Jeferson Tenório fala de "O avesso da pele", de racismo e de censura de livros

Transcrição OLÁ, SOU ANDERSON MENDANHA E COMEÇA AGORA MAIS UM AUTORES E LIVROS.   NO PROGRAMA DE HOJE, VAMOS CONVERSAR COM JEFERSON TENÓRIO, AUTOR DOS ROMANCES O BEIJO NA PAREDE (2013), ESTELA SEM DEUS 920180 E “O AVESSO DA PELE” (2020), QUE VENCEU O PRÊMIO JABUTI 2021. JEFERSON É AUTOR TAMBÉM DE CONTOS E TEXTOS TEATRAIS.   O AVESSO DA PELE É A HISTÓRIA DE PEDRO, QUE, APÓS A MORTE DO PAI, ASSASSINADO NUMA DESASTROSA ABORDAGEM POLICIAL, SAI EM BUSCA DE RESGATAR O PASSADO DA FAMÍLIA E REFAZER OS CAMINHOS PATERNOS. COM UMA NARRATIVA SENSÍVEL E POR VEZES BRUTAL, JEFERSON TENÓRIO TRAZ À SUPERFÍCIE UM PAÍS MARCADO PELO RACISMO E POR UM SISTEMA EDUCACIONAL FALIDO, E UM DENSO RELATO SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE PAIS E FILHOS. BG   ESSA FOI A CONVERSA COM JEFERSON TENÓRIO SOBRE O LIVRO “O AVESSO DA PELE”.   A GENTE FAZ AGORA UM BREVE INTERVALO E DAQUI A POUCO CONTINUA FALANDO SOBRE “O AVESSO DA PELE”. FIQUE COM A GENTE.

Transcrição AUTORES E LIVROS DE VOLTA! SOU ANDERSON MENDANHA E A GENTE CONTINUA FALANDO SOBRE “O AVESSO DA PELE”.   NO LIVRO, JEFERSON TENÓRIO NOS CONTA A TRAJETÓRIA DE TRÊS PERSONAGENS NEGROS: PEDRO O NARRADOR, HENRIQUE E MARTHA. AO LONGO DA HISTÓRIA VAMOS CONHECER A VIDA DE HENRIQUE, PAI DE PEDRO, QUE FOI MORTO EM UMA AÇÃO POLICIAL.   AO LONGO DA NARRATIVA, PEDRO VAI PREENCHENDO AS LACUNAS DA HISTÓRIA COM SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS E CONSTRUÇÕES E NOS APRESENTA A DURA REALIDADE DE QUEM É NEGRO PARA ENCONTRAR SEU LUGAR, ESTUDAR E TRABALHAR EM UMA GRANDE CIDADE COMO PORTO ALEGRE. ELE NOS MOSTRA TAMBÉM COMO O RACISMO ESTÁ IMPREGNADO EM NOSSA SOCIEDADE E COMO É UMA GRANDE BARREIRA A SER SUPERADA POR TODOS.   MAS COMO O JEFERSON TENÓRIO FALOU NA ENTREVISTA, A HISTÓRIA DE “O AVESSO DA PELE” É MAIS DO QUE O RACISMO. É A HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA DESPEDAÇADA, FRUTO DE UM RELACIONAMENTO DISFUNCIONAL PERMEADO POR CIÚMES E INSEGURANÇAS. É A HISTÓRIA TAMBÉM DE UM FILHO QUE PERDEU O PAI, COM QUEM NUNCA CONVIVEU DE VERDADE.   VAMOS OUVIR UM TRECHINHO DESSE LIVRO, NA VOZ DE JOSEVALDO SOUZA. Enquanto investigo suas coisas, encontro uma foto. Eu, você e minha mãe. É uma imagem comum: estávamos numa praça, não havia data, eu devia ter uns dois anos. Era um dia frio, pois estávamos de touca e cachecol. Você e minha mãe sorriam. Eu não. Desde pequeno me recuso a sorrir sem vontade. E, olhando aquela imagem, me dei conta de que tudo que vocês eram, poderia estar resumido naquela foto; não tudo, mas algo importante.   