Um mundo novo: 11 de setembro de 2001 — Rádio Senado
Reportagem Especial

Um mundo novo: 11 de setembro de 2001

O atentado terrorista às Torres Gêmeas completa 20 anos no dia 11 de setembro. E a Rádio Senado preparou uma reportagem especial sobre o tema. Os ataques foram assistidos por bilhões de pessoas e provocaram novos desafios no cenário mundial. Mas o que você fazia naquele momento? Contamos algumas histórias relacionadas aos trágicos eventos nos Estados Unidos. 

03/09/2021, 19h42 - ATUALIZADO EM 03/09/2021, 21h13
Duração de áudio: 27:00
Getty Images/iStockphoto / Direitos Reservados
27:00Um mundo novo: 11 de setembro de 2001
O sobrevivente
09:00

Transcrição LOC: EM 11 DE SETEMBRO DE 2001 A CIDADE DE NOVA YORK, NOS ESTADOS UNIDOS, SOFREU UM DOS MAIORES ATENTADOS TERRORISTAS DA HISTÓRIA. LOC: O BRASILEIRO LARRY (LARRÍ) JÚNIOR ESTAVA NA TORRE NORTE DO WORLD TRADE CENTER NAQUELE DIA. ACOMPANHE A PRIMEIRA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”. UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO. TÉC: (Rodrigo) Larry Júnior preparou o café da manhã como em todos os dias. Estava sozinho em casa, nos Estados Unidos, porque a esposa havia viajado para o Brasil. No dia 10 de setembro havia sido aniversário da esposa e Larry deu os parabéns por telefone. Por sinal ele estava com o celular da própria esposa naqueles dias. Acabado o café do dia 11, era hora de ir para o trabalho. Larry caminhou de sua casa por 4 minutos até a estação de trem mais próxima. Entrou no comboio e em 5 minutos estava na sua estação de destino: World Trade Center. Ao sair da estação, mais quatro minutos para entrar em um dos prédios das torres gêmeas, pegar o elevador e chegar até a sua mesa, no vigésimo quinto andar. A torre tinha 110. Era perto de sete da manhã. O economista Larry trabalhava em uma empresa de investimentos: Larry 2 – Sete, sete e quinze da manhã já chegou todo mundo que tinha que chegar no mercado financeiro todo mundo já tá lá. Não tem lá ninguém que chega às oito horas da manhã, tá? Eu chegava no escritório entre seis e meia e sete horas, daí aí dependia mais do horário de pegar o trem que eu pegava um trem e descia dentro WTC. Então eu já estava trabalhando... acho que não chegava duas horas ... eu sinceramente eu não me lembro o horário que eu cheguei aquele dia mas foi um dia normal pra mim. (Rodrigo) O que Larry não imaginava é que aquele 11 de setembro de 2001 seria diferente de tudo. Às 8h46 o economista ouve um estrondo no prédio no qual trabalhava: Larry 5 – Esse momento me deu muito medo, por quê? Porque eu estava sentado conversando e tal, quando ouvi aquele barulho e o choque no prédio ... imagina o seguinte um prédio de cento e sete andares ele faz um jogo ... vai pra esquerda e fica balançando até ele se ajeitar. Eu olhei pro meu chefe do meu lado e digo assim “ó vamos embora que isso aqui vai cair”, foi isso exatamente, essas palavras, ele pegou as coisas dele foi embora nem olhou pra trás eu ainda demorei um pouquinho ajeitando, pegando minhas coisas que eu queria pegar ... mas eu tinha a nítida impressão, tive a nítida impressão naquele momento que o prédio não ia aguentar. (Rodrigo) Era um avião batendo contra uma das torres. O choque foi tão grande que Larry só teve tempo de pegar algumas de suas coisas e descer pela saída de emergência. Ficaram para trás o notebook, um dos seus principais instrumentos de trabalho e, sobre a mesa, uma caneca do Internacional de Porto Alegre que havia sido presenteada por sua mãe. Todos foram rumo a uma das três saídas do WTC: Larry 7 – nós descemos a escada normalmente, ou seja, eu fui pra escada de incêndio porque o andar do WTC era bem grande, tinha eu acho que três, eram três saídas de emergência por andar. Cada setor pegava uma. Então, eu peguei no setor, que era o que estava designado pra nós ali que era a face oposta ao local onde entrou o avião. Então o canal assim, o duto não estava, não tinha fumaça, não tinha fogo, não tinha nem cheiro de combustível tinha muito. Então foi eu dei sorte de pegar a saída mais tranquila e nós começamos a descer. Vigésimo quinto andar ... lá pelo décimo terceiro, décimo quarto, não sei precisar exatamente começaram a aparecer os bombeiros e os bombeiros foram subindo e eles começaram ... o primeiro que subiu, segundo bombeiro que subiu, pediu assim ó gente por favor deixem o lado direito de quem tá subindo livre da escada porque vai subir nosso pessoal todo com uma série de equipamentos pra tentar ajudar o pessoal que tá lá em cima. Tu acredita que nós descemos vinte e cinco andares? Eu fico... eu falo contigo que estou arrepiado cara porque eu me lembro dessa cena como se fosse hoje, nós descemos os vinte e cinco andares sem nenhuma pessoa, nenhuma pessoa tentar passar a frente do outro e nenhuma pessoa nesses vinte e cinco andares entrou naquele lugar onde estava