19 - O ano de 1968, o Ato Institucional nº 5, os Festivais da Canção e O Pasquim

Transcrição Parte 1 - 1968, Ato Institucional nº 5 TÉC: UM A ZERO. LOC: NESTA NOSSA VIAGEM PELO SÉCULO VINTE, VAMOS ENCONTRAR O BRASIL EM 1968 ÀS VÉSPERAS DO ATO INSTITUCIONAL NÚMERO CINCO, O MAIS DURO INSTRUMENTO JURÍDICO DA HISTÓRIA DO PAÍS. (TÉC: TOCA “ALEGRIA, ALEGRIA”, DE CAETANO, POR CINCO SEGUNDOS E DEPOIS CAI EM BG) O MARECHAL ARTHUR DA COSTA E SILVA TINHA ASSUMIDO O GOVERNO NO DIA 15 DE MARÇO DE 67 COMO REPRESENTANTE DA LINHA DURA. LOC: A LINHA DURA TINHA ESCOLHIDO COSTA E SILVA E ATROPELADO O ANTECESSOR DELE, O MARECHAL CASTELLO BRANCO. CASTELLO TENTOU DEIXAR O PAÍS NORMALIZADO COM A CONSTITUIÇÃO DE JANEIRO DE 67, MAS TEVE QUE ACEITAR O SUCESSOR QUE LHE FOI IMPOSTO. LOC: COMO VIMOS NO PROGRAMA ANTERIOR, O CLIMA DE RADICALIZAÇÃO NO PAÍS EM 68 CHEGOU A LIMITES QUASE INSUPORTÁVEIS. UMA GRANDE PARTE DA ESQUERDA PARTIU PARA A LUTA ARMADA CONTRA O REGIME MILITAR. E A EXTREMA DIREITA APROVEITOU NISSO UM PRETEXTO PARA SE FORTALECER AINDA MAIS E GANHAR POSIÇÕES DENTRO DO GOVERNO. LOC: O JORNALISTA CARLOS CHAGAS, QUE FOI ASSESSOR DE IMPRENSA DE COSTA E SILVA, CONTA COMO ERA A SITUAÇÃO DE COSTA E SILVA NA PRESIDÊNCIA: TÉC: “Ele foi escolhido candidato, vamos dizer a verdade, imposto candidato pelas forças armadas, não teve ninguém contra ele, quer dizer, foi um general que virou presidente, sem ter voto. Agora, quando chegou na presidência da república, ele teve um estado do Vieira, ele enfiou na cabeça que não podia passar à História como ditador. Então, lançou a tese, logo antes mesmo de tomar posse, de que ele seria último general presidente. Isso o país já estava maduro para ser aberto, para um abertura, para não haver mais legislação excepcional, mais nada. Quando ele assumiu, ele assumiu sem nenhum ato institucional. Assumiu com a Constituição de 67, e imaginou que pudesse chegar até o fim com a Constituição, sem legislação revolucionária nenhuma, que já tinha sido revogada, e aí passar o poder para um civil.” LOC: COM AS PRINCIPAIS LIDERANÇAS POLÍTICAS PRESAS, CASSADAS OU NO EXÍLIO, A VANGUARDA DE OPOSIÇÃO ABERTA PASSOU À MÃO DOS ESTUDANTES E DA CLASSE ARTÍSTICA. E OS ESTUDANTES FORAM ÀS RUAS EM TODO O PAÍS. ALGUNS ESTUDANTES MORRERAM EM MANIFESTAÇÕES NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 68. E A PASSEATA DOS CEM MIL, EM JUNHO, NO CENTRO DO RIO, FOI O ÁPICE DO PROTESTO. A RADICALIZAÇÃO DE ESQUERDA E DE DIREITA CHEGOU AO DELÍRIO. TÉC: “RODA VIVA”, COM CHICO E O MPB4 LOC: A PEÇA “RODA VIVA”, DE CHICO BUARQUE DE HOLLANDA, ENCENADA