Especialistas apontam responsabilidade da Braskem no afundamento de solo em Maceió — Rádio Senado
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Especialistas apontam responsabilidade da Braskem no afundamento de solo em Maceió

Em depoimento à CPI da Braskem, o pós-doutor em ecologia, José Marques, questionou a autorização para a exploração de sal-gema em Maceió citando a fragilidade da área de restinga e dos perigos da atividade. Já o professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas, Abel Galindo, citou diversos estudos mostrando que a Braskem ultrapassou o limite da exploração, não respeitou a distância mínima de 100 metros de diâmetro entre as minas nem a profundidade de retirada do sal-gema, além da falta de monitoramento.

05/03/2024, 19h20 - ATUALIZADO EM 05/03/2024, 19h20
Duração de áudio: 03:52
Foto: Pedro França/Agência Senado

Transcrição
PROFESSORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS E DOUTOR EM ECOLOGIA APONTARAM RESPONSABILIDADE DA BRASKEM NO AFUNDAMENTO DE SOLO EM MACEIÓ. RELATOR QUER SABER SE AUTORIDADES PÚBLICAS FORAM CONIVENTES E OMISSAS COM A EXPLORAÇÃO FORA DOS PADRÕES TÉCNICOS. REPÓRTER HÉRICA CHRISTIAN. Em depoimento à CPI da Braskem, o ativista e pós-doutor em ecologia e vítima do afundamento de solo em Maceió, José Geraldo Marques, disse que a petroquímica é a responsável pelas rachaduras nos imóveis e nas ruas dos cinco bairros já esvaziados por questões de segurança. Ao afirmar que acompanha a extração de sal-gema desde a década de 70, ele revelou que teve roubados documentos relacionados ao desastre. José Geraldo Marques questionou as compensações da Braskem e os acordos com os moradores. E alertou para a concessão de novas autorizações para a Braskem continuar com a exploração, apesar dos recentes afundamentos de solo.  Restinga por definição é área frágil. Não se pode implantar uma indústria dessa. E era uma área paradisíaca com muitos manguezais, com as dunas mais belas que eu já vi. Resolve-se implantar uma indústria de cloro soda, que por definição tem perigos intrínsecos. Só isso mostra a incompatibilidade.  O professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas, Abel Galindo Marques, apresentou diversos estudos mostrando que o afundamento do solo ocorria desde 2004 e que a própria Braskem tinha conhecimento dos fatos, mas sempre negou qualquer relação entre a exploração das minas e as rachaduras. Ele alertou que a área considerada de risco pela Defesa Civil, portanto, passível de compensações, é muito maior do que a estabelecida, o que prejudica os moradores dos bairros vizinhos afetados, mas não reconhecidos oficialmente. E ressaltou que a petroquímica não respeitou o limite de retirada de sal-gema, a distância mínima entre as minas e a espessura de segurança de perfuração no subsolo. Quantas minas estão juntinhas uma na outra? Essas minas, gente, tinham que estar pelo menos a 100 metros de distância. As minas 7, 19 e 18 estão todas coladinhas, coladinhas, tudo coladinha. Isso aqui começa a mostrar o porquê que aconteceu, porque essas minas tinhas que estar distantes uma da outra, pelo menos 100 metros. Aí eles foram aumentando o diâmetro, aumentando e tudo terminou se juntando.  Já a professora da Universidade Federal de Alagoas, Natallya Levino, citou estudos revelando que as indenizações pagas pela Braskem foram insuficientes para a aquisição de imóveis; que equipamentos públicos, como escolas e hospitais, se perderam e não foram construídos nos lugares para onde foram as pessoas atingidas; que houve falência de diversos comerciantes e queda na arrecadação do município de Maceió nesses últimos anos. O relator da CPI da Braskem, senador Rogério Carvalho, do PT de Sergipe, avalia que os depoimentos reforçam a responsabilidade da Braskem.  Fica claro que houve por omissão, negligência, imprudência, má prática da empresa. As cavidades ultrapassaram o limite de segurança, a instabilidade é maior do que a área que foi delimitada pela Defesa Civil e que essa instabilidade vai durar em torno de 20 anos. E isso é responsabilidade de quem de forma incorreta fez a exploração sem respeitar as regras técnicas para esse tipo de mina.  Rogério Carvalho destacou que a comissão também vai investigar a omissão e/ou conivência das autoridades municipais, estaduais e federais na concessão das autorizações de exploração, além da falta de monitoramento da situação das minas. Da Rádio Senado, Hérica Christian.  

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