reservado pros bombeiros mesmo não tendo nenhum bombeiro. (Rodrigo) Larry estava nas escadas quando 17 minutos após a primeira colisão, aconteceu a segunda, com um outro avião atingindo a segunda torre do World Trade Center às 9h03 da manhã, horário de Nova York. Ele só viu o efeito desse segundo impacto ao sair do prédio. Ao tentar um jeito de voltar para a casa, presenciou a queda da primeira torre, às 9h59 da manhã. A primeira torre que caiu foi a segunda a ser atingida por um avião: Larry 4 –Quando a gente saiu do prédio a polícia nos orientou pra ir em direção Sul ou seja sair do outro indo pela East side Highway indo em direção aquele local onde é que pega as barcas pra ir pra Estátua da Liberdade, na ponta da ilha ponta sul da ilha. Então eu fui seguindo o fluxo, seguindo todo mundo ali. Quando cheguei na primeira possibilidade que não estava fechada pela polícia, deu ir para a beira do rio porque eu pensei, eu só tenho como ir pra casa ou de trem que era dentro do WTC, tudo fechado ou de barco. Quando eu estava chegando, voltei caminhando pela beira do rio em direção de volta, quando cheguei sei lá a cinquenta, cem metros de onde pegavam as barcas, uma policial disse assim “ó, tá fechado, a guarda costeira fechou, ninguém pode passar” ... Fiquei ali alguns segundos, minutos talvez de indecisão e comecei a caminhar de volta. Quando eu comecei a caminhar de volta lá pra ponta Sul da Ilha eu só escutei aquele barulho e eu olhei por cima do meu ombro esquerdo e eu vi a torre de telefone de televisão que era no topo do outro prédio caindo ... (Rodrigo) Foi uma correria só e Larry ainda sim foi atingido pela fuligem e pela poeira da torre. Nesse meio tempo ele só havia conseguido falar com um amigo e uma amiga da esposa no Brasil, pelo menos para dar as primeiras notícias que ele estava vivo. Mas quem não tinha tanta certeza disso e ficou atônito ao ver aquelas imagens foi um filho de Larry, que assistia tudo pela televisão de uma lanchonete da escola no Brasil: Larry 15 – Ele chegou no bar aí olhou no bar assim, estava passando a cena ... aí o colega dele “cara os cara tão atacando Estados Unidos” “bombardearam” foi essa expressão que o amigo dele usou “bombardearam o WTC” aí ele olha pro amigo e disse “pô meu pai trabalha” “que teu pai trabalha lá” não acreditou ... aí esse amigo depois eu fiquei sabendo disse que o meu filho ficou quinze minutos com olhar fixo na televisão, não atinou falar com ninguém, não atinou nada, ficou ali petrificado. (Rodrigo) Com certa demora a informação que Larry estava vivo chegou a todos os familiares naquele dia. Quando a segunda torre caiu, ele já estava longe da área do WTC. Entre idas e vindas, o economista só conseguiu chegar em casa às seis e meia da noite. (SOBE SOM). Larry voltou ao Brasil ainda naquela semana e ficou um bom tempo sem ir ao local onde aconteceu a tragédia, embora tenha voltado a trabalhar nos Estados Unidos. Fez isso mais de 12 anos depois e visitou o memorial construído no local: Larry 11 – Olha, foi bom e ruim, eu diria que foi mais ruim do que bom porque eu fiquei tão emocionado, eu fiquei tão focado em ver algumas coisas e ouvir vozes das pessoas falando, sabe? Das pessoas ligando pra parentes, aquelas gravações todas. Meu Deus do céu, eu fiquei, eu fiquei naquele lugar ali da das gravações, eu fiquei, sei lá, quinze, vinte minutos ouvindo as gravações. Sabe, foi uma coisa assim, chocante, chocante e o negócio lá foi tão bem feito que trazia até, tu via caminhão de bombeiro, tu via pedaços do antigo prédio sabe? Era uma coisa assim bem muito forte, muito muito me me pegou bem. (SOBE SOM) Larry 12 – ficou muito marcante pra mim é quando tu chega lá tem um determinado ponto que tem a foto de todo mundo que morreu, todas as fotos que eles conseguiram, não sei se estão todos ali, e eu comecei olhar as fotos que tinha e assim eu vi dezenas de pessoas que eu tinha trabalhado junto no primeiro, no primeiro emprego que era lá no oitenta e quatro que eu não sabia que tinha morrido porque eu perdi o contato, eu já tinha saído da empresa, eu já não tinha contato nenhum, mas acho que morreu quase todo mundo que eu conhecia cara, é uma coisa impressionante. Sabe aquele cara aí da comunicação ... eu me lembro que tinha um que era de Trinidad e Tobago, ele gostava de futebol. (Rodrigo) No total os números oficiais apontam a morte de 2606 pessoas em Nova York em decorrência dos ataques de 11 de setembro de 2001. Este trecho da reportagem usa áudios do documentário “O que aconteceu em Onze de Setembro”, da HBO. Da Rádio Senado, Rodrigo Resende. LOC: ENQUANTO LARRY ENFRENTAVA NA PRÓPRIA PELE O ATAQUE TERRORISTA, UMA PROFISSIONAL DA COMUNICAÇÃO TINHA A DIFÍCIL MISSÃO DE CONTAR O QUE ESTAVA ACONTECENDO PARA TODO BRASIL. AS HISTÓRIAS DE SIMONE DUARTE ESTÃO NA SEGUNDA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”.