POR JOSÉ CELSO MARTINEZ CORREIA, ASSUSTOU A CENSURA, QUE FOI PEGA NO CONTRAPÉ. É QUE O TEXTO ERA ATÉ INGÊNUO. LOC: TRATAVA DE UM ARTISTA QUE SE VIA ENVOLVIDO PELA ENGRENAGEM DA INDÚSTRIA CULTURAL E PERDIA O CONTROLE SOBRE A PRÓPRIA VIDA. UMA VERDADEIRA RODA VIVA. MAS O QUE ASSUSTOU A CENSURA FOI A MONTAGEM DELIRANTE E AGRESSIVA DE ZÉ CELSO, COMO CONTA O CRÍTICO SÁBATO MAGALDI. TÉC: “O Chico Buarque, ele declarou mais uma vez que ele estava completamente solitário com a virulência da motagem do Zé Celso. Se a gente vai ler o texto, o texto é quase ingênuo, entendeu? . Eu assisti o espetáculo nas primeiras montagens, lá no Rio e Janeiro. E muitos pais ainda levavam crianças, porque como a censura naquele tempo se baseava somente no texto, não havia menor razão para proibi-los. Eu acho que o Rei da Vela até que foi que criou para a censura um duplo procedimento. Em primeiro lugar havia uma censura do texto. Depois eles viram que o espetáculo não é só o texto, é o texto e a própria concepção do diretor; e aí havia uma segunda censura feita no ensaio geral, ou antes do ennsaio geral, pra ver se o espetáculo poderi ser mostrado ou não. E aí houve mil problemas, a peça foi interditada, elasofreu muitas perseguições. Marília Pêra, montando a peça em São Paulo, chegou a ser mesmo agredida junto com os outros atores lá no teatro Ruth Escobar.” LOC: A TESE DE ZÉ CELSO ERA DE QUE A PLATÉIA TINHA QUE SER AGREDIDA PARA DESPERTAR. O DIRETOR USOU ATÉ FÍGADO CRU DE BOI, QUE ERA ATIRADO NA PLATÉIA ASSUSTADA, COMO SE FOSSEM PEDAÇOS DO FÍGADO DO ARTISTA. LOC: OS ATORES IMPROVISAVAM EM CENA, SEMPRE DE FORMA AGRESSIVA. DONAS-DE-CASA QUE IAM VER A PEÇA ATRAÍDAS PELA IMAGEM BEM-COMPORTADA DE CHICO BUARQUE, SAÍAM APAVORADAS PELO ESTILO DE ZÉ CELSO. TÉC: TOCA RODA -VIVA. LOC: VÁRIAS APRESENTAÇÕES DA PEÇA PELO PAÍS FORAM INTERROMPIDAS PELA POLÍCIA, QUE AGREDIU E HUMILHOU PRINCIPALMENTE AS ATRIZES MARÍLIA PERA, MARIETA SEVERO E ELIZABETH GASPER. A MÚSICA “SEM FANTASIA” FOI COMPOSTA PARA A PEÇA: TÉC: SEM FANTASIA LOC: NO DIA 29 DE AGOSTO DE 68, À REVELIA DO PRESIDENTE COSTA E SILVA, O MINISTRO DA JUSTIÇA GAMA E SILVA ORDENOU A INVASÃO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA POR AGENTES DA POLÍCIA FEDERAL, DO DOPS E DA POLÍCIA MILITAR. LOC: A ORDEM ERA PRENDER OS LÍDERES ESTUDANTIS COM PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA PELA JUSTIÇA. TREZENTOS AGENTES E SOLDADOS ENTRARAM NO CAMPUS EM BUSCA DO PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DOS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS, HONESTINO GUIMARÃES, E