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Da Redação
Publicado em 20/4/2020

Conexões modernistas e desenvolvimentismo

Fruto de um sonho antigo, Brasília só foi possível graças a uma complexa teia de relações: de movimentos políticos, de exigências econômicas, de anseios sociais, de confluências históricas. Essas demandas também se expressaram por meio de um leque variado de atores, que se ligaram uns aos outros por similitude de pensamento, por visão estratégica e até pela cósmica urgência do novo, que promove encontros, distribui e redistribui as cartas no jogo da vida. Veja no infográfico as principais tendências e personagens que interagiram criativamente para o surgimento de uma cidade inteiramente planejada e voltada a uma nova relação do homem com o espaço urbano, mas dentro da perspectiva de abrigar os Poderes de um país.


Desenvolvimentismo Modernismo Constelações

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Getúlio Vargas
(1882–1954)

Líder da Revolução de 1930, presidente da República em dois períodos (1930–1945 e 1951–1954) e chefe do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), criado em 1945 juntamente com o Partido Social Democrático (PSD), para dar dupla sustentação ao seu projeto político — tronco em torno do qual, e a partir do qual, se desdobram as ramificações do desenvolvimentismo e suas ligações com o modernismo. Em 1953, assinou a Lei 1.803, que autorizava o Poder Executivo a "realizar estudos definitivos sobre a localização da nova Capital da República". O movimento liderado por Getúlio contou com a adesão de Juscelino Kubitschek, que se candidataria a presidente em 1955 pelo PSD.

 A Marcha para o Oeste

A Marcha para o Oeste foi empreendida pelo governo Vargas para incentivar a ocupação e o progresso do Centro-Oeste. O plano previa incentivos à imigração para ocupar o vazio demográfico da região, especialmente em Goiás e Mato Grosso, cuja produção teria como destino os centros industriais. Um de seus principais participantes foi o político Pedro Ludovico, que teria papel fundamental na concretização da transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília, tendo facilitado o trabalho de Juscelino Kubitschek.

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Gustavo Capanema
(1900–1985)

Político ligado à Revolução de 30. Quando ministro da Educação e Saúde de Getúlio Vargas, convidou Lucio Costa e outros jovens arquitetos para projetarem, no Rio, o edifício-sede da pasta, um dos marcos iniciais da arquitetura moderna no Brasil. Trabalharam ainda no projeto Affonso Eduardo Reidy (1909–1964), Carlos Leão, Jorge Moreira (1904–1992), Ernani Vasconcelos (1912–1989) e Oscar Niemeyer (1907–2012), sob a coordenação do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. O paisagista Burle Marx atuou posteriormente nesse projeto.

Capanema teve como chefe de gabinete o poeta Carlos Drummond de Andrade e também recebeu no ministério da Educação a colaboração de Mário de Andrade, Cândido Portinari, Manuel Bandeira, Heitor Villa-Lobos e Rodrigo Melo Franco de Andrade.


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Juscelino Kubitschek
(1900–1985)

Médico e político do PSD, decidiu e comandou a construção de Brasília. Integrante de primeira hora da Revolução de 30, comandada por Getúlio Vargas, foi presidente do Brasil entre 1956 e 1961, governador de Minas Gerais (1951–1955) e prefeito de Belo Horizonte (1940–1945). Também foi deputado e senador, cargo que perdeu pelo arbítrio do regime militar, que o cassou. Teve como marca o dinamismo e a inovação, com o lema "50 anos em 5". Apelidado de “presidente bossa nova”, seu Plano de Metas (30 no total) previa investimentos em estradas, siderúrgicas e hidrelétricas, principalmente. Brasília era a sua “meta-síntese”. Como prefeito, contratou o arquiteto Oscar Niemeyer para projetar o Conjunto da Lagoa da Pampulha (19401944), obra que já continha elementos depois aplicados aos edifícios e monumentos projetados para Brasília. Niemeyer projetou igualmente casa de fim de semana de JK às margens da mesma lagoa. Para celebrar a inauguração da nova capital, entregou a Tom Jobim e Vinícius de Moraes a missão de compor a Sinfonia da Alvorada.


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Israel Pinheiro
(1896–1973)

Político. Filho do também político João Pinheiro, foi deputado a partir de 1946 e apoiou Juscelino ao governo de Minas Gerais e à presidência. Tornou-se presidente da Novacap, a empresa pública criada para construir Brasília, e foi o primeiro prefeito do Distrito Federal.


