Cerrado é o segundo maior bioma do país, presente em 24% do território nacional
O Cerrado é o segundo maior bioma do país, presente em 24% do território nacional. A área já perdeu quase metade de sua cobertura original, principalmente a partir da década de 1940, com a expansão da agricultura e da pecuária na região.
Transcrição
LOC: O CERRADO É O SEGUNDO MAIOR BIOMA DO PAÍS, PRESENTE EM 24 POR CENTO DO TERRITÓRIO NACIONAL.
LOC: A ÁREA JÁ PERDEU QUASE METADE DE SUA COBERTURA ORIGINAL PRINCIPALMENTE A PARTIR DA DÉCADA DE 40 COM A EXPANSÃO DA AGRICULTURA E DA PECUÁRIA SOBRE AS REGIÕES NAS QUAIS O BIOMA ESTÁ PRESENTE.
LOC: SAIBA MAIS SOBRE O CERRADO NA REPORTAGEM ESPECIAL DE MAURÍCIO DE SANTI:
(Repórter) As cachoeiras, rios, córregos e lençóis freáticos que correm nas regiões mais altas da área central do país fizeram com que o cerrado ficasse conhecido como a grande caixa d’água do Brasil. Mas esse apelido não vem só daí. Quem explica é o pesquisador da Embrapa Cerrados, Felipe Ribeiro:
(Felipe Ribeiro) Nós temos aí áreas com 1600 metros, 177 metros, 1500 metros, onde a chuva cai e depois ela vai drenada para as áreas mais baixas. Essa caixa d’água funciona por causa disso. Essa água cai ali e é distribuída para o resto do Brasil. 70 por cento da água que circula na bacia do rio Paraná nasce aqui no cerrado. Quando a gente fala na bacia do rio São Francisco são mais de 95 por cento da água que circula no rio São Francisco ela nasce no cerrado.
(MAURÍCIO): Daí, a importância de se preservar e conservar o cerrado. Mas essa área já perdeu quase 50 por cento de sua cobertura original, como lembra o professor do departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília, Henrique Leite Chaves:
(Henrique Leite Chaves) São dados oficiais do Ministério do Meio Ambiente. Até 2010, nós tínhamos aproximadamente 50 por cento do cerrado já desmatado, sendo substituído por lavouras, pastagens e outros tipos de uso, não naturais.
(Repórter) Esse uso não natural vem de um modelo de ocupação do solo adotado pela agricultura e pecuária a partir da década de 40, quando houve um incentivo à ocupação da região Centro-Oeste. Um modelo que, segundo a senadora Kátia Abreu, do PDT de Tocantins, mudou drasticamente. O que existe hoje, na avaliação da Senadora, é uma troca. O aumento da área plantada das culturas de soja e milho em quase 15 por cento acontece em áreas anteriormente ocupadas pela pecuária e não em novas explorações:
( Kátia Abreu) "Ou mas será que aumentou o desmatamento também? Se a área de plantio aumentou, isso quer dizer que desmatou mais área no Brasil?" Não! São áreas de pecuária que estão sendo transformadas em agricultura. Hoje, já há grandes produtores, grandes empresas que confinam o gado bovino. E isso faz com que se desocupem mais terras para a nossa agricultura.
(Repórter) As taxas de desmatamento do cerrado estão mesmo em queda, como confirma o professor da UnB, Henrique Leite Chaves:
(Henrique Leite Chaves) As taxas de desmatamento que antes eram de 40 mil quilômetros por ano, na década de 70, hoje elas estão na faixa de cinco mil quilômetros por ano. Então, houve uma regressão, uma diminuição importante, é claro que ela ainda continua. Esses números ainda hoje, apesar de serem uma fração do que eram há quarenta anos atrás, ainda são preocupantes.
(Repórter) A preocupação tem sentido. O professor Henrique é coordenador de uma pesquisa que relaciona o desmatamento no cerrado à diminuição das chuvas na região. Segundo o estudo, em 40 anos, as chuvas no cerrado tiveram uma redução entre 8 e 10 por cento:
(Henrique Leite Chaves) Se houve, de fato, uma contribuição para a redução da precipitação em função do desmatamento, nós devemos pensar também em algumas políticas públicas de recuperação do cerrado, conservação também das áreas remanescentes, digamos assim, alguns incentivos financeiros, público e privados, para conservar essas áreas remanescentes.
(Repórter) Um desses incentivos virá da regulamentação do PSA, o pagamento por serviço ambiental. Esse instrumento ajuda na conservação e manejo adequado por meio de atividades de proteção e de uso sustentável através do pagamento para quem presta serviços ambientais. O pesquisador da Embrapa, Felipe Ribeiro, afirma que além disso, já existem alternativas para uma agricultura mais sustentável:
(Felipe Ribeiro) esse é grande desafio que a agricultura tem. Fornecer espécies que consomem menos água, o manejo do solo, que seja menos, que ajude a conservar esse solo, atividades como a integração, lavoura-pecuária-floresta, os sistemas agro-florestais são sistemas que consomem menos água como um todo, para que a gente possa exatamente isso, produzir espécies que gerem o valor econômico, que agregue um valor econômico à propriedade, e que possam ter essa sustentabilidade da natureza, do ambiente, econômica e social.
(Repórter) Os pesquisadores lembram que o cerrado é uma espécie de floresta amazônica de cabeça para baixo. As árvores podem até ser baixas e retorcidas, mas as raízes são profundas e ramificadas. A vegetação funciona como uma esponja, absorvendo e liberando aos poucos a água da chuva. Por isso, o desmatamento do cerrado coloca em risco a disponibilidade de água em todo o país.