Há 70 anos debate sobre o assunto mexe com as emoções no Senado

LOC: O SALÁRIO MÍNIMO FOI O TEMA DE MUITAS DISCUSSÕES ACALORADAS AQUI NO SENADO. LOC: ESTA REPORTAGEM DE ADRIANO FARIA TRAZ ALGUNS DESSES DEBATES HISTÓRICOS: TÉC: (TOCA ¿SALÁRIO MÍNIMO¿) O salário mínimo faz parte do cotidiano do brasileiro há mais de 70 anos. E você sabe quanto valia o primeiro salário mínimo, lançado em maio de 1940? 240 mil réis, o equivalente a pouco mais de 12 dólares da época... (VARGAS) Trabalhadores do Brasil! Aqui estou, como de outras vezes, para compartilhar de vossas comemorações... (REPÓRTER) Desde que foi lançado pelo então presidente Getúlio Vargas, o salário mínimo sobreviveu a todas as mudanças de moeda: o popular réis, cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, novamente cruzeiro, cruzeiro real e real. A moeda pode ter mudado, mas uma característica do salário mínimo se manteve nas últimas décadas: mexer com as emoções nos debates no Senado Federal. É o que mostram os áudios do arquivo histórico da Secretaria Técnica de Eletrônica do Senado, a STEL. Em 1979, início do governo João Figueiredo, o ministro do Planejamento, Mário Henrique Simonsen, veio ao Senado para discutir a corrosão do poder de compra do salário mínimo diante da crescente inflação, que chegaria a 76 por cento naquele ano. O senador Dirceu Cardoso, do MDB do Espírito Santo, defendeu a aprovação de um projeto dele que previa reajustes para o mínimo de seis em seis meses. (DIRCEU) Somos autores de um projeto de 1977 que estabelece duas épocas de reajuste para o salário mínimo: 1º de maio, que é a época tradicional, e 25 de dezembro, que é o dia de Natal, em que o custo das utilidades e dos gêneros atinge o seu pique. (REPÓRTER) O ministro Simonsen alertou que os reajustes semestrais poderiam criar problemas para a economia. (SIMONSEN) É preciso que a transição seja feita de forma tal que, a que não se resolva o problema, crie outro pior. Eu poderia dizer: ¿Vamos passar para reajuste semestrais de salários¿. Muito bem, mas se a inflação em vez de ser de 40 por cento ao ano passasse a ser de 40 por cento ao semestre os assalariados não ganhariam rigorosamente nada; só teriam a perder com isso. (REPÓRTER) O governo de João Figueiredo foi sucedido pelo de José Sarney. E para conter a inflação, o primeiro governo civil depois de 21 anos de regime militar lançou os planos Cruzado, Cruzado Dois, Bresser e Verão. E foi nos primeiros meses do Plano Verão, em 1989, que o ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, debateu com os senadores o que fazer para vitaminar o salário mínimo. Affonso Camargo, senador do PTB do Paraná, cobrou um salário mínimo de cem dólares até o final do governo Sarney. (CAMARGO) Eu perguntaria se efetivamente o governo vai cumprir com essa promessa porque efetivamente é impossível, todos nós sabemos, viver com esse salário mínimo que está sendo praticado hoje. (REPÓRTER) O salário mínimo equivalia a 63 dólares, e o ministro Mailson da Nóbrega considerava arriscado para o governo dar um forte aumento para o mínimo. (MAILSON) Eu tenderia a dizer para Vossa Excelência que, segundo os cálculos do governo, embora esse seja um nível adequado, isso poderia voltar, como disse em outra ocasião, como um bumerangue em cima do trabalhador. Porque isso poderia criar problemas muito sérios nos estados, nos municípios, especialmente nas regiões menos favorecidas. (REPÓRTER) O salário mínimo de cem dólares ainda era a meta a ser perseguida em abril do ano 2000, na segunda metade do governo Fernando Henrique. Um debate na Comissão de Assuntos Econômicos já se alongava por horas, e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, ainda teria que responder a uma pergunta da senadora Heloísa Helena, do PT de Alagoas. Mas numa prova de que o salário mínimo não provoca apenas tensão, a reunião, presidida pelo senador Iris Rezende, do PMDB de Goiás, terminou assim: (VÁRIOS) Iris: ¿Não sei se o senhor ministro tem interesse em tecer considerações a respeito das observações da senadora Heloísa Helena.¿ Malan: ¿Eu não considerei propriamente