22 - Geisel, volta gradual à democracia e desenvolvimento econômico

Transcrição Parte 1 - Geisel, desenvolvimento econômico, volta gradual á democraria TÉC: UMA MÚSICA DE LUPICÍNIO COM BETÂNIA. FICA 15 SEGUNDOS E CAI EM BG. LOC: O GAÚCHO LUPICÍNIO RODRIGUES MORREU EM 74, JUSTAMENTE QUANDO SUA OBRA ESTAVA SENDO REDESCOBERTA POR TALENTOS COMO MARIA BETÂNIA, PAULINHO DA VIOLA, CAETANO VELOSO, GAL COSTA E ELIS REGINA. PAULINHO GRAVOU “NERVOS DE AÇO”: TÉC: “Nervos de aço”. LOC: O BRASILEIRO COMUM SE APAIXONOU PELA FÓRMULA UM COM ESTA MÚSICA: (TÉC: “AZIMUTH”, COM MARCOS VALLE - 10 SEGUNDOS E CAI EM BG). “AZIMUTE, DE MARCOS VALLE. ERA COM ELA QUE A TV GLOBO ABRIA AS TRANSMISSÕES DE FÓRMULA UM A PARTIR DO TÍTULO DE CAMPEÃO MUNDIAL CONQUISTADO POR EMERSON FITTIPALDI EM 72, DIRIGINDO A BELÍSSIMA LOTUS 72-D PRETA E DOURADA. LOC: EM 74, EMERSON CHEGOU AO BI-CAMPEONATO, DESTA VEZ PILOTANDO UMA MCLAREN VERMELHA. (SOBE “AZIMUTH”, QUE ESTAVA EM BG DESDE O COMEÇO). A PAIXÃO DO BRASILEIRO COMUM PELA FÓRMULA UM SÓ FOI MORRER 20 ANOS DEPOIS, EM 94, AO SOM DESTA OUTRA MÚSICA (TÉC: SOBE O “TEMA DE AIRTON SENNA”), DO MAESTRO EDUARDO SOUTO, QUE MARCAVA AS VITÓRIAS DE AYRTON SENNA. LOC: O GOVERNO GEISEL TEVE TRÊS VERTENTES QUE MERECEM SER CONTADAS EM SEPARADO: A ECONÔMICA, A INTERNACIONAL E A POLÍTICA. VAMOS PRIMEIRO FALAR DA ECONOMIA: LOC: O MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO PASSOU A SER UMA SECRETARIA, LIGADA DIRETAMENTE À PRESIDÊNCIA. PARA CUIDAR DO ASSUNTO, FOI MANTIDO O JOVEM MINISTRO JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO. ELE IRIA CUIDAR DO PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO, ENQUANTO, NA FAZENDA, MÁRIO HENRIQUE SIMONSEN CUIDARIA DO COMBATE À INFLAÇÃO, DO DIA-A-DIA DA ECONOMIA. LOC: GEISEL TOMOU POSSE EM MEIO À GRAVE CRISE INTERNACIONAL DO PETRÓLEO. OS PAÍSES ÁRABES IMPUSERAM UM EMBARGO AOS ESTADOS UNIDOS DE NOVEMBRO DE 73 A MARÇO DE 74, EM PROTESTO CONTRA O APOIO NORTE-AMERICANO A ISRAEL. LOC: OS ESTADOS UNIDOS AMEAÇARAM ATÉ INVADIR O ORIENTE MÉDIO PARA GARANTIR O ABASTECIMENTO. OS ÁRABES RESPONDERAM: SE INVADIREM, NÓS QUEIMAMOS TODOS OS POÇOS DE PETRÓLEO. LOC: O SECRETÁRIO DE ESTADO HENRY KISSINGER AMEAÇOU COM UM BLOQUEIO DE ALIMENTOS AOS PAÍSES ÁRABES. TODOS OS PAÍSES INDUSTRIALIZADOS TIVERAM QUE RACIONAR COMBUSTÍVEL, E O RACIONAMENTO ATINGIU AS PRINCIPAIS CIDADES DO MUNDO. OS ÁRABES FORMARAM O CARTEL DOS PRODUTORES, A ORGANIZAÇÃO DOS PAÍSES EXPORTADORES DE PETRÓLEO, A OPEP. LOC: OS PREÇOS DO PETRÓLEO FORAM ÀS ALTURAS. DE APENAS UM DÓLAR, O BARRIL DO PETRÓLEO PASSOU DE REPENTE A CUSTAR DOZE DÓLARES. AS CONTAS EXTERNAS DO BRASIL SAÍRAM COMPLETAMENTE DE CONTROLE. LOC: ATÉ AQUELE MOMENTO, O PAÍS GASTAVA SÓ DEZ POR CENTO DO QUE EXPORTAVA PARA COMPRAR PETRÓLEO, CERCA DE 600 MILHÕES DE DÓLARES. COM A CRISE DO PETRÓLEO, A CONTA SUBIU PARA MAIS DE CINCO BILHÕES DE DÓLARES. LOC: EM PLENO CRESCIMENTO INDUSTRIAL, O BRASIL DEPENDIA ATÉ MAIS DO QUE HOJE, DA IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO. O PÁIS SÓ PRODUZIA AQUI 15 POR CENTO DO PETRÓLEO QUE CONSUMIDO. LOC: O DEPUTADO DELFIM NETTO, MINISTRO DA FAZENDA DO GOVERNO ANTERIOR, ACREDITA QUE GEISEL NÃO TINHA SAÍDA. TINHA QUE SUBSTITUIR IMPORTAÇÕES, AUMENTAR A BASE INDUSTRIAL BRASILEIRA, PORQUE TINHA LEVADO UM CHOQUE COM A ALTA DE PETRÓLEO: TÉC: “Algumas pessoas imaginam que teria sido melhor você ter feito uma restrição no uso do petróleo, um regime de racionamento, isso seria uma tragédia, teria transformado o Brasil em Bangladesh. E acho que a medida tomada pelo governo foi correta, na verdade, se endividou para manter a economia funcionando, aumento o estoque de (...?) para manter a economia funcionando, e onde eu ache que há dúvida sobre o que eu acho que poderia ter sido feito, é sobre esse problema de substituição de importação. Claramente, na minha opinião, teria sido muito melhor acelerar o programa de expansão das importações de que era o que nós vínhamos fazendo” LOC: DELFIM ADMITE QUE A INFRA-ESTRUTURA MONTADA NO GOVERNO GEISEL FOI BOA PARA O PAÍS CINCO ANOS DEPOIS: TÉC: “Na verdade, houve uma ênfase exagerada na substituição de importações, você voltou atrás nesse processo, e nós deveríamos, na minha opinião, ter acelerado esse processo, deveríamos