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Pedro Ludovico
(1891–1979)

Político. Um dos líderes da Revolução de 30 em Goiás, foi nomeado interventor federal no estado (1930–1933) e governador de 1935 a 1937. Notabilizou-se pela mudança da capital da Cidade de Goiás para Goiânia em consonância com a Marcha para o Oeste, política desenvolvida pelo governo Vargas para acelerar o desenvolvimento e incentivar a ocupação do Centro-Oeste brasileiro. Além disso, desapropriou terras para facilitar a construção de Brasília, o que facilitou enormemente o trabalho de Juscelino.


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Darcy Ribeiro
(1922–1997)

Antropólogo, escritor e político, conhecido por sua preocupação com a identidade brasileira, o desenvolvimento e a proteção das classes populares e os direitos dos índios, além de uma pauta voltada à revolução educacional. Foi o idealizador da Universidade de Brasília (UnB) e seu primeiro reitor, com uma proposta de integração de saberes e a união entre teoria e prática. Associou-se ao educador Anísio Teixeira, que havia sido perseguido pelo Estado Novo de Vargas. Darcy foi ministro da Educação e ministro-chefe da Casa Civil durante o Regime Parlamentarista (1961–1963) do presidente João Goulart (1919–1976), herdeiro político de Vargas. Até o golpe militar de 1964, a UnB viveu um período de intensa atividade no campo da arquitetura voltada a projetos de cunho popular, com desenvolvimento de tecnologias de construção civil baratas e de grande praticidade, a cargo do arquiteto João Filgueiras Lima.


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Sarah Kubitschek
(1908–1996)

Filantropa. Foi a primeira-dama do Brasil de 1956 a 1961, como esposa de JK. Mulher de forte temperamento, paciência e tenacidade, forneceu apoio decisivo ao marido na tarefa de construir Brasília, emprestando sua imagem e presença ao trabalho de erguer a cidade e ao fortalecimento da ideia de que a nova capital era necessária. Como presidente da Fundação das Pioneiras Sociais, fez um amplo trabalho de proteção, assistência social e benemerência. A entidade encampou a criação de um centro de recuperação de traumatizados, que acabou ganhando seu nome e evoluindo para uma rede que é hoje referência mundial em recuperação neuromotora.


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Marechal José Pessoa
(1885–1959)

Militar brasileiro. Nacionalista, grande conhecedor de logística e geopolítica, estudou com afinco as questões relacionadas à construção de uma nova capital do Brasil no interior, que considerava “a retomada da Marcha para o Oeste”. Em 1954, aos 69 anos, é nomeado pelo presidente Café Filho para presidir a Comissão de Localização da Nova Capital Federal. Em 1955, a comissão anuncia o local (com base em estudos realizados desde o século 19, principalmente aqueles a cargo da Missão Cruls), que acabou sendo a escolha definitiva adotada em 1956 por JK. Pessoa constituiu também uma subcomissão de planejamento urbanístico que, mesmo tendo objetivos próprios, deixou um importantíssimo legado em termos de prospecção geotécnica e de planejamento para as equipes que viriam a assumir a construção de Brasília. O projeto da nova capital, batizado por Pessoa de “Cidade de Vera Cruz”, contém um delineamento do que seria o Plano Piloto, com dois eixos (um deles seria uma “avenida monumental”) cruzando-se e o futuro Lago Paranoá. É inclusive mencionado nesse projeto a criação de “cidades-satélites” e áreas residenciais em “quadras ao abrigo do tráfego intensivo, reservando-se espaços livres para escolas, jardins, recreação e pequeno comércio”. Vera Cruz seria uma cidade voltada para as atividades administrativas, políticas e cívicas, nos mesmos moldes estabelecidos por Lucio Costa. Pessoa sugeriu ao então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, a ligação ferroviária com o Planalto Central como fundamental para apoiar e impulsionar o erguimento da nova capital. Ao saber que Le Corbusier se voluntariara para planejar a nova capital, foi contra, por entender que o Brasil tinha talentos suficientes na área de arquitetura e engenharia para dar conta do projeto. 