MAIS QUATRO COLEGAS. OS POLICIAIS USAVAM BOMBAS, METRALHADORAS, FUZIS, PISTOLAS E CASSETETES. LOC: A BATALHA DUROU MEIA HORA. COM CERCA DE 500 ESTUDANTES RESISTIRAM COM PEDRAS NO INSTITUTO CENTRAL DE CIÊNCIAS, O PRÉDIO CONHECIDO COMO “MINHOCÃO”. AFINAL, OS ALUNOS SE RENDERAM, DEPOIS QUE VALDEMAR ALVES DA SILVA LEVOU UM TIRO NA TESTA. HONESTINO FOI PRESO. LOC: VÁRIOS PARLAMENTARES APANHARAM JUNTO COM OS ESTUDANTES, ALGUNS PROTEGENDO OS FILHOS. FOI O CASO DO DEPUTADO SANTILLI SOBRINHO E ATÉ DO ARENISTA CLÓVIS STENZEL, TIDO COMO REPRESENTANTE DA LINHA DURA. QUASE FORAM ESPANCADOS TAMBÉM MÁRIO COVAS, AMARAL PEIXOTO, MARTINS RODRIGUES E DAVI LERER. Tec: San Vicente. LOC: O IRMÃO DE HONESTINO, NORTON GUIMARÃES, ERA UM DOS LÍDERES SECUNDARISTAS EM 68 EM BRASÍLIA, E CONTA COMO VIU A INVASÃO DA UNB: TÉC: “Porque a polícia cercou todas as entradas e saídas da universidade. Eu não enttrei. Eu só entrei lá algumas horas depois travestido de garoto, porque na época eu tinha 18 anos, tinha cara de menino. Então fui lá em casa e coloquei short curtinho, camiseta, montei na minha bicicleta e desci. Eles viram a criança passando e nem se importaram, aí a invasão já tinha acontecido, já tinham prendido as pessoas, já tinha tropa lá dentro. A situação já tava mais calma.” LOC: NO DIA 2 DE SETEMBRO DE 68, O DEPUTADO MÁRCIO MOREIRA ALVES, DE 32 ANOS, SUBIU À TRIBUNA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS PARA UM DISCURSO DE IMPROVISO. SEM SABER AO CERTO O QUE DIZER, LEMBROU-SE DE UMA PEÇA QUE TINHA ASSISTIDO EM SÃO PAULO: “LISÍSTRATA”, DE ARISTÓFANES, TRADUZIDA POR MILLÔR FERNANDES, DIRIGIDA POR MAURICE VANEAU E ESTRELADA POR RUTH ESCOBAR. LOC: A PEÇA, ESCRITA 411 ANOS ANTES DE CRISTO, TRATAVA DA GREVE DE SEXO DAS MULHERES DE ATENAS CONTRA OS MARIDOS QUE INSISTIAM EM GUERREAR CONTRA ESPARTA. O DEPUTADO, CONHECIDO COMO MARCITO E HOJE COLUNISTA DO JORNAL “O GLOBO”, INCITOU EM SEU DISCURSO AS JOVENS MULHERES BRASILEIRAS A SABOTAR OS CADETES E OS JOVENS OFICIAIS DO EXÉRCITO, EM REPRESÁLIA À INVASÃO DA Unb. LOC: MÁRCIO TAMBÉM INCITAVA OS PAIS DE ALUNOS A NÃO DEIXAR OS FILHOS DESFILAREM NO SETE DE SETEMBRO AO LADO DOS SOLDADOS QUE METRALHAVAM ESTUDANTES. E ACUSOU O EXÉRCITO DE SER “UM VALHACOUTO DE TORTURADORES”. LOC: ERA UM DISCURSO SEM IMPORTÂNCIA, NO CHAMADO “PINGA-FOGO” DA CÂMARA, UM HORÁRIO POUCO VALORIZADO. NO DIA SEGUINTE, O ÚNICO JORNAL A PUBLICAR UMA PEQUENA NOTA SOBRE O DISCURSO FOI A “FOLHA DE SÃO PAULO”. MAS TODOS OS QUARTÉIS DO PAÍS RECEBERAM CÓPIAS DO DISCURSO. LOC: A PRESSÃO MILITAR E DO MINISTRO DA JUSTIÇA SOBRE COSTA E SILVA FOI