Naquele dia, você pensou que pudesse voltar a ser feliz com a minha mãe. Chegou a pensar que poderíamos voltar a ser como éramos. Talvez você achasse que seria até aceitável, e menos vergonhoso, deixar minha mãe, mas não abandonar um filho, com tão pouca idade. Isso era pura covardia, você pensou. Não só pensou, como também ouviu do seu terapeuta na época: veja, Henrique, o abandono é algo da maior crueldade que um ser humano pode causar ao outro. Fazer isso com um filho tão pequeno me parece mais cruel ainda. Os danos para quem fica podem durar anos. Por isso, aceite minha sugestão; aguente firme.   Numa vida a dois, alguém sempre segura mais as pontas. Casamento é assim mesmo. Lembre-se que é ao lado de outra pessoa que aprendemos a nos conhecer. Por isso, aguente firme. Compreenda que sua esposa age assim porque teve uma vida difícil. Perdeu os pais muito cedo. Ela tem uma insegurança crônica, mas com o tempo isso passa. Vocês são jovens ainda. Há uma longa estrada pela frente. Tenha um pouco de empatia.   Casamento é isso: um jogo de frescobol, o importante é não deixar a bola cair; se ela te jogar uma bola enviesada, devolva da melhor forma possível, ele completou.   Mas acontece que você não sabia jogar frescobol e também não queria manter bola nenhuma no ar. Você se sentia um fracassado por não conseguir mais amar minha mãe. Um fracassado por não querer mais levar aquilo adiante. Além disso, você não sabia ir embora. A gente tem sempre que descobrir de onde vem a culpa, porque é assim que a gente aprende a partir, você pensaria tempos mais tarde. “O AVESSO DA PELE”, DE JEFERSON TENÓRIO, PUBLICADO PELA COMPANHIA DAS LETRAS TEM 192 PÁGINAS E VOCÊ ENCONTRA COM FACILIDADE NAS LIVRARIAS E SEBOS E TAMBÉM NOS PORTAIS DA INTERNET.   BG   E VAMOS AGORA DE ENCANTOS DE VERSOS, COM A POESIA DE CARLOS NEJAR. OLÁ!. HOJE O ENCANTOS DE VERSOS TRAZ PRA VOCÊ OBRAS DO POETA CARLOS NEJAR.            OP: https://www.youtube.com/watch?v= gL_EgQy4RUo&t=6s&ab_channel=SamyGal%C3%ADPiano   LOC: GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, ONDE NASCEU EM 1939, CARLOS NEJAR É POETA PREMIADO E DONO DE VASTA PRODUÇÃO LITERÁRIA. PROFESSOR, CRÍTICO E FICCIONISTA, É TAMBÉM CONHECIDO COMO O “POETA DO PAMPA BRASILEIRO”. ABRIMOS NOSSA HOMENAGEM COM OS VERSOS DE ASSENTADA: OP: https:// www.youtube.com/watch?v=gL_EgQy4RUo&t=6s&ab_channel=SamyGal%C3%ADPiano  - A CASA É SUA | Casa Worship | Samy Galí | Música Instrumental Cristã - POEMA 1   CHEGA A ESTA CASA SEM PRAZO OU CONTRATO. FAZE DE POUSADA AS SALAS E QUARTOS. OS NOSSOS ARREIOS NINGUÉM OS DESATA COM ÓDIO E RECEIOS.   