CDH debate racismo no futebol e sugere punições mais severas
Por iniciativa do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), senador Paulo Paim (PT-RS), o colegiado discutiu em audiência pública o Combate ao Racismo no Futebol. Entre as sugestões, a punição mais rigorosa a clubes e torcedores por atos racistas, bem como a utilização do futebol para conscientizar a sociedade.
Transcrição
AUDIÊNCIA NA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DISCUTIU O RACISMO NO FUTEBOL.
PARTICIPANTES DEFENDERAM A PUNIÇÃO DE CLUBES POR ATOS RACISTAS DE TORCEDORES E UTILIZAÇÃO DO FUTEBOL COMO MEIO DE CONSICENTIZAÇÃO DA SOCIEDADE. REPORTAGEM DE IARA FARIAS BORGES.
Em audiência na Comissão de Direitos Humanos que discutiu o racismo no futebol, o presidente do colegiado, senador Paulo Paim, do PT gaúcho, destacou que o futebol é o esporte mais popular do país, podendo ser utilizado para combater discriminações. Paim lembrou que a legislação já pune atos racistas com prisão de dois a cinco anos, além proibir a entrada em estádios por três anos.
“É uma das formas educativas para que possamos orientar e punir setores da sociedade diante da chaga do racismo. O país tem a obrigação de tratar as questões do racismo com maior severidade e responsabilidade. O futebol tem o dever de ser exemplo, afinal é o esporte mais popular.”
Para o senador Jorge Kajuru, do PSB de Goiás, ofensas racistas mostram a ingratidão do torcedor, pois o futebol, que deu visibilidade ao Brasil no exterior, é formado em sua maioria por atletas negros. E destacou que o racismo está em toda a sociedade.
“O problema não está só nos estádios. O quadro só começará a mudar quando a sociedade brasileira admitir que é racista e se empenhar de fato num esforço amplo na luta pelo desafio de superação do preconceito racial.”
Ao destacar que um racista se manifesta quando sabe que não será atacado e nem punido, o ex-goleiro Mário Aranha, que há nove anos enfrentou injúria racial durante uma partida contra o Grêmio, em Porto Alegre, disse que tanto o jogador como a mídia têm poder para combater o racismo. Ex-jogador de futebol e negro, o senador Romário, do PL do Rio de Janeiro, disse que o racismo é um tema que o afeta de forma especial. E questionou a discriminação também nos cargos dentro de clubes.
“O racismo no futebol não se dá apenas quando se joga uma banana no jogador ou sob os gritos de ‘macaco’. Esta é a parte mais visível, igualmente odiosa e relevante. Ele se dá de maneira estrutural e velada no fato de haver pouquíssimos treinadores negros em nosso futebol. E são raros os dirigentes negros também. Se somos maioria entre os atletas, aqueles que realmente formam o espetáculo, por que somos tão poucos nos cargos de comando e direção?”
Representando a CBF, Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Leão anunciou que, segundo mudança no Regulamento Geral de Competições, os clubes serão punidos por atos racistas.
“A partir desta temporada, os clubes poderão vir a ser responsabilizados pelas condutas de seus torcedores, de seus jogadores, de seus gestores, que vão desde advertência, portões fechados, multas pecuniárias, chegando à pena máxima, que pode ser na forma de perda de pontos. Isso tudo tem colocado a CBF num papel de destaque e de liderança no cenário internacional para combater o racismo.”
Ao manifestar indignação com a atitude de dirigentes que diante de casos de racismo se mantêm omissos, a senadora Leila Barros, do PDT do Distrito Federal, defendeu discutir seriamente o tema e punir com mais rigor os clubes, inclusive com o rebaixamento de nível.
“O que o esporte está passando de mensagem para a sociedade? Existe uma responsabilidade com as vidas e as atitudes ali dentro. Então o clube tem sim responsabilidade, o torcedor tem esta responsabilidade. E nós temos que fazer um debate sério sobre esta situação."
Também participaram do debate representantes do Ministério do Esporte, do Observatório de Discriminação Racial no Futebol, de clubes de futebol, de torcidas organizadas, de árbitros e de outras organizações ligadas ao esporte. Da Rádio Senado, Iara Farias Borges.