ENORME. O GOVERNO PEDIU LICENÇA À CÂMARA PARA PROCESSAR O DEPUTADO POR OFENSA GRAVE AO EXÉRCITO. LOC: A INTOLERÂNCIA E O RADICALISMO FERVIAM NO PAÍS. NO FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO DE 68, “SABIÁ”, DE CHICO BUARQUE E TOM JOBIM, LEVOU UMA VAIA ENORME NO MARACANÃZINHO. A PLATÉIA POLITIZADA ACHOU QUE A MÚSICA ERA ALIENADA E LÍRICA DEMAIS PARA UM MOMENTO DAQUELES. LOC: O PÚBLICO QUERIA “PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES”, DE GERALDO VANDRÉ, QUE TIROU EM SEGUNDO LUGAR. AS DUAS ERAM LINDAS. E “SABIÁ” NÃO ERA ALIENADA. ERA UMA CLARA REFERÊNCIA AO EXÍLIO A QUE VÁRIOS BRASILEIROS ESTAVAM SUBMETIDOS. LOC: MAS ERA POUCO PERTO DA MÚSICA DE VANDRÉ, UM HINO REVOLUCIONÁRIO QUE MILLÔR FERNANDES CHAMOU DE “A MARSELHESA BRASILEIRA”. VAMOS OUVIR AS DUAS, “SABIÁ” E DEPOIS “PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES”, ESTA, AO VIVO NO AMBIENTE DO FESTIVAL: LOC: A CRISE EVOLUIU PARA UM RADICALISMO DOS DOIS LADOS PIOR AINDA QUE O DE 64. O DEPUTADO MAURÍLIO FERREIRA LIMA E O JORNAL “CORREIO DA MANHÔ DENUNCIARAM QUE O PÁRA-SAR, GRUPO DE SALVAMENTO DA AERONÁUTICA, TINHA ORDENS DO BRIGADEIRO JOÃO PAULO BOURNIER, PARA MATAR ESTUDANTES E LIDERANÇAS POLÍTICAS. LOC: PARECIA FICÇÃO MAS ERA VERDADE, OS PLANOS INCLUÍAM A EXPLOSÃO DO GASÔMETRO, NO INÍCIO DA AVENIDA BRASIL, E A DESTRUIÇÃO DA REPRESA DE RIBEIRÃO DAS LAJES. OS CRIMES SERIAM ATRIBUÍDOS AOS COMUNISTAS. PRISIONEIROS SERIAM LANÇADOS AO MAR, DE AVIÕES, A 40 QUILÔMETROS DA COSTA, ENTRE ELES JUSCELINO KUBITSCHEK, CARLOS LACERDA, JÂNIO QUADROS, DOM HELDER CÂMARA E O GENERAL OLÍMPIO MOURÃO FILHO, UM DOS LÍDERES DO MOVIMENTO DE 64. LOC: O CAPITÃO DA AERONÁUTICA SÉRGIO RIBEIRO MIRANDA DE CARVALHO E O BRIGADEIRO ITAMAR ROCHA, DIRETOR-GERAL DE ROTAS AÉREAS DO MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA, CONFIRMARAM AS DENÚNCIAS. O BRIGADEIRO EDUARDO GOMES, CONSIDERADO UM SÍMBOLO DA AERONÁUTICA, TOMOU A DEFESA DO CAPITÃO SÉRGIO. LOC: A POSIÇÃO DO CAPITÃO SÉRGIO EVITOU QUE UM SETOR DA AERONÁUTICA FOSSE ENVOLVIDO EM TERRORISMO E NO ASSASSINATO DE MILHARES DE PESSOAS. MAS O RADICALISMO E A MARCHA DA INSENSATEZ CONTINUARAM ACELERADOS. HOUVE NOVOS CHOQUES VIOLENTOS ENTRE ESTUDANTES E POLÍCIA NA UNIVERSIDADE MACKENZIE E NA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP, EM S. PAULO. UM OUTRO ESTUDANTE, O SECUNDARISTA JOSÉ GUIMARÃES, DE 20 ANOS, MORREU BALEADO. Parte 2 - Época dos festivais da canção, O Pasquim LOC: AQUELA INTOLERÂNCIA IDEOLÓGICA DE QUE FALOU O COMPOSITOR TOM ZÉ NO PROGRAMA PASSADO E QUE ATINGIU EM CHEIO A TROPICÁLIA, APARECEU