Estudo alerta para perda de vazão nos rios do bioma Cerrado — Rádio Senado
Bioma Ameaçado

Estudo alerta para perda de vazão nos rios do bioma Cerrado

Um estudo divulgado esta semana por pesquisadores da Universidade de Brasília revelou a diminuição de 27% na vazão dos rios do Cerrado. Seis bacias hidrográficas foram analisadas: Araguaia, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Taquari e Tocantins. O coordenador da pesquisa, Yuri Salmona, diz que o desmatamento está relacionado à produção de commodities agropecuárias que dependem de irrigação. Já Mercedes Bustamante, professora de Ecologia da UnB, alerta para a urgência das ações de restauração do bioma.

27/06/2025, 13h39 - atualizado em 27/06/2025, 13h43
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Transcrição
UM ESTUDO PUBLICADO ESSA SEMANA APONTA A DIMINUIÇÃO DE 27 % NA VAZÃO DOS RIOS DO CERRADO, DESDE 1970. VEJA NA REPORTAGEM DE CESAR MENDES. O estudo de pesquisadores da Universidade de Brasília analisou dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) referentes às bacias hidrográficas de seis rios do bioma Cerrado: Araguaia, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Taquari e Tocantins. E revelou que o volume mínimo de água registrado sofreu uma redução de 1.300 metros cúbicos por segundo, desde os anos 70. A diminuição de 21 % das chuvas, que caíram dos 680 mm anuais entre 1970 e 1979 para 539 mm entre 2012 e 2021; e o aumento de 8 % na evapotranspiração, a quantidade de água transferida para a atmosfera, mostram que o Cerrado está secando. Um alerta também para a urgência de ações de conservação do bioma, que ocupa 25% do território nacional, abastece 8 das 12 regiões hidrográficas do país e é chamado de "caixa-d´água do Brasil"; mas que já teve mais da metade da vegetação nativa destruída, como destaca a professora de ecologia da UnB, Merceces Bustamante. (Mercedes Bustamante) "O estudo, ele traz uma avaliação muito abrangente da situação dos rios do Cerrado, da redução da sua vazão, e ele coloca isso muito claramente em conexão com o desmatamento em larga escala do Cerrado. Então, ele é mais um alerta da importância de se trabalhar uma agenda muito robusta de controle do desmatamento do Cerrado; mas não só de controle do desmatamento, de restauração de suas áreas degradadas, para que ele possa voltar a ter a integridade do seu sistema hidrológico, que é tão importante porque abastece várias regiões brasileiras; e também garante a segurança energética do país." Segundo o coordenador da pesquisa e doutor em ciências florestais, Yuri Salmona, "o desmatamento para a produção de commodities agropecuárias baseada na irrigação é o protagonista do ressecamento do bioma; associado às mudanças climáticas". Para Mercedes, que é também autora de relatórios do Painel da ONU sobre Mudança do Clima (IPCC), algumas áreas estão ficando impróprias para o cultivo da soja; o que é, segundo ela, "um tiro no pé da atividade que mais afeta o funcionamento hídrico do Cerrado". Dados do Projeto MapBiomas apontam a diminuição de 22% da vegetação nativa nas seis bacias analisadas desde 1985; enquanto o desmatamento para o plantio de soja aumentou 19 vezes, indo de 620 mil hectares para 12 milhões de hectares. Sendo que 80 % dos pivôs centrais de irrigação estão no Cerrado, segundo informações da ANA. Uma situação que, segundo Yuri, não deixa dúvidas: "Estamos furando a caixa d´água com uma irrigação desregrada". Da Rádio Senado, Cesar Mendes.

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