Grupo Parlamentar China-Brasil — Rádio Senado
Ordem Global

Grupo Parlamentar China-Brasil

Em maio o Senado realizou uma reunião para instalar o Grupo Parlamentar China-Brasil. O Senador Nelsinho Trad foi eleito presidente do grupo, que poderá, segundo ele, fortalecer a relação bilateral entre os dois países. Nelsinho Trad, do PSD de Mato Grosso do Sul, lembrou que Brasil e China integram o grupo BRICS, que colocou 100 BILHÕES de dólares no Novo Banco de Desenvolvimento para alavancar projetos de infraestrutura. No primeiro trimestre de 2023, mais de 23% das exportações brasileiras foram para a China, principal parceiro comercial do brasil desde 2009. celulose, petróleo bruto, soja e minério de ferro estão entre os principais itens da exportação. pelo lado das importações, a china forneceu quase 22% de tudo o que o brasil comprou no exterior. o senador sul-matogrossense fez uma menção especial à Rota Bioceânica.

20/06/2023, 16h40 - ATUALIZADO EM 04/07/2023, 16h39
Duração de áudio: 17:16
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Transcrição
OLÁ. EU SOU FLORIANO FILHO E COMEÇA AQUI O “ORDEM GLOBAL”. NOS PRÓXIMOS MINUTOS VAMOS APRESENTAR NOTÍCIAS E DEBATER QUESTÕES ESTRATÉGICAS E CONTEMPORÂNEAS SOBRE GEOPOLÍTICA E ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL. EM MAIO O SENADO REALIZOU UMA REUNIÃO PARA INSTALAÇÃO do Grupo Parlamentar China-Brasil. O Senador Nelsinho Trad FOI ELEITO Presidente do Grupo, QUE PODERÁ, SEGUNDO ELE, FORTALECER A RELAÇÃO BILATERAL ENTRE OS DOIS PAÍSES. NELSINHO TRAD, DO PSD DE MATO GROSSO DO SUL, LEMBROU QUE BRASIL E CHINA INTEGRAM O GRUPO BRICS, QUE COLOCARAM 100 BILHÕES DE DÓLARES NO NOVO BANCO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALAVANCAR PROJETOS DE INFRAESTRUTURA. No primeiro trimestre de 2023, mais de 23% das exportações brasileiras foram para a China, principal parceiro comercial do brasil desde 2009. celulose, petróleo bruto, soja e minério de ferro estão entre os principais itens da exportação. pelo lado das importações, a china forneceu quase 22% de tudo o que o brasil comprou no exterior. o senador SUL-MATOGROSSENSE FEZ UMA MENÇÃO ESPECIAL À Rota Bioceânica. O projeto de infraestrutura regional UNe o Estado dE Mato Grosso do Sul aos Portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, ATRAVEssando o Paraguai e a Argentina. A PREVISÃO É QUE AS OBRAS ESTEJAM PRONTAS ATÉ 2024. Esse projeto fortalecerá ainda mais as relações entre o Brasil e a China. Essa versão moderna do Canal do Panamá, que interliga Atlântico e Pacífico, pode reduzir significativamente custos de transporte e tempos de viagem para a exportação de nossos produtos ao mercado chinês. Jin Hongjun, Ministro-Conselheiro da Embaixada da China no Brasil, QUE JÁ FOI CONSELHEIRO POLÍTICO NA EMBAIXADA CHINESA EM PORTUGAL, PARTICIPOU DA REUNIÃO. ELE DESTACOU A REPRESENTATIVIDADE DO GRUPO PARLAMENTAR, QUE TEM INTEGRANTES DE 17 ESTADOS BRASILEIROS E DE 15 partidos POLÍTICOS, COM Deputados e Senadores DE DIFERENTES círculos sociais. E disse que a parceria entre os dois países é estratégica. nós temos uma parceria estratégica global, que abrange todas as áreas, e, quando dizemos que é uma parceria estratégica, isso significa que abrange, que vê a longo prazo. Então, é uma parceria entre irmãos, é uma parceria que visa trazer benefícios recíprocos para ambos os países. O ORDEM GLOBAL CONVERSOU COM Luciano Muñoz, professor do curso de relações internacionais do CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA. ele é especializado em economia política da china e comentou, entre outros assuntos, sobre o estado atual das relações brasil-china, sobre mercosul e dos acordos assinados recentemente entre os dois governos.  OLÁ, LUCIANO. BEM-VINDO AO NOSSO PROGRAMA. 1) A China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil. É preocupante o fato de exportarmos basicamente produtos primários (especialmente soja e petróleo) e importarmos produtos industrializados? Essa é uma crítica que já vinha sendo feita no governo Lula, nos primeiros governos Lula nos anos 2000. mas agora neste terceiro governo Lula tem perspectiva de industrialização do Brasil e possivelmente com o investimento chinês em infraestrutura. Esse é um dos acordos assinados na recente visita do presidente Lula à China. Então, por um lado, do ponto de vista das relações entre os dois, é preocupante porque você acaba tendo uma complementaridade primário-exportadora, com o Brasil importando bens industrializados e exportando bens primários. por outro lado, é em função da soja e do minério de ferro que o Brasil tem um superávit comercial com a China. isso também é positivo. Tendo em vista tal desnível