Influencer Rico Melquíades nega uso de contas demonstração e joga ao vivo na CPI
Durante seu depoimento na CPI das Bets nesta quarta-feira (14), o influenciador digital Rico Melquiades negou receber participação quando os seguidores perdem dinheiro nas casas de apostas que divulga. Ele demonstrou, em tempo real, como funciona o "Jogo do Tigrinho", utilizando seu próprio celular. O objetivo foi verificar se ele utilizava uma conta real ou uma versão de demonstração que simula apostas sem movimentação financeira. Para a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), os influenciadores possuem um apelo especialmente junto ao público mais jovem.

Transcrição
O INFLUENCIADOR RICO MELQUÍADES JOGOU O 'JOGO DO TIGRINHO' AO VIVO PARA QUE A CPI DAS BETS ACOMPANHASSE O PASSO A PASSO ATÉ O SAQUE DO DINHEIRO.
OS SENADORES QUEREM ENTENDER SE AS CONTAS DOS INFLUENCIADORES POSSUEM PRIVILÉGIOS E SE O DINHEIRO, DE FATO, CAI NA CONTA BANCÁRIA DOS JOGADORES.
REÓRTER MARCELLA CUNHA
O humorista e influenciador digital, Luiz Ricardo Melquiades, de 32 anos, compareceu como testemunha à CPI das Bets. Ele é conhecido por participar de reality shows como A Fazenda e De Férias com o Ex e pela atuação nas redes sociais, onde soma quase 11 milhões de seguidores. Conhecido como Rico, ele afirmou que nunca foi sócio de nenhuma empresa de bets e que sua participação se limita à divulgação publicitária. E garantiu que seus contratos eram baseados em um pagamento fixo, sem qualquer comissão atrelada a perda de dinheiro dos usuários. Também mencionou que ficou mais cauteloso com os anúncios após se tornar alvo da operação Game Over 2, deflagrada pela Polícia Civil de Alagoas em janeiro, quando teve bens apreendidos e contas bancárias bloqueadas. Foi solicitado pelos senadores que ele demonstrasse como funciona o “Jogo do Tigrinho”, uma modalidade de caça-níqueis online, onde ganhou R$ 120. Os senadores constataram que, por meio de uma carta especial, o jogo utiliza o conceito de recompensas inesperadas para que o jogador continue apostando na esperança de outro "grande ganho". Os parlamentares também pediram que o convidado fizesse um resgate do dinheiro que estava na plataforma. O objetivo era verificar se a conta utilizada simula apostas sem movimentação financeira real. A CPI recebe denúncias de que os usuários teriam dificuldade de transferir os recursos para a conta bancária e que dinheiro ficaria retido no aplicativo. Questionado sobre o impacto social dos jogos de azar, Rico respondeu que os influenciadores não "obrigam ninguém a fazer apostas" e que existem outros tipos de vícios que também levam ao endividamento.
Antes dos influenciadores, já existia jogo, já existia jogo do bicho, loteria. Não mudou muita coisa, não, porque, sem influenciador, com influenciador, sempre vai ter jogo, as pessoas sempre vão jogar. Do mesmo jeito que tem pessoas que se endividam para jogar, tem pessoas que se endividam para poder beber, tem vícios de várias formas, não é só o do jogo. As pessoas podem pegar o Bolsa Família também e gastar todinho em cachaça, que também é um vício.
Mas para a relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke, do Podemos de Mato Grosso do Sul, os influenciadores que ostentam ganhos fáceis podem induzir seguidores a participarem dessas plataformas sem plena consciência dos riscos envolvidos. Soraya citou, ainda, o depoimento da empresária e apresentadora Virginia Fonseca e o apelo que influenciadores exercem sobre público mais jovem.
Uma das questões que me causa uma estranheza muito grande em relação à presente regulamentação é que as plataformas continuam com um apelo infantil. A Sra. Virginia, eu achei que fosse o estilo dela de vestimenta, mas ela estava com um apelo muito adolescente, e adolescente não pode jogar. Então vocês atraem o público e vocês deveriam se comportar mais e atrair um público que tem um comportamento menos jovial.
Para a senadora Damares Alves, do Republicanos do Distrito Federal, mesmo que não seja ilegal, os influenciadores deveriam evitar incentivar o jogo, comparando essa prática às antigas propagandas de cigarro.
O que nós queremos é que outros influencers não cometam erros de ter influenciado crianças a ir aos jogos. Talvez você, quando começou tudo isso, não tenha entendido a gravidade do que era a sua influência em crianças, em jovens, em adolescentes. Os artistas de Hollywood, quando faziam propaganda de cigarros, também não entendiam que eles estavam ajudando a matar gerações. Talvez, daqui a alguns anos, você olhe para este momento e fale: "O que eu fui fazer?". Mas a gente não pode exigir isso de você agora. Você é fruto dessa geração, do imediatismo, da fama, do dinheiro.
O influenciador Rico Melquíades negou ter conhecimento de que a empresa que divulga atualmente, a ZeroUm Bet, pertence à advogada Deolane Bezerra, e alegou ter sido contactado por amigos para fazer a divulgação. Já o depoimento da advogada Adélia de Jesus foi suspenso após decisão do ministro Dias Toffoli, do STF, que garantiu a ela direito de não comparecer. Da Rádio Senado, Marcella Cunha

