Projeto reconhece Parafusos de Lagarto como manifestação da cultura nacional — Rádio Senado
Cultura

Projeto reconhece Parafusos de Lagarto como manifestação da cultura nacional

A Comissão de Educação e Cultura aprovou na terça-feira (23) o projeto do senador Rogério Carvalho (PT-SE) que reconhece os Parafusos de Lagarto como manifestação da cultura nacional (PL 3259/2024). O relatório do senador Laércio Oliveira (PP-SE) ressalta a originalidade do folguedo centenário que preserva uma memória da luta pela liberdade empreendida por pessoas escravizadas no Brasil. O senador Paulo Paim (PT-RS) sublinhou o aspecto de resistência afro-brasileira da tradição.

26/09/2025, 12h26 - atualizado em 26/09/2025, 16h54
Duração de áudio: 02:54
Divulgação: Prefeitura de Olímpia/Flickr.com

Transcrição
VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DOS "PARAFUSOS" DA CIDADE DE LAGARTO, EM SERGIPE? TRATA-SE DE UMA DAS TRADIÇÕES MAIS ORIGINAIS DO NORDESTE E DE UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E IMATERIAL DAQUELE ESTADO. A BRINCADEIRA, QUE REENCENA UMA ESTRATÉGIA DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM BUSCA DA LIBERDADE, PODE SER RECONHECIDA NACIONALMENTE, A PARTIR DE UM PROJETO APROVADO PELO SENADO. A REPORTAGEM É DE MARCELA DINIZ: Foram muitas as estratégias utilizadas por pessoas escravizadas no Brasil para a conquista de sua liberdade: revoltas, irmandades para compra de alforrias, quilombos com redes de informação e pontos de apoio pelo caminho. Na inteligência das fugas, a criatividade se fazia presente. Em Lagarto, município sergipano a 75 quilômetros da capital, Aracaju, uma ideia das pessoas em fuga era a de se transformar em uma figura branca, meio fantasmagórica, para confundir a cabeça de quem a visse por aí, à noite. Para essa caracterização, várias anáguas de sinhás recolhidas de varais e quaradouros, tabatinga - que é uma argila clara - para cobrir o rosto e um chapéu pontudo feito de palha. Impossível, no susto, identificar e dedurar quem fugia. Passou o tempo, mas a memória dessas figuras continuou sendo festejada pelo povo da região de Lagarto. Em 1897, nove anos depois da abolição da escravatura, o padre José Saraiva Salomão fundou um grupo folclórico que batizou de Parafusos - por causa do rodopio dos brincantes com aquelas saias até o pescoço. É o que conta o senador Laércio Oliveira, do Progressistas de Sergipe: (senador Laércio Oliveira) "Por isso que o padre resolveu chamá-los de 'parafusos', e isso se transformou numa atividade cultural muito reconhecida e muito valorizada. Se eu pudesse apresentar, aqui, a imagem, a imagem remonta exatamente a isso: são pessoas vestidas de branco, com uma roupa sobre a outra, como se fossem anáguasm realmente, e tem esse chapéu branco e o rosto todo pintado." Laércio Oliveira foi o relator do projeto que reconhece Os Parafusos, de Lagarto, como manifestação da cultura nacional. Isso significa envolver o poder público no compromisso de manter a tradição viva. O texto foi aprovado na Comissão de Educação e Cultura e celebrado pelo senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul. Ele sublinhou o caráter de resistência do folguedo centenário: (senador Paulo Paim) "Essa tradição foi perpetuada ao longo dos anos e se consolidou como um símbolo de resistência e celebração da cultura afro-brasileira, enfim, do combate à escravidão." Há cinco anos, o grupo folclórico d'Os Parafusos foi declarado Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial de Sergipe. O projeto que dá reconhecimento nacional à tradição é do senador Rogério Carvalho, do PT sergipano, e segue para análise dos deputados. Da Rádio Senado, Marcela Diniz. trilha sonora: Parafusos de Lagarto - Quem quiser ver o bonito

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