FORTE NO MESMO FESTIVAL EM QUE CHICO BUARQUE E TOM JOBIM FORAM VAIADOS. CAETANO VELOSO IA CANTAR A SUA “É PROIBIDO PROIBIR” NA NOITE DE 28 DE SETEMBRO, NA FASE NACIONAL DO FESTIVAL, ACOMPANHADO DO GRUPO “OS MUTANTES”. LOC: FOI NO TEATRO DO TUCA, EM SÃO PAULO. CAETANO LEVOU UMA GRANDE VAIA DA JUVENTUDE ESQUERDISTA, QUE CONDENAVA A TROPICÁLIA POR CONSIDERÁ-LA ALIENADA. NO JÚRI, ESTAVA NARA LEÃO. VAMOS OUVIR CAETANO VELOSO TENTANDO CANTAR “É PROIBIDO PROIBIR” NAQUELA NOITE, NO TUCA, DEBAIXO DE VAIAS. TEC: CAETANO CANTA. LOC: PRESTEM ATENÇÃO AO DISCURSO QUE ELE FAZ, QUANDO NÃO CONSEGUE CANTAR. CAETANO ACUSA A ESQUERDA E OS JOVENS ESTUDANTES DE “AUTORITÁRIOS”, DIZ QUE ELES NÃO ENTENDEM NADA. E OS COMPARA AOS TERRORISTAS DE DIREITA QUE INVADIRAM O TEATRO PARA BATER NO ELENCO DE “RODA VIVA”. O “VIVA CACILDA BECKER” É UMA HOMENAGEM PORQUE A ATRIZ ESTAVA PARA SER DEMITIDA DA TELEVISÃO POR PRESSÃO DA CENSURA: TÉC: CAETANO FALA. LOC: ATÉ OS IRMÃOS MARCOS E PAULO SÉRGIO VALLE, QUE CRITICAVAM AS MÚSICAS DE PROTESTO, ACABARAM ADERINDO. A BELA “VIOLA ENLUARADA” É UM CHAMADO ROMÂNTICO À LUTA REVOLUCIONÁRIA: TÉC: VIOLA ENLUARADA. LOC: A ALIANÇA LIBERTADORA NACIONAL PROMOVIA ASSALTOS A BANCOS, AS “EXPROPRIAÇÕES”, E TAMBÉM ASSASSINATOS DE INIMIGOS, A QUE CHAMAVAM “EXECUÇÕES”. E O COMANDO DE CAÇA AOS COMUNISTAS, O CCC, E A ORGANIZAÇÃO TFP, TRADIÇÃO FAMÍLIA E PROPRIEDADE, ATACAVAM TEATROS, ORGANIZAVAM ATENTADOS, PICHAVAM MUROS. LOC: A VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA DE ESQUERDA INVADIU O HOSPITAL MILITAR DO CAMBUCI, EM SÃO PAULO, E ROUBOU ONZE FUZIS FAL. NO COMANDO O CAPITÃO DO EXÉRCITO CARLOS LAMARCA. EM SEGUIDA, LANÇARAM UMA CAMINHONETE CHEIA DE EXPLOSIVOS CONTRA O QUARTEL-GENERAL DO SEGUNDO EXÉRCITO. A SENTINELA, O SOLDADO MÁRIO KOZEL FILHO, MORREU NO ATENTADO. LOC: O CAPITÃO CARLOS LAMARCA DESERTOU DO EXÉRCITO COM UM SARGENTO, UM CABO E UM SOLDADO. ATACARAM TAMBÉM A RESIDÊNCIA DE UMA AMANTE DO EX-GOVERNADOR ADEMAR DE BARROS, NO RIO DE JANEIRO, E ROUBARAM UM COFRE COM DOIS MILHÕES E MEIO DE DÓLARES EM DINHEIRO VIVO. LOC: MILITARES DO SEGUNDO EXÉRCITO PUSERAM UMA BOMBA NA SEDE DO JORNAL “O ESTADO DE SÃO PAULO”. OUTROS MILITARES DAVAM APOIO LOGÍSTICO ÀS OPERAÇÕES DO COMANDO DE CAÇA AOS COMUNISTAS E DA TFP. O BRASIL PARECIA TER ENLOUQUECIDO. LOC: NO AUGE DA CRISE, O BRASIL RECEBEU O PRIMEIRO MINISTRO ALEMÃO WILLY BRANDT, EM OUTUBRO, E A RAINHA ELIZABETH, EM NOVEMBRO. A VISITA DA RAINHA FOI CHEIA DE LANCES DE HUMOR, COMO CONTAM OS JORNAIS DA ÉPOCA. LOC: A RAINHA INSISTIA EM DIZER “BUENOS DIAS” E “BUENAS NOCHES” COM UM CARREGADO