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Bernardo Sayão
(1901–1959)

Engenheiro e político. Seus principais feitos estão ligados ao desenvolvimento da região central do Brasil. Teve vários epítetos, como Gigante do Oeste e Bandeirante Moderno. Fundou a Colônia Agrícola Nacional de Goiás, na Marcha para o Oeste, que deu origem à cidade de Ceres. Em 1954, foi eleito vice-governador de Goiás. Em setembro de 1956, tornou-se um dos diretores da Novacap e uma das figuras que contribuíram com seu carisma, credibilidade e liderança para o esforço necessário às primeiras obras em Brasília. Em 1958, Juscelino Kubitschek encarrega Bernardo Sayão da construção do trecho norte da Transbrasiliana (a Belém-Brasília). No início de janeiro de 1959, durante os trabalhos de abertura da mata, uma árvore derrubada de forma incorreta atingiu o barracão em que se encontrava Sayão, que morreu no mesmo dia. 


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Ernesto Silva
(1914–2010)

Médico e militar. Originalmente ligado a José Pessoa, foi mais tarde nomeado secretário da Comissão de Localização da Nova Capital do Brasil (1953–1955), presidente da Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal (1956), diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital, a Novacap, (1956–1961); e conselheiro da Fundação Educacional e da Fundação Hospitalar do DF (1960–1961). Assinou o edital do Concurso do Plano Piloto, em 1956, e até o fim da vida defendeu ardorosamente o conceito do plano urbanístico de Brasília, o que o levou a combater medidas como aumento do gabarito de prédios e acréscimos em áreas de empreendimentos comerciais. Organizou a construção do Hospital Distrital (atual Hospital de Base). É atribuída a ele a pressão para que Lucio Costa incluísse no projeto do Plano Piloto as escolas-parque no modelo proposto pelo educador Anísio Teixeira.


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Carlos Lacerda
(1914–1977)

O grande opositor ao projeto de Brasília foi o jornalista e político Carlos Lacerda (UDN), de linha liberal. Mas ele também não ficou imune à febre modernista, guiado pela arquiteta-paisagista e urbanista autodidata Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, a Lotta, que idealizou o Parque do Flamengo e, no início dos anos 60, convenceu Lacerda (então governador do estado da Guanabara) a construí-lo, com projetos de Affonso Eduardo Reidy.


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Le Corbusier
(1887–1965)

Arquiteto, urbanista, escultor, escritor e pintor, Charles-Edouard Jeanneret-Gris era de origem suíça, naturalizado francês. O grande expoente da arquitetura moderna em todo o mundo é o pai intelectual dos modernistas brasileiros. Cultivava a síntese e o humanismo. A formação moral de Le Corbusier, que tinha origem calvinista, acentuou nele um contraste filosófico entre bem e mal, resultando em uma arquitetura que permite o diálogo entre o sólido e o vazio, a luz e a sombra, conforme estudiosos. Teve como influência marcante o Mosteiro de Galluzzo, cuja organização do espaço, silêncio e solidão — conjugados ao contato diário, mas regrado, entre os indivíduos — acabou inspirando nele uma relação com o socialismo utópico.

Visitou o Brasil em:

1929

A convite, e com o financiamento, do investidor e mecenas modernista Paulo Prado e o apoio do poeta e também modernista Blaise Cendrars. Em carta a Prado, anterior à visita, Le Corbusier diz que “os sonhos da ‘Planaltina’”, um projeto para a nova capital do Brasil, ainda estavam em sua cabeça. Nessa viagem, ele visitou a casa Moderna de Warchavchik.

1936

Convidado por Lucio Costa para supervisionar o projeto do Ministério da Educação. Projetou na ocasião um complexo para a Universidade do Brasil (atual UFRJ) e passou a influenciar decisivamente o futuro autor do Plano Piloto.

1962

Conheceu Brasília e se encantou.

1955

Escreveu ao general José Pessoa, que o contratara como consultor, para discutir sua proposta de projeto para Brasília. Na carta mencionou o termo “Plan Pilote”

 Os cinco pontos da arquitetura de Le Corbusier

Planta livre: estruturas independentes permitem a livre localização das paredes, que perdem a função estrutural.

Fachada livre: dispensada da função estrutural, a fachada pode ser projetada com liberdade

Pilotis: pilares que elevam o prédio do chão, desimpedindo o trânsito no térreo do edifício.

Terraço-jardim: o solo ocupado pelo prédio é recuperado e transferido para o teto, aproveitado na forma de jardim.

Janelas horizontais: um ganho adicional da fachada livre, propicia uma relação direta com a paisagem.

