Brasil, 160 anos de ferrovias
Transcrição
1ª parte
TEC: MARIA FUMAÇA, DE KLEYTON E KLEDIR
LOC: HÁ 160 ANOS, UM GAÚCHO DE ARROIO GRANDE, IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA, INAUGUROU A PRIMEIRA FERROVIA NO BRASIL. EM PLENA ÉPOCA ESCRAVISTA, EM QUE O TRABALHO ERA VISTO COMO UMA ATIVIDADE DEGRADANTE, IRINEU APOSTOU NO TRABALHO COMO A MANEIRA DE PRODUZIR RIQUEZA NO BRASIL
TEC: MARIA FUMAÇA, DE KLEYTON E KLEDIR
LOC: IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA É MAIS CONHECIDO PELOS TÍTULOS DE BARÃO E DE VISCONDE DE MAUÁ. ANOS MAIS TARDE SERIA RESPONSÁVEL POR ABRIR OS OLHOS DO PAÍS PARA A INDÚSTRIA E A NECESSIDADE DE INFRA-ESTRUTURA PARA O DESENVOLVIMENTO. O IMPACTO E A INFLUÊNCIA DO BARÃO DE MAUÁ E DE VÁRIOS OUTROS PERSONAGENS, VOCÊ CONHECE AGORA NA REPORTAGEM ESPECIAL “160 ANOS DAS FERROVIAS – SURGIMENTO, APOGEU, DECLÍNIO E RETOMADA”.
TÉC: SOM DE TIROS E CAVALOS CORRENDO
LOC: MAUÁ ERA UM GAROTO GAÚCHO DE 5 ANOS, UM PIÁ, DE PERTO DA FRONTEIRA COM O URUGUAI, QUANDO TEVE O PAI ASSASSINADO EM 1819. SUA MÃE, UMA JOVEM VIÚVA DE 24 ANOS TERMINOU SE CASANDO NOVAMENTE EM 1823, MAS SEU NOVO MARIDO NÃO QUERIA OS DOIS FILHOS DO PRIMEIRO CASAMENTO POR PERTO.
LOC: A FILHA GUILHERMINA FOI CASADA COM 12 ANOS E IRINEU, UM MOLEQUE DE 9 ANOS FOI ENVIADO PARA O RIO DE JANEIRO PARA MORAR E TRABALHAR EM UMA LOJA DO COMERCIANTE PORTUGUÊS JOÃO RODRIGUES PEREIRA DE ALMEIDA.
TÉC: SOM DE MAR, PÁSSAROS MARINHOS, PESSOAS EM COMÉRCIO, VENDAS, FEIRAS
LOC: A PROFESSORA MARIA ROSA RAVELLI DE ABREU, DO PROJETO CIDADE VERDE, DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, EXPLICA O COMO O MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO INFLUENCIOU POSITIVAMENTE MAUÁ:
‘ROSA 1’ - T: 0’29’’: crescendo no meio do comércio, Mauá aprendeu o valor do trabalho como o grande fator de geração de riquezas. Isso em uma sociedade escravagista, em que aos homens brancos era honroso ser militar, funcionário público, sacerdote ou fazendeiro. O comércio era visto como uma atividade menor. Entretanto, era o comércio o motor da economia que levava e trazia as matérias-primas e os produtos da revolução industrial que acontecia na Europa e em especial, na Inglaterra.
TÉC: SOM DE FORNALHAS, FERREIROS, SIDERURGIA
LOC: IRINEU TORNOU-SE AMIGO DE COMERCIANTES BRITÂNICOS QUE TRABALHAVAM COM O PORTUGUÊS JOÃO PEREIRA DE ALMEIDA E UM DELES, O ESCOCÊS RICARDO CARRUTHERS, FEZ DE MAUÁ, ENTÃO COM 22 ANOS, SEU SÓCIO NO BRASIL.
LOC: EM 1840, MAUÁ COM 27 ANOS DE IDADE, PASSOU UMA TEMPORADA NA GRÃ-BRETANHA, ONDE VIU A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL OCORRENDO NA SUA FRENTE: MINAS DE CARVÃO E FERRO, SIDERURGIAS, FUNDIÇÕES, CONSTRUÇÃO DE NAVIOS E DE ESTRADAS DE FERRO, A GRANDE REVOLUÇÃO DO TRANSPORTE DAQUELA ÉPOCA.
