Quando o Brasil quis trocar os escravos por trabalhadores chineses

Às vésperas da Lei Áurea, o Império brasileiro tentou executar um plano inusitado: substituir os escravos negros por “semiescravos” vindos da China. Documentos do século 19 guardados no Arquivo do Senado mostram que o grande interesse do governo imperial ao apoiar a vinda de trabalhadores baratos da China era proteger do colapso as plantações de café, que eram a maior fonte de riqueza do Brasil.

A reportagem “A Salvação da Lavoura: quando o Brasil quis trocar os escravos por trabalhadores chineses”, produzida pelo jornalista Ricardo Westin, conta em detalhes esse episódio pouco conhecido da história do Brasil. Mostra, ainda, que o Brasil chegou a assinar um tratado com a China em 1881 para trazer os trabalhadores baratos que substituiriam os escravos negros, mas, diante da resistência da sociedade, o acordo jamais saiu do papel.

Na época, corriam histórias de que os chineses, caso começassem a se miscigenar com a população brasileira, provocariam a degeneração do Império. Estavam em voga falsas teorias científicas que diziam que os negros e os orientais eram raças inferiores e que, por isso, não deveriam se misturar com os brancos.

O historiador Rogério Dezem, que é professor de história e cultura brasileira na Universidade de Osaka, no Japão,  lembra que os italianos achavam mais vantajoso migrar para os Estados Unidos e para a Argentina. Segundo ele, a visão a respeito dos chineses que se disseminou naquela época continua presente no Brasil até hoje. “Mesmo sendo uma potência, o brasileiro médio tem uma visão negativa em relação ao chinês. O chinês que existe na mentalidade do brasileiro é um chinês que não existe. Uma construção de uma imagem. É provável que isso tenha vindo do século 19. Isso acabou ficando no inconsciente coletivo”.