ter continuado o programa que vinha desde 67, 64, 65. Se nós tivéssemos feito isso, certamente, os efeitos da crise seriam menores, mas não é possível dizer que esse programa não produziu nenhum resultado. Na verdade, você fez uma grande ênfase e substituição de importação, que maturou cinco, seis anos depois. De qualquer forma eu acho, que sim, houve um erro da direção d política econômica, ela deveria ter prosseguido no suporte às exportações, em vez de ter mergulhado numa extravagante substituição de importações.” LOC: A DEPUTADA MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES, CRÍTICA DE TODAS AS POLÍTICAS ECONÔMICAS DE GOVERNO, DIZ QUE, COM O PRIMEIRO CHOQUE DO PETRÓLEO, GEISEL TINHA DUAS OPÇÕES: TÉC: “Mas ele tinha duas opções. Tinha a opção de fazer o ajuste ali, e crescer menos, ou não fazer, como ele não fez, e crescer mais. Só que ele cresceu mais com endividamento externo das estatais. E aí criou um problema para elas.” LOC: QUER DIZER, OU GEISEL COMPRAVA MENOS PETRÓLEO, IMPUNHA UM RACIONAMENTO AQUI DENTRO E REDUZIA O CRESCIMENTO ECONÔMICO ATÉ A SITUAÇÃO EXTERNA SE NORMALIZAR, OU PISAVA NO ACELERADOR DA ECONOMIA. ELE ESCOLHEU ACELERAR. LOC: NA OPINIÃO DE DELFIM, O MELHOR SERIA INCENTIVAR EXPORTAÇÕES PRA COMPENSAR AS PERDAS COM A COMPRA DE PETRÓLEO. MENOS PISAR NO FREIO, QUE LEVARIA O BRASIL LÁ PARA O QUARTO MUNDO. LOC: E NA OPINIÃO DE MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES, O CAMINHO ESCOLHIDO POR GEISEL FOI O PIOR, PORQUE AUMENTOU A DÍVIDA EXTERNA, O QUE VIRIA A TER CONSEQUÊNCIAS GRAVES DEPOIS, NO COMEÇO DOS ANOS 80, QUANDO OS JUROS INTERNACIONAIS DESTES EMPRÉSTIMOS FORAM ÀS NUVENS. LOC: DELFIM ACHA QUE O CRESCIMENTO TINHA QUE CONTINUAR, MAS SEM TANTA ESTATIZAÇÃO: TÉC: “Foi tão estatizante que quando terminou o governo Geisel, não se sabia quantas estatais a gente tinha criado. Foi preciso criar a CESP, que levou uns quatro meses pra gente descobrir as estatais que estavam escondidas e que eram filhotes, como cangurus, escondidas nas bolsas das outras estatais”. LOC: MAS O RESPEITADO ECONOMISTA ANTÔNIO BARROS DE CASTRO, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, ESCREVEU UM LIVRO CHAMADO “A ECONOMIA EM MARCHA FORÇADA” QUE MOSTRA O SEGUINTE: O GOVERNO GEISEL CRIOU UMA INDÚSTRIA DE BASE E DE MATÉRIAS PRIMAS NO BRASIL, PRINCIPALMENTE INDÚSTRIA PETROQUÍMICA, CELULOSE, METAIS NÃO FERROSOS. ISSO FOI DECISIVO PARA AGUENTARMOS AS CRISES INTERNACIONAIS SEGUINTES. LOC: SEGUNDO BARROS DE CASTRO, QUE PRESIDIU O BNDES NO GOVERNO ITAMAR FRANCO, A BASE INDUSTRIAL CRIADA POR GEISEL PERMITIU MENOS IMPORTAÇÕES DE PRODUTOS PETROQUÍMICOS NOS CHOQUES DE PETRÓLEO SEGUINTES. MESMO QUE A DÍVIDA EXTERNA TENHA AUMENTADO E O APARATO ESTATAL TENHA CRESCIDO MUITO. LOC: O GOVERNO GEISEL, EM 74 MESMO, PRODUZIU ENTÃO O SEGUNDO PND, PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO. O ENTÃO MINISTRO DO PLANEJAMENTO, REIS VELLOSO, EXPLICA O QUE SE PLANEJOU: TÉC: “Nós deveríamos desacelerar a economia, ela não poderia continuar crescendo tão rapidamente como tinha feito nos anos anteriores, na fase do milagre, mas também não deveria haver recessão. Em segundo lugar, tinha de haver o programa de investimento que preparasse o país para aumentar a sua produção de petróleo, sua produção de energia elétrica, e também certos setores de indústrias básicas, como os chamados insumos básicos, quer dizer, siderurgia, petroquímica, papéis celulose, assim como a área de bens de capital, equipamentos”. LOC: REIS VELLOSO CONTA QUE O PND BUSCOU MUDAR O PERFIL ESTRUTURAL DA ECONOMIA. DEIXAR O PAÍS MENOS DEPENDENTE DE IMPORTAÇÕES. ELE ADMITE QUE ISSO AUMENTOU A DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA. MAS GARANTE QUE A DÍVIDA DEIXADA PELO GOVERNO GEISEL ERA PERFEITAMENTE SUPORTÁVEL. SEGUNDO ELE, O PIOR VEIO DEPOIS, NO GOVERNO FIGUEIREDO: TÉC: “Acontece que em termos líquidos, ou seja, deduzindo as reservas, no fim de 78 o Brasil ainda estava com uma dívida de 31,5 bilhões de dólares, que era elevado, mas que não inviabilizava o país. O problema todo é que logo em seguida veio uma outra que veio do petróleo, veio a crise da taxa de juros. E como o Brasil não desacelerou em 1979, como deveria ter feito, o Simonsen até teve que ir