A arte de contar a história
09:00

Transcrição LOC: O ATENTADO AO WORLD TRADE CENTER FOI VISTO AO VIVO POR PELO MENOS DOIS BILHÕES DE CIDADÃOS EM TODO O MUNDO PELA TELEVISÃO. LOC: OS BRASILEIROS QUE ASSISTIRAM AO DESENROLAR DA TRAGÉDIA PELA TV GLOBO OUVIAM DIRETAMENTE DE NOVA YORK A JORNALISTA SIMONE DUARTE. A HISTÓRIA DE SIMONE NAQUELE DIA ESTÁ NA SEGUNDA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”. UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO. TÉC: (Rodrigo) Quando a jornalista Simone Duarte entrou no escritório da Rede Globo em Nova York na manhã de 11 de setembro de 2001 tinha uma preocupação: “Qual matéria vou conseguir emplacar hoje no Jornal Nacional?” Algumas horas depois, essa pergunta seria respondida sem dificuldade: Simone 1 – Bem, o meu onze de setembro de dois mil e um começou ... como eu não tinha matéria pra vender pro Jornal Nacional daquele dia então cheguei mais cedo no escritório da Globo em Nova Iorque e por causa disso estava lá quando o primeiro avião atingiu a primeira torre quando o segundo avião atingiu a segunda torre ... estava só eu e arquivista que também se chamava a Simone e a partir daí eu entrei no ar ... entra no ar, né? Apesar de que eu era chefe da Globo em Nova York, né? Apesar de, assim, fazia umas aparições na GloboNews, mas não era uma repórter de vídeo, mas aí pediram “entra no ar”, então eu comecei a entrar por telefone e dali fiquei lá durante quase duras horas com o Carlos Nascimento durante bastante tempo fomos nós dois ... de vez em quando a gente conseguia chamar alguém que estava na rua ... (Rodrigo) Simone foi uma das vozes que narrou ao Brasil a tragédia do 11 de Setembro de 2001. O jornalista Ivan Godoy, comentarista internacional da Rádio Senado, e a mãe dele, certamente foram alguns dos que ouviram naquele dia a voz da jornalista: Ivan 1 – Eu estava em Brasília e eu lembro que eu estava caminhando, estava me exercitando e quem me avisou inclusive dos ataques foi a minha mãe, a minha mãe ela soube das notícias e disse” os Estados Unidos estão sendo atacados, Washington, Nova Iorque” e eu na hora o que que você pensa, né? A terceira guerra mundial, né? (Rodrigo) Simone sabia que aquele era um fato extraordinário. Mas não dava para saber no momento exato do ocorrido o que é que estava acontecendo. E essa emoção do desconhecido é repassada em suas palavras ao Brasil: Simone 2 – Eu não tinha a mínima noção do que estava acontecendo. Então, aliás a nossa perplexidade era a perplexidade também de todos os comentaristas de todos os televisões americanas que eu praticamente não conseguia ouvir porque eu estava no ar. Porque era o momento, era a hora que a história estava acontecendo (SOBE SOM) Simone 7 – Eu entro no ar depois do segundo avião. Eu acho que o Nascimento entra num plantão primeiro e depois o plantão acaba. Depois quando recomeça aí ele não sai mais. E aí ele me chama e a gente começa. (Rodrigo) Estima-se que dois bilhões de pessoas em todo o mundo acompanharam os acontecimentos pela TV. O choque do avião com a segunda torre foi transmitido ao vivo, assim como as quedas das duas construções posteriormente: Simone 3 – Nós estávamos tão perplexos quando quem estava nos assistindo. Ao mesmo tempo é um fenômeno inédito porque você não teve nenhum evento na história trágico dessa maneira. Quer dizer, não sei se uma Olimpíada tem esse tipo de audiência, uma Copa do Mundo. Em que tem dois bilhões de pessoas assistindo ao mesmo tempo, né? Quer dizer no caso o Brasil parou, o mundo parou, quer dizer, onde havia televisão. (SOBE SOM) Simone 4 – Você tinha a noção, pelo menos eu tive a noção em alguns momentos que ali estava acontecendo história, não é? E eu tenho essa noção na hora que atacam o Pentágono, né? Que ali é realmente foi um momento marcante pra mim da cobertura que eu pensei “é muito mais de tudo que a gente imaginou”. Quando a primeira torre cai, que na realidade a primeira torre cai na realidade é a segunda torre que foi atingida né? Cai primeiro ... é aquele momento que se você ouvir a gravação original é realmente o momento em que eu falo caiu ... caiu a torre ... caiu Nascimento. (Rodrigo) O jornalista Ivan Godoy aponta que foi um duro golpe para a então superpotência mundial: Ivan 2 – No momento que há o onze de setembro o que vemos é que os Estados Unidos eram a única superpotência mundial, a União Soviética tinha desaparecido dez anos antes, né? E a China ainda não tinha o poder que hoje ostenta, né? Então os Unidos estavam realmente como o grande, a grande potência mundial. Ivan 6 – Foi uma coisa muito chocante para os Estados Unidos, podemos dizer que foi o maior ataque externo sofrido pelos Estados Unidos. (Rodrigo) Simone Duarte alerta para outro fato. Muitas das estruturas de transmissão das empresas de comunicação estavam no topo das torres World Trade Center, já que elas eram uma das maiores de Nova York. Isso influenciou em toda a transmissão: Simone 6 – O que que acontece? As transmissões de grande parte de televisões estrangeiras e outras comunicações estavam no topo do World Trade Center, um dos prédios que tinham várias das antenas parabólicas e tal. Quando começam os ataques aquilo interfere no sistema de comunicação de Nova Iorque como um todo, né? Então as comunicações ... fica mais difícil falar, não é? E a gente não tinha internet, quer dizer, a gente tinha internet mas não tinha a comunicação que a gente tem hoje. Então, eu entrei por telefone, você vê que a voz, né? Até não é lá muito clara, enfim, não é um som que hoje se consegue hoje, né? Durante muito tempo a gente tentou, o nosso engenheiro da época, engenheiro da Globo, estava tentando ver como é que ele ia gerar um sinal pro Brasil enquanto os repórteres vinham. (Rodrigo) O atentado contra as torres gêmeas e outros alvos americanos naquele dia foi liderado pelo saudita Osama Bin Laden. Ele era líder de uma organização extremista, Al Qaeda, instalada até então no Afeganistão. Essa liderança de Osama gerou reflexos imediatos no pós onze de setembro na cidade de Nova York, como aponta Simone Duarte: Simone 8 – Eu posso contar assim algumas coisas. Primeiro a radicalização, o preconceito, né? Uma pessoa morena, por exemplo, era atacada na rua porque diziam que era um árabe ou um terrorista. Acho que ver Nova Iorque se radicalizando é algo que eu me lembro nesses dias. Outra lembrança tenho muito forte porque dez dias, duas semanas depois, eu digo que eu consegui finalmente sair do escritório, eu fui até onde você podia chegar, você não podia chegar no WTC, mas você podia chegar ali perto de Wall Street e tal, mas estava tudo cercado por militares e aí iam passando ... já havia aberto, o espaço aéreo reaberto ... ele já tinha reaberto o espaço aéreo e outros americanos de outros estados tinham ido pra lá. Então as pessoas estavam lá como se fosse um ponto turístico, tirando fotos e tal, em filas pra ficar vendo as lojas todas cobertas de poeira. (Rodrigo) Simone escreveu o livro: O vento mudou de direção, no qual conta mais detalhes dessa história e narra a trajetória de diversas pessoas atingidas por aquele fato. Na tarde de 11 de Setembro de 2001, na tribuna do Senado Federal, o então senador Pedro Simon fez um discurso ouvido atentamente por todos os presentes. Simon apontava que o mundo jamais seria o mesmo após o atentado: Simon 2 – Eu tenho convicção que amanhã o mundo não é mais o mesmo, eu não sei o que vai acontecer, aqueles dois prédios mais altos do mundo, praticamente o símbolo da realidade do rígido avanço, da conquista do mundo de hoje, desabarem e é algo que choca. (Rodrigo) Ainda em 2001 o então presidente dos Estados Unidos, George Bush, ordenou o ataque ao Afeganistão, iniciando um período conhecido como Guerra ao Terror. Osama Bin Laden seria morto por forças americanas quase dez anos depois, em maio de 2011. Este trecho da reportagem usa áudios da cobertura da Rede Globo de 11 de Setembro de 2001. Da Rádio Senado, Rodrigo Resende. LOC: O MUNDO MUDOU A PARTIR DOS ATAQUES ÀS TORRES GÊMEAS. MAS MUITOS JOVENS NÃO VIVENCIARAM O ATAQUE “AO VIVO” EM NOVA YORK OU PELA TELEVISÃO. MUITOS JOVENS DE HOJE ATÉ NASCERAM EXATAMENTE NAQUELE DIA. HISTÓRIAS COMO ESSA ESTÃO NA ÚLTIMA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”.

