Requião destaca papel do Parlasul e confirma eleições diretas em 2020

Marcos Magalhães | 17/12/2013, 16h10

A realização de eleições diretas para a escolha dos futuros integrantes do Parlamento do Mercosul (Parlasul) deverá ocorrer apenas em 2020, ou seja, 10 anos depois do prazo inicialmente previsto. A prorrogação da atual etapa de transição, quando os integrantes são escolhidos pelos respectivos Poderes Legislativos, entre deputados e senadores no exercício de seus mandatos, foi decidida no início de dezembro, na primeira sessão deliberativa em três anos do órgão legislativo regional.

Na opinião do vice-presidente brasileiro do Parlasul, senador Roberto Requião (PMDB-PR), as sociedades dos países que integram o bloco poderiam ter dificuldade em “digerir” a eleição de 187 parlamentares, com seus respectivos salários, em momento de crise econômica. Por outro lado, Requião vê o Parlasul como a “verdadeira via de integração” da América do Sul. “Integração não é a defesa dos interesses econômicos de grandes empresas, a integração é cultural, educacional e econômica, é um processo civilizatório sul-americano”, definiu Requião em entrevista à Agência Senado. A seguir, os principais pontos da entrevista:

O Parlasul ficou virtualmente paralisado por três anos. O senhor acha que, após a realização da primeira sessão deliberativa em três anos, em Montevidéu, ele pode retomar suas atividades?

Nós tivemos esse impasse (com a suspensão) do Paraguai no Mercosul, e o Parlasul é o parlamento do Mercosul. Mas isso se resolveu agora, já fizemos a primeira reunião depois de três anos. O Paraguai, em atitude bonita do presidente (Horacio) Cartes, aceita a Venezuela no Mercosul. Isso é importantíssimo. A Venezuela tem US$ 750 bilhões de reserva cambial, é um país que precisa de tudo e que precisa de aliados, precisa se industrializar. O Brasil e a Argentina podem fazer muito por ela. Todos nós precisamos dessa unidade. Ela é boa para a Venezuela e boa para nós. E nós demos inicio à retomada do Parlasul. A Venezuela não participou dessa sessão, mas estamos abertos para ela, da próxima ela participará. Estamos fazendo alguma mudanças também no regimento interno e no ano que vem estaremos funcionando normalmente.

Como se definirá a questão da presidência?

A presidência é rotativa. Fui indicado pelo Brasil para a vice-presidência, o que significa que poderei, na rotação, vir a ser presidente em determinado momento. Vamos estabelecer, nas próximas reuniões, a ordem de sucessão. Do ponto de vista do regimento, a sucessão se dá de seis em seis meses. Uma rotatividade muito grande. Nós acordamos que, nessa fase de reconstrução, o Uruguai ficaria com um ano de presidência. O Uruguai fica todo o ano de 2014 na presidência e depois se retoma a rotatividade. Vamos estabelecer isso no começo do ano que vem. Teremos reuniões da mesa em fevereiro março e depois retomar as sessões regulares.

A tendência seria de se retomar a rotatividade semestral na presidência?

Acho que semestral é muito rápida. A Mesa não consegue dar conta dos trâmites burocráticos. Acho que um ano seria bom.

Como vice-presidente, qual é a sua prioridade para o Parlasul nesse período de retomada?

O Parlasul tem que ser o foro de discussão e de resolução dos atritos que possam existir na nossa economia. Por exemplo, há algum tempo o governo brasileiro impôs restrições à entrada de carros do Uruguai no Brasil, uma coisa absolutamente ridícula. Os uruguaios produzem 30 mil a 35 mil carros por ano, e nós produzimos aqui no nosso território 3,5 milhões. Por outro lado, o Uruguai compra tudo do Brasil.

A Argentina também impôs obstáculos à venda de veículos brasileiros, não?

A Argentina está dando uma reduzida nos carros brasileiros, mas o que esquecem de dizer os que protestam é que o nosso superávit com a argentina é monumental. Nós vendemos muito mais do que compramos. A Argentina toma determinadas medidas em defesa da economia quando há um problema muito sério internamente. Nós temos que entender isso e, mais do que entender, temos que conversar. Temos que estabelecer um regime que seja bom para todos os países. E esse problema de automóveis é mais uma briga de multinacionais, porque algumas empresas multinacionais produzem na Argentina para exportar para o Brasil, outras empresas se instalam no Brasil para usufruir as vantagens do Mercosul. Não sou contra isso, desde que nossos Estados nacionais regulem esse processo e façam com que isso tudo ocorra em benefício dos nossos países e não em benefício de empresas multinacionais.

Do ponto de vista dos cidadãos dos países que integram o bloco, como o Parlasul pode contribuir para a integração da América do Sul?

O Parlasul vai tentar dirimir problemas que às vezes são mal conduzidos pelos burocratas do Executivo. Fazer sugestões às Presidências das Repúblicas. Integração é isso, conversa, e o parlamento é o espaço de falar, de acordar, discutir.

Pode ser uma via alternativa para ampliar a integração?

Acho que não é uma via alternativa, ela é a via de integração verdadeira. Integração não é a defesa dos interesses econômicos de grandes empresas, integração é cultural, educacional, econômica, é um processo civilizatório sul-americano.

E como se pode trazer a sociedade para participar do Parlasul?

A sociedade só vai participar quando tivermos eleição direta. Nós não estamos ainda nessa fase. Eleição direta, conforme o acordado, se dará em 2020. Hoje, com a crise que todos os países estão vivendo, criar cargos de parlamentares remunerados com gabinetes – e o Brasil teria 76 – é mais ou menos de difícil digestão pela sociedade. Até lá, fica o sistema de deputados e senadores indicados pelos partidos nas representações dos países e um espaço de discussão. O número de parlamentares por país continua como está.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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