Diligência da CPI das ONGs revela dificuldades de extrativistas na reserva Chico Mendes
Senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito das ONGs estão no Acre para ouvir lideranças locais sobre situação dos trabalhadores que vivem na reserva extrativista Chico Mendes. Presidente da CPI, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) aponta que atuação de ONG junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) provoca isolamento e condições precárias da população da região.
Transcrição
LIDERANÇAS LOCAIS RECLAMAM DE CONDIÇÕES DE TRABALHO E DE VIDA DE EXTRATIVISTAS NA RESERVA CHICO MENDES, NO ACRE.
SENADOR PLÍNIO VALÉRIO APONTA ISOLAMENTO PROVOCADO POR ONG QUE ATUA JUNTO A ÓRGÃO PÚBLICO ADMINISTRADOR DO LOCAL. REPÓRTER JANAÍNA ARAÚJO.
A Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado que investiga a atuação de Organizações Não Governamentais no país está em diligência externa no Acre. Presidente da CPI das ONGs, o senador Plínio Valério, do PSDB do Amazonas, esteve na reserva extrativista Chico Mendes para ouvir o depoimento de lideranças locais sobre a ação de ONGs e organizações da sociedade civil de interesse público na região. O presidente da Associação dos Moradores e Produtores da reserva em Brasileia e Epitaciolândia, Romário Campelo, relatou dificuldades vividas por extrativistas que moram na região e suas famílias.
Romário - Hoje vinte por cento da reserva é que tem acesso a energia elétrica. E outra questão mais grave ainda é a situação que nós não conseguimos se atualizar no cadastro da reserva. O último levantamento do banco de dados que foi feito pelo ICMBio foi no ano de 2009. Nós temos pessoas que nasceram dentro da reserva e que hoje já são maiores de idade e que não conseguem ingressar dentro do sistema desse cadastro da reserva e com isso perdem energia, perdem o salário-maternidade, perdem o direito de acessar as políticas públicas, perdem o direito de uma aposentadoria por idade.
Romário Campelo pediu solução para os problemas e negou que defenda o fim da reserva Chico Mendes.
Romário - Nós pedimos providência. Que isso fique bem claro! Porque tem um grupo de adversários que amanhã tá dizendo que o presidente Romário quer desativar, desmembrar uma parte da reserva. E nós estamos pedindo aqui libertação dessa escravidão que nós estamos vivendo dentro da Chico Mendes.
Presidente da Associação de Moradores e Produtores da reserva de Epitaciolândia, José Maria Pimentel criticou a falta de valorização dos produtos extraídos do local.
José - O preço comercial de um quilo de borracha é 3 reais. Isso significa que dá uma diária numa média de 25 a 30 reais. Tem época que nós temos castanha aqui que chega a 10 reais e ninguém quer a lata de 18 quilos. Nós perdemos mais de um milhão de latas de açaí por ano. Não temos nenhuma política pública, nenhuma indústria que venham montar aqui pra que nós possamos trabalhar e vender o nosso açaí. O que chega pra nós é repressão.
A reserva extrativista Chico Mendes é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, mas durante visita a um de seus seringais o senador Plínio Valério apontou a atuação da organização não-governamental internacional WWF, Fundo Mundial para a Natureza, registrada na identificação do local.
Plínio - É o ICMBio que comanda tudo, mas quem manda mesmo é WWF. É o dinheiro que vem de uma ONG que paga esse pessoal para isolar. A gente tá vendo a pobreza de quem mora aqui. Isolam, tornam reserva e deixam ficar ao léu. Vivendo do quê? Não tem renda e é proibido tudo pra eles. E onde é proibido tudo, é permitido tudo.
Também estão na comitiva da CPI das ONGs os senadores Jaime Bagatolli, do PL de Rondônia, vice-presidente da comissão; o relator Márcio Bittar, do União do Acre; e Styvenson Valentim, do Podemos do Rio Grande do Norte. Da Rádio Senado, Janaína Araújo.