embora, porque ele queria desacelerar, nós estávamos crescendo a cinco por cento, ele achava que nós deveríamos crescer a três por cento, quatro no máximo. Como isso não foi entendido pelo governo na época, ele saiu. E aí o Brasil acelerou a sua economia, o que trazia novamente o problema” LOC: REIS VELLOSO ADMITE QUE O GOVERNO GEISEL AUMENTOU A ESTATIZAÇÃO DA ECONOMIA. MAS GARANTE QUE NÃO HOUVE A INTENÇÃO, ESTATIZAR COMO IDEOLOGIA. LOC: ATÉ PORQUE, SEGUNDO ELE, GEISEL ERA OBJETIVO E PRAGMÁTICO, TOMAVA A DECISÃO QUE CONSIDERAVA MAIS FUNCIONAL, MAIS ADEQUADA, SEM DAR IMPORTÂNCIA A IDEOLOGIAS: TÉC: “O que houve foi que muitos programas de investimento foram realmente executados por empresas estatais. Mas isso porque em governos anteriores, esses setores já tinham passado a ser desenvolvidos por empresas estatais, por exemplo, petróleo. E havia uma crise do petróleo, você tinha que investir muito em prospecção (?) e produção de petróleo. Isso não quer dizer ser estatizante. Energia elétrica, novamente. Há uma crise de energia, você expande aquele tipo de energia que para você é mais barato e abundante, mas, novamente, quem entregou o setor de energia elétrica, a Eletrobrás e as suas subsidiárias foram governos anteriores, esse é um processo que já vinha de décadas.” LOC: REIS VELLOSO LEMBRA AINDA QUE BOA PARTE DO SEGUNDO PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO FOI FEITO COM BASE NA EMPRESA PRIVADA, FINANCIADA PELO BNDE: TÉC: “Se você tomar o programa de bens de capital, ele estava inteiramente entregue ao setor privado, a siderurgia de não-planos, grande parte da petroquímico setor de celulose e papel. Então o governo Geisel não fez nenhuma mudança significativa na divisão de trabalho que já existia anteriormente, quanto ao setores que são desenvolvidos por estatais, e aos que são desenvolvidos por empresas privadas.” LOC: O GOVERNO FEZ MAIS: CRIOU O PRO-ÁLCOOL, SUBSIDIANDO FORTEMENTE OS PRODUTORES. A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA TEVE QUE ADAPTAR OS CARROS AO NOVO COMBUSTÍVEL, PARA DIMINUIR A COMPRA DE PETRÓLEO. LOC: LAVOURAS INTEIRAS DE CAFÉ E DE VÁRIOS OUTROS PRODUTOS FORAM SUBSTITUÍDAS PELA PLANTAÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR, PORQUE OS AGRICULTORES QUERIAM OS BENEFÍCIOS DO NOVO PROGRAMA. LOC: PARA COMPENSAR OS GASTOS COM IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO, GEISEL IMPÔS EM JUNHO DE 74 UMA SOBRETAXA DE CEM POR CENTO SOBRE PRODUTOS SUPÉRFLUOS IMPORTADOS, COMO AUTOMÓVEIS, BEBIDAS E OUTROS. O LIMITE DE VELOCIDADE NAS ESTRADAS FOI ESTIPULADO EM OITENTA QUILÔMETROS POR HORA. MAIS POR ECONOMIA DO QUE POR SEGURANÇA. LOC: FICOU TAMBÉM QUASE IMPOSSÍVEL VIAJAR PARA O EXTERIOR. O LIMITE DE DINHEIRO QUE SE PODIA LEVAR ERA DE MIL DÓLARES. ALÉM DISSO, QUEM QUISESSE VIAJAR TINHA QUE FAZER UM DEPÓSITO COMPULSÓRIO DE 25 POR CENTO SOBRE O VALOR DA PASSAGEM AÉREA. LOC: EM VEZ DE RACIONAMENTO DE COMBUSTÍVEIS, COMO NOS PAÍSES RICOS, ADOTOU-SE O QUE SE CHAMOU DE “RACIONALIZAÇÃO”. ERA COBRADO UM EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE O COMBUSTÍVEL COMPRADO NOS POSTOS DE GASOLINA. O COMPROVANTE DESTE EMPRÉSTIMO FOI CHAMADO DE “SIMONETA”, POR CAUSA DO MINISTRO SIMONSEN E EM UMA ALUSÃO ÀS CHAMADAS “POLONETAS”. LOC: AS “POLONETAS” ERAM TÍTULOS DO GOVERNO DA POLÔNIA QUE O BRASIL TINHA COMPRADO E QUE NUNCA CONSEGUIU RESGATAR. LOC: A DÉCADA DE 70 FOI REALMENTE DE CHICO BUARQUE. A PEÇA GOTA D’ÁGUA DE CHICO, PAULO PONTES E ODUVALDO VIANA FILHO FOI UM GRANDE SUCESSO. ERA UMA ADAPTAÇÃO DA PEÇA MEDÉIA, DE EURÍPEDES, UMA MULHER ABANDONADA PELO MARIDO QUE A TROCA POR UMA MOÇA MAIS JOVEM E PARA SE VINGAR, ELA MATA OS FILHOS. LOC: CHICO BUARQUE, ODUVALDO VIANA FILHO, CONHECIDO COMO ‘VIANINHA’, E PAULO PONTES, PUSERAM BIBI FERREIRA COMO UMA ESPÉCIE DE MEDÉIA DOS MORROS CARIOCAS. ALIÁS, ODUVALDO VIANA FILHO E PAULO PONTES MORRERAM EM DEZEMBRO DE 76, LOGO DEPOIS DA ESTRÉIA DE GOTA D’ÁGUA. MAS A MÚSICA FOI OUVIDA PELO PAÍS INTEIRO, NA GRAVAÇÃO DE CHICO BUARQUE, O AUTOR, MAS TAMBÉM DA CANTORA QUE FOI REVELAÇÃO AQUELE ANO, SIMONE. LOC: Simone, com Gota D’água. LOC: O BALANÇO ECONÔMICO DO PRIMEIRO ANO DO GOVERNO GEISEL FOI ESSE: COMEÇOU ENFRENTANDO UMA ESCASSEZ MUNDIAL DE MATÉRIAS PRIMAS E A CRISE INTERNACIONAL