigada para o desenvolvimento econômico e social do Nordeste.

Prefeito de Juazeiro, Isaac de Carvalho defendeu tarefa de energia diferenciada para a produção de frutas, que a seu ver não pode ser comparada à indústria. Ele apontou alguns avanços já obtidos com o governo, e observou que o sistema de irrigação por inundação não se justifica mais nos dias de hoje, em razão da crise hídrica.

“Cultura do cuidado”

O deputado estadual Eduardo Sales disse que a situação do Vale do São Francisco é dramática, e defendeu a reavaliação do projeto de transposição do rio, que já dura alguns anos. Ele questionou se valeria a pena usar o curso d’água para abastecer outros estados diante da atual crise hídrica.

— O paciente já está na UTI, e ainda estão querendo dele uma transfusão de sangue — criticou.

O representante da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ivan Pinto da Costa, destacou a redução do volume útil de Sobradinho, e disse que a crise hídrica resultará em um grande prejuízo social e econômico para a população do Nordeste.

Já o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, defendeu soluções integradas para a crise hídrica do São Francisco. Ele também cobrou a substituição da “cultura da abundância, que é irreal, pela cultura do cuidado e da solidariedade com a água, para garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos”. Andreu disse ainda que não há vilões na crise hídrica, ao contrario do que se supõe a partir da crise de abastecimento em São Paulo.

— Nós temos que garantir água para todos os usos necessários, para viver, produzir, lazer, mas não podemos aceitar a tentativa conceitual de que existem culpados. Na seca recente na Califórnia, há corte de 34% para as residências, mas não há corte para agricultura, por reconhecimento de sua importância. A vocação da bacia [do São Francisco] não é mais energética, como no passado. Tem que disponibilizar outros usos da água — afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)