Nascidos em 11 de setembro
09:00

Transcrição LOC: QUEM TEM MENOS DE 20 ANOS NÃO VIVENCIOU O DIA 11 DE SETEMBRO DE 2001 E OS CONSEQUENTES ATENTADOS EM NOVA YORK. LOC: JOÃO E MARIA BALTAZAR NASCERAM EXATAMENTE NAQUELE DIA. ACOMPANHE A ÚLTIMA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”. UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO. TÉC: (Rodrigo) O comentarista internacional Ivan Godoy, jornalista da Rádio Senado, aponta algumas das mudanças ocorridas no mundo após o 11 de setembro de 2001: Ivan 7 – O mundo entrou na chamada guerra ao terror, não é? Um período que durou praticamente vinte anos e de certa maneira se encerra agora com essa retirada dos Estados Unidos do Afeganistão. Como pessoa, uma pessoa individual, a gente notou muito o incremento, o aumento das medidas de segurança no mundo inteiro, não é? Nos aeroportos, por exemplo, não é? Antes era muito mais simples, hoje em dia você muitas vezes é revistado, você tem que tirar o sapato, suas malas passam pro raio X. (Rodrigo) Mas muita gente já nasceu nesse mundo novo. Algumas pessoas inclusive nasceram exatamente no dia 11 de Setembro de 2001. Uma delas é a portuguesa Maria Baltazar: Maria 1 – A minha família conta várias histórias, do dia do nascimento, foi durante o atentado, basicamente a minha mãe estava na sala de parto e estavam as notícias em direto o que estava a acontecer. (Rodrigo) E se não bastasse o fato inusitado, o caso de Maria tem ainda outra coincidência: o nascimento era de gêmeos! Maria conta que a mãe estava em trabalho de parto e que a TV da maternidade mostrava os detalhes dos atentados. “Enquanto várias mortes ocorriam, ali se fazia a vida”. Duas vidas! E isso acabou gerando uma confusão pois quando a segunda torre caiu, o pai de Maria anunciou que “As Torres gêmeas haviam caído”, todos pensaram que havia sido algum problema com os bebês. Maria 1.1 – As pessoas estavam um bocado chocadas. Estavam a acontecer muitas mortes e ao mesmo tempo, pronto, estava a acontecer a vida. E foi assim um bocado confuso porque também o meu pai saiu, não podia entrar na sala de parto, mas saiu de lá a dizer que as torres gêmeas tinham caído. E as pessoas associaram a mim e ao meu irmão, que tinha acontecido uma tragédia quando nós nascemos. (Rodrigo) O fato inusitado também refletiu na vida de Maria, seja na escola ... Maria 2 – Quando eu estava no preparatório que é do quinto ao nono ano, nas aulas, isso em história. E como eu nessa idade era bastante alta e as pessoas como sabiam que eu tinha nascido nesse dia, faziam piadas, acho eu, por ser alta ... torre ... (Rodrigo) ou uma vez por ano no dia do seu aniversário: Maria 3 – Foi assim um momento chocante para toda gente. Como eu disse, ninguém esquece meu aniversário que foi nesse exato dia. (Rodrigo) Em Mogi das Cruzes, São Paulo, João Carlos Botelho também iria ver o mundo exterior pela primeira vez em 11 de setembro de 2001: João 1 – A minha mãe ela entrou em trabalho de parto logo de manhã mais ou menos umas dez da manhã que eu acho que deve ter sido mais ou menos o horário que aconteceu o atentado e aí e eu tenho dois irmãos não é? Eu tenho e a diferença deles são de onze e quinze anos mais ou menos minha e eles contam que eles estavam voltando da escola e eles passavam assim e diziam as pessoas cochichando e televisões ligadas e aí a gente não estava entendendo nada, não é? Aí meu irmão mais velho conta que quando ele chegou em casa ele viu tudo aberto, estava meu vô na sala e aí o meu vô falou assim, “cata tudo e vamos para o hospital” e ele não entendia. E aí ele foi saber, um atentado aconteceu ... e então o que que estava acontecendo ... aí meu vô explicou “ó, então teve um atentado nos Estados Unidos e sua mãe está entrando em trabalho de parto do seu irmão”. (Rodrigo) E assim como Maria Baltazar, João Carlos sempre teve um aniversário marcante: João 4 – Eu lembro que isso assim, falava onze de setembro e as pessoas, elas falavam assim: olha no dia onze de setembro teve um avião que bateu numa torre e aí caiu e foi um dia muito chocante, muito caótico e aí eu lembro de que saber que a data do meu aniversário tinha alguma importância, tinha algo a mais nela. (Rodrigo) João lembra ainda um fato no mínimo diferente, relacionado ao 11 de setembro de 2001 e a coincidência de ter nascido naquela data: João 8 – Que uma vez eu recebi uma mensagem em inglês de um americano que ele falava assim: não, você não pode comemorar seu aniversário porque essa data é uma data que tem muito sofrimento e dor, tem muita gente que sofre com isso e por isso eu peço pra que você nunca mais comemore. Eu li aquilo e eu fiquei assim sem saber se eu ria, se eu me preocupava, o que que eu fazia. (Rodrigo) Para João, a data 11 de Setembro de 2001 tem um significado maior e mais relevante para pessoas que viram o fato ao vivo pela televisão e assistiram uma “transição” em vários aspectos ligados à segurança e à política internacional. Para quem veio depois, como ele, é história: João 6 – O que eu percebo é que pessoas que tem mais ou menos a minha idade ou que eram muito pequenas ainda quando aconteceu elas não tem uma lembrança muito vivida e não dão uma importância muito grande. Agora pessoas que já são mais velhas assim ... elas tem uma lembrança muito forte com essa data e aí quando eu me digo elas já falam “mentira, sério isso? Não, não é possível!” E eu tenho que mostrar meu RG por muitas vezes, comprovar que realmente nasci e naquele dia. (Rodrigo) O estudante de publicidade tem muita vontade de conhecer Nova York. A cidade que de maneira involuntária está ligada de forma íntima a sua vida: João 7 – Eu tenho muita vontade de conhecer Nova Iorque e também tenho muita vontade de conhecer o lugar. Acho que ali tem muita cultura né? Fizeram museus, tem um memorial eu acho que é algo muito impactante. Pesquisando assim, de olho nessas coisas, eu fico me imaginando muito passando pela alfândega americana e aí eles veem meu documento, vendo minha data de nascimento e qual seria a possível reação dele. Às vezes já até cheguei a imaginar será que um dia eu conseguiria pelo menos um visto, né? Pela data, não é? Do meu aniversário. Então eu fico imaginando mil situações, não é? (Rodrigo) Além do atentado às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, aconteceram nos Estados Unidos pelo menos dois ataques envolvendo aviões em 11 de Setembro de 2001. Houve uma colisão com o prédio do Pentágono, sede do departamento de defesa americano, e uma outra queda, no estado da Pensilvânia. Neste último caso passageiros lutaram contra os sequestradores do avião e impediram que eles chegassem até o destino planejado, que as investigações apontam que seria o Capitólio, sede do poder legislativo dos Estados Unidos. No total foram 2977 mortes. Da Rádio Senado, Rodrigo Resende. LOC: VOCÊ ACOMPANHOU A REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”. LOC: REPORTAGEM E APRESENTAÇÃO: RODRIGO RESENDE. LOCUÇÃO: MARCELLA CUNHA. EDIÇÃO: MAURÍCIO DE SANTI. VOCÊ PODE OUVIR A REPORTAGEM COMPLETA NO SITE SENADO.LEG.BR/RADIO OU NO SEU APLICATIVO DE PODCASTS FAVORITO.

