Voto feminino faz 90 anos, mas mulheres alertam que desigualdade ainda é grande — Rádio Senado
Eleições

Voto feminino faz 90 anos, mas mulheres alertam que desigualdade ainda é grande

Mais de 77 milhões de brasileiras devem votar nas eleições de outubro. Mas nem sempre as brasileiras tiveram o direito de escolher seus representantes. Instituído no Brasil há 90 anos, em 24 de fevereiro de 1932, o voto feminino é um importante marco na luta das mulheres por igualdade de direitos com os homens.

21/02/2022, 18h32 - ATUALIZADO EM 21/02/2022, 18h32
Duração de áudio: 07:59
Edilson Rodrigues

Transcrição
MAIS DE 77 MILHÕES DE BRASILEIRAS DEVEM VOTAR NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES, EM OUTUBRO. MAS NEM SEMPRE AS BRASILEIRAS TIVERAM O DIREITO DE ESCOLHER SEUS REPRESENTANTES. O VOTO FEMININO NO BRASIL FOI INSTITUÍDO HÁ APENAS 90 ANOS, EM 24 DE FEVEREIRO DE 1932. AQUELA CONQUISTA NÃO FOI O FINAL E SIM UM IMPORTANTE MARCO DA LUTA DAS MULHERES POR DIREITOS IGUAIS COM OS HOMENS. CONFIRA A HISTÓRIA DA APROVAÇÃO DO VOTO FEMININO NO BRASIL NESTA REPORTAGEM DE ADRIANO FARIA. A PRODUÇÃO É DE ANA BEATRIZ SANTOS E WANESSA ALVES. E A SONORIZAÇÃO, DE ANTÔNIO CARLOS SOARES: "Caía a tarde feito um viaduto /// E um bêbado trajando luto /// Me lembrou Carlitos..." (cai aqui pra BG) Elas representam 53 por cento do eleitorado brasileiro: 77 milhões e oitocentas mil mulheres estão registradas na Justiça Eleitoral para votar. Muitas delas vão fazer isso pela primeira vez em outubro de 2022. É o caso de Estela. Adolescente de 17 anos, a estudante mistura sentimentos como orgulho, ansiedade e até um certo nervosismo: Eu me sinto bastante orgulhosa, sabe? É um grande passo para a minha vida adulta, e eu sinto que é uma grande responsabilidade. Ao mesmo tempo,confesso que eu sinto uma leve insegurança, não somente por ser a primeira vez votando, mas também por causa de toda essa polarização que tem ao redor da política no Brasil. Mas é exatamente por conta disso que eu me sinto no dever de votar. Luíza tem 18 anos e também é estudante. O ambiente de eleição, voto e urna não é estranho pra ela. Mas, na próxima vez que ela for à seção eleitoral, em outubro, vai ter algo novo: um voto pra chamar de seu: Votar com certeza vai ser uma experiência nova para mim, mas que eu venho esperando que aconteça há muito tempo. Porque eu sempre acompanhei a minha família no dia de eleição, e eu sempre achei o máximo essa ideia de fazer uma escolha ativamente com minhas próprias mãos: de fazer uma escolha que pode mudar o futuro de um país inteiro. Estela e Luíza vão se juntar a outras mulheres que já votam em nosso país — algumas há muito tempo. Uma delas é Paraguassu Abrahão, de 90 anos. Não se atreva a dizer pra ela que o voto no Brasil é obrigatório até os 70 anos e que não precisa mais votar. Essa ideia não passa pela cabeça da veterana de muitas eleições, que é só empolgação quando fala do próximo encontro dela com a urna: Eu acho que meu voto vai somar, representando o que quero para meu país. Os 90 anos de dona Paraguassu coincidem com uma data marcante para as mulheres brasileiras: a conquista do direito ao voto. Em 24 de fevereiro de 1932, um decreto do então presidente Getúlio Vargas criou o Código Eleitoral e, com ele, novidades para a época, como a Justiça Eleitoral, o voto secreto e o voto feminino. Foi uma luta de pelo menos 100 anos. Já em 1831, ainda no Império, a proposta de permitir o voto de mulheres em eleições locais foi recusada pela Assembleia Geral Legislativa, formada só por homens. A monarquia caiu, veio a República, e o voto para as mulheres