Resultado das eleições municipais mostra baixa representatividade de mulheres e negros
O relatório “Perfil dos Eleitos 2024”, do Instituto de Estudos Socioeconômicos em conjunto com a COMMON DATA, aponta que, nas eleições municipais deste ano, houve um aumento das candidaturas de mulheres e de negros, mas a representatividade desses grupos ainda é considerada baixa. Apesar de os homens negros terem alcançado 37% dos cargos eletivos, apenas um em cada seis candidatos conseguiu ser eleito. Já as mulheres, que representam 17,9% dos eleitos, continuam sub-representadas, ocupando menos de 18% das vagas disponíveis. O relatório revela, ainda, que a cada quatro candidatos brancos eleitos, apenas um é negro, evidenciando a desigualdade no acesso aos espaços de poder.
Transcrição
UM EM CADA SEIS HOMENS NEGROS CONSEGUIU SER ELEITO, ENQUANTO A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES CONTINUA A SER BAIXA NO PAÍS.
É O QUE APONTA O LEVANTAMENTO DO INESC, QUE ANALISOU O PERFIL DOS CANDIDATOS QUE ASSEGURARAM UM MANDATO NO PRIMEIRO TURNO DA ELEIÇÕES MUNICIPAIS. A REPORTAGEM É DE PAULO BARREIRA.
Um relatório do Instituto de Estudos Socioeconômicos, em parceria com a COMMON DATA, mostra que 57% dos prefeitos e cerca de 50% dos vereadores eleitos em outubro são homens brancos, enquanto os negros somaram 37%. Segundo o Inesc, para cada prefeito negro eleito, há quase o dobro de brancos.
Em comparação às eleições de 2020, houve um aumento de 2,2% do número de mulheres eleitas, passando de 15,7% para 17,9% dos eleitos. Mesmo assim, as mulheres continuam sub-representadas, ocupando menos de 18% das vagas no universo político.
As candidatas negras enfrentam ainda mais barreiras. Das quase 80 mil, apenas 7,19% foram eleitas, o que representou um crescimento. Segundo o Inesc, uma em cada dez candidatas brancas foi eleita, enquanto a proporção para as negras foi de uma a cada 26.
Ao analisar as candidaturas por raça, os dados mostram que 54,6% dos eleitos são brancos, enquanto 44,2% se identificam como negros. Isso significa que, a cada quatro candidatos brancos, um é eleito.
O representante do Inesc, José Moroni, argumenta que as instituições democráticas devem refletir a diversidade da sociedade, permitindo que grupos historicamente marginalizados participem dos espações de decisão.
“Isso demonstra o quanto nosso sistema político e as nossas chamadas instituições democráticas são alicerçadas no poder masculino e branco. Os espaços tanto no Executivo como no Legislativo são espaços de representação política. Ele tem que ser ao máximo mais próximo da dinâmica social da dinâmica do povo. Quando a gente olha um parlamento onde metade é de homens brancos, isso demonstra o quanto o nosso sistema político não é representativo das diferenças da nossa sociedade".
José Moroni defende uma revisão do sistema eleitoral para garantir maior equidade, incluindo a distribuição dos recursos públicos que bancam as campanhas.
“Nós precisamos repensar o nosso sistema eleitoral tanto do ponto de vista do financiamento, continuar o financiamento público de campanha, repensar o critério de partilha do fundo eleitoral e o valor também. E repensar o critério de partilha entre os partidos e também critérios de partilha internamente aos partidos. Porque hoje o partido define a qual são as candidaturas que ele quer apoiar e aportar".
Segundo o levantamento do Inesc, das 182 candidaturas de pessoas indígenas no Brasil, 19 foram eleitas, representando pouco mais de 10% dos candidatos. Já os quilombolas conseguiram garantir 12 mandatos entre os 107 que disputaram as eleições municipais. Sob a supervição de Hérica Christian, da Rádio Senado, Paulo Barreira.