“Efetivamente os sonhos da 'Planaltina' ainda estão em minha cabeça: eu gostaria de produzir em seus novos países alguns dos grandes projetos que são o meu principal interesse aqui. (…) Eu gostaria de falar sobre essas questões na América do Sul, já que acredito que aí as grandes correntes do futuro serão melhor apreciadas do que aqui, onde o velho é verdadeiramente muito velho.”
Lembrança de Le Corbusier, de Pietro Maria Bardi

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Walter Gropius
(1883–1969)

Fundador da Bauhaus (Casa de Construção), célebre escola de arquitetura moderna alemã, que tinha proposta e método de ensino revolucionários. Integrava uma escola de arquitetura, uma escola de arte, uma escola de design, uma escola de artesanato, uma escola de teatro. Gropius também exerceu influência sobre o modernismo brasileiro. Com Le Corbusier e Ludwig Mies van der Rohe, estudou no estúdio de Peter Behrens (arquiteto alemão fundador do desenho industrial e do racionalismo produtivo, defensor da harmonia entre forma e função e precursor do modernismo). 

Racionalismo arquitetônico

Europa, início do século 20. Vínculo estreito com os princípios estéticos do cubismo. Principal experiência: Bauhaus (1919–1933). Construtivismo, com economia na utilização do solo e na construção; atenção às peculiaridades dos diferentes materiais; forma artística derivada de um “problema” previamente definido — correspondência entre forma e função; busca permanente de novas tecnologias e materiais, inclusive pré-fabricados; uso sistemático de formas elementares na composição arquitetônica, cujos objetivos são simetria, equilíbrio e regularidade do conjunto; geometrização das formas e predomínio de linhas retas; estruturas aparentes, coberturas planas; despojamento da ornamentação; grandes superfícies envidraçadas; preocupação com o espaço interno do edifício. No contexto da Bauhaus, também estavam a preocupação em combinar teoria e prática, artesanato e indústria e em conseguir a replicação de modelos e soluções arquitetônicas, além da preferência pela criação coletiva em detrimento das soluções autorais.

 Reflexos da Bauhaus no Brasil

1º Salão de Arquitetura Tropical (1933), no Rio de Janeiro. Catálogo com texto de Gropius

Debates sobre arquitetura popular na revista Arquitetura e Urbanismo (década de 30)

Remodelação urbana empreendida no Recife por Luiz Nunes (1909-1937), à frente da Diretoria de Arquitetura e Urbanismo (1930)

Projetos do Instituto de Arte Contemporânea (IAC) do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) (1951) e o da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), do Rio de Janeiro (1963

Construtivismo

Orientação revolucionária socialista. Arte a serviço das necessidades concretas para a população. Preocupação com o aspecto funcional.

Conflito político

Acusada de bolchevismo, a Bauhaus e seus dirigentes foram perseguidos pelo nazismo.


“A arquitetura moderna, desde seu início com o racionalismo radical do vienense Adolf Loos ('o ornamento é um delito'), passando pela Bauhaus e por Le Corbusier, voltava-se contra a história — entendida como continuidade da tradição. Os símbolos do passado, a fantasia barroca do decorativismo, deveriam sumir da construção. O espaço moderno era universalista, racionalista e funcionalista. Suas formas, seus materiais e a agilidade da construção serviriam para antecipar a sociabilidade que viria com a revolução (primeiro burguesa e depois socialista).”
Francisco Alambert, para o jornal Folha de S.Paulo

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Ludwig Mies van der Rohe
(1886–1969)

Professor e, a convite de Walter Gropius, último diretor da Bauhaus, a escola revolucionária de arquitetura e construção alemã. Seu lema: Menos é mais”


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Gregori Warchavchik
(1896–1972)

Russo naturalizado brasileiro. Arquiteto responsável pelo primeiro projeto de um edifício moderno no Brasil, a Casa Modernista (1927–1928), sua residência na rua Santa Cruz, na Vila Mariana, em São Paulo. O trabalho de Warchavchik foi reconhecido por Le Corbusier em sua passagem pelo Brasil, em 1929, quando visitou outro de seus projetos, a Casa da Rua Itápolis, ainda em construção. No mesmo ano, ao tomar contato com a linha de Warchavchik, Lucio Costa converteu-se ao modernismo, abandonando o estilo neocolonial nacionalista eventualmente mesclado a um ecletismo internacional. Em 1931, Warchavchik foi convidado por Costa a integrar o corpo docente na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), na disciplina arquitetura moderna. No ano seguinte, os dois se associaram em uma empresa de construção civil, que funcionaria até 1933. 


