Especialistas defendem políticas educacionais para camada mais pobre da população
Se o Brasil quiser atingir as metas do Plano Nacional de Educação as políticas educacionais devem ser direcionadas aos mais pobres. O diagnóstico foi apresentado por especialistas durante audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado (CE). A presidente-executiva do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, afirmou que é preciso “fazer com que as oportunidades educacionais sejam mais equivalentes, a gente precisa dar mais para quem tem menos”. Atualmente, o total de crianças fora da escola na Educação Infantil é quatro vezes maior entre os mais pobres do que entre os mais ricos. Enquanto entre as camadas mais favorecidas, apenas 14 % dos jovens estão fora do ensino médio, entre os mais pobres 50 por cento dos adolescentes entre 14 e 17 anos não estudam. Somente 45,4% das crianças mais pobres são consideradas alfabetizadas até o terceiro ano do Ensino Fundamental, enquanto 98% das crianças mais ricas já estão alfabetizadas aos oito anos de idade.
Transcrição
LOC: AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DEVEM SER DIRECIONADAS AOS MAIS POBRES SE O BRASIL QUISER ATINGIR AS METAS DO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO.
LOC: O DIAGNÓSTICO FOI APRESENTADO POR ESPECIALISTAS DURANTE AUDIÊNCIA PÚBLICA NA COMISSÃO DE EDUCAÇÃO. REPÓRTER MARCELA DINIZ:
(Repórter) A audiência pública da Comissão de Educação fez um balanço dos três primeiros anos do Plano Nacional de Educação. Para Herton Araújo, representante do Ipea, o cumprimento das metas do PNE foi prejudicado pelas crises política e econômica:
(Herton Araújo) É como se viesse um Irma: assim que a gente aprovou o PNE, veio um furacão na nossa sociedade. Nós passamos por 6 ministros da educação desde quando o Plano foi aprovado.
(Repórter) Com mais de 90% de cumprimento, estão as metas de universalizar as matrículas das crianças com idades entre 4 e 5 anos na Educação Infantil e entre 6 e 14 anos no Ensino Fundamental. No entanto, os números gerais, aparentemente positivos, não dizem que o total de matrículas na Educação Infantil é quatro vezes menor entre os mais pobres em comparação com os mais ricos. Não dizem, também, que o percentual de jovens fora do Ensino Médio é de 14% entre os mais ricos, enquanto metade dos adolescentes entre 14 e 17 anos mais pobres não está estudando. Além disso, somente 45,4% das crianças mais pobres são consideradas alfabetizadas até o terceiro ano do Ensino Fundamental, enquanto 98% das crianças com melhor condição financeira já estão alfabetizadas aos oito anos de idade. A desigualdade de condições foi ressaltada pela presidente-executiva do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, que defendeu políticas focadas nos mais pobres:
(Priscila Cruz) Para fazer com que as oportunidades educacionais sejam mais equivalentes, a gente precisa dar mais para quem tem menos: as melhores escolas, os professores mais experientes e a melhor infraestrutura também.
(Repórter) Os especialistas também defenderam a busca ativa pelos dois milhões e meio de crianças e jovens entre 4 e 17 anos que estão hoje fora da escola. A presidente da Comissão de Educação, senadora Lúcia Vânia, do PSB de Goiás, lembrou que, em momentos de crise, cresce o número de pessoas que largam o estudo para poder trabalhar; e defendeu a retomada do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil:
(Lúcia Vânia) Estou propondo para o presidente do Senado fazer o lançamento bem amplo, para o Brasil inteiro, da retomada desse projeto, para que a gente possa focar, motivar essas famílias a colocar essas crianças na escola.
(Repórter) Indicadores do Observatório do PNE mostram que as desigualdades educacionais no Brasil começam antes mesmo do ensino formal: enquanto 53% dos bebês entre 0 e 3 anos das famílias com melhor condição socioeconômica estão em creches; apenas 21,9% das famílias mais pobres têm acesso a esses estabelecimentos.