DO PETRÓLEO. MESMO ASSIM, AO FIM DO ANO O PAÍS TINHA CRESCIDO DE NOVE A DEZ POR CENTO, O DEFICIT DA BALANÇA COMERCIAL CHEGOU A CINCO BILHÕES DE DÓLARES. LOC: A DÍVIDA EXTERNA NOS ANOS GEISEL FOI DE 19 BILHÕES A 30 BILHÕES DE DÓLARES. OS ESTADOS UNIDOS IMPUSERAM SOBRETAXAS AOS CALÇADOS BRASILEIROS EM 74. O GOVERNO BRASILEIROU SOLTOU UMA NOTA DE PROTESTO, EXPLICADA PELO MINISTRO DA FAZENDA, MÁRIO HENRIQUE SIMONSEN: TÉC: “Você vai ver na nota oficial que os Estados Unidos, que se dizem campeões do livre comércio, mantém uma lei de 1897 que ignora uma regra básica do GATT”. LOC: GEISEL LANÇOU TAMBÉM UM PLANO FERROVIÁRIO NACIONAL. PREVIA A EXPANSÃO DA REDE FERROVIÁRIA, PARA COMPENSAR O CUSTO DO PETRÓLEO: TÉC: “Com vistas à economia de combustível oneroso escasso e em grande parte importado ainda proceder-se-á a (...?) de 1439 km de quilômetros de linha”. LOC: HOUVE VÁRIOS QUEBRA-QUEBRAS DE TRENS DA CENTRAL DO BRASIL NO RIO DE JANEIRO, POR PASSAGEIROS INSATISFEITOS COM A PÉSSIMA QUALIDADE DO SERVIÇO. O MAU ESTADO DAS LINHAS DA CENTRAL FICOU EVIDENTE COM DOIS ACIDENTES GRAVÍSSIMOS EM QUE MORRERAM MAIS DE CEM PESSOAS. LOC: SÓ QUE A DIVULGAÇÃO DESSES ACIDENTES FOI PROBIDA PELA CENSURA, QUE AINDA ERA FORTE, EMBORA FOSSE AOS POUCOS ABOLIDA PELO GOVERNO GEISEL. LOC: GEISEL TAMBÉM QUEBROU O MONOPÓLIO DA PETROBRÁS, COMO FORMA DE BUSCAR A AUTO-SUFICIÊNCIA DE COMBUSTÍVEIS. A DECISÃO SOOU COMO UMA HERESIA E UMA DESILUSÃO EM VÁRIOS SETORES, PORQUE A PETROBRÁS ERA A MENINA DOS OLHOS DO PRESIDENTE, TIDO COMO NACIONALISTA. LOC: O PRESIDENTE DECIDIU FIRMAR CONTRATOS DE RISCO COM EMPRESAS ESTRANGEIRAS. SE ELAS ENCONTRASSEM PETRÓLEO, TERIAM DIREITO À MAIOR PARTE DA VENDA DO PRODUTO. SE NÃO ENCONTRASSEM, FICARIAM COM O PREJUÍZO. A BRITISH PETROLEUM E A EXXON FORAM AS PRIMEIRAS A ASSINAR. LOC: VAMOS OUVIR GEISEL ANUNCIANDO OS CONTRATOS DE RISCO. TÉC: Geisel : “(...) a convicção de que o governo deve autorizar a Petrobrás , com quebra do regime de monopólio, para revisar contrato de serviço, com cláusula de risco por conta da empresa executora em área previamente selecionada.” TÉC: ANÚNCIO DA SELEÇÃO BRASILEIRA NA ALEMANHA. LOC: FOI ASSIM QUE O LOCUTOR ALEMÃO ANUNCIOU A PRESENÇA DO BRASIL, TRI-CAMPEÃO MUNDIAL, NA PARTIDA DE ABERTURA DA COPA DO MUNDO DE 1974. O JOGO FOI CONTRA A ESCÓCIA, EM FRANKFURT. TERMINOU EM UM DECEPCIONANTE ZERO A ZERO. LOC: ZAGALO FOI AVISADO AINDA NO BRASIL: CUIDADO COM A ALEMANHA, QUE MONTOU UMA SUPERSELEÇÃO, COM CRAQUES EXTRA-CLASSE, GENIAIS, COMO O GOLEIRO MEIER, O LÍBERO FRANZ BECKENBAUER, UM DOS CINCO MAIORES JOGADORES DE TODOS OS TEMPOS, OS ZAGUEIROS SCHWARZENBECK E BREITNER, OS MEIO-CAMPISTAS NETZER, OVERATH E BONHOFF, O ATACANTE GERD MULLER. ZAGALO RESPONDIA: NÓS GANHAMOS DELES NA ÚLTIMA EXCURSÃO E GANHAREMOS DE NOVO NA HORA EM QUE QUISERMOS. LOC: OUTRO AVISO: A SELEÇÃO DA HOLANDA ERA UMA DAS MAIORES NOVIDADES DA HISTÓRIA DO FUTEBOL. TINHA UMA DINÂMICA DE JOGO PARECIDA COM O BASQUETE, COM TODOS OS JOGADORES CUMPRINDO VÁRIAS FUNÇÕES, CORRENDO O CAMPO TODO, EMBORA SÓ COM DOIS CRAQUES DE SONHO, DE ANTOLOGIA: NEESKENS E CRUYFF. LOC: ZAGALO DIZIA: “NÃO PRECISO VER A HOLANDA JOGAR, NEM QUERO. ELES É QUE TÊM QUE SE PREOCUPAR COM A GENTE, NÓS SOMOS OS TRICAMPEÕES DO MUNDO”. RESULTADO: ALEMANHA CAMPEÃ, HOLANDA VICE. O BRASIL AMARGOU UM QUARTO LUGAR, PERDENDO EM SEGUIDA PARA A HOLANDA, POR DOIS A ZERO, E PARA A POLÔNIA POR UM A ZERO, NA DISPUTA DO TERCEIRO LUGAR. LOC: NA VOLTA AO BRASIL, ZAGALO, UM TÉCNICO JÁ ULTRAPASSADO HÁ 20 ANOS ATRÁS, MANTEVE A ARROGÂNCIA E DEMONSTROU NÃO TER NENHUM COMPROMISSO COM A COERÊNCIA: TÉC: FALA DE ZAGALO, DERROTADO: “O futebol, no momento o brasileiro, é inferior na Alemanha e na Holanda, nós estamos em quarto lugar. Mas, tem gente superior no momento. É isso, dar a mão à palmatória, ser realista” Parte 2 - Transamazônica, Ponte Rio-Niteroi, inflação LOC: EM 1974, FORAM INAUGURADAS A TRANSAMAZÔNICA, A PONTE RIO-NITERÓI E A USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU, QUE DESTRUIU O SALTO DE SETE QUEDAS E TODO O PARQUE EM VOLTA. LOC: GEISEL TEVE UMA INFLAÇÃO DE 30 POR CENTO NO PRIMEIRO ANO DE GOVERNO, E UM CRESCIMENTO ECONÔMICO DE DEZ POR CENTO. NO ÚLTIMO ANO DE GOVERNO TEVE UMA INFLAÇÃO SUPERIOR A 50 POR CENTO E