Capítulo 1 – O sobrevivente

Larry Jr. Trabalhava no vigésimo quinto andar da primeira torre atingida em 11 de Setembro de 2001. Como ele saiu do prédio? O que acontecia na rua?

Capítulo 2 – A arte de contar a história

Simone Duarte, chefe da sucursal da globo em Nova York, estava quebrando a cabeça para ter uma reportagem em 11 de Setembro de 2001 para ser apresentada no Jornal Nacional. Aí vieram os atentados ...

Capítulo 3 – Nascidos em 11 de Setembro

João Carlos Botelho e Maria Baltazar já nasceram sob a influência de tudo aquilo representado pelos ataques às torres gêmeas. Mas João e Maria compartilham de uma coincidência: nasceram exatamente em 11 de Setembro de 2001.

Transcrição
O sobrevivente
LOC: EM 11 DE SETEMBRO DE 2001 A CIDADE DE NOVA YORK, NOS ESTADOS UNIDOS, SOFREU UM DOS MAIORES ATENTADOS TERRORISTAS DA HISTÓRIA. LOC: O BRASILEIRO LARRY (LARRÍ) JÚNIOR ESTAVA NA TORRE NORTE DO WORLD TRADE CENTER NAQUELE DIA. ACOMPANHE A PRIMEIRA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”. UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO. TÉC: (Rodrigo) Larry Júnior preparou o café da manhã como em todos os dias. Estava sozinho em casa, nos Estados Unidos, porque a esposa havia viajado para o Brasil. No dia 10 de setembro havia sido aniversário da esposa e Larry deu os parabéns por telefone. Por sinal ele estava com o celular da própria esposa naqueles dias. Acabado o café do dia 11, era hora de ir para o trabalho. Larry caminhou de sua casa por 4 minutos até a estação de trem mais próxima. Entrou no comboio e em 5 minutos estava na sua estação de destino: World Trade Center. Ao sair da estação, mais quatro minutos para entrar em um dos prédios das torres gêmeas, pegar o elevador e chegar até a sua mesa, no vigésimo quinto andar. A torre tinha 110. Era perto de sete da manhã. O economista Larry trabalhava em uma empresa de investimentos: Larry 2 – Sete, sete e quinze da manhã já chegou todo mundo que tinha que chegar no mercado financeiro todo mundo já tá lá. Não tem lá ninguém que chega às oito horas da manhã, tá? Eu chegava no escritório entre seis e meia e sete horas, daí aí dependia mais do horário de pegar o trem que eu pegava um trem e descia dentro WTC. Então eu já estava trabalhando... acho que não chegava duas horas ... eu sinceramente eu não me lembro o horário que eu cheguei aquele dia mas foi um dia normal pra mim. (Rodrigo) O que Larry não imaginava é que aquele 11 de setembro de 2001 seria diferente de tudo. Às 8h46 o economista ouve um estrondo no prédio no qual trabalhava: Larry 5 – Esse momento me deu muito medo, por quê? Porque eu estava sentado conversando e tal, quando ouvi aquele barulho e o choque no prédio ... imagina o seguinte um prédio de cento e sete andares ele faz um jogo ... vai pra esquerda e fica balançando até ele se ajeitar. Eu olhei pro meu chefe do meu lado e digo assim “ó vamos embora que isso aqui vai cair”, foi isso exatamente, essas palavras, ele pegou as coisas dele foi embora nem olhou pra trás eu ainda demorei um pouquinho ajeitando, pegando minhas coisas que eu queria pegar ... mas eu tinha a nítida impressão, tive a nítida impressão naquele momento que o prédio não ia aguentar. (Rodrigo) Era um avião batendo contra uma das torres. O choque foi tão grande que Larry só teve tempo de pegar algumas de suas coisas e descer pela saída de emergência. Ficaram para trás o notebook, um dos seus principais instrumentos de trabalho e, sobre a mesa, uma caneca do Internacional de Porto Alegre que havia sido presenteada por sua mãe. Todos foram rumo a uma das três saídas do WTC: Larry 7 – nós descemos a escada normalmente, ou seja, eu fui pra escada de incêndio porque o andar do WTC era bem grande, tinha eu acho que três, eram três saídas de emergência por andar. Cada setor pegava uma. Então, eu peguei no setor, que era o que estava designado pra nós ali que era a face oposta ao local onde entrou o avião. Então o canal assim, o duto não estava, não tinha fumaça, não tinha fogo, não tinha nem cheiro de combustível tinha muito. Então foi eu dei sorte de pegar a saída mais tranquila e nós começamos a descer. Vigésimo quinto andar ... lá pelo décimo terceiro, décimo quarto, não sei precisar exatamente começaram a aparecer os bombeiros e os bombeiros foram subindo e eles começaram ... o primeiro que subiu, segundo bombeiro que subiu, pediu assim ó gente por favor deixem o lado direito de quem tá subindo livre da escada porque vai subir nosso pessoal todo com uma série de equipamentos pra tentar ajudar o pessoal que tá lá em cima. Tu acredita que nós descemos vinte e cinco andares? Eu fico... eu falo contigo que estou arrepiado cara porque eu me lembro dessa cena como se fosse hoje, nós descemos os vinte e cinco andares sem nenhuma pessoa, nenhuma pessoa tentar passar a frente do outro e nenhuma pessoa nesses vinte e cinco andares entrou naquele