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Lucio Costa
(1902–1998)

Arquiteto, urbanista, estudioso e teórico da arquitetura e de conservação do patrimônio, é o autor do Plano Piloto de Brasília, obra que divide com Oscar Niemeyer, autor dos principais edifícios públicos e palácios da capital. Formou-se em 1924 na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro. Entre 1922 e 1929, trabalhou preponderantemente no estilo neocolonial, de caráter nacionalista, e eventualmente adotou preceitos ecléticos internacionais. Por meio da revista Paratodos, conheceu a Casa Modernista, de Gregori Warchavchik. Rompeu então com o academicismo e o estilo neo-clássico. Após a Revolução de 1930, foi nomeado diretor da Enba, por Rodrigo Melo Franco de Andrade, e se converteu em definitivo ao modernismo. Organizou o importante Salão Revolucionário de 1931, que contou com a participação de artistas como Guignard (1986–1962), Candido Portinari (1903–1962), Di Cavalcanti (1897–1976), Anita Malfatti (1889–1964) e Tarsila do Amaral (1886–1973). Teve papel fundamental na divulgação e legitimação do movimento iniciado em São Paulo com a Semana de 1922. De 1932 até 1936, estudou intensamente os trabalhos dos expoentes da arquitetura moderna. Publicou o manifesto Razões da Nova Arquitetura, no qual se afirma: o modernismo é inevitável do ponto de vista histórico.

 Marco inaugural do modernismo

Em 1936, o então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, convidou Lucio Costa para projetar uma nova sede para a pasta. Le Corbusier foi chamado por Costa a supervisionar o trabalho, dividido com cinco jovens arquitetos: Oscar Niemeyer (1907–2012), Affonso Eduardo Reidy (1909–1964), Carlos Leão, Jorge Moreira (1904–1992) e Ernani Vasconcelos (1912–1989). O prédio, no Rio, é considerado o marco inicial da arquitetura moderna no Brasil e seria o primeiro arranha-céu, em termos mundiais, a atender aos cinco pontos da arquitetura moderna preconizados por Le Corbusier.

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Oscar Niemeyer
(1907–2012)

Arquiteto e urbanista. Formou-se em arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro, em 1934, e trabalhou de graça como estagiário no escritório de Lucio Costa. Por ocasião do projeto do Ministério da Educação, acompanhou Le Corbusier e o auxiliou como desenhista. Com seus colegas, sugeriu alterações no projeto de Le Corbusier efetivamente adotadas na construção do prédio. Niemeyer adotou o preceito do mestre franco-suíço de que “arquitetura é invenção”. O Conjunto Arquitetônico da Pampulha é um ponto crucial em sua obra, por romper o rigor e austeridade do racionalismo e do funcionalismo, ao inovar nas formas e introduzir superfícies curvas, avançando no aproveitamento do concreto armado do ponto de vista plástico e unindo arquitetura e arte. Em 1945, se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Juntamente com Le Corbusier, definiu em 1947 o projeto da sede das Nações Unidas, em Nova York. Em 1956, iniciou sua participação na epopeia da construção de Brasília como diretor de Arquitetura e Urbanismo da Novacap e membro do júri que elegeu vencedor o Plano Piloto de Lucio Costa. Em 1958, foi nomeado arquiteto-chefe do projeto e se tornou responsável pelas principais obras da cidade, mesmo muitos anos depois da inauguração: os edifícios dos Três Poderes, dos ministérios, da Catedral, da Universidade de Brasília, da Igrejinha de Fátima, do Teatro Nacional, do Museu da República, da Biblioteca Nacional, do Cine Brasília e do QG do Exército. Entre as várias características louvadas nessas obras, está a leveza dos elementos que parecem apenas tocar o chão, como os arcos dos Palácios da Alvorada e do Planalto.

