Especialistas debatem feminicídio como um tipo de violência política — Rádio Senado
Pautas Femininas

Especialistas debatem feminicídio como um tipo de violência política

O feminicídio, que é o assassinato de mulheres pelo simples fato delas serem mulheres, pode ser considerado também uma violência política? Especialistas que debateram o tema no projeto “Pauta Feminina” dizem que sim.

Outros aspectos políticos do feminicídio levantados durante o debate promovido pela Procuradoria da Mulher do Senado, em parceria com a Câmara dos Deputados, no projeto “Pauta Feminina”, foram a legitimação da violência contra a mulher em discursos de figuras públicas, a invisibilidade das mulheres trans, a recusa do debate sobre gênero, a desvalorização da luta feminista e a relativização de casos de feminicídio, por vezes registrados como “crimes passionais”.

16/02/2017, 14h08 - ATUALIZADO EM 16/02/2017, 15h28
Duração de áudio: 02:54
Geraldo Magela/Agência Senado

Transcrição
LOC: O FEMINICÍDIO, QUE É O ASSASSINATO DE MULHERES PELO SIMPLES FATO DELAS SEREM MULHERES, PODE SER CONSIDERADO TAMBÉM UMA VIOLÊNCIA POLÍTICA? LOC: ESPECIALISTAS QUE DEBATERAM O TEMA NO PROJETO “PAUTA FEMININA” DIZEM QUE SIM, COMO INFORMA A REPÓRTER MARCELA DINIZ: TÉC: A idéia do feminicídio como violência política pode parecer abstrata à primeira vista, mas adquire contornos mais nítidos quando pensamos em uma mulher que procura as autoridades para denunciar violência doméstica, não é atendida e acaba assassinada pelo agressor. Isso representa um ciclo de violência que o Estado não conseguiu interromper, mesmo possuindo ferramentas para isso, como a Lei Maria da Penha. É o que argumenta a senadora Regina Sousa, do PT do Piauí: (Regina) Primeiro, é a agressão verbal, depois, vem o empurrão, até chegar, de fato, ao assassinato, quer dizer: é morte anunciada, mas o Estado não previne, não age. (REP) Se a omissão faz o Estado cúmplice do feminicídio, a ação o faz criminoso, em casos como a da auxiliar de serviços gerais Cláudia Silva Ferreira, arrastada por uma viatura da Polícia Militar, como lembra a coordenadora da Questão Negra, da Diretoria de Diversidade da Universidade de Brasília, Joelma Rodrigues da Silva: (Joelma) A Cláudia simboliza o que eu entendo como feminicídio como prática política: é o Estado pegando uma mulher negra, periférica, pobre e arrastando metros e metros presa a um camburão. (REP) O Mapa da Violência de 2015, que apontou o aumento do feminicídio de mulheres negras em um cenário de queda do assassinato de mulheres brancas revelou um corte racial e social na questão. A pesquisadora da Universidade Federal da Bahia, Clara Flores Oliveira, lembra que, no Brasil, como em outros países latinos, a classe social e a cor das vítimas influenciam na importância que a mídia e as autoridades policiais dão a determinados casos de feminicídio: (Clara) Por que determinadas mortes são mais noticiadas do que outras? Por que determinadas mortes merecem ser mais investigadas e outras não? (REP) A antropóloga francesa Veronique Durand afirmou que a maior vulnerabilidade das mulheres pobres também é notada em nível internacional, e que o machismo, quando permeia as regras sociais, transforma o mundo em um lugar onde é melhor não ser mulher: (Veronique) Na Índia, mas em muitos outros países, as mulheres que sabem que estão grávidas de meninas, abortam. No meu país, na França, as meninas, com medo de serem estupradas e mortas elas usam uma roupa que não tem forma, cortam o cabelo, não se pintam – querem, realmente, se tornar invisíveis. (REP) Outros aspectos políticos do feminicídio levantados durante o debate promovido pela Procuradoria da Mulher do Senado, em parceria com a Câmara dos Deputados, no projeto “Pauta Feminina”, foram a legitimação da violência contra a mulher em discursos de figuras públicas, a invisibilidade das mulheres trans, a recusa do debate sobre gênero, a desvalorização da luta feminista e a relativização de casos de feminicídio, por vezes registrados como “crimes passionais”. Da Rádio Senado, Marcela Diniz.

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