TÉC: SOM DE FORNALHAS, FERREIROS, SIDERURGIA
LOC: NA SUA AUTOBIOGRAFIA, MAUÁ CONTA SUA IMPRESSÃO AO VER O TRABALHO EM UMA FUNDIÇÃO DE FERRO, EM BRISTOL, NA INGLATERRA:
‘MAUÁ’ - T: 0’xx’’: Era na minha opinião que o Brasil precisava de alguma indústria dessas que podem se desenvolver sem grandes auxílios, para que o mecanismo da vida econômica possa funcionar com vantagem. E a indústria que manipula o ferro, sendo a mãe de todas as outras, me parecia o alicerce dessa aspiração. Isso me causou uma forte impressão e me gerou a ideia de fundar em meu país uma siderurgia e um estaleiro.
LOC: EM 1846, JÁ NO BRASIL, MAUÁ COMPRA UM ESTALEIRO QUASE FALIDO, O PONTA D’AREIA EM NITERÓI, ONDE INSTALA UMA FUNDIÇÃO E PASSA A FAZER CANOS, CHAPAS, PARAFUSOS E NAVIOS. EM 1848, CONSEGUE UM EMPRÉSTIMO DE 300 CONTOS DE REIS PARA AMPLIAR A SIDERURGIA E O ESTALEIRO DE PONTA D’AREIA.
TÉC: SOM DE FORNALHAS, FERREIROS, SIDERURGIA
LOC: O BRASIL, AGORA UM PAÍS INDEPENDENTE, NECESSITA DE OBRAS DE INFRAESTRUTURA E MAUÁ PERCEBE A POSSIBILIDADE DE IMPLANTAR UMA FERROVIA ENTRE A CIDADE DO RIO DE JANEIRO, A SEDE DA CORTE DO IMPÉRIO DO BRASIL, E PETRÓPOLIS, A CIDADE DE VERANEIO DA ELITE. E DALI PODER CHEGAR AO INTERIOR DAS MINAS GERAIS.
LOC: MAUÁ CONSEGUE A AUTORIZAÇÃO E FORMA UMA SOCIEDADE EM 1852 PARA ANGARIAR OS RECURSOS PARA CONSTRUIR A ESTRADE DE FERRO. E EM 1854, INAUGURA O PRIMEIRO TRECHO DE 35 KILOMETROS, COM A PRESENÇA DO IMPERADOR PEDRO 2º AO CUSTO DE 2 MIL CONTOS DE RÉIS. NESSA OCASIÃO, CONFECIONOU UM CARRINHO DE MÃO DE JACARANDÁ E UMA PÁ DE PRATA, PARA QUE O IMPERADOR PUDESSE COLOCAR A PEDRA FUNDAMENTAL. NO SEU DISCURSO, SAUDOU O TRABALHO COMO FORMA DE TRANSFORMAR O MUNDO:
‘MAUÁ’ - T: 0’xx’’: Senhor, 20 meses se passaram desde suas presenças no primeiro acampamento de operários da companhia. Coube-me a honra de entregar em suas mãos um humilde instrumento de trabalho, uma pá, que o senhor, majestade, não se incomodou de usá-lo, para mostrar aos seus súditos que o trabalho é digno até da sua proteção.
LOC: ENTRETANTO, MAUÁ TINHA MUITOS INIMIGOS QUE SE ESCANDALIZAVAM COM O USO DO TRABALHO DE HOMENS LIVRES AO INVÉS DE ESCRAVOS. E AO MESMO TEMPO, INVEJAVAM O SEU SUCESSO ECONÔMICO.
‘INVEJOSOS’ - T: 0’xx’’: É um absurdo esse Mauá fazer o imperador usar uma pá como um escravo qualquer. E ainda dizer que o trabalho e as ferrovias vão fazer o Brasil crescer. Não podemos deixar esse Mauá prosseguir com seus planos..
