Tereza de Benguela: líder quilombola celebrada em 25 de julho tinha seu próprio parlamento — Rádio Senado
Mulher negra

Tereza de Benguela: líder quilombola celebrada em 25 de julho tinha seu próprio parlamento

Partiu do Senado a iniciativa de criar o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em 25 de julho (PLS 23/2009). A data celebra uma das mais importantes lideranças da resistência à escravidão no Brasil. A "Rainha Tereza" governava o Quilombo do Quariterê "a modo de parlamento" e liderou o território de resistência por cerca de duas décadas. Seu exemplo inspira mulheres quilombolas de hoje, como Alciléia Torres, de 20 anos, jovem liderança do quilombo Kalunga, em Cavalcante (GO).

24/07/2025, 18h36 - atualizado em 24/07/2025, 18h38
Duração de áudio: 04:38
Félix Vallotton, Public domain, via Wikimedia Commons

Transcrição
25 DE JULHO É DIA INTERNACIONAL DA MULHER NEGRA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA E, NO BRASIL, É DIA DE TEREZA DE BENGUELA, LIDERANÇA DO QUILOMBO DO QUARITERÊ, EM MATO GROSSO. CONFORME OS REGISTRO HISTÓRICOS, TEREZA GOVERNAVA AQUELE TERRITÓRIO DE LIBERDADE OUVINDO O SEU PRÓPRIO PARLAMENTO. A REPORTAGEM É DE MARCELA DINIZ. Ela dá nome ao corredor de acesso ao Plenário da Câmara dos Deputados, no Congresso Nacional, em Brasília. Ela tem um dia em sua homenagem no calendário nacional - 25 de julho, quando também se celebram as mulheres negras do Brasil e de toda a América Latina e Caribe. Ela é Tereza de Benguela. Trilha sonora: "Rainha Tereza de Benguela" - Batucafro - Luciana Félix -Cia Caracaxa - álgum "Resgatando a Ancestralidade 2" (2020) Africana escravizada e traficada provavelmente via portos de Benguela, na Angola - daí o nome pelo qual ficou conhecida - Tereza chegou ao Brasil no século XVIII, não se sabe exatamente em que ano mas, por volta de 1730, houve denúncias de que pessoas desembarcadas nos portos de Belém e de São Luís estavam sendo clandestinamente revendidas e transportadas para o Mato Grosso, região onde se ergueu o Quilombo do Quariterê. São de 1748 os primeiros registros da existência desse quilombo e relatos da época revelam que, após a morte do rei que o governava, assumiu a "rainha viúva Tereza".  Documentos históricos escritos por vereadores de Vila Bela, então capital de Mato Grosso, e reunidos nos "Anais de Vila Bela", contam um pouco do estilo de governar da Rainha Tereza do Quariterê. “Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entravam os deputados, sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais. Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava à risca, sem apelação nem agravo - Anais de Vila Bela, 1770" O reinado de Tereza no Quariterê durou cerca de duas décadas. Em 1770, uma expedição de colonizadores atacou o quilombo e prendeu uma centena de habitantes, entre pessoas negras e indígenas. Dizem que após ter sido presa, Tereza tirou a própria vida. Ninguém sabe ao certo. Mas, dessa história, alguns aspectos podem ser ressaltados. A liderança feminina inconteste de Tereza; o caráter multiétnico da resistência à escravidão; a forma sofisticada da organização quilombola, com hierarquia e funções definidas para a administração e defesa de territórios amplos e inóspitos. Sem falar na resistência do Quariterê, veja só: 25 anos depois de ser considerado "destruído", bandeirantes liderados por Francisco Pedro de Melo acharam e atacaram remanescentes do reino de Tereza. Prenderam 54 pessoas, inclusive crianças. Há relatos que seis sobreviveram e viraram "regentes, padres, médicos, pais e avós" do quilombo que resistiu. E, olha, Tereza de Benguela não é figura do passado, não. Para Alciléia Torres, do quilombo Kalunga, comunidade Vão de Almas, município de Cavalcante, em Goiás, Tereza é força ancestral presente em cada mulher quilombola.  (Alciléia Torres) "Uma força ancestral e resistência que a gente carrega dentro da gente. Foi uma mulher que liderou um quilombo e, assim como nós, mulheres, também, aqui no território quilombola Kalunga, nós somos a base, somos a chama que se mantém acesa, aqui. E Tereza de Benguela está dentro de cada uma das mulheres, seja a que está trabalhando em casa, seja que está trabalhando na roça, seja que está liderando projetos, ela está dentro de cada uma de nós que estamos resistindo, diariamente, dentro dos quilombos" O Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra foi criado por lei em 2014, a partir de um projeto apresentado cinco anos antes pela então senadora Serys Slhessarenko, de Mato Grosso. Da Rádio Senado, Marcela Diniz.

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