UM CRESCIMENTO ECONÔMICO DE CINCO POR CENTO. LOC: O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO REJEITOU AS CONTAS DO MINISTRO DOS TRANSPORTES DO GOVERNO MÉDICI, MÁRIO ANDREAZZA, PRINCIPALMENTE POR CONTA DAS OBRAS DA PONTE RIO-NITERÓI E DA TRANSAMAZÔNICA, E TAMBÉM DO GOVERNADOR FLUMINENSE RAIMUNDO PADILHA. LOC: GEISEL FEZ TAMBÉM A FUSÃO DO ESTADO DA GUANABARA COM O ESTADO DO RIO DE JANEIRO. NOMEOU COMO INTERVENTOR DO NOVO ESTADO O ALMIRANTE FLORIANO PEIXOTO FARIA LIMA, QUE NO DISCURSO DE POSSE ACUSOU DIRETAMENTE OS DOIS GOVERNADORES QUE SAÍAM DE CORRUPTOS: CHAGAS FREITAS, DA GUANABARA, E RAIMUNDO PADILHA, DO ESTADO DO RIO. LOC: O MINISTRO DA JUSTIÇA, ARMANDO FALCÃO, ANUNCIOU A FUSÃO. LOC: ALÉM DA FUSÃO DE GUANABARA E RIO DE JANEIRO, GEISEL DESDOBROU EM DOIS O ESTADO DO MATO GROSSO, CRIANDO OS ATUAIS MATO GROSSO E MATO GROSSO DO SUL. LOC: PAULO GRACINDO E CLARA NUNES FIZERAM SUCESSO TAMBÉM COM O SHOW BRASILEIRO PROFISSÃO ESPERANÇA. CLARA ERA UM SUCESSO, TAMBÉM, NA MÚSICA. TINHA COMEÇADO NA DÉCADA DE 60 COMO CANTORA DE BOLEROS. LOC: O NAMORO COM O RADIALISTA E PRODUTOR MUSICAL ADELSON (?) ALVES E O POSTERIOR CASAMENTO COM O COMPOSITOR PAULO CÉSAR PINHEIRO, MUDARAM A CARREIRA DELA, TRANSFORMOU-SE EM GRANDE SAMBISTA. O SHOW COM PAULO GRACINDO, BASEADO EM ANTÔNIO MARIA, FOI UM APOGEU PARA CLARA. TÉC: Paulo Gracindo: ‘Quando foi lançado o Sputnik (?), quando Jânio Quadros foi eleito presidente do Brasil e Kennedy dos Estados Unidos, quando a mulher da moda era Brigite Bardot, quando nascia a bossa nova, quando o Brasil conquistou pela primeira vez a copa do mundo, quando Brasília ficou pronta, um cronista e uma cantora chamado Antônio Maria e Dolores Duran viviam os momentos mais ativos de sua vida no Rio de Janeiro. Enquanto o mundo se rachava, eles gastavam a visa procurado dentro de si mesmos, uma explicação para o mundo. Os dois eram meus amigos, os dois gostavam da noite, os dois faziam canções, os dois morreram. Esse show é feito do que eles disseram, escreveram e cantaram.” TÉC: Dolores Duran. TÉC: Paulo Gracindo: “Quando eu fiz quinze anos, ganhei um relógio de pulso e quinze mil réis. Olhei, vi que era hora de fazer uma besteira e entrei num botequim. A vida é boa, mas eu vou dar um conselho para os homens: é muito perigoso ter muitas mulheres ao mesmo tempo. Quem tem seis mulheres, tem, no mínimo, seis oportunidades de ser passado para trás.” TÉC: Paulo Gracindo: “Ah! meus senhores e senhoras, eu lhes garanto que é muito melhor estar mal acompanhado do que só. A única vantagem da solidão é que a gente pode ir no banheiro e deixar a porta aberta.” “Me dê mão, vamos sair para ver o sol.” LOC: O LADO INTERNACIONAL DO GOVERNO GEISEL TAMBÉM MERECEU DELE UMA FRASE: “VAMOS FAZER, NO ÂMBITO INTERNACIONAL, UM PRAGMATISMO RESPONSÁVEL”. ELE QUERIA DIZER COM ISSO O SEGUINTE: NÃO DARIA A MENOR BOLA PARA A GUERRA FRIA ENTRE ESTADOS UNIDOS E UNIÃO SOVIÉTICA. O BRASIL BUSCARIA O QUE FOSSE MELHOR PARA SEUS INTERESSES. LOC: O CÉREBRO DESTA POLÍTICA ERA O CHANCELER AZEREDO DA SILVEIRA. GEISEL ASSINOU UM ACORDO NUCLEAR COM O GOVERNO DA ALEMANHA QUE PREVIA A CONSTRUÇÃO DE OITO USINAS NUCLEARES NO PAÍS. UM OUTRO ACORDO, DE MENOR ESCALA, FOI ASSINADO COM A FRANÇA. LOC: ISSO VALEU UMA ENORME CRISE COM OS ESTADOS UNIDOS QUE ATRAVESSOU OS QUATRO ANOS DE GOVERNO DE JIMMY CARTER. OUTRA CRISE COM CARTER FOI AS DOS DIREITOS HUMANOS. CARTER PRESSIONOU GEISEL TODO O TEMPO EM FAVOR DOS DIREITOS HUMANOS. A MULHER DE CARTER, ROSALYN, EM VISITA AO BRASIL, CHEGOU A RECEBER PARENTES DE PRESOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS, QUE LHE ENTREGARAM DOCUMENTOS E LISTAS DE PESSOAS. LOC: A NOVA LEI DE COMÉRCIO EXTERIOR DOS ESTADOS UNIDOS LEVOU O BRASIL A PARCERIAS COM A UNIÃO SOVIÉTICA, COM OS PAÍSES ÁRABES E COM A CHINA, ALÉM DE UMA PRESENÇA ATUANTE NO GRUPO DOS PAÍSES NÃO-ALINHADOS. EM REPRESÁLIA À LEI DE COMÉRCIO NORTE-AMERICANA E ÀS PRESSÕES POR DIREITOS HUMANOS DE CARTER, O BRASIL ROMPEU O ACORDO MILITAR QUE MANTINHA COM OS ESTADOS UNIDOS. O CLIMA DE TENSÃO ENTRE OS DOIS PAÍSES CHEGOU AO PONTO MAIS CRÍTICO DE TODA A HISTÓRIA. LOC: MÚSICA “GRÂNDOLA VILA MORENA”, DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS DE PORTUGAL. LOC: PORTUGAL COMEÇAVA A DESMONTAR