Especialistas debatem soluções para reduzir dependência brasileira da importação de fertilizantes
Produção de adubos orgânicos no Brasil, ampliação do número de países para importação e implementação do Plano Nacional de Fertilizantes foram saídas explicadas por técnicos de órgãos públicos e representantes de entidades civis na sessão de debates temáticos no Plenário do Senado sobre fertilizantes. A reunião foi solicitada pelo senador Laércio Oliveira (PP-SE). Ele é autor do projeto de lei (PL 699/2023) que cria o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes. Outra proposta (PL 3.668/2021) sobre o tema, do senador Jaques Wagner (PT-BA), prevê incentivos à produção de bioinsumos para agricultura.
Transcrição
DEPENDÊNCIA EXTERNA DE FERTILIZANTES TEM SOLUÇÃO NA PRODUÇÃO DE ADUBOS ORGÂNICOS E NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICA DE ESTADO SOBRE O TEMA.
ESPECIALISTAS DESTACAM EM SESSÃO TEMÁTICA DO SENADO POTENCIALIDADES TECNOLÓGICAS DO BRASIL PARA PRODUZIR FERTILIZANTES DE MANEIRA SUSTENTÁVEL. REPÓRTER JANAÍNA ARAÚJO.
A pedido do senador Laércio Oliveira, do Progressistas de Sergipe, o Senado promoveu uma sessão de debates temáticos no Plenário sobre a produção e o uso de fertilizantes no Brasil. O senador é autor do projeto de lei que cria o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes para estimular a produção, buscando criar competitividade para a indústria nacional. Laércio Oliveira ressaltou que, entre outros pontos, a proposta prevê benefícios para empresas do setor que invistam na compra de equipamentos e máquinas, na contratação de serviços e na construção de novas fábricas. O senador observou que o Brasil é dependente do mercado internacional e importa pelo menos 80% dos fertilizantes usados para melhorar a produtividade e a qualidade de suas lavouras, sendo 23% de origem russa. Ele defendeu algumas medidas para reduzir a dependência brasileira.
Laércio - Aumentar a participação de outros países, tais como Estados Unidos, China e Canadá no total de fertilizantes importados. Segundo: ampliar a produção e participação dos adubos orgânicos produzidos no Brasil, visto que hoje em dia essa participação ainda é considerada muito baixa. E terceiro: reforçar o Plano Nacional de Fertilizantes lançado pelo governo que tem o objetivo de reduzir a dependência externa para em torno de 50% até 2050.
Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, José Carlos Polidoro atualmente é assessor especial do Ministério da Agricultura. Ele apontou que o Brasil é o único dos grandes países do mundo que produzem alimentos que tem solos pobres em nutrientes, criando a necessidade de fertilizantes em todas as safras e tipos de agricultura – familiar ou empresarial. Mas Polidoro argumentou que a dependência tecnológica para produção do insumo não faz sentido diante do desenvolvimento brasileiro em pesquisa.
Polidoro - Nós temos inúmeras instituições públicas e privadas de ciência e tecnologia nessa área. Nós produzimos em torno de dois milhões de toneladas de fertilizantes orgânicos. Nós poderíamos estar produzindo vinte milhões de toneladas usando apenas os resíduos da agropecuária. Abasteceria aproximadamente 30% do mercado nacional com tecnologia brasileira, usando resíduos, transformando isso tudo em descarbonização da agricultura.
O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Maciel da Silva, afirmou que os fertilizantes são insumos que representam de vinte a quarenta por cento dos custos operacionais das cadeias produtivas. Ele considera que os 25 bilhões de reais gastos na importação de fertilizantes no último ano poderiam ter ido pro mercado interno, com geração de renda e produção de alimentos de forma sustentável.
Maciel - A gente discutir evoluções pra esse mercado para redução de custo é garantia de competitividade no campo e, mais do que isso, garantia de alimento a preços mais competitivos nas mesas dos brasileiros. A gente tem uma competência extraordinária. No meio de tantas dificuldades, a gente avança muito: com a fixação biológica de nitrogênio hoje a gente economiza em torno de 17 bi de deixar de utilizar nitrogênio na produção de soja.
Também em análise no Senado, o projeto do marco regulatório dos bioinsumos cria normas para fertilizantes de origem orgânica e pode incentivar a produção nacional. A proposta foi apresentada em 2021 pelo senador Jaques Wagner, do PT da Bahia, e tem parecer favorável na Comissão de Meio Ambiente. Caso seja aprovada e não haja pedido para ser votada no Plenário pode ir diretamente para a Câmara dos Deputados. Da Rádio Senado, Janaína Araújo.