LOC: E PARA ENFRENTAREM O SUCESSO DE MAUÁ, OS MINISTROS DE D. PEDRO 2º RESOLVERAM CRIAR UMA FERROVIA ESTATAL, EM QUE PEGARAM UM EMPRÉSTIMO DE 38 MIL CONTOS DE REÍS. BATIZARAM-NA DE ESTRADA DE FERRO D. PEDRO 2º. QUASE SIMULTANEAMENTE, O SENADO VETOU O PROJETO QUE AUTORIZAVA UM EMPRÉSTIMO PARA A ESTRADA DE FERRO DE MAÚA SUBIR A SERRA ATÉ PETRÓPOLIS. POR CAUSA DISSO, A CIDADE SOMENTE FOI ATINGIDA PELA FERROVIA EM 20 DE FEVEREIRO DE 1883.
TEC:
LOC: APESAR DE TER SIDO SABOTADO ECONOMICAMENTE, MAUÁ PARTICIPOU OU AJUDOU A IMPLANTAR OS BONDES DO RIO DE JANEIRO, A ESTRADA DE FERRO SANTOS-JUNDIAÍ, A ESTRADA DE FERRO RIO VERDE, A ESTRADA DE FERRO DE CURITIBA E ATÉ MESMO AUXILIOU NA ESTRADA DE FERRO DOM PEDRO 2º, QUE APESAR DE ESTATAL, NÃO CONSEGUIA RESOLVER PROBLEMAS DE ENGENHARIA E DE FINANCIAMENTOS.
LOC: O SENADOR PEDRO SIMON, DO PMDB DO RIO GRANDE DO SUL, FAZ UMA ANÁLISE DO IMPACTO DAS IDEIAS DE MAUÁ EM PLENO BRASIL ESCRAVISTA:
TEC:
SIMON 1 - T: 0’58’’: Se fizer uma análise do Brasil, as fases do desenvolvimento do Brasil, eu não tenho nenhuma dúvida que embora não tenha sido nem governador, nem ministro nem presidente, a pessoa que mais avançou no desenvolvimento da economia do Brasil foi o visconde de Mauá. Foi o primeiro trecho ferroviário, foi o primeiro trem, foi o primeiro banco, nós não tínhamos banco do Brasil, não tínhamos nada. Foi (sic) as primeiras indústrias. Chegou a ser a maior fortuna do Brasil. Mas infelizmente, ele acreditava na força do trabalho, ele era contra a escravatura. Ele defendia o desenvolvimento e o D. Pedro 2º era uma monarquia que dava muito lugar à nobreza. E aquela nobreza, os duques, os condes, os barões, olhavam com pavor a figura do visconde de Mauá. Porque o visconde de Mauá criou um novo segmento: era o empresário, era o industrial.
LOC: EM 21 DE OUTUBRO DE 1899 MAUÁ FALECEU. 25 DIAS DEPOIS, EM 15 DE NOVEMBRO A MONARQUI FOI DERRUBADA E É IMPLANTADA A REPÚBLICA. MAS A SEMENTE DAS FERROVAIS ESTAVA LANÇADA. VÁRIAS LINHAS FORAM CONSTRUÍDAS, LIGANDO O RIO GRANDE DO SUL A SÃO PAULO E BELO HORIZONTE AO RIO DE JANEIRO.
TÉC: SOM DE TRENS, EMBARQUE
LOC: NO NORDESTE, FORAM CONSTRUÍDAS FERROVIAS NA BAHIA E EM PERNAMBUCO. NO NORTE, UMA DAS CLÁUSULAS DA COMPRA DO ESTADO DO ACRE FOI A CONSTRUÇÃO DA FERROVIA MADEIRA-MAMORÉ, SENDO A 15ª FERROVIA BRASILEIRA, COM MAIS 300 KILOMETROS DE EXTENSÃO.
LOC: ENTRETANTO, UM GRANDE PROBLEMA PERSISTIA: COMO AS ESTRADAS DE FERRO ERAM CONSTRUÍDAS REGIONALMENTE, COM VÁRIOS PROJETOS, A LARGURA DOS TRILHOS - A BITOLA - VARIAVA.
