Interiorização dos médicos passa por fortalecimento do SUS, avaliam especialistas
No terceiro debate da comissão mista sobre a medida provisória que reformulou o Programa Mais Médicos (MP 1.165/2023), convidados apontaram necessidade de investimento para atrair profissionais em regiões distantes ou pouco desenvolvidas. Após votação do relatório da senadora Zenaide Maia (PSD-RN), a MP editada em 21 de março pelo governo federal, deverá passar pelos plenários da Câmara e do Senado.
Transcrição
INCENTIVAR CARREIRA MÉDICA É MEDIDA APONTADA PARA INTERIORIZAR ATENDIMENTO NA ÁREA DE SAÚDE.
O PROGRAMA MAIS MÉDICOS É AVALIADO COMO SOLUÇÃO PALIATIVA. REPÓRTER JANAÍNA ARAÚJO.
Mais uma audiência pública com especialistas sobre a medida provisória que reformulou o Programa Mais Médicos aconteceu nesta terça-feira para instruir o relatório da senadora Zenaide Maia, do PSD do Rio Grande do Norte. O desafio de interiorizar o atendimento médico foi o aspecto mais destacado no debate.
O secretário de Educação Médica e Formação Profissional da Federação Médica Brasileira, José Antônio Romano, afirmou que apesar dos dez anos do Programa Mais Médicos, muitas comunidades no país ainda sofrem com a falta desses profissionais.
Romano - A situação infelizmente permanece e tem muito a ver com o mapa da desigualdade que nós vivemos no Brasil e se acentuou muito nos últimos seis anos. Nós tivemos muita desassistência. A questão da carreira médica precisa ser melhor debatida. Estar na rede pública tá cada vez mais difícil. E o que a gente vê são vazios sanitários inclusive nas grandes cidades. Eu entendo o Programa Mais Médicos como um passo pra que a gente comece a discutir a questão dos salários dos médicos na rede pública.
Membro do Instituto de Direito Sanitário Aplicado, Edson Pistori apontou que a interiorização da força de trabalho médico é difícil em áreas de economia pouco ativa, uma realidade em outros países também.
Pistori - Países de grande extensão territorial ou mesmo países pequenos em que há uma menor quantidade de atividade econômica nós temos um problema sério de fixação de profissionais de saúde, como é o caso da Austrália, do Canadá, do próprio Estados Unidos, que apresentam dificuldades no processo de ter médicos oferecendo serviços diretamente à população em locais distantes. O tema da interiorização da medicina no Brasil já está em debate desde a década de 70.
A procuradora da República Luciana Loureiro defendeu o Programa Mais Médicos como medida emergencial, mas cobrou uma solução permanente para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde que crie mecanismos de atratividade para os médicos se fixarem em determinadas regiões.
Luciana - A gente precisa trazer essa discussão e essas soluções pra dentro da organização do próprio SUS. Nós vamos ficar criando programas temporários ou nós vamos chamar a União para que seja realmente indutora desse processo de repactuação do financiamento do SUS e do apoio aos municípios e aos estados que realmente não teriam condições de custear uma mudança mais profunda?
Na avaliação da senadora Zenaide Maia, a reformulação do Programa Mais Médicos é uma oportunidade de formação em saúde básica para os profissionais, medida que vai reduzir o atendimento médico de alta complexidade. Da Rádio Senado, Janaína Araújo.