qualitativo, o Brasil corre o risco de se desindustrializar ainda mais? a depender das pretensões do atual governo, a tendência é que o Brasil não agrave a sua situação de desindustrialização. especialmente comparado com com a China, com as relações comerciais entre os dois. essa visita do presidente Lula à China marcou um novo patamar das relações bilaterais. E você tem hoje uma boa perspectiva de investimentos chineses nessa reindustrialização brasileira, o Brasil tem muitos problemas de infraestrutura. hoje você tem a perspectiva do lançamento do pac 3 e o financiamento dessas obras de infraestrutura pode vir em grande parte com um capital chinês. Você também tem a possibilidade do Brasil, através de acordo com a China, especialmente com a empresa Huawei de o Brasil entrar e começar a desenvolver o 5G e o 6G também. ou seja, uma nova geração de celulares, de telefonia, em parceria com chineses. e por fim você tem a possibilidade aberta hoje de investimento da China na economia verde, por exemplo na produção de ônibus elétricos. isso aí já tá em implementação hoje.  Como se compara a relação comercial e de investimentos com a China com a que temos com a dos Estados Unidos? a China é o maior parceiro comercial do Brasil. isso desde 2009. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro o comercial. então são grandes parceiros comerciais. o Brasil exporta muito minério de ferro e Soja para China e importa bens industrializados. importa muito os bens industrializados dos Estados Unidos também. a pauta comercial com eles, com os americanos é deficitária para o Brasil. então o Brasil mais importa do que exporta. nós exportamos para os Estados Unidos muito petróleo bruto, aeronaves, peças de aço e ferro semi acabadas também. Você tem uma certa dificuldade de laranja por exemplo, exportação de algodão, né? já houve problemas no passado, inclusive contenciosos na OMC. hoje em dia você tá tendo uma disputa pelo Brasil especialmente na questão do 5g entre Estados Unidos e China pelo mercado brasileiro e também a questão do semicondutores. os Estados Unidos hoje estão iniciando o movimento que eles chamam de Nearshoring ou friendshoring, que é tentar deslocar a cadeia global de suprimentos de semicondutores que tá muito centrada na Ásia, na China, propriamente, e taiwan. e Trazer isso para para próximo do território americano.  então eles produzirem dentro do território americano e eventualmente incluírem o Brasil como parte dessa cadeia de suprimentos de chips semicondutores, essa é uma disputa. A China também quer ter o Brasil com parceiro na produção de semicondutores. outro ponto é a questão da economia verde. na última visita do presidente Lula nos Estados Unidos houve uma promessa de investimentos em ações ambientais no Brasil pelos Estados Unidos. inicialmente seriam 50 milhões de dólares, mas já se aumentou para 500 Milhões de Dólares. mas isso depende de autorização do congresso americano. Então você tem essa disputa entre os dois países por investimento no Brasil e também pelo mercado brasileiro. quer dizer, o Brasil é uma peça importante nessa rivalidade estratégica atual entre os dois gigantes. Como as sanções comerciais e tecnológicas dos EUA contra a China impactam a relação com o Brasil? A princípio elas não impactam o Brasil diretamente porque o Brasil é soberano para se relacionar do ponto de vista das relações econômicas internacionais com quaisquer países que ele deseje. no entanto é claro que é uma pressão diplomática Grande para que o Brasil escolha por exemplo na transição de telefonia móvel empresas Americanas e não chinesas, prefira investimentos economia verde que venham dos Estados Unidos, prefira entrar numa cadeia global de suprimentos de chips voltadas para produção nos Estados Unidos. na última visita de lula à China houve pressões diplomáticas dos Estados Unidos em relação por exemplo ao acordo CIEBRS, para produção de mais satélites sino-brasileiros. houve a pressão em relação ao acordo para pagamento local, real e yuan. só que na última visita do presidente Lula à China ficou bem demonstrado que o Brasil é capaz de Resistir essas pressões. e o Brasil tem sabido jogar normalmente dentro dessa rivalidade estratégica. então do ponto de vista direto, imediato o Brasil é autônomo para decidir. é claro que você pode ter retaliações. empresas Americanas podem desistir de investir no Brasil Caso haja uma preferência maior à China. mas isso é parte do jogo. a ideia do Brasil é ver o que os dois países, Estados Unidos e China, têm para pôr na mesa, tem para oferecer para que o Brasil, de acordo com o seu interesse Nacional, escolha o que é melhor para ele. A China vem tomando o