O TEMPO NÃO SOBE NAS SUAS PAREDES; SECOU COMO UM FRIO NAS BEIRAIS DA SEDE; CALOU-SE NOS MAPAS, NA PLÁCIDA AURORA, NOS PENSOS RETRATOS.   ENTRA NESTA CASA QUE É TUA E DE TODOS, HÁ MUITO DEIXADA ABERTA AOS ASSOMBROS.   ENTRA NESTA CASA TÃO VASTA QUE É O MUNDO, PEQUENA AOS ENGANOS, PERDIDA, ENCONTRADA. OS DIAS, OS ANOS SÃO PALMOS DE NADA.   LOC: EM 2016, FOI LANÇADO UM DOCUMENTÁRIO SOBRE O POETA, ORGANIZADO PELO ESCRITOR WANDER LOURENÇO, INTITULADO “CARLOS NEJAR, O QUIXOTE DOS PAMPAS”. EM 2017, FOI INDICADO AO NOBEL DE LITERATURA, PORÉM NÃO CONQUISTOU O PRÊMIO. OUÇA AGORA O POEMA NOSSA É A MISÉRIA: OP: https://www.youtube.com/watch?v=WB_XQFjO-JM&ab_channel=ValdirVerona-Topic -Sem Fronteira / Milonga Pampeana -   POEMA 2             NOSSA É A MISÉRIA, NOSSA É A INQUIETAÇÃO INCALCULÁVEL, NOSSA É A ÂNISA DE MAR E DE NAUFRÁGIOS, ONDE NOSSAS RAÍZES SE ALIMENTAM.   EM VÃO LUTAMOS CONTRA OS GRANDES SIGNOS. SEREMOS SEMPRE A MESMA FOLHAGEM DE MADRUGADA AUSENTE. O MESMO ACENO IMPERCEPTÍVEL ENTRE A JANELA E O SONHO. A MESMA LÁGRIMA NO MESMO ROSTO VAZIO. A MESMA FRASE DENTRO DOS MESMOS OLHOS SOB A FONTE. SEREMOS SEMPRE A MESMA DOR OCULTA NAS ÁRVORES, NO VENTO. A MESMA HUMILHAÇÃO DIANTEDA VIDA. A MESMA SOLIDÃO DENTRO DA NOITE.   A MESMA NOIT ANTIGA QUE SEPARA A SEMENTE DO FRUTO E AMADURECE OS LÁBIOS PARA A MORTE COMO UM RASTO DE SILÊNCIO NO MAR.   LOC: A POÉTICA DE CARLOS NEJAR É MARCADA PELA RIQUEZA DE VOCABULÁRIO E USO DAS ALITERAÇÕES, QUE TORNAM SEUS VERSOS MUSICAIS. EXEMPLO DISSO ENCONTRAMOS NO TRECHO DO POEMA O VENTO COM SEU CAVALO:                              OP: https://www.youtube.com/watch? v=j7KYa4jT2SI&ab_channel=NandoSant%27anna  - Além do Tempo Instrumental – Ventos - POEMA 3 O VENTO COM SEU CAVALO ROMPE A EPIDERME DO SUSTO RETESANDO OS DUROS MÚSCULOS, AVANÇA COM O SOL AO MEIO.   RASGA O RELINCHO NO VALO E VAI SEGUINDO O ROTEIRO, MADURO DE CAMPOS CLAROS E HORIZONTES ESCUROS.   A TARDE SEGUE O CAVALO E O CASCO DO SOL PERCUTE, BIGORNA DE RUBRO TALO COM SEU FERREIRO DE RUMOS.   BATE AS ESPORAS NO MALHO, AS CRINAS E AS ASAS DUPLAS, ACESAS E RESOLUTAS, DESDOBRAM SOMBRA E CAVALO.   LOC: PRA ENCERRAR, DEIXO VOCÊ NA COMPANHIA DE RENATO TEIXEIRA, INTERPRETANDO CANÇÃO DELE, CAVALO BRAVO:               ESSE FOI O ENCANTOS DE VERSOS, PRODUZIDO E APRESENTADO POR MARLUCI RIBEIRO DEDICADO À CARLOS NEJAR.   BG   E, ASSIM, O AUTORES E LIVROS DE HOJE VAI FICANDO POR AQUI.   SOU ANDERSON MENDANHA E O AUTORES E LIVROS TEVE PRODUÇÃO DE ANA BEATRIZ SANTOS E GABRIELA DE MACÊDO COM TRABALHOS TÉCNICOS DE JOSEVALDO SOUZA E EDUARDO BRITO.   ATÉ A SEMANA QUE VEM. BOA LEITURA!