SOTAQUE BRITÂNICO. EM TROCA, O PRESIDENTE COSTA E SILVA NÃO CONSEGUIA DIZER “GOD SAVE THE QUEEN”. A ATMOSFERA DO PAÍS SE DESCONTRAIU UM POUCO. LOC: NELSON RODRIGUES ESCREVEU, ENTÃO, QUE O BRASILEIRO TINHA NOSTALGIA DA REALEZA, QUE NÃO TER UMA RAINHA ERA UM AMARGO COMPLEXO NACIONAL, JÁ QUE NÃO TÍNHAMOS NEM UMA MADAME POMPADOUR. LOC: AO MESMO TEMPO EM QUE A POLÍTICA FERVIA, OS HÁBITOS DE COMPORTAMENTO MUDAVAM MUITO NO FINAL DOS 60. A PÍLULA ANTICONCEPCIONAL, O FESTIVAL DE WOODSTOCK, NOS ESTADOS UNIDOS E O MOVIMENTO DE LIBERAÇÃO FEMININA SACUDIRAM TUDO. LOC: A BÍBLIA DESTES TEMPOS ERA “EROS E CIVILIZAÇÃO”, DO CANADENSE HERBERT MARCUSE. UMA MISTURA BEM TEMPERADA DE MARX COM FREUD. ALÉM DA LIBERTAÇÃO E DO AVANÇO DA POLÍTICA E DA ECONOMIA, ERA PRECISO LIBERTAR O SER HUMANO, FAZÊ-LO FELIZ. LOC: AS CLASSES MÉDIAS URBANAS NO BRASIL PROMOVERAM UMA REVOLUÇÃO DE COMPORTAMENTO: AS MOÇAS SAÍRAM DE CASA PARA MORAR SOZINHAS, SEXO ANTES DO CASAMENTO DEIXOU DE SER TABU, TORNOU-SE ABSURDO MANTER ATÉ O FIM UM CASAMENTO INFELIZ. COMO CONTA VLADIMIR PALMEIRA: TÉC: “Do ponto de vista por exemplo da educação, da estrutura da família, houve uma mudança brusca. Os filhos da geração de 68 são educados de uma forma muito maus liberal do que nós somos educados. Eu era de uma família do nordeste, mas na minha casa, quando eu era criança, nós não podíamos falar na mesa, na hora do almoço ou do jantar, quando meu pai ou minha mãe me perguntassem alguma coisa Era uma briga. Nós tínhamos já uma pequena revolta familiar. Quando queríamos falar à vontade. O nível de conflito, o nível de opressão familiar era muito grande, um autoritarismo muito grande. Então tradicionalmente, os pais educavam os filhos como tinham sido educados eles pelos seus próprios pais. E 68 marca a ruptura, quer dizer, um questionamento desse papel de opressão na família, , um questionamento desse papel de opressão na universidade, questionou-se toda a estrutura de ensino, os antigos conselhos universitários, que eram órgãos totalmente envelhecidos e modificados.” (corta e entra uma mulher) “Eu leio Pasquim porque é divertido, eu gosto de me divertir. É inteligente, porque são vocês que fazem, além de serem meus amigos, todos, contam coisas que me interessam. O resto eu já sei e nem quero saber.” LOC: O TABLÓIDE O PASQUIM FOI CRIADO EM 68, E ATÉ HOJE FOI A MELHOR CRIAÇÃO DO GÊNERO. ERA UM PRODUTO TÍPICO DA ÉPOCA. REVOLUCIONOU A LINGUAGEM. TEM A HISTÓRIA COLOQUIAL INFORMAL, COMO ERA ÉPOCA DE CENSURA, OS PALAVRÕES ERAM SUBSTITUÍDOS POR ASTERISCOS. A ENTREVISTA COM A ATRIZ LEILA DINIZ, FOI UM MARCO