Ex-ministro de Bolsonaro minimiza delação de ex-ajudante de ordens e relatora quer acesso às revelações feitas à PF
Em depoimento à CPMI do 8 de Janeiro, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, general Augusto Heleno, disse que os acampamentos eram manifestações pacíficas, que a realização de um golpe de Estado exigia uma liderança e que é fantasiosa a delação do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid, sobre uma reunião com a cúpula das Forças Armadas e Bolsonaro que discutiu a suposta minuta do golpe em que o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, colocou a tropa à disposição. A relatora, Eliziane Gama (PSD-MA), ressaltou que as revelações de Mauro Cid são graves e que a comissão tentará ter acesso a essas informações. Ao declarar que o depoimento do general não trouxe contribuições para as investigações, o senador Marcos Rogério (PL-RO) cobrou a convocação de integrantes do governo, a exemplo do diretor da Força Nacional de Segurança Pública.
Transcrição
EX-MINISTRO DE BOLSONARO MINIMIZA DELAÇÃO DE EX-AJUDANTE DE ORDENS. RELATORA QUER ACESSO ÀS REVELAÇÕES FEITAS À PF.
OPOSIÇÃO VOLTA A COBRAR A CONVOCAÇÃO DE INTREGRANTES DO GOVERNO NA RETA FINAL DOS TRABALHOS DA COMISSÃO. REPÓRTER HÉRICA CHRISTIAN.
O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, general Augusto Heleno, negou atuação política no cargo. E manteve a declaração de que "bandido não sobe a rampa" numa referência à vitória do presidente Lula após prisão na Operação Lava Jato. Disse que os acampamentos eram manifestações pacíficas e ordeiras e que é bobagem considerar que mensagens de militares de baixa patente arrastariam generais para um eventual golpe de Estado. Ao classificar de fantasiosa a delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, o general negou a participação numa reunião com a cúpula das Forças Armadas e com o ex-presidente em que foi debatida a tentativa de golpe de Estado. Declarou mais uma vez que uma ruptura institucional não poderia se concretizar sem um líder ao afirmar que Bolsonaro sempre disse que agiria dentro das quatro linhas da Constituição.
Num país de oito milhões e 500 mil quilômetros quadrados com mais de 200 milhões de habitantes, é preciso uma estrutura muito bem montada, é preciso haver uma direção, uma cabeça, muito preparada para conseguir fazer um golpe que dê certo com meia dúzia de curiosos que fazem umas besteiras, mas não tem nada a ver com o golpe.
O general Augusto Heleno rebateu o sucessor, general G. Dias, ao afirmar que possibilitou a transição no Gabinete de Segurança Institucional. O ex-ministro recorreu ao Supremo Tribunal Federal para não comparecer ao depoimento, mas o pedido foi negado pelo ministro Cristiano Zanin, que concedeu o direito de permanecer em silêncio, o que ele fez nas perguntas sobre a chamada minuta do golpe e participação na reunião com o hacker Walter Delgatti Neto sobre fraudes nas urnas eletrônicas. A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama, do PSD do Maranhão, disse que o general tentou minimizar a delação de Mauro Cid pelas revelações que comprometem o ex-presidente. E defendeu acesso às revelações feitas à Polícia Federal.
O Muro Cid não participava das reuniões como alguém com o poder de mando, isso é um fato. Mas ele era alguém que registrava, que testemunhava todas as reuniões, daí a importância, por exemplo, da sua delação premiada. Inclusive, não sei se conseguiremos, mas o compartilhamento desses dados da CPM traria um ganho significativo aos trabalhos da comissão. Nós vamos tentar até o tempo, na verdade, limite da comissão. Não sei se teremos, mas faremos essa tentativa.
Já o senador Marcos Rogério, do PL de Rondônia, voltou a cobrar a convocação do diretor da Força Nacional de Segurança Pública e avaliou que o depoimento do general Heleno não trouxe contribuições para a CPMI. Ele também minimizou a delação de Mauro Cid.
Fantasiosas são as narrativas que estão surgindo sobre a delação de Mauro Cid porque ninguém tem conhecimento dela, ninguém sabe o que ele disse. A delação passa a ter validade, ela passa a ter força quando aquilo que é relatado, aquilo que é delatado é confirmado pelas evidências. É preciso primeiro aguardar o conteúdo dessa delação, se é que ela existe, e segundo, a confirmação desses fatos pelas evidências. Caso contrário, são provas imprestáveis, apenas mais narrativas.
Por falta de acordo, a votação de requerimentos foi adiada para quinta-feira, quando deverá prestar depoimento Alan dos Santos, condenado pela tentativa de explosão de uma bomba nas proximidades do Aeroporto Internacional de Brasília em dezembro do ano passado. Da Rádio Senado, Hérica Christian.