Segunda audiência sobre projeto de responsabilidade educacional ratifica impasses para criar lei
A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) realizou a segunda audiência pública do ciclo sobre o projeto de lei (PL 88/2023) que trata da responsabilidade educacional na garantia de oferta e de padrão de qualidade na educação básica pública. Especialistas criticaram a proposta de bonificação para profissionais das escolas baseada em seus índices de qualidade e a cobrança de responsabilização sem oferta de recursos mínimos de forma igualitária.

Transcrição
ESPECIALISTAS OUVIDOS EM AUDIÊNCIA SOBRE PROJETO DE RESPONSABILIDADE EDUCACIONAL CRITICAM BONIFICAÇÃO BASEADA EM RESULTADOS DAS ESCOLAS.
AUSÊNCIA DE RECURSOS MÍNIMOS PARA TODAS AS INSTITUIÇÕES E DE PADRÕES DE AVALIAÇÃO DIFICULTAM CRIAÇÃO DA LEI. REPÓRTER JANAÍNA ARAÚJO.
A Comissão de Educação do Senado realizou mais uma audiência pública sobre o projeto de lei que trata da responsabilidade educacional na garantia de oferta e de padrão de qualidade na educação básica. A medida prevista na lei que aprovou, em 2014, o Plano Nacional de Educação deveria ter sido votada pelo Congresso Nacional no ano seguinte, mas as dificuldades de cumprir as metas do plano são um dos empecilhos para a nova legislação.
A coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, lembrou que a responsabilidade educacional é compartilhada pelo Estado, família e sociedade, considerando por isso complexa a discussão de uma lei para apontar culpados pela má qualidade.
Andressa - Não tem como cobrar uma responsabilidade sem ter condições pra que esse direito à educação seja garantido, pro trabalho educacional ser feito. E aí a gente vai se remeter a todo o diagnóstico sobre falta de valorização dos profissionais da educação, falta de formação, carreira, falta de infraestrutura nas instituições educacionais e que diz respeito muito fortemente ao financiamento da educação, que tem sido ameaçado por diversos aspectos, como o teto de gastos da Emenda 95 e agora com o novo arcabouço fiscal inserindo o Fundeb.
Andressa também criticou a previsão feita no projeto de lei de abono salarial para profissionais das escolas públicas cujos indicadores apontarem melhoria ou manutenção de padrão na qualidade do ensino. Ela e o diretor de Pesquisa e Avaliação do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, Romualdo Luiz Portela, avaliam que a medida gera um aprofundamento maior das desigualdades.
Romualdo - O bônus é uma barbaridade. Não tem sustentação teórica. Uma revisão séria de literatura internacional sobre o assunto vai mostrar que essas bonificações não produzem efeitos equalizadores. Eles aumentam a desigualdade, não incidem sobre o aperfeiçoamento do sistema como um todo. As políticas de bonificação induzem seleção e exclusão. Se a escola sabe que ela vai ser avaliada e vai receber mais dinheiro por ter bons resultados é óbvio que ela vai selecionar alunos na entrada, de maneira informal e perversa. Então eu proporia simplesmente retirar o artigo 5º.
Para o diretor de Políticas Públicas do Movimento Todos Pela Educação, Gabriel Correa, uma lei de responsabilidade educacional não deveria induzir crime de responsabilização de gestores públicos.
Gabriel - A gente endossa essa crítica da responsabilização do gestor por uma série de indicadores ou de parâmetros de qualidade que não necessariamente estão bem definidos e, mais do que isso, fogem a sua responsabilidade única, entendendo que na educação a gente tem essa ideia de corresponsabilidade, que vai desde os profissionais de educação até sim à gestão pública, aos atores políticos. O risco de uma cruzada de perseguição ou de uma judicialização excessiva a gente enxerga como muito perigoso.
A senadora Teresa Leitão, do PT de Pernambuco, autora do pedido para o ciclo de audiências sobre o projeto de lei, presidiu a reunião e apresentou a experiência negativa sobre a bonificação em seu estado, onde foi chamada de Bônus de Desempenho Educacional e gerou demandas semelhantes em outras categorias. Da Rádio Senado, Janaína Araújo.