ainda demoraria mais de 40 anos para ser implantado – e mesmo assim depois da insistência de figuras como a professora Maria Lacerda de Moura e a bióloga Bertha Lutz, que, nos anos 20, fundaram a Liga para a Emancipação Internacional da Mulher. O objetivo? A igualdade política das mulheres. Em um país em que hoje as mulheres são maioria entre os eleitores, pode causar espanto que o direito ao voto por muito tempo tenha ficado restrito aos homens. Enilda Costa, de 80 anos e que votou pela primeira vez na eleição presidencial de 1960, não esconde o espanto e a indignação: Como assim, a mulher não poder participar de uma coisa tão importante?! Tem que ter o voto da mulher! Como não?! O 24 de fevereiro de 1932 entrou para a História como o dia em que o direito ao voto passou a ser uma possibilidade para as mulheres em todo o País. Mas algumas brasileiras já tinham obtido essa conquista alguns anos antes. O Rio Grande do Norte foi pioneiro no voto feminino no Brasil, como explica a senadora potiguar Zenaide Maia: Em 1928, já teve o voto porque o governador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine, introduziu na Constituição do estado o direito ao voto das mulheres. É tanto que a professora Celina Guimarães, de Mossoró, foi a primeira mulher a votar no Brasil. E nós tivemos também a primeira mulher eleita prefeita da América Latina, que foi Alzira Soriano, em 1928. Líder da bancada feminina no Senado, a senadora maranhense Eliziane Gama comemora os 90 anos do voto das mulheres no Brasil, mas alerta que a luta das brasileiras pelo espaço que têm direito na política não pode parar: Essa foi uma grande conquista da mulher brasileira. Nòs temos muito ainda a conquistar, mas jamais temos de deixar de reconhecer o que conseguimos até agora. (Sobe aqui) "Chora a nossa pátria, mãe gentil // Choram Marias e Clarices no solo do Brasil" (cai aqui pra BG) "Marias", "Clarisses", mas também "Berthas", "Celinas", "Alziras", "Paraguassus" e "Enildas" são algumas personagens da participação das mulheres na história política brasileira. Para a senadora Eliziane Gama, os 90 anos do voto feminino no Brasil incentivam uma reflexão: a maioria do eleitorado brasileiro ainda é minoria na representação política: Não há dúvida nenhuma que temos muita coisa a conquistar. Porque, muito embora nós tenhamos o direito a voto e o direito a ser votada, nós ainda somos minoria absoluta. Nossa posição em nível mundial é uma posição muito vergonhosa. Então nós precisamos mudar esse quadro com a presença muito mais forte da mulher nos parlamentos brasileiros e também no Poder Executivo brasileiro. Na expectativa de votar pela primeira vez em 2022, Luíza, de 18 anos, vê a sua participação nas eleições como uma forma de reconhecer o que fizeram outras gerações de mulheres: Eu posso votar hoje em dia porque milhares de mulheres que vieram antes de mim lutaram para isso fosse possível. E eu sou extremamente agradecida por isso. As eleitoras que votam há décadas também exaltam a conquista do voto pelas mulheres. Com a palavra, dona Paraguassu, que fala com a autoridade de uma eleitora de 90 anos, a mesma idade do voto feminino no Brasil: As mulheres são a maioria deste país: trabalham, produzem, criam os filhos... Naturalmente elas têm o direito de escolher o melhor para nosso país. Com produção de Ana Beatriz Santos e Wanessa Alves e sonorização de Antonio Carlos Soares, da Rádio Senado, Adriano Faria. (Sobe aqui) "Azar /// A esperança equilibrista /// Sabe que o show de todo artista /// Tem que continuar" (Até 3'14")

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