lugar onde estava reservado pros bombeiros mesmo não tendo nenhum bombeiro. (Rodrigo) Larry estava nas escadas quando 17 minutos após a primeira colisão, aconteceu a segunda, com um outro avião atingindo a segunda torre do World Trade Center às 9h03 da manhã, horário de Nova York. Ele só viu o efeito desse segundo impacto ao sair do prédio. Ao tentar um jeito de voltar para a casa, presenciou a queda da primeira torre, às 9h59 da manhã. A primeira torre que caiu foi a segunda a ser atingida por um avião: Larry 4 –Quando a gente saiu do prédio a polícia nos orientou pra ir em direção Sul ou seja sair do outro indo pela East side Highway indo em direção aquele local onde é que pega as barcas pra ir pra Estátua da Liberdade, na ponta da ilha ponta sul da ilha. Então eu fui seguindo o fluxo, seguindo todo mundo ali. Quando cheguei na primeira possibilidade que não estava fechada pela polícia, deu ir para a beira do rio porque eu pensei, eu só tenho como ir pra casa ou de trem que era dentro do WTC, tudo fechado ou de barco. Quando eu estava chegando, voltei caminhando pela beira do rio em direção de volta, quando cheguei sei lá a cinquenta, cem metros de onde pegavam as barcas, uma policial disse assim “ó, tá fechado, a guarda costeira fechou, ninguém pode passar” ... Fiquei ali alguns segundos, minutos talvez de indecisão e comecei a caminhar de volta. Quando eu comecei a caminhar de volta lá pra ponta Sul da Ilha eu só escutei aquele barulho e eu olhei por cima do meu ombro esquerdo e eu vi a torre de telefone de televisão que era no topo do outro prédio caindo ... (Rodrigo) Foi uma correria só e Larry ainda sim foi atingido pela fuligem e pela poeira da torre. Nesse meio tempo ele só havia conseguido falar com um amigo e uma amiga da esposa no Brasil, pelo menos para dar as primeiras notícias que ele estava vivo. Mas quem não tinha tanta certeza disso e ficou atônito ao ver aquelas imagens foi um filho de Larry, que assistia tudo pela televisão de uma lanchonete da escola no Brasil: Larry 15 – Ele chegou no bar aí olhou no bar assim, estava passando a cena ... aí o colega dele “cara os cara tão atacando Estados Unidos” “bombardearam” foi essa expressão que o amigo dele usou “bombardearam o WTC” aí ele olha pro amigo e disse “pô meu pai trabalha” “que teu pai trabalha lá” não acreditou ... aí esse amigo depois eu fiquei sabendo disse que o meu filho ficou quinze minutos com olhar fixo na televisão, não atinou falar com ninguém, não atinou nada, ficou ali petrificado. (Rodrigo) Com certa demora a informação que Larry estava vivo chegou a todos os familiares naquele dia. Quando a segunda torre caiu, ele já estava longe da área do WTC. Entre idas e vindas, o economista só conseguiu chegar em casa às seis e meia da noite. (SOBE SOM). Larry voltou ao Brasil ainda naquela semana e ficou um bom tempo sem ir ao local onde aconteceu a tragédia, embora tenha voltado a trabalhar nos Estados Unidos. Fez isso mais de 12 anos depois e visitou o memorial construído no local: Larry 11 – Olha, foi bom e ruim, eu diria que foi mais ruim do que bom porque eu fiquei tão emocionado, eu fiquei tão focado em ver algumas coisas e ouvir vozes das pessoas falando, sabe? Das pessoas ligando pra parentes, aquelas gravações todas. Meu Deus do céu, eu fiquei, eu fiquei naquele lugar ali da das gravações, eu fiquei, sei lá, quinze, vinte minutos ouvindo as gravações. Sabe, foi uma coisa assim, chocante, chocante e o negócio lá foi tão bem feito que trazia até, tu via caminhão de bombeiro, tu via pedaços do antigo prédio sabe? Era uma coisa assim bem muito forte, muito muito me me pegou bem. (SOBE SOM) Larry 12 – ficou muito marcante pra mim é quando tu chega lá tem um determinado ponto que tem a foto de todo mundo que morreu, todas as fotos que eles conseguiram, não sei se estão todos ali, e eu comecei olhar as fotos que tinha e assim eu vi dezenas de pessoas que eu tinha trabalhado junto no primeiro, no primeiro emprego que era lá no oitenta e quatro que eu não sabia que tinha morrido porque eu perdi o contato, eu já tinha saído da empresa, eu já não tinha contato nenhum, mas acho que morreu quase todo mundo que eu conhecia cara, é uma coisa impressionante. Sabe aquele cara aí da comunicação ... eu me lembro que tinha um que era de Trinidad e Tobago, ele gostava de futebol. (Rodrigo) No total os números oficiais apontam a morte de 2606 pessoas em Nova York em decorrência dos ataques de 11 de setembro de 2001. Este trecho da reportagem usa áudios do documentário “O que aconteceu em Onze de Setembro”, da HBO. Da Rádio Senado, Rodrigo Resende. LOC: ENQUANTO LARRY ENFRENTAVA NA PRÓPRIA PELE O ATAQUE TERRORISTA, UMA PROFISSIONAL DA COMUNICAÇÃO TINHA A DIFÍCIL MISSÃO DE CONTAR O QUE ESTAVA ACONTECENDO PARA TODO BRASIL. AS HISTÓRIAS DE SIMONE DUARTE ESTÃO NA SEGUNDA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”.

