Brasil deve superar 'gargalo logístico' para se aproximar da África, recomenda embaixador

Marcos Magalhães | 19/03/2015, 13h17

O Brasil responde por apenas 3% do comércio da África com o mundo, atualmente calculado em US$ 1 trilhão. Para ampliar essa participação, o país deve superar o “gargalo logístico” que existe no transporte marítimo e aéreo com aquele continente, segundo recomendou nesta quinta-feira (19) o embaixador designado para representar o Brasil em Luanda, Norton de Andrade Mello Rapesta, cuja indicação foi aprovada por unanimidade pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).

Como observou o embaixador, cuja indicação teve como relator o senador Jorge Viana (PT-AC), atualmente existem voos diretos do Brasil apenas para Angola, África do Sul e Cabo Verde (este a partir de Fortaleza). Ele anunciou que pretende estimular o transporte marítimo com Angola e mencionou a possibilidade de estados como Pernambuco e Ceará exercerem um papel importante no transporte de bens pelo Atlântico Sul. O comércio bilateral no ano passado alcançou US$ 2,4 bilhões, com exportações e importações equilibradas.

— Quero pedir aos senadores que sejam meus porta-vozes para que empresas de seus estados busquem oportunidades em Angola, país que exerceu papel fundamental no desenvolvimento da nacionalidade brasileira — disse Rapesta, que estará em Luanda no ano em que se festeja o 40º aniversário da independência angolana.

O Brasil, como recordou o embaixador, foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola em relação a Portugal. Ele informou que pretende aprofundar a parceria estratégica com Angola, com ênfase na cooperação técnica, cultural, econômica e política. Após ressaltar a forte presença das novelas brasileiras na televisão angolana, o embaixador anunciou a inauguração, em breve, de uma Casa da Cultura do Brasil em Luanda.

Paquistão

Na mesma reunião, a comissão aprovou a indicação de Claudio Raja Gabaglia Lins para exercer o cargo de embaixador brasileiro no Paquistão e, cumulativamente, no Tadjiquistão. Em sua exposição aos senadores, o embaixador admitiu que os fluxos de comércio e investimentos entre os dois países ainda são baixos. Mas ressaltou o potencial existente para empresários brasileiros nas áreas de energia hidrelétrica, biocombustíveis, defesa, construção civil e cadeia de produção de carne de frango.

— Embora distante, o Brasil pode ser a maior porta de acesso para a América do Sul de que dispõe o Paquistão — afirmou Raja Gabaglia, cuja indicação teve como relator o senador Roberto Requião (PMDB-PR).

Debate

Durante o debate, presidido pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse não ter dúvidas da importância estratégica do Paquistão, mas questionou a necessidade de o novo embaixador atuar também no Tadjiquistão. O senador Fernando Bezerra (PSB-PE) também ressaltou o papel estratégico do Paquistão, inclusive no que diz respeito à sua proximidade com a Rússia, grande exportadora de gás e petróleo.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) lembrou que o Paquistão pode ser considerado um dos “focos centrais de onde pode surgir uma crise catastrófica para o mundo inteiro”, por sua proximidade com Índia e dos comandos de grandes organizações terroristas. Ele pediu ainda que o Brasil tenha cada vez maior aproximação com Angola. A seu ver, são duas nações que “cada vez mais se irmanam”. O senador Telmário Mota (PDT-RR) defendeu a intensificação da parceria econômica e comercial com a África. Por sua vez, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) ressaltou a importância de maior aproximação do Brasil com os países de língua portuguesa, especialmente no momento em que, como observou, “outras nações estão com olhos bastante gulosos sobre a potencialidade não só de Angola, como de Moçambique”.

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) alertou que empresas de Goiás que mantinham investimentos em Angola estejam retornando ao Brasil, sob o argumento de que o seu sucesso naquele país dependeria muito do “humor de quem está próximo ao poder”.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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