Líder do governo avalia que Lula deve vetar trechos do Marco Temporal das Terras Indígenas
O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (AP), avalia que o presidente Lula deverá vetar trechos do marco temporal. Aprovado pelo Senado, o projeto estabelece 5 de outubro de 1988, promulgação da Constituição, como data para a demarcação de terras indígenas, o que contraria julgamento do Supremo Tribunal Federal. Randolfe citou que entre os possíveis vetos estão a exploração comercial de terceiros nessas áreas e o acesso aos povos isolados. A senadora Margareth Buzetti (PSD-MT) disse que a retirada desses trechos serão admitidas, mas avisou que será derrubado um eventual veto total ao projeto.
Transcrição
LÍDER DO GOVERNO DIZ QUE PRESIDENTE LULA DEVERÁ VETAR TRECHOS DO MARCO TEMPORAL DAS TERRAS INDÍGENAS.
DEFENSORES DO PROJETO AVISAM QUE EVENTUAL VETO À PARTE PRINCIPAL SERÁ DERRUBADO. REPÓRTER HÉRICA CHRISTIAN.
O presidente Lula terá o prazo de quinze dias para sancionar ou vetar o marco temporal. O Senado aprovou o projeto da Câmara dos Deputados que define que só serão reconhecidas como terras indígenas aquelas comprovadamente ocupadas até a promulgação da Constituição, 5 de outubro de 1988. Recentemente, a maioria do Supremo Tribunal Federal rejeitou a tese do marco temporal sob o argumento de que fere os direitos dos povos originários, garantindo a eles a demarcação dos territórios ocupados. O líder do governo no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues, do Amapá, acredita que o presidente Lula deverá vetar trechos do projeto não relacionados à demarcação em si. Entre eles, estão a retomada pela União de terras indígenas nos casos de alteração de traços culturais da comunidade para destiná-las para a Reforma Agrária; a validação de propriedade ou posse de particulares em terras indígenas; a proibição do aumento das localidades já demarcadas; a possibilidade de contratos de cooperação com não indígenas para a exploração de atividades econômicas e o contato com povos isolados. Randolfe Rodrigues reforçou que indepentemente da decisão do presidente Lula, o projeto é inconstitucional.
O presidente Lula tem uma posição política clara em defesa dos direitos povos originários. Essa matéria será vetada e nós lutaremos aqui pela manutenção do veto. O Congresso vai ter que conseguir maioria absoluta lá na Câmara e aqui no Senado para derrubar o veto. Eu acho que não tem esse quórum para derrubada do veto e mesmo que o veto presidencial seja derrubado, essa matéria é inconstitucional na lata, é flagrantemente inconstitucional.
Os defensores do marco temporal admitem a retirada de alguns trechos, mas não aceitam o veto total ao projeto, como declarou a senadora Margareth Buzetti, do PSD de Mato Grosso. Ela afirmou que nesse caso o Congresso Nacional derrubaria a decisão do presidente Lula.
Têm alguns pontos que estão nesse texto que se a gente modificasse voltaria para a Câmara, então, não foi feito por isso. E é perfeitamente entendido se o presidente vetar. Por exemplo, querer tirar área já demarcadas para indígenas é passível de veto sim, a gente entenderia. Mas não o texto principal. O marco temporal tem que existir, tem que dar um fim, tem que dar um basta a essa situação.
Os defensores dos direitos indígenas aguardam a sanção do projeto para novamente recorrerem ao Supremo Tribunal Federal para derrubar a nova lei apontando justamente o julgamento recente da Corte que considerou inconstitucional a tese do marco temporal. Da Rádio Senado, Hérica Christian.