Em sessão especial, Senado lembra os 40 anos do movimento Diretas Já
O Senado lembrou, em sessão especial, nesta sexta-feira (26), os 40 anos do movimento Diretas Já, nascido em 1983, depois que o então deputado federal Dante de Oliveira apresentou uma proposta de emenda à Constituição para instituir o voto direto para a escolha do presidente da República. Mesmo com todo o apoio popular, a emenda foi rejeitada e a escolha do sucessor do último presidente da ditadura, João Figueiredo, acabou sendo feita de forma indireta, por um colégio eleitoral.
Transcrição
EM SESSÃO ESPECIAL, O SENADO LEMBROU OS 40 ANOS DO MOVIMENTO DIRETAS JÁ, QUE NASCEU DEPOIS QUE O ENTÃO DEPUTADO FEDERAL DANTE DE OLIVEIRA APRESENTOU, EM 1983, UMA PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL PARA PREVER O VOTO DIRETO PARA PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
A PROPOSTA DE DANTE TEVE O PODER DE MOBILIZAR A POPULAÇÃO BRASILEIRA, QUE PASSOU A SE REUNIR EM COMÍCIOS EM TODO O PAÍS PARA EXIGIR A APROVAÇÃO DA CHAMADA EMENDA DANTE. OS DETALHES DA SESSÃO, COM O REPÓRTER ALEXANDRE CAMPOS:
Em sessão especial nesta sexta-feira, o Senado lembrou os 40 anos da campanha Diretas Já, um movimento iniciado em 1983, quando Dante de Oliveira, antes mesmo de assumir o cargo de deputado federal por Mato Grosso, conseguiu as assinaturas necessárias para apresentar uma proposta de emenda à Constituição para instituir o voto direto para a escolha do presidente da República.
Enquanto o Congresso Nacional discutia a proposição numa comissão mista, a sociedade civil se mobilizava para exigir que a matéria fosse aprovada. Daí surgiram os diversos comícios que pipocaram pelo Brasil afora, com a participação de políticos e artistas, com o apoio maciço da população. Em São Paulo, por exemplo, 300 mil pessoas participaram de um comício da praça da Sé, em janeiro de 1984. No Rio de Janeiro, um milhão de pessoas acompanharam os discursos na Candelária.
Mesmo com todo o apoio popular, a emenda Dante de Oliveira acabou sendo rejeitada numa votação ocorrida em 25 de abril de 1984. Eram necessários 320 votos favoráveis para sua aprovação na Câmara dos Deputados, mas o texto teve o apoio de 298 parlamentares. Por causa disso, a matéria nem foi analisada pelo Senado. Assim, a escolha do sucessor do último presidente da ditadura militar, João Figueiredo, acabou sendo feita por um colégio eleitoral, que elegeu Tancredo Neves.
Autor do pedido para a realização da sessão especial, o senador Wellington Fagundes, do PL de Mato Grosso, afirmou que, apesar da derrota, o movimento Diretas Já deixou um legado para o Brasil:
(sen. Wellington Fagundes) "A luta pelas Diretas Já, embora não tenha alcançado o seu objetivo imediato, foi fundamental para pavimentar o caminho para a abertura política e para a instalação de um Congresso Constituinte em 1988. Abria-se assim uma nova era de desafios e reconstrução democrática."
Ex-deputada federal e ex-prefeita de Chapada dos Guimarães, município matogrossense, Thelma de Oliveira, viúva de Dante de Oliveira, fez questão de destacar o caráter pacífico dos comícios em torno do movimento Diretas Já:
(sen. Thelma de Oliveira) "E que a gente possa fazer disso um exemplo para o momento que nós vivemos de tanta polarização e tanta radicalização. Que a gente se una, que a gente tenha essa humildade e essa maturidade para fazer o nosso país unido novamente."
Opinião semelhante tem a jornalista Dora Kramer, que participou da sessão especial de forma remota. Testemunha do movimento, ela lembrou que a ideia de Dante de Oliveira funcionou como uma faísca que acendeu a sociedade brasileira em torno do ideal democrático:
(Dora Kramer) "A lição que fica é que é muito importante essa rememoração desse momento, em especial nessa quadra da nossa história em que vivemos divisões, ameaças à democracia. Então foi um período que pra mim é inesquecível."
Dante de Oliveira exerceu o mandato de deputado federal de 1983 a 1986. Ele foi ainda prefeito de Cuiabá, governador de Mato Grosso e ministro da reforma e do desenvolvimento agrário, durante o mandato do ex-presidente José Sarney. Dante de Oliveira faleceu em 2006, aos 54 anos. Da Rádio Senado, Alexandre Campos.