LOC: AS 10 PRIMEIRAS ESTRADAS DE FERRO BRASILEIRAS TINHAM CINCO BITOLAS DIFERENTES: A IMPERIAL PETRÓPOLIS, INCIADA POR MAUÁ, TINHA BITOLA DE 1 METRO, 67 CENTÍMETROS E 6 MILÍMETROS;
TÉC: SOM DE MARTELO METÁLICO BATENDO, COMO
BIGORNA OU COLOCAÇÃO DE DORMENTE E TRILHOS
LOC: AS DE RECIFE A SÃO FRANCISCO, D. PEDRO 2º, BAHIA A SÃO FRANCISCO, SANTOS A JUNDIAÍ E A PAULISTA, TINHAM BITOLA DE 1 METRO E 60 CENTÍMETROS;
TÉC: SOM DE MARTELO METÁLICO BATENDO, COMO
BIGORNA OU COLOCAÇÃO DE DORMENTE E TRILHOS
LOC: A DE RECIFE A CAXANGÁ, TINHA 1 METRO E 20 DE BITOLA;
TÉC: SOM DE MARTELO METÁLICO BATENDO, COMO
BIGORNA OU COLOCAÇÃO DE DORMENTE E TRILHOS
LOC: A DE RECIFE A OLINDA TINHA 1 METRO E 40 CENTÍMETROS E
TÉC: SOM DE MARTELO METÁLICO BATENDO, COMO
BIGORNA OU COLOCAÇÃO DE DORMENTE E TRILHOS
LOC: A DE CAMPOS A SÃO SEBASTIÃO TINHA BITOLA DE 95 CENTÍMETROS E MEIO.
TÉC: SOM DE MARTELO METÁLICO BATENDO, COMO BIGORNA OU
COLOCAÇÃO DE DORMENTE E TRILHOS
LOC: O GRANDE PROBLEMA ERA QUE ISSO PREJUDICAVA O TRANSPORTE DE CARGA, QUE SEMPRE FOI O QUE MAIS PROPORCIONA RENDA AOS OPERADORES DE ESTRADAS DE FERRO. UMA CARGA COLOCADA EM UM TREM EM SANTOS TERIA DE SER DESCARREGADA E RECARREGADA UMA, DUAS, TRÊS VEZES PARA IR DE SANTOS A PETRÓPOLIS, POR EXEMPLO. E ISSO SIGNIFICAVA CUSTO QUE ENCARECIA O TRANSPORTE.
TEC:
LOC: MESMO ASSIM, AS FERROVIAS SE ESPALHAVAM COMO UM DOS MAIORES SÍMBOLOS DO DESENVOLVIMENTO DO PAÍS. EM 1903, O BRASIL E A BOLÍVIA ASSINARAM UM ACORDO EM QUE A REGIÃO DO NORDESTE DA BOLÍVIA ERA COMPRADA PELO GOVERNO BRASILEIRO E SE TORNAVA O TERRITÓRIO DO ACRE.
TEC: FOGOS DE ARTIFÍCIO, APLAUSOS...GRITOS DE VIVA O ACRE E VIVA O BRASIL
LOC: A PROFESSORA MARIA ROSA NOS CONTA QUE A CONSTRUÇÃO DA FERROVIA MADEIRA-MAMORÉ FOI UMA DAS CLÁUSULAS QUE A BOLÍVIA COLOCOU AO BRASIL PARA VENDER O ACRE:
ROSA 2 - T: 0’xx’’: Uma das cláusulas do tratado obrigava o Brasil a construir uma ferrovia de 336 kilômetros entre os rios Madeira e Mamoré, possibilitando que a população e os produtos da região, principalmente a borracha, chegassem ao resto do Brasil.
LOC: A CONSTRUÇÃO DESSA FERROVIA HAVIA SIDO TENTADA DUAS VEZES E AS DOENÇAS TROPICAIS MATARAM TANTOS OPERÁRIOS QUE A OBRA FOI INTERROMPIDA.
LOC: UM EMPREITEIRO DOS ESTADOS UNIDOS, PARCIVAL FARQUHAR, DECIDIU QUE CONSEGUIRIA FAZER A OBRA DE MADEIRA-MAMORÉ.
“FARQUHAR 1” (COM SOTAQUE AMERICANO) – T: 0’xx’’: - Eu farei essa estrada de ferro e a colocarei como meu currículo, no meu cartão de visita.
TEC:
LOC: FARQUHAR CONTRATOU NINGUÉM MENOS DO QUE OSWALDO CRUZ, QUE HAVIA CONSEGUIDO SANEAR O RIO DE JANEIRO, GRANDE FOCO DE DOENÇAS COMO A MALÁRIA E A VARÍOLA. OSWALDO CRUZ LIMPOU OS ACAMPAMENTOS, ELIMINOU OS FOCOS DE MOSQUITOS, CRIOU REGRAS PARA PREVENÇÃO DE DOENÇAS E CONSEGUIU TRATAR DOS CASOS QUE INEVITAVELMENTE OCORRIAM, MESMO COM TODOS OS CUIDADOS.