SUA POLÍTICA COLONIALISTA NA ÁFRICA, A PARTIR DA QUEDA DO SALAZARISMO, EM 1974. O BRASIL FOI O PRIMEIRO PAÍS A RECONHECER A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE. A NOSSA POLÍTICA EXTERNA NUNCA FOI TÃO TERCEIROMUNDISTA, VOLTADA PARA A ÁFRICA, ÁSIA E PAÍSES ÁRABES COMO NOS ANOS GEISEL. A BRASPETRO, SUBSIDIÁRIA INTERNACIONAL DA PETROBRÁS, FOI PROSPECTAR PETRÓLEO NA LÍBIA. LOC: GORA, VAMOS AO LADO POLÍTICO DO GOVERNO GEISEL. VAMOS OUVIR PRIMEIRO A OPINIÃO DE UM DOS SENADORES ELEITOS EM 74, O EX-MINISTRO DA JUSTIÇA E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PAULO BROSSARD: TÉC: “Dois méritos ele teve: a supressão da censura à imprensa, e a supressão da violência, especialmente no recinto dos quartéis. Eu até costumo dizer que embora esta segunda tem uma densidade humana maior, que eu não sei se será seu maior mérito, porque o que estava ocorrendo na área, dos IPMS, das prisões, daquele organismo que se havia criado, se havia montado, e prosperado, tinha adquirido tamanha força que chegava a representar um confronto à sua própria autoridade. Representava um poder paralelo” LOC: OS GRUPOS DE ESQUERDA QUE PEGARAM EM ARMAS CONTRA O REGIME MILITAR ESTAVAM ANIQUILADOS QUANDO GEISEL ASSUMIU. COMO ORGANIZAÇÃO SOBRAVA APENAS O PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO, O VELHO PCB, QUE SE RECUSARA À LUTA ARMADA E OPERAVA DENTRO DO MDB. LOC: MAS TODO O APARATO QUE TINHA SIDO MONTADO PARA COMBATER A GUERRILHA ESTAVA MAIS FORTE DO QUE NUNCA. E PRECISAVA JUSTIFICAR SUA EXISTÊNCIA. O PCB, QUE REPUDIAVA A AÇÃO ARMADA, SOFREU ENTÃO UM ATAQUE QUE DESTRUIU TODA A SUA DIREÇÃO NACIONAL. PELO MENOS DEZ DIRIGENTES MORRERAM E VÁRIOS OUTROS FORAM TORTURADOS. LOC: ERA UM DESAFIO À AUTORIDADE DO PRESIDENTE, QUE NÃO IA ACEITAR TORTURA E NEM O PODER PARALELO DOS ÓRGÃOS DE REPRESSÃO, COMO DISSE PAULO BROSSARD E COMO VAMOS VER ADIANTE. LOC: A ANTI-CANDIDATURA DE ULYSSES GUIMARÃES E BARBOSA LIMA SOBRINHO E A PROPOSTA DE DISTENSÃO DE GEISEL MOSTRARAM QUE O MDB PODERIA SER UM CAMINHO DE OPOSIÇÃO AO REGIME MILITAR. HAVIA ELEIÇÕES EM 15 DE NOVEMBRO DE 74 PARA A CÂMARA E O SENADO. LOC: E A SOCIEDADE MOSTROU QUE ENTENDIA O PROCESSO: DAS 23 VAGAS EM DISPUTA PARA O SENADO, O MDB ELEGEU 16. FORAM AS CHAMADAS “16 DERROTAS QUE ABALARAM O PAÍS”. DE SETE SENADORES, O MDB PASSOU A TER 20. A ARENA CAIU DE 59 PARA 46. DE 87 DEPUTADOS FEDERAIS, O MDB PASSOU A 165. A ARENA CAIU DE 223 PARA 199. LOC: VIERAM PARA O SENADO, NAS 16 VITÓRIAS DO MDB, NOMES COMO PAULO BROSSARD, ITAMAR FRANCO, SATURNINO BRAGA, MARCOS FREIRE, ORESTES QUÉRCIA, MAURO BENEVIDES, EVANDRO CARREIRA, GILVAN ROCHA. O SENADOR PEDRO SIMON, ENTÃO DEPUTADO FEDERAL, CONTA: TÉC: “ Uma campanha imprevisível. A Arena pensava que ia repetir 70, que ia ser uma montanha de votos. Tanto que os candidatos municipais ao Senado não foram, porque não aceitaram. Tancredo Neves não quis se candidatar a Senador por Minas Gerais, ele botou o Itamar Francco, que era prefeito de Juiz de Fora. Dr. Ulisses não aceitou. O Quércia topou a parada, era prefeito de Campinas, e assim teve o caos do Paraná, Leite Chaves, que foi eleito Senador (...), ele não tinha ocupado nenhum cargo nem de partido político nem de vereador, de coisa nenhuma. Lá no Paraná foi interessante, nós conseguimos não lembro quantos candidatos a deputado federal, e a avalanche de votos foi tão grande que só conseguimos eleger metade, porque (...?).” LOC: UM DOS ELEITOS PELO MDB, O GAÚCHO PAULO BROSSARD, TRAVOU DURANTE A CAMPANHA O PRIMEIRO DEBATE POLÍTICO PELA TEVÊ COM O ADVERSÁRIO, NESTOR JOST, DA ARENA: TÉC: “Fiz a campanha na televisão, foi antes do retratinho, como se nós estivéssemos na mais absoluta regularidade institucional, na mais ampla liberdade, nunca perguntei se haveria essa ou aquela conseqüência. E quando cheguei aqui no Senado, no primeiro discurso que fiz, eu fiz uma análise da situação, da decomposição institucional no país, e terminei dizendo isto. O que eu acabava de dizer (...?), o meu trabalho era criativo, era nenhum, um simples narrador de acontecimentos. De modo que o que eu tinha dito era do conhecimento de todos os senadores. Mas se eu precisasse demonstrar a veracidade do que havia dito, eu poderia resumir tudo da seguinte forma: