CPI desconfia de denúncias de Dominguetti e fará acareação com envolvidos — Rádio Senado
Suspeitas

CPI desconfia de denúncias de Dominguetti e fará acareação com envolvidos

O representante da empresa Davati Medical Supply, Luiz Dominguetti, confirmou denúncia da cobrança de propina do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, e tentou envolver o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). Mas o senador Rogério Carvalho (PT-SE) declarou que o depoente tentava atrapalhar a CPI para desacreditar nos irmãos Miranda que denunciaram irregularidades no contrato da vacina indiana. O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) citou tentativa de golpe de Dominguetti na venda de vacinas ao destacar que o governo negociou diretamente com a AstraZeneca.

01/07/2021, 19h35 - ATUALIZADO EM 05/07/2021, 13h55
Duração de áudio: 03:55
Waldemir Barreto/Agência Senado

Transcrição
AO CONFIRMAR COBRANÇA DE PROPINA, REPRESENTANTE DE EMPRESA CITA DEPUTADO QUE DENUNCIOU IRREGULARIDADES NA COMPRA DE VACINA INDIANA. POR DESCONFIAREM DAS DECLARAÇÕES DO DEPOENTE, SENADORES SUGEREM UMA ACAREAÇÃO. REPÓRTER HÉRICA CHRISTIAN. Apesar de não confirmar nenhum vínculo formal, o policial militar de Minas Gerais, Luiz Paulo Dominguetti, se disse representante da Davati Medical Supply, uma empresa norte-americana que vende insumos médicos. À CPI, ele confirmou a cobrança de propina pelo ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, para a compra da Astrazeneca. Segundo ele, o pedido de US$1 por cada uma das 400 milhões de doses em negociação foi feito durante um jantar em Brasília. Dominguetti disse que o negócio não foi fechado porque a empresa dele se recusou a pagar a propina. Houve um início de tratativa que a vacina, naquele valor, não seria feita a aquisição pelo ministério. A conversa começou assim: "Olha, nós temos que melhorar esse valor." Aí, eu disse: "Mas eu tenho que tentar um desconto, eu não tenho..." "Não, mas não é... É para cima, é para mais." E, aí, se pediu, porque tinha que compor dentro do ministério, e se pediu o acréscimo de US$1,00 por dose. Eu, já, de imediato, já disse que não teria como fazer. Ainda no depoimento, Luiz Dominguetti apresentou um áudio do deputado Luis Miranda (DEM-DF), que, segundo ele, tratava de negociações da vacina. Mas o próprio deputado desmentiu ao afirmar que a conversa editada se referia à venda de luvas nos Estados Unidos no ano passado. Para os senadores da oposição, Luiz Dominguetti prestou depoimento para tentar desqualificar as acusações feitas pelo deputado Luis Miranda de irregularidades no contrato de R$ 1,6 bilhão da vacina indiana covaxin. Ao destacar que o governo demitiu o diretor de Logística do Ministério da Saúde após denúncia da cobrança de propina, o senador Rogério Carvalho, do PT de Sergipe, afirmou que Luiz Dominguetti está tentando desviar o foco da CPI. Resta evidente, no mínimo, uma suspeição de que este depoente que aqui se encontra, o Sr. Dominguetti, foi plantado para desqualificar uma das principais linhas de investigação da CPI. Apesar de confirmar que houve tentativa de pagamento de propina a ele. Quem teria feito tal implante? Quem teria colocado o Sr. Dominguetti aqui? Certamente quem se beneficiaria com a desacreditação da denúncia de corrupção no Ministério da Saúde, obviamente, o próprio governo. Senadores governistas apontaram contradições de Luiz Dominguetti, como a oferta excessiva de 400 milhões de doses no momento de escassez de produção, a venda direta pela Astrazeneca sem intermediários e a centralização das negociações da compra de vacinas na secretaria-executiva do Ministério da Saúde e não numa diretoria. Eles citaram a exoneração do diretor envolvido na denúncia. O senador Marcos Rogério, do Democratas de Rondônia, revelou que o depoente se passou por representante de outros laboratórios em reuniões para a venda dos imunizantes para prefeituras. Já o senador Fernando Bezerra Coelho, do MDB de Pernambuco, afirmou que a atuação de Roberto Dias foi para confirmar a veracidade da proposta e que o Ministério da Saúde não fechou nenhum contrato com a Davati. Foram tratativas meramente protocolares, objetivando verificar a idoneidade e a seriedade da proposta. Nenhum ato jurídico de negociação pode ser inferido dessas mensagens. Aliás, decorrente dessas solicitações de documentos que atestassem a idoneidade da oferta para a aquisição de vacinas, a proposta foi considerada não procedente pelo Ministério da Saúde, uma vez que a própria AstraZeneca informou que apenas realiza a negociação de ofertas diretamente com os governos. O celular de Luiz Dominguetti foi apreendido pela CPI para perícia. Os senadores defenderam uma acareação entre o depoente e as pessoas citadas no jantar da cobrança de propina. Da Rádio Senado, Hérica Christian.  

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