DA REVOLUÇÃO DE COSTUMES DA ÉPOCA. LOC: EM MEIO À LOUCURA POLÍTICA DO PAÍS, PELÉ MARCOU SEU MILÉSIMO GOL. ERA UMA FAÇANHA ÚNICA NO MUNDO, ATÉ HOJE INIGUALADA. FOI EM UM JOGO NOTURNO, NO MARACANÃ, CONTRA O VASCO DA GAMA, PELA TAÇA DE PRATA. O GOLEIRO DO VASCO ERA O ARGENTINO ANDRADA. A NARRAÇÃO É DE WALDIR AMARAL, DA RÁDIO GLOBO: TÉC: NARRAÇÃO DO GOL. LOC: NO DIA 12 DE OUTUBRO, FORÇAS COMBINADAS DO EXÉRCITO, DA POLÍCIA FEDERAL E DO DOPS PAULISTA INVADIRAM O SÍTIO MURUNDU, NA CIDADE PAULISTA DE IBIÚNA E PRENDERAM QUASE MIL ESTUDANTES QUE PARTICIPAVAM DO TRIGÉSIMO CONGRESSO DA UNE, A UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES. LOC: ERA UMA MANHà CHUVOSA DE SÁBADO. MUITOS DAQUELES ESTUDANTES SÓ IRIAM SAIR DA PRISÃO DIRETO PARA O EXÍLIO. TINHA SIDO UM GRANDE ERRO ORGANIZAR UM CONGRESSO CLANDESTINO COM QUASE MIL PESSOAS VINDAS DE TODA PARTE DO PAÍS. LOC: ENTRE OS PRESOS ESTAVA O ATUAL PRESIDENTE DO PT, O EX-DEPUTADO JOSÉ DIRCEU, UM DOS TRÊS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA UNE NAQUELE ENCONTRO. AS PRINCIPAIS LIDERANÇAS ESTUDANTIS NO PAÍS CAÍRAM ALI. LOC: UMA DAS AVALIAÇÕES DA OPOSIÇÃO, NA ÉPOCA, ERA QUE O REGIME SE ESGOTARIA PELA CRISE ECONÔMICA. A TESE VINHA DO ECONOMISTA CELSO FURTADO: O CAPITALISMO TINHA UM LIMITE NO BRASIL, E LOGO O REGIME SERIA DERROTADO PORQUE A ECONOMIA NÃO CRESCERIA MAIS. LOC: ERA UM ERRO. A ECONOMIA DO MUNDO CRESCIA, E O BRASIL APROVEITOU A ONDA PARA GERAR O QUE SERIA CHAMADO DEPOIS DE “MILAGRE ECONÔMICO”. VLADIMIR PALMEIRA CONTA: TÉC: “Toda a política contra o arrocho de Castello Branco, do Roberto Campos, era uma política muito dura. E o país tem uma queda na produção. Mas, a partir de 66 o país volta a crescer. Havia as teses do celso Furtado que era impossível o crescimento naquelas condições, em (...) reformas e tal, nem e redistribuirão de renda, toda aquela concepção que vinha antes d 64, que não deixava de ser progressista, mas que era catastrofista, achando que o capitalismo brasileiro não tinha saída. A nossa corrente achava que não, economicamente estava crescendo, a gente tinha que se ater aos fatos. Então, nós nunca penamos naquela época que o capitalismo brasileiro não tinha saída econômica. O Lennin dizia que há sempre uma saída econômica pro capitalismo.” LOC: ALGUMAS MÚSICAS DAQUELE ÉPOCA RADICALIZADA BRINCAVAM COM A SITUAÇÃO, COMO “MANIFESTO”, DE NELSON MOTTA E GUTO GRAÇA MELLO, CANTADA POR ELIS REGINA: TÉC: Manifesto LOC: MAS OUTRAS MÚSICAS E COMPOSITORES BUSCAVAM REFLETIR O MOMENTO POLÍTICO, A CRISE, E TRANSMITIR MENSAGENS À POPULAÇÃO, COMO “CALABOUÇO”, DE