Brasil é o país onde mais se assassina homossexuais no mundo — Rádio Senado
Violência

Brasil é o país onde mais se assassina homossexuais no mundo

O Brasil registrou 445 casos de assassinatos de homossexuais em 2017, segundo o levantamento do Grupo Gay da Bahia. De acordo com a ONG Transgender Europe, entre 2008 e junho de 2016, 868 travestis e transexuais perderam a vida de forma violenta. O alerta para essas mortes é o tema da reportagem da Rádio Senado no Dia Internacional de Combate à LGBTFobia, celebrado em 17 de maio.

16/05/2018, 20h11 - ATUALIZADO EM 17/05/2018, 10h22
Duração de áudio: 05:19
Ludovic Bertron/Wikipedia

Transcrição
LOC: O BRASIL É O PAÍS QUE MAIS MATA HOMOSSEXUAIS NO MUNDO. FORAM 445 CASOS DE ASSASSINATOS EM 2017, SEGUNDO LEVANTAMENTO DO GRUPO GAY DA BAHIA, QUE HÁ MAIS DE TRINTA ANOS FAZ ESSA PESQUISA. LOC: OUTRO DADO VEM DA ONG TRANSGENDER EUROPE. ENTRE 2008 E JUNHO DE 2016, 868 TRAVESTIS E TRANSEXUAIS PERDERAM A VIDA DE FORMA VIOLENTA. LOC: O ALERTA PARA ESSAS MORTES É O TEMA DA REPORTAGEM DA RÁDIO SENADO NO DIA INTERNACIONAL DE COMBATE À LGBTFOBIA. A RÁDIO SENADO APÓIA ESSA CAUSA. REPÓRTER LARISSA BORTONI. BG: MENINOS E MENINAS – RENATO RUSSO (Repórter) Por mais que você faça reportagens sobre o preconceito contra homossexuais, você nunca vai sentir o tamanho do ódio. Ouvi isso de um amigo homossexual, ao lembrar, que ao contrário do que acontece comigo, que sou heterossexual, ele e o marido não podem andar de mãos dadas na rua. Não podem trocar carinhos em público. Muitas vezes não se apresentam como um casal, mas como amigos. Temem ser agredidos tão somente por causa da orientação sexual. São os chamados crimes de ódio. A professora da rede pública do estado de Minas Gerais, Sayonara Nogueira, sabe o que é isso. (Sayonara Nogueira) Quando eles perceberam que era uma trans, aí eles me agrediram, eles me arrastaram por cerca de 100 metros no asfalto pelo cabelo e levaram a minha bolsa com todos os pertences. A cada 48 horas uma pessoa trans ou uma travesti é assassinada no Brasil. O dado foi trazido pelo defensor público e participante do Grupo Identidade de Gênero e Cidadania – LGBTI, Atanásio Lucero Júnior a um debate na Comissão de Direitos Humanos sobre "O dia internacional de enfrentamento à LGBTIfobia". A violência contra essa parcela da sociedade brasileira é considerada crime de ódio, quando o criminoso escolhe a vítima porque ela pertence a um determinado grupo. Não aceitam as diferenças, sejam elas relacionadas à raça, religião, orientação sexual, deficiência física ou mental e ainda identidade sexual. (Atanásio Lucero Júnior) Eles não são aceitos pela família. Não têm acesso à educação formal e em consequência não têm acesso a emprego. De acordo com a Antra, cerca de 90% das pessoas trans e travestis recorrem à prostituição e acabam, por conta disso, ser expostas à violência. Mais uma consequência dessa situação, segundo o defensor público, é que a expectativa de vida das trans e travestis é de 35 anos, contra a média no Brasil de 75 anos. Outro alerta do Atanásio Lucero é que apesar de o homicídio ser a violência mais grave, a população LGBT sofre outras agressões. (Atanásio Lucero Júnior) Violência física. Violência psicológica. Isso está nas piadas. Na ridicularização. Nos estereótipos. Nas pequenas coisas e quem faz parte da população percebe isso. Aquela piadinha. E a violência estrutural e sistemática do Estado de não proporcionar efetiva segurança a essas pessoas. Mas não há apenas más notícias. Em três anos os cartórios registraram 19 mil e quinhentos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Há ainda algumas empresas, como o Banco Itaú, que tem se preocupado com a diversidade. Funcionário da instituição financeira, Bruno Crepaldi esclareceu que países que com legislação mais evoluída para a inclusão LGBT têm uma série de ganhos. (Bruno Crepaldi) Normalmente indicam um ambiente mais diverso e criativo na economia favorecendo um crescimento econômico e urbano. São economias com maior nível de inovação e empreendedorismo. Têm o maior nível de investimento estrangeiro e estimula ações como turismo, atração de talento estrangeiro e etc. A senadora Marta Suplicy, do PMDB de São Paulo, lamentou que projetos que preveem mais proteção à população LGBT e ainda trazem direitos, como ao casamento civil, não são votados no Congresso Nacional. (Marta Suplicy) O Brasil ainda não tem legislação federal específica para a população LGBTI. O que existe para uniformizar alguns direitos são decisões do Poder Judiciário. Nós temos um projeto adequado no plenário aqui do Senado que cada vez que a gente pensa em votar os senadores saem correndo e a gente fica avaliando se deve votar ou não. Essa proposta mencionada pela senadora Marta Suplicy é de 2011 e permite o reconhecimento legal do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Há em análise no Senado outros projetos voltados aos homossexuais. Um deles, fruto de uma sugestão da sociedade, com mais de cem mil assinaturas, cria o Estatuto da Diversidade Sexual e de Gênero. Em 17 de maio é celebrado o dia mundial contra a homofobia porque neste dia, em 1990, a Organização Mundial da Saúde declarou que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio. Ao ser provocado por um cidadão, que defendeu um dia para celebrar os heterossexuais o presidente da Aliança Nacional LGBTI, Toni Reis, respondeu que a sociedade homossexual não pretende mais se esconder. (Toni Reis) Nós precisamos sim um dia e nós queremos visibilidade. E olha. Sinto muito. Senta e chora porque nós não voltaremos para o armário.

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