A arte de contar a história
LOC: O ATENTADO AO WORLD TRADE CENTER FOI VISTO AO VIVO POR PELO MENOS DOIS BILHÕES DE CIDADÃOS EM TODO O MUNDO PELA TELEVISÃO. LOC: OS BRASILEIROS QUE ASSISTIRAM AO DESENROLAR DA TRAGÉDIA PELA TV GLOBO OUVIAM DIRETAMENTE DE NOVA YORK A JORNALISTA SIMONE DUARTE. A HISTÓRIA DE SIMONE NAQUELE DIA ESTÁ NA SEGUNDA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”. UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO. TÉC: (Rodrigo) Quando a jornalista Simone Duarte entrou no escritório da Rede Globo em Nova York na manhã de 11 de setembro de 2001 tinha uma preocupação: “Qual matéria vou conseguir emplacar hoje no Jornal Nacional?” Algumas horas depois, essa pergunta seria respondida sem dificuldade: Simone 1 – Bem, o meu onze de setembro de dois mil e um começou ... como eu não tinha matéria pra vender pro Jornal Nacional daquele dia então cheguei mais cedo no escritório da Globo em Nova Iorque e por causa disso estava lá quando o primeiro avião atingiu a primeira torre quando o segundo avião atingiu a segunda torre ... estava só eu e arquivista que também se chamava a Simone e a partir daí eu entrei no ar ... entra no ar, né? Apesar de que eu era chefe da Globo em Nova York, né? Apesar de, assim, fazia umas aparições na GloboNews, mas não era uma repórter de vídeo, mas aí pediram “entra no ar”, então eu comecei a entrar por telefone e dali fiquei lá durante quase duras horas com o Carlos Nascimento durante bastante tempo fomos nós dois ... de vez em quando a gente conseguia chamar alguém que estava na rua ... (Rodrigo) Simone foi uma das vozes que narrou ao Brasil a tragédia do 11 de Setembro de 2001. O jornalista Ivan Godoy, comentarista internacional da Rádio Senado, e a mãe dele, certamente foram alguns dos que ouviram naquele dia a voz da jornalista: Ivan 1 – Eu estava em Brasília e eu lembro que eu estava caminhando, estava me exercitando e quem me avisou inclusive dos ataques foi a minha mãe, a minha mãe ela soube das notícias e disse” os Estados Unidos estão sendo atacados, Washington, Nova Iorque” e eu na hora o que que você pensa, né? A terceira guerra mundial, né? (Rodrigo) Simone sabia que aquele era um fato extraordinário. Mas não dava para saber no momento exato do ocorrido o que é que estava acontecendo. E essa emoção do desconhecido é repassada em suas palavras ao Brasil: Simone 2 – Eu não tinha a mínima noção do que estava acontecendo. Então, aliás a nossa perplexidade era a perplexidade também de todos os comentaristas de todos os televisões americanas que eu praticamente não conseguia ouvir porque eu estava no ar. Porque era o momento, era a hora que a história estava acontecendo (SOBE SOM) Simone 7 – Eu entro no ar depois do segundo avião. Eu acho que o Nascimento entra num plantão primeiro e depois o plantão acaba. Depois quando recomeça aí ele não sai mais. E aí ele me chama e a gente começa. (Rodrigo) Estima-se que dois bilhões de pessoas em todo o mundo acompanharam os acontecimentos pela TV. O choque do avião com a segunda torre foi transmitido ao vivo, assim como as quedas das duas construções posteriormente: Simone 3 – Nós estávamos tão perplexos quando quem estava nos assistindo. Ao mesmo tempo é um fenômeno inédito porque você não teve nenhum evento na história trágico dessa maneira. Quer dizer, não sei se uma Olimpíada tem esse tipo de audiência, uma Copa do Mundo. Em que tem dois bilhões de pessoas assistindo ao mesmo tempo, né? Quer dizer no caso o Brasil parou, o mundo parou, quer dizer, onde havia televisão. (SOBE SOM) Simone 4 – Você tinha a noção, pelo menos eu tive a noção em alguns momentos que ali estava acontecendo história, não é? E eu tenho essa noção na hora que atacam o Pentágono, né? Que ali é realmente foi um momento marcante pra mim da cobertura que eu pensei “é muito mais de tudo que a gente imaginou”. Quando a primeira torre cai, que na realidade a primeira torre cai na realidade é a segunda torre que foi atingida né? Cai primeiro ... é aquele momento que se você ouvir a gravação original é realmente o momento em que eu falo caiu ... caiu a torre ... caiu Nascimento. (Rodrigo) O jornalista Ivan Godoy aponta que foi um duro golpe para a então superpotência mundial: Ivan 2 – No momento que há o onze de setembro o que vemos é que os Estados Unidos eram a única superpotência mundial, a União Soviética tinha desaparecido dez anos antes, né? E a China ainda não tinha o poder que hoje ostenta, né? Então os Unidos estavam realmente como o grande, a grande potência mundial. Ivan 6 – Foi uma coisa muito chocante para os Estados Unidos, podemos dizer que foi o maior ataque externo sofrido pelos Estados Unidos. (Rodrigo) Simone Duarte alerta para outro fato. Muitas das estruturas de transmissão das empresas de comunicação estavam no topo das torres World Trade Center, já que elas eram uma das maiores de Nova York. Isso influenciou em toda a transmissão: Simone 6 – O que que acontece? As transmissões de grande parte de televisões estrangeiras e outras comunicações estavam no topo do World Trade Center, um dos prédios que tinham várias das antenas parabólicas e tal. Quando começam os ataques aquilo interfere no sistema de comunicação de Nova Iorque como um todo, né? Então as comunicações ... fica mais difícil falar, não é? E a gente não tinha internet, quer dizer, a gente tinha internet mas não tinha a comunicação que a gente tem hoje. Então, eu entrei por telefone, você vê que a voz, né? Até não é lá muito clara, enfim, não é um som que hoje se consegue hoje, né? Durante muito tempo a gente tentou, o nosso engenheiro da época, engenheiro da Globo, estava tentando ver como é que ele ia gerar um sinal pro Brasil enquanto os repórteres vinham. (Rodrigo) O atentado contra as torres gêmeas e outros alvos americanos naquele dia foi liderado pelo saudita Osama Bin Laden. Ele era líder de uma organização extremista, Al Qaeda, instalada até então no Afeganistão. Essa liderança de Osama gerou reflexos imediatos no pós onze de setembro na cidade de Nova York, como aponta Simone Duarte: Simone 8 – Eu posso contar assim algumas coisas. Primeiro a radicalização, o preconceito, né? Uma pessoa morena, por exemplo, era atacada na rua porque diziam que era um árabe ou um terrorista. Acho que ver Nova Iorque se radicalizando é algo que eu me lembro nesses dias. Outra lembrança tenho muito forte porque dez dias, duas semanas depois, eu digo que eu consegui finalmente sair do escritório, eu fui até onde você podia chegar, você não podia chegar no WTC, mas você podia chegar ali perto de Wall Street e tal, mas estava tudo cercado por militares e aí iam passando ... já havia aberto, o espaço aéreo reaberto ... ele já tinha reaberto o espaço aéreo e outros americanos de outros estados tinham ido pra lá. Então as pessoas estavam lá como se fosse um ponto turístico, tirando fotos e tal, em filas pra ficar vendo as lojas todas cobertas de poeira. (Rodrigo) Simone escreveu o livro: O vento mudou de direção, no qual conta mais detalhes dessa história e narra a trajetória de diversas pessoas atingidas por aquele fato. Na tarde de 11 de Setembro de 2001, na tribuna do Senado Federal, o então senador Pedro Simon fez um discurso ouvido atentamente por todos os presentes. Simon apontava que o mundo jamais seria o mesmo após o atentado: Simon 2 – Eu tenho convicção que amanhã o mundo não é mais o mesmo, eu não sei o que vai acontecer, aqueles dois prédios mais altos do mundo, praticamente o símbolo da realidade do rígido avanço, da conquista do mundo de hoje, desabarem e é algo que choca. (Rodrigo) Ainda em 2001 o então presidente dos Estados Unidos, George Bush, ordenou o ataque ao Afeganistão, iniciando um período conhecido como Guerra ao Terror. Osama Bin Laden seria morto por forças americanas quase dez anos depois, em maio de 2011. Este trecho da reportagem usa áudios da cobertura da Rede Globo de 11 de Setembro de 2001. Da Rádio Senado, Rodrigo Resende. LOC: O MUNDO MUDOU A PARTIR DOS ATAQUES ÀS TORRES GÊMEAS. MAS MUITOS JOVENS NÃO VIVENCIARAM O ATAQUE “AO VIVO” EM NOVA YORK OU PELA TELEVISÃO. MUITOS JOVENS DE HOJE ATÉ NASCERAM EXATAMENTE NAQUELE DIA. HISTÓRIAS COMO ESSA ESTÃO NA ÚLTIMA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”.