LOC: EM 30 DE ABRIL DE 1912 A FERROVIA CONSEGUIU SER TERMINADA. EM UMA PONTA FOI FUNDADA A CIDADE DE PORTO VELHO, EM RONDÕNIA E NA OUTRA PONTA, FOI FUNDADA A CIDADE DE GUAJARÁ-MIRIM, EM AGOSTO, COMEÇOU SEU FUNCIONAMENTO. ESTAVA CUMPRIDA A OBRIGAÇÃO DE LIGAR O ACRE AO RIO AMAZONAS E AO OCEANO ATLÃNTICO.
TÉC: SOM DE TRENS, EMBARQUE
LOC: MAS PARCIVAL FARQUHAR INTERESSOU-SE POR OUTRO PROJETO DE FERROVIA, DESSA VEZ NO SUL DO PÁIS. HAVIA UM PROJETO DE LIGAR O RIO GRANDE DO SUL A SÃO PAULO E, EM 1908, FARQUHAR COMPROU, JÁ COM DINHEIRO DA CONSTRUÇÃO DA MADEIRA-MAMORÉ, A COMPANHIA ESTRADA DE FERRO SÃO PAULO-RIO GRANDE QUE TINHA UMA CONCESSÃO DE USO ATÉ 1940.
“FARQUHAR 2” (COM SOTAQUE AMERICANO) – T: 0’xx’’:- A venda da madeira das árvores araucárias e imbuias do Paraná e Santa Catarina me dará um lucro de milhares, talvez milhões de dólares. Além disso, poderei vender as terras que a estrada cortar.
LOC: O GOVERNO FEDERAL, EM UMA ATITUDE ESTRANHA, DOOU A FARQUHAR TODAS AS ÁREAS À DIREITA E À ESQUERDA DA ESTRADA DE FERRO, COM EXTENSÃO DE 15 KILÔMETROS PARA CADA LADO. ENTRETANTO, ESSAS TERRAS ERAM HABITADAS DESDE O SÉCULO 18 E HAVIAM SIDO REGULAMENTADAS EM 1850. ISSO INICIOU UM GRANDE PROBLEMA SOCIAL, EM QUE OS OPERÁRIOS DE FARQUHAR SE APOSSAVAM DE LAVOURAS, DESTRUÍAM FLORESTAS E VENDIAM AS ÁRVORES DE TODAS AS ÁREAS QUE IAM PASSANDO.
TEC: GRITOS, TIROS, ÁRVORES CAINDO
LOC: EM 1912, ESTOUROU A GUERRA DO CONTESTADO, EM QUE A POPULAÇÃO POBRE, PROFUNDAMENTE RELIGIOSA, EXPULSA DE SUAS TERRAS, PASSOU A ATACAR AS SERRARIAS DE FARQUHAR, OS CARTÓRIOS DE TERRAS, ARRANCAR OS TRILHOS E DEFENDER A VOLTA DA MONARQUIA.
TEC: GRITOS, TIROS, COMBATES
LOC: O GOVERNO FEDERAL ENVIOU O EXÉRCITO E APÓS 3 ANOS DE DUROS CONFLITOS, ESMAGOU A REVOLTA. EM 1917 A EMPRESA DE FARQUHARD ENTROU EM CONCORDATA E FOI COMPRADA. EM 1940, DURANTE O GOVERNO GETÚLIO VARGAS, A CONCESSÃO VENCEU E O GOVERNO ENCAMPOU A ESTRADA DE FERRO.
LOC: FARQUHAR AINDA ENTROU EM DOIS OUTROS GRANDES NEGÓCIOS FERROVIÁRIOS NO BRASIL: EM 1906 ARRENDOU A ESTRADA DE FERRO SOROCABANA, EM SÃO PAULO, E EM 1919 COMPROU A COMPANHIA DE MINÉRIO DE FERRO DE ITABIRA E SUA ESTRADA DE FERRO VITÓRIA-MINAS. SEU PROJETO ERA EXPLORAR O MINÉRIO DE FERRO DE MINAS, TRANSPORTÁ-LO POR FERROVIA ATÉ O ESPÍRITO SANTO, ONDE SERIA VENDIDO AOS ESTADOS UNIDOS E EUROPA E TROCADO POR CARVÃO MINERAL.
