Ex-ministro Mandetta diz à CPI da Pandemia que Bolsonaro sabia da gravidade da crise sanitária — Rádio Senado
CPI da Pandemia

Ex-ministro Mandetta diz à CPI da Pandemia que Bolsonaro sabia da gravidade da crise sanitária

Em depoimento à CPI da Pandemia, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse que o presidente Jair Bolsonaro ignorou as orientações técnicas sobre a gravidade da pandemia e as ações de enfrentamento à crise sanitária. Ao citar um assessoramento paralelo, ele revelou a tentativa de mudança na bula da cloroquina para prescrição de uso contra a covid-19. Os aliados do governo questionaram o ex-ministro sobre o não cancelamento do carnaval, a não suspensão de voos internacionais e sobre a orientação de ficar em casa.

04/05/2021, 20h57 - ATUALIZADO EM 04/05/2021, 20h57
Duração de áudio: 04:57
Marcos Oliveira/Agência Senado

Transcrição
LOC: EM DEPOIMENTO À CPI DA PANDEMIA, EX-MINISTRO DA SAÚDE DIZ QUE O PRESIDENTE BOLSONARO SE VALEU DE ASSESSORAMENTO PARALELO PARA SER CONTRÁRIO AO USO DE MÁSCARAS E AO ISOLAMENTO. LOC: ALIADOS DO GOVERNO CITAM FALHAS DE MANDETTA COMO O USO DA CLOROQUINA EM PACIENTES GRAVES E A NÃO SUSPENSÃO DE VOOS INTERNACIONAIS. REPÓRTER HÉRICA CHRISTIAN TÉC: Em depoimento à CPI da Pandemia, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, detalhou as medidas adotadas no início da crise da covid-19, a exemplo da centralização das compras e dos repasses de recursos para estados e municípios. Ele afirmou que o presidente Jair Bolsonaro foi informado da gravidade da pandemia e das ações necessárias para segurar a contaminação. Disse que a situação ficou insustentável quando Bolsonaro descumpria as próprias orientações do Ministério da Saúde quanto à aglomeração e ao não uso de máscara. Mandetta citou reuniões paralelas no Palácio do Planalto com a presença do vereador Carlos Bolsonaro para decisões sobre a pandemia e revelou uma tentativa de mudança na bula da cloroquina. (Mandetta) Ele tinha um assessoramento paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa por exemplo um papel não timbrado de um decreto presidencial que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa colocando na bula a indicação de cloroquina para coronavírus. E foi o próprio presidente da Anvisa, Barra Torres, que estava lá e que falou que isso não. E o ministro Ramos que falou que não era da lavra daqui e que era uma sugestão. REP: Já os aliados do governo apontaram que Mandetta não pediu o cancelamento do carnaval nem a suspensão de voos internacionais. Ao destacarem as críticas do ex-ministro ao tratamento precoce, citaram que ele mesmo permitiu o uso da hidroxicloroquina em pacientes graves. O senador Ciro Nogueira, do PP do Piauí, quis saber porque o ex-ministro recomendou que as pessoas ficassem em casa no início da pandemia. (Ciro) Em sua gestão, o senhor recomendou que as pessoas com sintomas leves da doença não procurassem atendimento médico e que ficassem em casa. O hospital ou o posto saúde só deveria ser procurado no caso de febre alta ou desconforto respiratório. no entanto, sabe-se que a covid é uma doença silenciosa, progressiva e que demanda cuidados médicos imediatos. Gostaria de saber o que levou o senhor que é médico a fazer essa recomendação, que do meu ponto de vista, é uma recomendação equivocada. REP: O ex-ministro respondeu que seguiu o protocolo para evitar contaminação diante da falta de testes. Ao destacar que todas as ações foram adotadas com base na ciência, Mandetta disse que a situação não teria se agravado se o governo não tivesse recusado a compra de vacinas no segundo semestre. A senadora Zenaide Maia, do Pros do Rio Grande do Norte, defendeu o posicionamento do ex-ministro contrário ao uso de remédios sem eficácia e favorável a medidas de prevenção. (Zenaide ) Se isso resolvesse, não estaríamos com mais de 400 mil óbitos. Não existe tratamento específico para essa virose. Isso tudo é achismo, não é ciência. A vacina é que realmente vai resolver este problema. Como não temos vacina suficiente porque o governo não comprou no momento hábil, vamos lutar pelo distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos. REP: Mandetta disse ainda que faltou planejamento do governo para a testagem, a compra de insumos em geral e para uma campanha nacional. Ele afirmou que cada estado e município recebeu verba carimbada para o uso na pandemia e revelou um pedido para a Polícia Federal acompanhar os gastos. O líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho, do MDB de Pernambuco, citou que o ex-ministro não defendeu o financiamento das vacinas e não cobrou a testagem pelos estados e municípios. E disse que o relator não vai conseguir provar que houve má fé nas ações do governo. (Bezerra) O Brasil vai ser dos países emergentes, senador Renan, o primeiro a produzir uma vacina 100% nacional. Vossa Excelência terá muita dificuldade para provar dolo, intenção e má fé em relação às ações do governo brasileiro. O governo brasileiro pode ter cometido falhas, equívocos e pode ter mal avaliado. Mas vamos assistir no curso deste ano as iniciativas se provarem acertadas. REP: Mandetta ainda criticou o ministro da Economia, Paulo Guedes, por ignorar a pandemia e o ex-chanceler Ernesto Araújo por atrapalhar as negociações com a China. E apresentou uma carta à CPI entregue a Bolsonaro em março com apelo para a presidência da República seguir as orientações técnicas sob pena de um colapso no sistema de saúde e gravíssimas consequências para a população. Da Rádio Senado, Hérica Christian.

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