Consciência Negra: Abdias Nascimento, um homem à frente do seu tempo — Rádio Senado
Homenagem

Consciência Negra: Abdias Nascimento, um homem à frente do seu tempo

Em celebração ao Dia da Consciência Negra (20/11), relembramos o primeiro senador autodeclarado negro e grande protagonista na história do movimento no Brasil, Abdias Nascimento. O senador foi um dos idealizadores da criação de uma data para marcar a luta pela igualdade racial.

17/11/2023, 18h51 - ATUALIZADO EM 17/11/2023, 18h52
Duração de áudio: 05:10
palmares.gov.br

Transcrição
20 DE NOVEMBRO É O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, DATA QUE TEVE COMO UM DE SEUS IDEALIZADORES O PRIMEIRO SENADOR AUTODECLARADO NEGRO DA HISTÓRIA DO BRASIL, ABDIAS NASCIMENTO. VAMOS RELEMBRAR UM POUCO A TRAJETÓRIA DE ABDIAS, NESTA REPORTAGEM ESPECIAL DE LUANA VIANA: Abdias Nascimento nasceu em Franca, São Paulo, no dia 14 de março de 1914. Filho de uma família pobre, conviveu com seus avós que haviam sido escravizados nos tempos do Império. Ouviu, desde pequeno, as terríveis histórias do período. E vivenciou, ele próprio, o racismo arraigado no país. Abdias inicia sua liderança política em 1932, ao ingressar na recém-criada Frente Negra Brasileira, organização nacional dedicada à luta pela igualdade racial. Em 1944, criou o Teatro Experimental do Negro, depois de assistir uma peça em que um personagem negro foi interpretado por um ator branco. O Teatro de Abdias foi responsável por levar, pela primeira vez, um protagonista negro ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Por causa do seu ativismo político na Frente Negra Brasileira e no Teatro Experimental do Negro, Abdias foi perseguido e preso na ditadura do Estado Novo. Ele dedicou sua vida política à defesa de pautas como o sistema de cotas e a criação do Dia da Consciência Negra, como lembra o senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul: O senador Abdias Nascimento, sem dúvida alguma, um dos mais importantes defensores da consciência do povo negro e da implementação de políticas afirmativas e de inclusão social. A história dele está inserida na trajetória que levou à criação do Dia da Consciência Negra, a lei de cotas e o próprio Estatuto da Igualdade Racial. Quando a ditadura militar baixou o Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968, Abdias Nascimento estava nos Estados Unidos. O AI-5 marcou o auge da repressão e perseguição política no Brasil e, por isso, Abdias optou pelo autoexílio. Só voltou ao Brasil em 1981, mesmo ano em que fundou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros. Em 83, foi eleito deputado pelo PDT e dedicou sua atuação parlamentar às pautas antirracistas. Em 88, foi um dos principais responsáveis pela criação da Fundação Cultural Palmares.  Em 1991, foi eleito senador - o primeiro da história do parlamento brasileiro a se autodeclarar negro. Sobre isso, ele afirmou não ser o primeiro negro no Senado, mas disse que, certamente, foi o primeiro senador negro a “assumir orgulhosamente sua etnia, sua cultura e religião, suas origens africanas e, sobretudo, a luta coletiva do povo africano em nosso país”.Para o senador Paulo Paim, Abdias foi um dos líderes que abriram importantes espaços de representação e diversidade no Congresso Nacional. Passos que vêm lá de trás pavimentando o caminho para novas conquistas, como a aprovação recente, na Câmara dos Deputados, da criação da Bancada Negra, com direito a um lugar no Colégio de Líderes: Conforme dizia Abdias, precisamos cada vez mais de parlamentares pretos, governadores, prefeitos e, por que não, presidente da República. Abdias sempre liderou esses movimentos, hoje nós temos já a criação da bancada negra na Câmara dos deputados. Oxalá temos no Senado no futuro próximo. Eles têm assento no colégio de líderes, com certeza é um enorme passo no cenário político de inclusão e de igualdade. Abdias, um homem sempre à frente do seu tempo. Abdias Nascimento é reconhecido no Brasil e em nível internacional por sua luta antirracista. Entre os prêmios que recebeu, estão o de Direitos Humanos e Cultura, da UNESCO, em 2001; e o Prêmio Comemorativo da ONU por Serviços Relevantes em Direitos Humanos, em 2003. Foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2010. Ele faleceu aos 97 anos, em 2011, no Rio de Janeiro. Sob a supervisão de Marcela Diniz, da Rádio Senado, Luana Viana.

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