Delcidio pede demissão de Ildo Sauer da Petrobras

Da Redação | 17/06/2005, 00h00

O líder do PT no Senado e presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, senador Delcidio Amaral (MS), pediu nesta sexta-feira (17) que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aproveite as mudanças que realiza em seu governo para demitir o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer. O líder atribuiu a uma "plantação de notícia" por parte desse diretor a matéria intitulada "Contratos feitos por Delcidio causaram prejuízos à Petrobras", publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta sexta-feira.

- Em um momento como este, em que eu preciso de tranqüilidade, no momento grave que enfrentamos, com o país preocupado com a realização de um bom trabalho pela CPI dos Correios, recebo um fogo amigo, mostrando claramente que os maiores adversários nossos não são da oposição, mas do próprio PT - ressaltou.

A matéria afirma que Delcidio era o responsável pela área que elaborou contratos com termoelétricas controladas por companhias americanas, o que teria causado um prejuízo de pelo menos R$ 2 bilhões à Petrobras. O líder do PT disse que é um engenheiro sério e competente, respeitado em todas as companhias onde trabalhou, não aceitando esse "tipo de molecagem" representado pela matéria.

- Quero dizer que trabalhar desse jeito eu não consigo. E espero que, até para o próprio bem da Petrobras, esse indivíduo saia, porque ele tem procurado desprestigiar até pessoas que construíram essa empresa. Que ele tenha a dignidade de sair ou o presidente Lula, aproveitando as mudanças que estão sendo feitas, o demita - completou.

Delcidio Amaral disse que vem sistematicamente acompanhando denúncias desse tipo, oriundas de uma área específica da Petrobras, comandada por Ildo Sauer, cuja indicação para o cargo na companhia tem apoios difusos. O senador afirmou que ficou chocado com o que leu, sobretudo em razão do momento vivido pelo país e da necessidade de ter tranqüilidade para conduzir os trabalhos da CPI que investigará denúncias de corrupção praticada na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

- Eu fiquei pasmo com as afirmações de que teria dado um prejuízo de R$ 2 bilhões, por conta de três contratos assinados com investidores privados. São três projetos que vinham sendo implantados desde 1996, portanto muito antes de eu ser diretor da companhia. E contratos absolutamente claros, transparentes e que, como foram projetados num momento de racionamento de energia, davam liberdade absoluta para que a própria Petrobras, se o cenário mudasse, tivesse totais condições de renegociá-los - contou.

Delcidio explicou ainda que, quando a atual diretoria da Petrobras assumiu, a situação no país já era bem diferente e, em sua opinião, esse era o momento adequado para renegociar os contratos, mas a Petrobras só veio tomar essa providência recentemente. "Então sou eu o responsável pelo prejuízo de R$ 2 bilhões?", questionou.

Mal terminou seu discurso, que teve o apoio de diversos senadores, Delcidio Amaral recebeu um telefonema do Palácio do Planalto. Não revelou o nome de quem ligou, mas manteve sua indignação, continuando a chamar a matéria de "um ato de  molecagem".

- Recebi um telefonema do governo, mas ratifico tudo que afirmei, para deixar bem clara minha indignação por essa molecagem que foi feita comigo - informou.

Delcidio Amaral anunciou que assinará requerimento, apresentado pelo senador Heráclito Fortes  (PFL-PI), para que Ildo Sauer seja chamado a depor na Comissão de Serviços de Infra-Estrutura do Senado. Indagado sobre se assinará também requerimento para a convocação do presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, Delcidio respondeu que Dutra é um homem decente.

- O presidente Dutra é um bom homem, é um homem decente, que tem trabalhado e ajudado a companhia. Essa questão é localizada, é uma área que não atua em nada, pouco produz, a não ser dossiês. É uma área que caroneia funcionários da própria companhia em funções executivas, isso quando não contrata gente, inclusive gente para ficar em Brasília. Nós vamos convocar o Sr. Ildo Sauer, ele  vai depor aqui - reiterou.

O presidente da CPI dos Correios também anunciou que levará suas preocupações ao líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), para que essa situação tenha um fim.

- Eu não aceito esse tipo de comportamento. Estou indignado com isso e quem me conhece sabe que tenho uma história, principalmente uma história profissional, uma história de vida. E o PT precisa acabar com essa história de fogo amigo, para que a gente tenha governabilidade e condições de construir um Brasil melhor. É por causa de gente com esse perfil que temos enfrentado tantas dificuldades, exatamente porque chutam contra o nosso próprio gol. Eu não conheço time que vença partidas onde o zagueiro chuta para dentro do próprio gol ou o centro-avante, em vez de partir para a ofensiva, procura prejudicar algum companheiro - comparou.

Delcidio Amaral também disse que enfrentará os trabalhos da CPI dos Correios em um momento em que é candidato ao governo do seu estado.

- Espero que, em um momento importante como este, eu tenha pelo menos a solidariedade dos meus companheiros, pela responsabilidade e pela coragem que tive ao assumir a CPI dos Correios. Estou me expondo à opinião pública, tendo uma candidatura ao governo de Mato Grosso do Sul. Mas para defender o governo do presidente Lula assumi isso com coragem, determinação e isenção - enfatizou.

Os senadores Tião Viana (PT-AC), Mão Santa (PMDB-PI), Heráclito Fortes, Pedro Simon (PMDB-RS), José Agripino (PFL-RN), Cristovam Buarque (PT-DF), Arthur Virgilio (PSDB-AM) e Marcelo Crivella (PL-RJ) solidarizaram-se com o líder do PT. Na presidência da sessão, o senador Efraim Morais (PFL-PB) disse que todos reconheciam a retidão do caráter de Delcidio Amaral e que a solidariedade era um dever de cada um que ali estava.

- Quero dizer que trabalhar desse jeito eu não consigo. Espero que, até para o bem da Petrobras e da própria corporação, esse indivíduo saia, porque ele tem procurado desprestigiar até pessoas que construíram essa empresa. Que ele tenha ou a dignidade de sair ou o presidente Lula, aproveitando as mudanças que estão sendo feitas, o demita  para o bem da Petrobras - apelou.

Heráclito convida presidente da Petrobras a falar sobre prejuízos causados à empresa

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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