Testemunhar violência gera trauma e agressividade, alerta terapeuta familiar
Em sua pesquisa mais recente, divulgada na semana passada, o DataSenado mostrou que os filhos e filhas têm sido as testemunhas mais frequentes da violência contra as mulheres no Brasil. A Rádio Senado conversou com a terapeuta familiar do SUS Fernanda Jota sobre o impacto da violência doméstica na subjetividade das crianças. Confira.

Transcrição
A edição mais recente da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher do DataSenado mostrou que, das 3,7 milhões de brasileiras agredidas nos 12 últimos meses, 71% estavam na presença de outras pessoas – na maioria dos casos, 79%, seus filhos e filhas.
A terapeuta familiar do SUS, Fernanda Jota, que atende pessoas em situação de violência em Brasília, explica que a principal consequência psíquica da exposição das crianças à violência é o desenvolvimento de um quadro de hipervigilância, que tende a evoluir para o estresse pós-traumático.
Uma criança que cresce dentro de um lar violento, em que há constantes ameaças, há constantes atos disruptivos comportamentais, ela passa a ter nela, no sistema nervoso dela, a sensação de que ela precisa estar sempre atenta, para evitar que alguma coisa ruim aconteça. são crianças ansiosas, que podem desenvolver uma agressividade e, em quadros mais crônicos, um quadro de estresse pós-traumático.
Mas pior que o trauma, na avaliação da terapeuta, é o risco da normalização.
A violência doméstica, de modo geral, é transgeracional. Então, a criança de hoje, 8 anos de idade, que tá assistindo o pai bater na mãe, ou ser violento com a mãe, ela vem de uma história familiar em que esse avô também batia na avó e, às vezes, o bisavô também batia na bisavó. e vai aumentando o nível de resistência e tolerância a essa violência.
Mas a pesquisa também aponta para outros ventos. Ainda que 11% das entrevistadas tenham declarado não conhecer nada sobre a Lei Maria da Penha, a série histórica demonstra que a percepção da violência doméstica cresceu entre as brasileiras, ou seja: o que antes machucava, mas parecia normal, agora machuca e parece crime.
A Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, do DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, ouviu 21.641 mulheres a partir de 16 anos, em todos os estados do Brasil, de maio a julho de 2025. A divulgação é parte do esforço do Senado na campanha da ONU 21 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher. A pesquisa completa está em senado.leg.br/datasenado
Da Rádio Senado, Raíssa Abreu