TEC: SOM DE CAIXA REGISTRADORA
LOC: A COMPANHIA SOROCABANA FOI ENCAMPADA EM 1919 PELO GOVERNO DE SÃO PAULO, POR ACUSAÇÕES DE ABANDONO E MÁ-CONSERVAÇÃO. MAIS TARDE, EM 1942, A COMPANHIA DE MINÉRIO DE ITABIRA E A ESTRADA DE FERRO VITÓRIA-MINAS FORAM ENCAMPADAS POR GETÚLIO VARGAS.
LOC: A ÉPOCA ERA DA SEGUNDA GEURRA MUNDIAL E GETÚLIO VARGAS NEGOCIOU COM O GOVERNO AMERICANO TECNOLOGIA E DINHEIRO PARA CONSTRUÇÃO DA COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL. ASSIM, COM AS RESERVAS DE MINÉRIO DE FERRO, COM A FUTURA SIDERÚRGIA E COM A ESTRADA DE FERRO, CRIOU A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE.
TEC: TRECHO DE SONORA DE GETÚLIO VARGAS PELA CRIAÇÃO DA CIA. VALE DO RIO DOCE E SIDERÚRGICA NACIONAL.
2ª parte
LOC: O PERÍODO ENTRE 1914 E 1957 MARCA UMA SÉRIE DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES QUE AS ESTRADAS DE FERRO CAUSARAM NO BRASIL. TODO O INTERIOR DE SÃO PAULO, ASSIM COMO A REGIÃO DE MINAS GERAIS ABAIXO DO RIO SÃO FRANCISCO, FOI ALCANÇADO PELAS FERROVIAS.
TEC:
LOC: DEZENAS DE CIDADES SURGIRAM AO LONGO DAS ESTRADAS DE FERRO, NOS PONTOS DE PARADA. O QUE ERAM PEQUANAS VILAS SE TORNARAM CIDADES. EM SÃO PAULO: BAURU, ARAÇATUBA, MARÍLIA ENTRE OUTRAS. E EM MINAS, UBERABA, BARBACENA E ARAGUARI.
TEC:
LOC: EM OUTROS ESTADOS, COMO RIO GRANDE DO SUL, MATO GROSSO, PERNAMBUCO E PARANÁ AS ESTRADAS DE FERRO LIGAVAM PORTOS MARÍTIMOS E FLUVIAIS AO INTERIOR.
TEC:
LOC: O SENADOR PAULO PAIM, DO PT DO RIO GRANDE DO SUL, LEMBRA QUE ATÉ A DÉCADA DE 60, ELE USAVA TANTO O BONDE COMO O TREM PARA ANDAR EM PORTO ALEGRE OU PARA IR PARA SANTA MARIA.
“PAIM 1” – T: 0’35’’:- Eu comecei a trabalhar em Proto Alegre, eu tinha 10 anos, eu madrugava, aquela época, filho de pai e mãe analfabetos, 10 irmãos. Eu pegava o bondinho ali no Parthenon, Porto Alegre todo dia, ia ao centro da cidade, trabalhar na feira livre. Fiquei 2 anos fazendo isso, dos 10 aos 12 anos, Aos 12 anos, claro, entrei no SENAI e voltei pra Caxias. Tirei meu curso técnico e aí minha vida mudou. Mas dependi muito do bonde. Como também peguei a época do trem. Peguei o trem que atravessava o Rio Grande. Ia a Santa Maria de trem.
TEC:
LOC: EM 1907, O BRASIL JÁ TINHA IMPRESSIONANTES 17 MIL KILÔMETROS DE FERROVIAS. EM 1950, ERAM MAIS DE 36 MIL KILÔMETROS DE ESTRADAS DE FERRO.
LOC: PARA MOVIMENTAR ESSA REDE DE TRILHOS, HAVIA 49 EMPRESAS E MAIS DE 195 MIL FERROVIÁRIOS.