espaço das exportações brasileiras na Argentina. Considera que isso seja uma ameaça para o Mercosul? Nós temos relações comerciais com a Argentina muito adensadas. a argentina é o terceiro parceiro comercial do Brasil e isso aumentou muito a partir da década de 90 com a criação do Mercosul. você teve Idas e Vindas, períodos melhores e piores, mas a argentina é muito importante para o mercado brasileiro, especialmente para exportação de produtos industrializados brasileiros. A Linha Branca, por exemplo, automóveis, eletrodomésticos é um exemplo de produto que a gente exporta para eles e importamos muita farinha de trigo da Argentina. agora, com a nova presidência do Lula, você tem também a vontade de retomar liderança da América do Sul. entre os elementos que constituem essa liderança tem a ver com o Brasil conseguir liderar o Mercosul. portanto existe essa disputa entre Brasil e China pelo mercado da Argentina. por isso que recentemente na vinda do presidente Alberto Fernandes ao Brasil, o Presidente Lula chegou a afirmar que o Brasil é responsável pela Argentina, o Brasil tem que ajudar a Argentina a resolver sua crise econômica que é muito séria no momento. então o Brasil agora tá estudando a possibilidade de financiar exportações de empresas brasileiras para Argentina. com a inflação galopante na Argentina, empresas brasileiras sentem muita incerteza se eles vão receber ou não o seu pagamento e quando vão receber. À medida que o peso argentino se desvaloriza, se você demora muito para receber esses pagamentos na Argentina ou o poder de compra do pagamento diminui. quando o Brasil se propõe o governo brasileiro a financiar exportações de empresas brasileiras para a Argentina, facilita a colocação de produtos brasileiros na Argentina. esses mecanismos de financiamento de exportações já existem na China. então é uma maneira do Brasil competir com os chineses pelo mercado da Argentina e, por consequência, pelo mercado do Mercosul como um todo. Ainda em relação ao Mercosul, como avalia o desejo do Uruguai de assinar isoladamente um acordo de livre comércio com a China?  Já estava em estudo desde o ano passado a possibilidade de um tlc, um tratado de livre comércio entre Uruguai e china. Isso é muito ruim para o bloco do mercosul, porque o mercosul é uma união aduaneira, embora não seja perfeita (tem muitas exceções), mas ela prevê uma tarifa externa comum para alguns produtos. então todos os países do bloco teriam que cobrar essa mesma tarefa em relação a produtos de fora do bloco. por exemplo produtos chineses. quando o Uruguai resolve assinar e, caso assine (ainda não assinou) um TLC com a China, ele na prática não aplicaria a tarifa externa comum do Mercosul no seu comércio bilateral com a china. Então isso é muito ruim para o mercosul. o Tratado de Assunção e os protocolos que o seguiram nos anos 90 determinam que os acordos têm que ser feitos pelo bloco e não individualmente. então isso é muito ruim para o bloco e portanto para a liderança brasileira no bloco e na América do Sul como um todo. você teve recentemente eleições no Paraguai e o presidente eleito ele não defende, pelo menos não até o momento, a mudança da postura do Paraguai em relação ao reconhecimento de Taiwan. o Paraguai é o único país do Mercosul que reconhece Taiwan e não reconhece a China Continental. então isso também é um impedimento para você ter um acordo entre mercosul e China porque a China não assina acordo com países que reconheçam Taiwan. Quais seriam as vantagens e desvantagens de um acordo de livre comércio entre Mercosul e China? Você teria que ter uma flexibilização da política do Paraguai. a China tem a política de uma China. ela só assina acordos comerciais com países que reconheçam a China e não Taiwan. então a posição do Paraguai é uma posição discrepante. impediria no momento a assinatura desse acordo china-mercosul. caso isso possa ser superado e esse acordo saia, seria interessante em primeiro lugar para demover o Uruguai de fazer um acordo em separado. o presidente Lula quando foi o Uruguai agora no começo do ano, como ele não pode prometer o acordo do mercosul-China, ele prometeu então a conclusão o mais rápido possível do acordo Mercosul- União europeia. esse é que foi o argumento para o Uruguai esperar um pouco até sair o acordo mercosul-união europeia para depois conversar sobre a questão Uruguai-China ou Mercosul- China. o primeiro ponto positivo seria o Uruguai fazer um acordo junto com bloco com a China e não sozinho. segundo, que é uma questão assim Evidente, é o bloco ter acesso ao Mercado Chinês, que é enorme. claro que o risco envolvido é porque esse acordo, a depender de como ele for negociado, se