SÉRGIO RICARDO: TÉC: Calabouço LOC: O PEDIDO DE LICENÇA PARA PROCESSAR O DEPUTADO MÁRCIO MOREIRA ALVES TRANSFORMOU-SEM EM UMA GUERRA ENTRE EXECUTIVO E LEGISLATIVO. O PRÓPRIO LÍDER DA ARENA, SENADOR DANIEL KRIEGER, TENTOU UMA SAÍDA PARA O IMPASSE: O PODER LEGISLATIVO PUNIRIA O DEPUTADO, SUSPENDENDO-O E APLICANDO-LHE UMA ADVERTÊNCIA PÚBLICA. LOC: O PRESIDENTE DA COMISSÃO ENCARREGADA DE EXAMINAR O PEDIDO DO GOVERNO, DEPUTADO DJALMA MARINHO, DA ARENA DO RIO GRANDE DO NORTE, RENUNCIOU AO CARGO COM UM FAMOSO DISCURSO EM QUE PRONUNCIOU A FRASE “AO REI TUDO, MENOS A HONRA”. LOC: E NO DIA 12 DE DEZEMBRO DE 68, A CÂMARA DOS DEPUTADOS REJEITOU O PROCESSO CONTRA O DEPUTADO POR 216 CONTRA 141 E 12 VOTOS EM BRANCO. NAS GALERIAS, UMA MULHER PUXOU O HINO NACIONAL. LOC: AO OUVIR O RESULTADO DA VOTAÇÃO PELO RÁDIO, O PRESIDENTE COSTA E SILVA JÁ TINHA UM ESBOÇO DO QUE SERIA DEPOIS O ATO INSTITUCIONAL NÚMERO CINCO. DENTRO DO PALÁCIO DO PLANALTO, O MINISTRO DA JUSTIÇA, LUÍS ANTÔNIO DA GAMA E SILVA, VERBALIZAVA E INFLUÍA NO ÂNIMO DO PRESIDENTE COMO O PORTA-VOZ MAIS OSTENSIVO DA LINHA DURA, EM DEFESA DE UM FECHAMENTO AINDA MAIOR. ENCERRAMENTO LOC: NO PRÓXIMO PROGRAMA, O ATO INSTITUCIONAL Nº5, E SEUS DESDOBRAMENTOS NO DESTINO DO PAÍS. BOA PARTE DA INTELIGÊNCIA BRASILEIRA FOI PRESA NO DIA SEGUINTE AO ATO. UMA NOVA LEVA DE BRASILEIROS VAI PARA O EXÍLIO. A JUNTA MILITAR E O GOVERNO MEDICI. ************************************************************************************************************************************************************************************************************ TEMA Instituição do AI – 05; O Marechal Arthur da Costa e Silva assume a presidência da república; A esquerda aumenta sua luta contra a ditadura; A repressão aumenta em resposta aos protestos públicos; Protestos na UnB. ****************************************************************************************************** LOCUÇÃO Cezar Motta, Taís Vivaqua e João Marques. ****************************************************************************************************** ENTREVISTAS Carlos Chagas; Sábato Magaldi; Norton Guimarães; Vladimir Palmeira. ****************************************************************************************************** MÚSICAS Roda Viva e Sem Fantasia, de Chico Buarque; Sabiá, de Chico Buarque; Pra Não Dizer Que Não falei De Flores, de Geraldo Vandré; É Proibido Proibir, de Caetano Veloso, com ele mesmo; Viola Enluarada, de Marcos e Paulo Sérgio Vale; Manifesto, de Nelson Motta e Guto Graça Mello, com Elis Regina; Calabouço, de Sérgio Ricardo.