TEC:
LOC: O BRASIL POSSUÍA ESCOLAS TÉCNICAS CRIADAS PELAS PRÓPRIAS COMPANHIAS, PARA A FORMAÇÃO DE MECÃNICOS, ELETRICISTAS, MAQUINISTAS, TORNEIROS, ENFIM TODO O PESSOAL NECESSÁRIO PARA A OPERAÇÃO. NOS ANOS 20 E 30, O GOVERNO FEDERAL, ASSIM COMO OS GOVERNOS ESTADUAIS E AS EMPRESAS, INVESTIA NA FORMAÇÃO DE PESSOAL COMO FORMA DE NÃO DEPENDER DE TÉCNICOS ESTRANGEIROS.
TEC:
LOC: A COMPANHIA PAULISTA TINHA UMA ESCOLA DE TÉCNICOS FERROVIÁRIOS MECÃNICOS EM RIO CLARO, ONDE TAMBÉM HAVIA UM CENTRO DE MANUTENÇÃO. O SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZADO INDUSTRIAL, O SENAI, TINHA UM CENTRO DE APRENDIZADO EM JUNDIAÍ. EM PONTA GROSSA, NO PARANÁ, HAVIA UMA ESCOLA PROFISSIONALIZANTE FERROVIÁRIA.
TEC:
LOC: OS CURSOS DE APRENDIZES FERROVIÁRIOS ERAM DISPUTADÍSSIMOS. ERAM DESTINADOS A JOVENS ENTRE 14 E 17 E SOMENTE AOS FILHOS DE FERROVIÁRIOS. GRADATIVAMENTE FORAM SENDO ACEITOS SOBRINHOS, PRIMOS, IRMÃOS ATÉ QUE PERMITIRAM A ENTRADA DE JOVENS DE QUALQUER ORIGEM.
TEC: SOM DE CAMINHÃO, BUZINA
TEC: SOM DE TREM DE METRÔ E SUA CAMPAINHA DE FECHAR AS PORTAS
TEC: SOM DE BONDE CIRCULANDO NAS RUAS
LOC: EM SÃO PAULO, EM 1927, A COMPANHIA DE BONDES APRESENTOU ESTUDOS PROPONDO UMA REORGANIZAÇÃO DAS LINHAS DE BONDES E A CONSTRUÇÃO DO METRÔ SUBTERRÂNEO. A PROPOSTA NÃO FOI ACEITA E SOMENTE EM 1965, O PREFEITO PAULISTANO FARIA LIMA, BRIGADEIRO DA AERONÁUTICA, DECIDIU PELA SUA CONSTRUÇÃO.
LOC: ENTRETANTO, JÁ INFLENCIADO PELO PENSAMENTO DOMINANTE DE QUE CARROS ERAM MODERNOS E BONDES ERAM ANTIQUADOS, FARIA LIMA ENCERROU A ATIVIDADE DOS BONDES NA CAPITAL PAULISTA.
TEC: TRUMPETE FAZENDO O GLISSANDO “QUA-QUA-QUA-QUA-QUAAA..”
LOC: NO RIO DE JANEIRO, DESDE 1928, A COMPANHIA DE BONDES CARIOCA, CHAMADA POPULARMENTE DE ‘LIGHT’, QUE TAMBÉM ERA ACIONISTA DA MESMA ‘LIGHT’ PAULISTA, APRESENTOU SEUS PRIMEIROS ESTUDOS PARA CONSTRUÇÃO DE UM METRÔ NA CIDADE DO RIO. SOMENTE EM 1968 COMEÇARAM AS OBRAS DO METRÔ DO RIO DE JANEIRO.
TEC: SOM DE OBRAS, BATE-ESTACAS
LOC: LOGO APÓS A 2ª GUERRA MUNDIAL, FOI CRIADA A COMISSÃO MISTA BRASIL-ESTADOS UNIDOS, PARA REORGANIZAR A ATIVIDADE ECONÔMICA DOS PAÍSES ALIADOS. E DOS 41 PROJETOS ELABORADOS, 24 TINHAM RELAÇÃO DIRETA COM AS FERROVIAS.
LOC: OS PONTOS PRINCIPAIS ERAM A UNIFORMIZAÇÃO DAS DIVERSAS BITOLAS PARA UMA ÚNICA BITOLA PADRÃO, ASSIM COMO MODERNIZAR TODOS OS EQUIPAMENTOS E A ADMINISTRAÇÃO. OS EQUIPAMENTOS SUGERIDOS ERAM NORTE-AMERICANOS, PARA DAR VAZÃO À ENORME SOBRA DE MATERIAL APÓS A 2ª GUERRA MUNDIAL.
