Paulo Paim lamenta dificuldades de acesso de ativistas negros em audiência sobre racismo
O Brasil aboliu a escravidão há 131, mas não rompeu, de fato, com o pensamento escravocrata. Esse foi um ponto de vista predominante entre os participantes de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado (CDH) sobre abolição da escravatura e ações afirmativas. Algumas pessoas que queriam participar do debate na CDH tiveram dificuldades de entrar no Senado. O presidente do colegiado, senador Paulo Paim (PT – RS) lamentou o fato, que considerou uma demonstração concreta da dificuldade de acesso dos negros aos espaços de poder. A reportagem é de Marcela Diniz, da Rádio Senado. Ouça o áudio com mais informações.
Transcrição
LOC: O RACISMO ESTRUTURAL NO BRASIL FOI UM DOS PONTOS ENFOCADOS EM DEBATE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DO SENADO SOBRE ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO E POLÍTICAS AFIRMATIVAS.
LOC: O PRESIDENTE DO COLEGIADO LAMENTOU A DIFICULDADE DE ACESSO AO SENADO DE INTEGRANTES DO MOVIMENTO NEGRO QUE QUERIAM PARTICIPAR DA AUDIÊNCIA PÚBLICA. A REPORTAGEM É DE MARCELA DINIZ.
(Repórter) O Brasil aboliu a escravidão há 131 anos, mas não rompeu, de fato, com o pensamento escravocrata. Prova disso é a persistência, na sociedade, de um racismo estrutural que dificulta ao máximo o acesso da população negra à uma efetiva cidadania. Esse foi o ponto de vista predominante entre os participantes de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos sobre abolição da escravatura e ações afirmativas. Algumas pessoas que queriam participar do debate na CDH tiveram dificuldades de entrar no Senado. O presidente do colegiado, senador Paulo Paim, do PT gaúcho, lamentou o fato, que considerou uma demonstração concreta da dificuldade de acesso dos negros aos espaços de poder:
(Paulo Paim) Lamento porque é sempre a mesma história. Quando é pobre, quando é Sem Terra, quando é Sem Teto, quando é Movimento Negro, sempre há obstáculos lá na segurança. Não digam que está lotada porque não está e liberem aqueles que estão aqui e querem assistir ao debate.
(Repórter) A professora de História da Universidade de Brasília, Ana Flávia Magalhães, observou que, no Congresso, está havendo espaço para provocações abertas ao Movimento Negro, como a sessão de homenagem à princesa Isabel no plenário da Câmara dos Deputados. Exaltar a monarca e silenciar sobre o protagonismo negro na luta abolicionista é prova de que o Brasil insiste em contar apenas um lado da história:
(Ana Flávia) O plenário Ulisses Guimarães recebeu uma homenagem à princesa Isabel e uma comemoração aos 131 anos da abolição sem fazer qualquer referência à ação histórica de homens e mulheres negras na luta por liberdade e cidadania nesse país. Seguem tentando nos apagar.
(Repórter) A negação do ponto de vista negro na história oficial do Brasil é, para o quilombola e bacharel em Direito, Danilo Serejo, ponto de partida para a negação de direitos básicos, como a posse da terra. Os quilombos, espaços de liberdade criados pela resistência negra durante os três séculos de escravidão, até hoje dependem da boa vontade política e do resguardo do Judiciário para serem reconhecidos e protegidos:
(Danilo Serejo) Quais as razões do não-efetivo reconhecimento das comunidades quilombolas? O racismo só é o que é hoje, da forma como o conhecemos porque existe uma institucionalidade que o elabora e o chancela.
(Repórter) Das seis mil comunidades quilombolas existentes no Brasil, três mil e quinhentas são certificadas pela Fundação Cultural Palmares, mas pouco mais de duzentas possuem títulos sobre as terras.