ele for um acordo muito aberto de livre comércio, você teria um risco de invasão de produtos chineses no mercado do Mercosul. e nós somos muito menos competitivos do que ele. o Brasil é menos competitivo e os demais, nem se fala. ainda não dá para responder isso porque no momento o acordo mercosul-china é muito distante, é uma especulação. e depende de saber os termos desse acordo. no momento, eu acho que o ganho palpável seria fazer o Uruguai desistir de um acordo em separado. Seria vantajoso para o Brasil aderir oficialmente à Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative)? Quando o presidente Lula e a sua comitiva de ministros foram à China, você teve uma divisão dentro do governo sobre essa questão da nova rota da seda. por exemplo o ex-ministro Celso Amorim, que hoje é assessor internacional da presidência, ele era favorável de que o Brasil anunciasse nesta visita agora que ocorreu recentemente a sua entrada no belt and road initiative. O Itamaraty, na figura do ministro Mauro Vieira, se posicionou contrário a isso. houve muita pressão da China para que o Brasil aderisse ao belt and road initiative agora já em maio. Por que isso aqui não foi feito? porque o Brasil tem adotado uma posição de equidistância pragmática. Luciano Muñoz 9 eles têm crescido realmente. eu acredito que, a princípio, não é preocupante. se esses investimentos servirem para melhorar a qualidade do serviço do fornecimento de energia elétrica no Brasil e baratear o preço para o Consumidor, isso é algo a  a princípio positivo. os chineses o investimento deles elétrico brasileiro, boa parte vai para energia hidrelétrica. agora, quando o presidente Lula foi a China um dos acordos assinados previu uma parceria entre uma empresa do setor elétrico, a chinesa state grid, que é uma gigante e Itaipu. então me parece que se a gente pegar o caso de Itaipu, Itaipu é uma empresa estatal, binacional, brasileira e Paraguaia. o Brasil mantém controle sobre as decisões dessa empresa de Itaipu acordado com Paraguai. Então me parece que no momento não é preocupante. investimentos chineses, por exemplo, em energia verde é interessante também, energia solar, energia eólica, dentro dessa questão da transição para economia de baixo carbono. claro que tem o caso da eletrobrás, que agora foi privatizada e a tendência é que você tenha agora muitos investimentos privados no setor elétrico no Brasil. tem que ver como que isso vai ser feito e tem que Observar se vai ter. mas do ponto de vista de estratégico, digamos assim, eu não vejo no momento preocupação em você ter uma parcela menor de investimentos chineses no setor elétrico, comparados com o papel que o brasil tem em grandes estatais, por exemplo, como itaipu. O que os acordos recentemente assinados entre Brasil e China significam para o futuro das relações entre os dois países? Você teve uma série de acordos assinados. a visita do presidente e da comitiva à China foi intensa, inclusive com visita a fábrica da Huawei, que indica alguma coisa, ou seja, a vontade do Brasil, Diferentemente dos Estados Unidos, fazer negócios com essa empresa chinesa. e avaliar a possibilidade de parceria com chineses nas tecnologias avançadas de telefonia móvel, 5g e 6G. você teve acordos também na questão de investimentos em meio ambiente, investimento em infraestrutura, o cbers, mais uma geração de satélites. os cbers são antigos. esses acordos vem dos anos 80, mas agora mais uma geração de satélites vão ser produzidos. eles vão ser muito importantes para monitoramento e sensoriamento remoto da Amazônia, por exemplo, que agora tem ainda batido recordes de queimada e desmatamento. você também teve um acordo para pagamento em moedas locais, yuan e real, com compensação entre os bancos centrais. Então me parece que, do ponto de vista brasileiro, é interessante esse relacionamento a China. é muito importante para nós. para o Brasil, o mais importante, como eu colocava nas respostas anteriores, é importante continuar exportando minério de ferro e Soja, mas atrair investimentos chineses para setores de infraestrutura, que são fundamentais para a reindustrialização do Brasil. e do lado da China, a China de 2023 é diferente da China de 2009 ou de 2005. hoje eles realmente estão lutando pela construção da nova ordem mundial. e a China portanto quer atrair esse parceiro, um parceiro que historicamente esteve na área de influência dos Estados Unidos no ocidente, numa esfera ocidental, que é o Brasil. OBRIGADO, LUCIANO. POR HOJE, O NOSSO PODCAST “ORDEM GLOBAL” FICA POR AQUI. A VOCÊ QUE NOS OUVE, MUITO OBRIGADO PELA AUDIÊNCIA E ATÉ O NOSSO PRÓXIMO PROGRAMA.

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