TEC:
LOC: OUTRO PONTO ERA A MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA DE FORMAÇÃO DE TÉCNICOS E ENGENHEIROS FERROVIÁRIOS, JÁ QUE AGORA CHEGAVAM AS NOVAS LOCOMOTIVAS DIESEL-ELÉTRICAS, NO LUGAR DAS ANTIGAS MARIAS-FUMAÇA, MOVIDAS A CARVÃO.
TEC: MÚSICA CHATTANOOGA CHOO CHOO, DE GLEN MILLER
LOC: EM 1955 FOI ELEITO PARA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA JUSCELINO KUBISTCHEK DE OLIVEIRA, QUE OPTOU PELA IMPLANTAÇÃO DE INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA ESTRANGEIRA NO BRASIL.
TEC: jingle da campanha de JK
LOC: JUSCELINO HAVIA ORGANIZADO O ‘GEIA’ – GRUPO EXECUTIVO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA, QUE APRESENTOU UM RELATÓRIO ONDE DEFENDIA A CONSTRUÇÃO DE ESTRADAS, APOIO ECONÔMICO ÀS MONTADORAS DE VEÍCULOS QUE SE INSTALASSEM NO BRASIL E POR ÚLTIMO, O CONGELAMENTO DOS INVESTIMENTOS EM TRILHOS, FOSSEM TRENS, BONDES OU METRÕS.
TEC: buzinas de automóveis
LOC: O RELATÓRIO ERA PRATICAMENTE UMA CÓPIA DO RELATÓRIO QUE A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA NORTE-AMERICANA HAVIA ENTREGUE AO PRESIDENTE NORTE-AMERICANO EISENHOWER E IGUALMENTE PARADO OS INVESTIMENTOS AMERICANOS EM FERROVIAS.
TEC:
LOC: A PROFESSORA MARIA ROSA RAVELLI DE ABREU, DO PROGRAMA CIDADE VERDE, DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, COMENTOU O PREJUÍZO QUE O BRASIL PASSOU A SOFRER COM A SUSPENSÃO DOS INVESTIMENTOS EM FERROVIAS, METRÔS E BONDES, ASSIM COMO O GRADUAL FECHAMENTO DE TODAS AS ESCOLAS TÉCNICAS FERROVIÁRIAS:
“ROSA 3” – T: 0’xx’’: A ausência de cursos no campo, nas escolas de engenharia na área ferroviária, se inscreve num conjunto de outras medidas que o país adotou nas últimas décadas de destruir as nossas ferrovias. Tanto os trens de passageiros, quanto os trens de cargas, quanto impedir o crescimento de metrô nas cidades. Isso traz muito prejuízo.
LOC: NA PRÓXIMA SEMANA VAMOS CONTINUAR O ESPECIAL SOBRE ESTRADAS DE FERRO. VAMOS CONTAR O QUE ACONTECEU COM AS FERROVIAS DO BRASIL, A PARTIR DE 1957. FALAREMOS DA PARALIZAÇÃO DAS FERROVIAS, SEU DESMONTE, AS PRIVATIZAÇÕES E A VOLTA DAS ESTRADAS DE FERRO. FALAREMOS DA LUTA PARA A CONSTRUÇÃO DOS METRÔS E OS PROJETOS DE VOLTA DOS BONDES. ATÉ LÁ!
TEC:
LOC: VOCÊ ACABOU DE OUVIR A REPORTAGEM ESPECIAL “160 ANOS DAS FERROVIAS – SURGIMENTO, APOGEU, DECLÍNIO E RETOMADA”.
LOC: REPORTAGEM E REDAÇÃO: CARLOS PENNA BRESCIANINI.
LOC: LOCUÇÃO: RAQUEL TEIXEIRA
LOC: EDIÇÃO: JEFFERSON DALMORO.
LOC: TRABALHOS TÉCNICOS: ANDRÉ MENEZES
LOC: A RÁDIO SENADO TEM DIREÇÃO DE IVAN GODOY E A SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO DO SENADO É DIRIGIDA POR DAVI EMERICH
-TEC: VINHETA REPORTAGEM ESPECIAL – ENCERRAMENTO
(“Você acompanhou Reportagem Especial – jornalismo, cultura e realidade. Uma produção Rádio Senado”)