fui eleito por oito anos. No entanto, meu mandato pode durar oito anos, oito meses, oito semanas, oito dias ou oito horas.” LOC: AO RECEBER LÍDERES DA ARENA, O PRESIDENTE GEISEL ADVERTIA QUE O GOVERNO NÃO PERDERIA O CONTROLE DA ABERTURA POLÍTICA: TÉC: “Erram, e erram gravemente, os que pensam poder apressar este processo manipulada sobre a opinião pública, e através desta, conta o governo. Tais pressões servirão, apenas, para provocar contrapressões de iguais ou maior intensidade, invertendo-se o processo da lenta, gradual e segura distensão, como se requer”. LOC: O PRESIDENTE DO MDB, DEPUTADO ULYSSES GUIMARÃES, SE EMPOLGAVA: TÉC: “Esta abertura que se fez, sem dúvida nenhuma, e uma abertura como se devia fazer, não como uma outorga, mas uma abertura pelo voto, com a participação do cidadão, a participação do povo, esta é uma abertura democrática”. LOC: 1974 ERA TAMBÉM ANO DE RENOVAR OS GOVERNADORES. A ELEIÇÃO ERA INDIRETA. GEISEL ORDENOU AO PRESIDENTE DA ARENA, SENADOR PETRÔNIO PORTELLA, QUE PERCORRESSE ESTADO POR ESTADO A FIM DE APONTAR OS NOMES. LOC: ERA A PRIMEIRA MISSÃO PORTELLA. ELE TINHA QUE ACHAR OS NOMES QUE AGRADASSEM ÀS FACÇÕES ESTADUAIS DA ARENA E... AO MESMO TEMPO, AO PRESIDENTE GEISEL. A ESCOLHA MAIS PENOSA E COMPLICADA FOI EM SÃO PAULO. LOC: ALI, O CANDIDATO PRINCIPAL ERA O EX-MINISTRO DA FAZENDA E TODO PODEROSO DA ECONOMIA NOS GOVERNOS COSTA E SILVA E MÉDICI. ELE MESMO, DELFIM NETTO. MAS GEISEL NÃO QUERIA DELFIM. E PETRÔNIO TINHA QUE DIZER ISSO A ELE. LOC: FOI EM UM APARTAMENTO DA ZONA SUL DO RIO. O SENADOR FOI DIRETO: “A DECISÃO JÁ ESTÁ TOMADA. VOCÊ NÃO PODE SER O GOVERNADOR DE SÃO PAULO”. LOC: DELFIM ARGUMENTOU QUE ERA UMA VIOLÊNCIA, QUE TINHA SETE ANOS DE SERVIÇO PRESTADO À REVOLUÇÃO COMO MINISTRO DA FAZENDA. PETRÔNIO DISSE QUE MUITO MAIS SERVIÇOS À REVOLUÇÃO TINHA PRESTADO CARLOS LACERDA, QUE NO ENTANTO FOI TIRADO DE CAMPO. LOC: DELFIM DISSE QUE LACERDA TINHA ASSUMIDO UM RISCO, UM CONFRONTO, AO ORGANIZAR A FRENTE AMPLA. E QUE ELE PRÓPRIO NÃO PODIA SER ACUSADO DE NADA. ERA FIEL AO REGIME. LOC: PETRÔNIO RESPONDEU QUE HAVIA UMA ESTRATÉGIA PARA SÃO PAULO E ELE, DELFIM, ESTAVA DESCARTADO. DELFIM DISSE, ENTÃO, QUE IRIA DISPUTAR NA CONVENÇÃO DA ARENA. PETRÔNIO DISSE QUE NÃO HAVERIA MAIS CONVENÇÃO, QUE PAULO EGÍDIO MARTINS IRIA SER O GOVERNADOR DE SÃO PAULO. ESTAVA DECIDIDO. LOC: DELFIM AVISOU ENTÃO QUE IRIA DISPUTAR O SENADO. PETRÔNIO DESCARTOU: DISSE QUE PARA DISPUTAR AS ELEIÇÕES AO SENADO JÁ ESTAVA ESCOLHIDO O EX-GOVERNADOR CARVALHO PINTO. O EX-CZAR DA ECONOMIA PERGUNTOU: “QUER DIZER QUE ESTOU CASSADO?” PETRÔNIO DISSE QUE NÃO. OFERECEU-LHE A CÂMARA DOS DEPUTADOS, ONDE SERIA O MAIS VOTADO DO BRASIL, OU UMA EMBAIXADA NO EXTERIOR. LOC: RESULTADO: DELFIM NETTO PASSOU OS QUATRO ANOS SEGUINTES, OS DO GOVERNO GEISEL, COMO EMBAIXADOR EM PARIS. O EX-MINISTRO TEM UMA OPINIÃO SOBRE AS RAZÕES DO VETO IMPOSTO POR GEISEL A SEU NOME: TÉC: “Não houve nada, houve que o Geisel era um voluntarista e, na verdade, essa idéia de, o Geisel decidia e fazia. O que o Geisel tinha, na verdade, era um grande receio de uma liderança política em São Paulo, uma liderança política não-militar em São Paulo, que ia atrapalhar os seus planos de fazer o sucessor. Era só isso, mas nada. É uma explicação extremamente simples, ele não queria nenhuma liderança política. É isto”. LOC: A VITÓRIA DO MDB EM 15 DE NOVEMBRO DE 74 ASSUSTOU O GOVERNO. PARA EVITAR SURPRESAS NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 76, GEISEL ENCOMENDOU AO MINISTRO DA JUSTIÇA, ARMANDO FALCÃO, UMA LEI PARA IMPEDIR O DEBATE PELO RÁDIO E PELA TELEVISÃO. VEIO, ENTÃO, A CHAMADA “LEI FALCÂO”, OU “LEI TRÊS POR QUATRO”. LOC: DIZIA QUE NENHUM CANDIDATO PODERIA FALAR MAIS NADA. NA TELEVISÃO, NO HORÁRIO ELEITORAL, SÓ APARECERIA O RETRATO TRÊS-POR-QUATRO DO CANDIDATO, COM O CURRÍCULO DELE MONOTONAMENTE DECLAMADO POR UM LOCUTOR. COM ISSO, OS COMÍCIOS DE RUA GANHARAM IMPORTÂNCIA DE NOVO. NA ELEIÇÃO MUNICIPAL DE 76, TANTO ARENA COMO MDB PROCLAMARAM VITÓRIA. LOC: UM DOS GRANDE SUCESSOS DO CINEMA BRASILEIRO EM 75 FOI UM FILME DESPRETENSIOSO DE HUGO CARVANA CHAMADO VAI TRABALHAR VAGABUNDO. O PRÓPRIO CARVANA ESTRELAVA . O FILME GANHOU VÁRIOS FESTIVAIS, E A MÚSICA DE CHICO BUARQUE FOI TAMBÉM UM GRANDE SUCESSO. LOC: COM TODA A SUA AUTORIDADE, O PRESIDENTE ERNESTO GEISEL NÃO TINHA CONSEGUIDO DOMAR O APARELHO DE REPRESSÃO À LUTA ARMADA DA ESQUERDA. ERA UM PODER PARALELO, COMO DISSE ANTES PAULO BROSSARD. LOC: NA NOITE DO DIA 25 DE OUTUBRO DE 1975, O DIRETOR DE JORNALISMO DA TV CULTURA DE SÃO PAULO, WLADIMIR HERZOG, FOI MORTO NAS DEPENDÊNCIAS DO DOI-CODI DE SÃO PAULO. LOC: A NOTA OFICIAL DO COMANDO DO SEGUNDO EXÉRCITO INFORMAVA QUE O JORNALISTA COMETERA SUICÍDIO. DIZIA QUE WLADIMIR HERZOG SE TINHA ENFORCADO COM UMA TIRA DE PANO, SURGIDA NÃO SE SABE DE ONDE. LOC: HERZOG HAVIA SE APRESENTADO NO DOI-CODI POR CONVOCAÇÃO DE AGENTES QUE O TINHAM PROCURADO NA TV CULTURA E EM CASA. TINHA 38 ANOS, A MULHER CLARICE E DOIS FILHOS. AS MANIFESTAÇÕES SURGIRAM DE TODO LADO. LOC: O ENTERRO DE WLADIMIR HERZOG FOI UM GRANDE ATO POLÍTICO. O CARDEAL DE SÃO PAULO, D. PAULO EVARISTO ARNS, E O DE OLINDA E RECIFE, D. HELDER CÂMARA, PARTICIPARAM. O RABINO HENRI SOBEL PRESIDIU A CERIMÔNIA, PORQUE O JORNALISTA ERA JUDEU. FOI UMA ENORME COMOÇÃO. LOC: DOIS MESES DEPOIS, NO DIA 17 DE JANEIRO DE 76, OUTRA MORTE NO DOI-CODI DE SÃO PAULO: O OPERÁRIO METALÚRGICO MANUEL FIEL FILHO, DE 49 ANOS. SEGUNDO A NOTA DO SEGUNDO EXÉRCITO, O OPERÁRIO TINHA COMETIDO SUICÍDIO...COM AS PRÓPRIAS MEIAS!! LOC: O PRESIDENTE GEISEL REAGIU DEMITINDO O COMANDANTE DO SEGUNDO EXÉRCITO, O GENERAL EDNARDO D’ÁVILA MELO, CONSIDERADO UM LINHA DURA. E NOMEOU PARA O POSTO UM GENERAL DE SUA CONFIANÇA, IDENTIFICADO COM A ABERTURA, O GENERAL DILERMANDO GOMES. LOC: UMA DAS FACES MAIS DURAS DO REGIME ERA JUSTAMENTE UM CIVIL, O MINISTRO DA JUSTIÇA ARMANDO FALCÃO. CERCADO POR JORNALISTAS PARA FALAR SOBRE AS MORTES EM DEPENDÊNCIAS DO EXÉRCITO, ELE REPETIA, DE FORMA MONOCÓRDIA: “NADA A DECLARAR”. VAMOS OUVIR UMA ENTREVISTA DELE NESTA ÉPOCA: TÉC: “Escreva aí, escreva, rapaz: a preocupação do presidente com os direitos humanos é permanente e pontual. Ponto”. LOC: COM A LEI FALCÃO EM VIGOR, PROIBINDO FALAS DE POLÍTICOS NO RÁDIO E NA TEVÊ, O PRÓPRIO GEISEL BRINCOU EM UMA ENTREVISTA, CONTRARIANDO O TEMPERAMENTO AUSTERO E O ESTILO SECO. OUÇAM O QUE ELE DISSE A UM REPÓRTER DA RÁDIO JORNAL DO BRASIL EM 76: TÉC: “Você vai gravar isso mas não vai divulgar, né? Olha a Lei Falcão!!.. LOC: DOIS EX-PRESIDENTES AMADOS PELO POVO BRASILEIRO MORRERAM EM 76. JUSCELINO KUBITSHEK, O MAIS AMADO DE TODOS E JOÃO GOULART. JK MORREU EM UMA VIAGEM NOTURNA DE AUTOMÓVEL DE SÃO PAULO PARA O RIO DE JANEIRO. O CARRO FOI FECHADO POR UM ÔNIBUS. LOC: ATÉ HOJE HÁ QUEM GARANTA QUE FOI UM ATENTADO E NÃO UM SIMPLES ACIDENTE. O ENTERRO DE JK FOI UMA APOTEOSE CÍVICA. O CAIXÃO SAIU DO PRÉDIO DA MANCHETE NA RUA RUSSEL, NO CENTRO DO RIO. FOI CARREGADO PELA MULTIDÃO, QUE ENTOAVA O HINO DA REPÚBLICA. EM BRASÍLIA, NOVAS MANIFESTAÇÕES. O POVO ACOMPANHOU A PÉ O CORTEJO DA CATEDRAL DE BRASÍLIA ATÉ O CEMITÉRIO CAMPO DA ESPERANÇA, UM PERCURSO DE MAIS DE OITO QUILÔMETROS. LOC: JOÃO GOULART MORREU DE MELANCOLIA, NO EXÍLIO NA ARGENTINA. O URUGUAI NÃO O ACEITAVA MAIS, E O GOVERNO GEISEL NÃO DEIXOU QUE ELE VOLTASSE AO BRASIL. NEM DEPOIS DE MORTO O CORPO DELE PÔDE ENTRAR NO PAÍS. SÓ DEPOIS DE MUITA NEGOCIAÇÃO OS MILITARES PERMITIRAM QUE FOSSE ENTERRADO EM SÃO BORJA, A 50 METROS DO TÚMULO E GETÚLIO VARGAS. ************************************************************************************************************************************************************************************************************ TEMA O Governo Geisel; A criação da OPEP; A crise do petróleo de 74; A criação do Pró-Álcool; Brasil, 3º colocado na copa de 74. ****************************************************************************************************** LOCUÇÃO Cezar Motta, Taís Vivaqua e João Marques. ****************************************************************************************************** ENTREVISTAS Delfim Neto; Maria da Conceição Tavares; Reis Veloso; Ernesto Geisel; Zagallo; Paulo Gracindo; Paulo Brossard; Ernesto Geisel; Armando Falcão. ****************************************************************************************************** MÚSICAS Nervos de Aço, de Lupcínio Rodrigues; Gota D’água, de Chico Buarque, com Simone; Ulysses Guimarães; Grândola Vila Morena, da Revolução dos Cravos de Portugal.