Nascidos em 11 de setembro
LOC: QUEM TEM MENOS DE 20 ANOS NÃO VIVENCIOU O DIA 11 DE SETEMBRO DE 2001 E OS CONSEQUENTES ATENTADOS EM NOVA YORK. LOC: JOÃO E MARIA BALTAZAR NASCERAM EXATAMENTE NAQUELE DIA. ACOMPANHE A ÚLTIMA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”. UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO. TÉC: (Rodrigo) O comentarista internacional Ivan Godoy, jornalista da Rádio Senado, aponta algumas das mudanças ocorridas no mundo após o 11 de setembro de 2001: Ivan 7 – O mundo entrou na chamada guerra ao terror, não é? Um período que durou praticamente vinte anos e de certa maneira se encerra agora com essa retirada dos Estados Unidos do Afeganistão. Como pessoa, uma pessoa individual, a gente notou muito o incremento, o aumento das medidas de segurança no mundo inteiro, não é? Nos aeroportos, por exemplo, não é? Antes era muito mais simples, hoje em dia você muitas vezes é revistado, você tem que tirar o sapato, suas malas passam pro raio X. (Rodrigo) Mas muita gente já nasceu nesse mundo novo. Algumas pessoas inclusive nasceram exatamente no dia 11 de Setembro de 2001. Uma delas é a portuguesa Maria Baltazar: Maria 1 – A minha família conta várias histórias, do dia do nascimento, foi durante o atentado, basicamente a minha mãe estava na sala de parto e estavam as notícias em direto o que estava a acontecer. (Rodrigo) E se não bastasse o fato inusitado, o caso de Maria tem ainda outra coincidência: o nascimento era de gêmeos! Maria conta que a mãe estava em trabalho de parto e que a TV da maternidade mostrava os detalhes dos atentados. “Enquanto várias mortes ocorriam, ali se fazia a vida”. Duas vidas! E isso acabou gerando uma confusão pois quando a segunda torre caiu, o pai de Maria anunciou que “As Torres gêmeas haviam caído”, todos pensaram que havia sido algum problema com os bebês. Maria 1.1 – As pessoas estavam um bocado chocadas. Estavam a acontecer muitas mortes e ao mesmo tempo, pronto, estava a acontecer a vida. E foi assim um bocado confuso porque também o meu pai saiu, não podia entrar na sala de parto, mas saiu de lá a dizer que as torres gêmeas tinham caído. E as pessoas associaram a mim e ao meu irmão, que tinha acontecido uma tragédia quando nós nascemos. (Rodrigo) O fato inusitado também refletiu na vida de Maria, seja na escola ... Maria 2 – Quando eu estava no preparatório que é do quinto ao nono ano, nas aulas, isso em história. E como eu nessa idade era bastante alta e as pessoas como sabiam que eu tinha nascido nesse dia, faziam piadas, acho eu, por ser alta ... torre ... (Rodrigo) ou uma vez por ano no dia do seu aniversário: Maria 3 – Foi assim um momento chocante para toda gente. Como eu disse, ninguém esquece meu aniversário que foi nesse exato dia. (Rodrigo) Em Mogi das Cruzes, São Paulo, João Carlos Botelho também iria ver o mundo exterior pela primeira vez em 11 de setembro de 2001: João 1 – A minha mãe ela entrou em trabalho de parto logo de manhã mais ou menos umas dez da manhã que eu acho que deve ter sido mais ou menos o horário que aconteceu o atentado e aí e eu tenho dois irmãos não é? Eu tenho e a diferença deles são de onze e quinze anos mais ou menos minha e eles contam que eles estavam voltando da escola e eles passavam assim e diziam as pessoas cochichando e televisões ligadas e aí a gente não estava entendendo nada, não é? Aí meu irmão mais velho conta que quando ele chegou em casa ele viu tudo aberto, estava meu vô na sala e aí o meu vô falou assim, “cata tudo e vamos para o hospital” e ele não entendia. E aí ele foi saber, um atentado aconteceu ... e então o que que estava acontecendo ... aí meu vô explicou “ó, então teve um atentado nos Estados Unidos e sua mãe está entrando em trabalho de parto do seu irmão”. (Rodrigo) E assim como Maria Baltazar, João Carlos sempre teve um aniversário marcante: João 4 – Eu lembro que isso assim, falava onze de setembro e as pessoas, elas falavam assim: olha no dia onze de setembro teve um avião que bateu numa torre e aí caiu e foi um dia muito chocante, muito caótico e aí eu lembro de que saber que a data do meu aniversário tinha alguma importância, tinha algo a mais nela. (Rodrigo) João lembra ainda um fato no mínimo diferente, relacionado ao 11 de setembro de 2001 e a coincidência de ter nascido naquela data: João 8 – Que uma vez eu recebi uma mensagem em inglês de um americano que ele falava assim: não, você não pode comemorar seu aniversário porque essa data é uma data que tem muito sofrimento e dor, tem muita gente que sofre com isso e por isso eu peço pra que você nunca mais comemore. Eu li aquilo e eu fiquei assim sem saber se eu ria, se eu me preocupava, o que que eu fazia. (Rodrigo) Para João, a data 11 de Setembro de 2001 tem um significado maior e mais relevante para pessoas que viram o fato ao vivo pela televisão e assistiram uma “transição” em vários aspectos ligados à segurança e à política internacional. Para quem veio depois, como ele, é história: João 6 – O que eu percebo é que pessoas que tem mais ou menos a minha idade ou que eram muito pequenas ainda quando aconteceu elas não tem uma lembrança muito vivida e não dão uma importância muito grande. Agora pessoas que já são mais velhas assim ... elas tem uma lembrança muito forte com essa data e aí quando eu me digo elas já falam “mentira, sério isso? Não, não é possível!” E eu tenho que mostrar meu RG por muitas vezes, comprovar que realmente nasci e naquele dia. (Rodrigo) O estudante de publicidade tem muita vontade de conhecer Nova York. A cidade que de maneira involuntária está ligada de forma íntima a sua vida: João 7 – Eu tenho muita vontade de conhecer Nova Iorque e também tenho muita vontade de conhecer o lugar. Acho que ali tem muita cultura né? Fizeram museus, tem um memorial eu acho que é algo muito impactante. Pesquisando assim, de olho nessas coisas, eu fico me imaginando muito passando pela alfândega americana e aí eles veem meu documento, vendo minha data de nascimento e qual seria a possível reação dele. Às vezes já até cheguei a imaginar será que um dia eu conseguiria pelo menos um visto, né? Pela data, não é? Do meu aniversário. Então eu fico imaginando mil situações, não é? (Rodrigo) Além do atentado às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, aconteceram nos Estados Unidos pelo menos dois ataques envolvendo aviões em 11 de Setembro de 2001. Houve uma colisão com o prédio do Pentágono, sede do departamento de defesa americano, e uma outra queda, no estado da Pensilvânia. Neste último caso passageiros lutaram contra os sequestradores do avião e impediram que eles chegassem até o destino planejado, que as investigações apontam que seria o Capitólio, sede do poder legislativo dos Estados Unidos. No total foram 2977 mortes. Da Rádio Senado, Rodrigo Resende. LOC: VOCÊ ACOMPANHOU A REPORTAGEM ESPECIAL “UM MUNDO NOVO: 11 DE SETEMBRO DE 2001”. LOC: REPORTAGEM E APRESENTAÇÃO: RODRIGO RESENDE. LOCUÇÃO: MARCELLA CUNHA. EDIÇÃO: MAURÍCIO DE SANTI. VOCÊ PODE OUVIR A REPORTAGEM COMPLETA NO SITE SENADO.LEG.BR/RADIO OU NO SEU APLICATIVO DE PODCASTS FAVORITO.

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