 Antropofagia

O projeto realizado para o edifício do Ministério da Educação e Saúde reflete a tentativa do grupo brasileiro de incorporar os preceitos racionais da arquitetura corbusiana: a adoção de formas simples e geométricas, o térreo com pilotis, os terraços-jardins, a fachada envidraçada, as aberturas horizontais, a integração dos espaços interno e externo, o aproveitamento de ventilação e luz naturais por meio do uso de lâminas móveis e o trabalho com volumes puros, a partir do cruzamento de um corpo horizontal e de um vertical. As modificações feitas pelo grupo de Lucio Costa dão origem a um resultado novo, fruto da combinação entre o léxico do racionalismo arquitetônico internacional e as experiências até então realizadas pela escola carioca. Dentre as soluções novas formuladas pelo grupo local, lembra o historiador Yves Bruand, estão o dinamismo e a leveza do conjunto, além da forte integração entre arquitetura, paisagismo e artes plásticas.

Enciclopédia Itaú Cultural

 Composição do Júri do concurso para a construção de Brasília

Israel Pinheiro, presidente da Novacap, presidiu também o Júri, sem direito a voto

Oscar Niemeyer, representante da Novacap, da qual era Diretor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Luiz Hildebrando Horta Barbosa, representante do Clube de Engenharia

Paulo Antunes Ribeiro, representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB)

Willian Holford, urbanista inglês

Stamo Papadaki, arquiteto americano

André Sive, urbanista de origem húngara, atuando na França

Tributo

“[Sou] devedor de sua orientação arquitetônica, de suas relações com a técnica e a tradição brasileiras e, principalmente, do exemplo de correção e ideal que oferece a todos que dele se acercam.”
Niemeyer sobre Lucio Costa

Autodefinições

“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida.”
Oscar Niemeyer
“Quando uma forma cria beleza tem na beleza sua própria justificativa.”
Oscar Niemeyer

Polêmica

Em 1953, Walter Gropius, fundador da Bauhaus, esteve no Brasil como jurado do Prêmio de Arquitetura da 2º Bienal de São Paulo. Ao visitar a Casa das Canoas, em São Conrado, no Rio de Janeiro, residência de Niemeyer encravada numa rocha e adaptada ao seus desníveis e à vegetação, disse, segundo o testemunho do arquiteto brasileiro: “Sua casa é bonita, mas não é multiplicável”. Niemeyer obviamente não gostou. Para ele, a Bauhaus era um ambiente de “mediocridade”.


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Burle Marx
(1909–1994)

Paisagista, arquiteto, desenhista, pintor, gravador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, designer de joias, decorador. É o responsável pelos mais importantes projetos de paisagismo de Brasília, entre os quais o exuberante jardim do Palácio do Itamaraty, o renque de palmeiras imperiais do Congresso Nacional e os canteiros do Eixo Monumental. Entre 1928 e 1930, morou na Alemanha, onde estudou canto e se integrou à vida cultural da cidade, tomando contato com a obra de pintores como Pablo Picasso e Paul Klee, fundamentais para a gênese do modernismo. Teve aulas de pintura, e nos jardins e museus botânicos de Dahlen, em Berlim, encontrou exemplares da flora brasileira. Estudou pintura e arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro, entre 1930 e 1934.  Em 1932, realizou seu primeiro projeto de paisagismo a convite de Lucio Costa e Gregori Warchavchik. Voltou a trabalhar com Costa no projeto do Ministério da Educação e se associou a Niemeyer no conjunto da Pampulha. Sua carreira é marcada por um paisagismo que valoriza a pesquisa de espécies em todos os biomas, inclusive o Cerrrado e a Caatinga, e sem regras muito rígidas quanto aos formatos, dependendo da fase. Valorizou tanto a geometria quanto as formas livres, de linhas sinuosas. Entre seus projetos mais importantes, está o do Aterro do Flamengo, no Rio. 


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Joaquim Cardoso
(1897–1978)

Poeta, dramaturgo, jornalista, caricaturista, chargista, engenheiro e calculista. Responsável pelo cálculo estrutural das principais obras da área monumental de Brasília. A princípio, atuou no campo literário em Recife, tomando inspiração nas fontes populares da cultura nordestina, mas agregando elementos estéticos estrangeiros e de áreas como a filosofia e as ciências exatas. Era dono de memória prodigiosa. Em 1915, iniciou seus estudos na então Escola Livre de Engenharia de Pernambuco (atual Escola de Engenharia de Pernambuco). Devido a problemas de ordem financeira e pessoal, só concluiu o curso em 1930, mas ali deu aulas até 1939. Participou da remodelação urbana empreendida por Luiz Nunes no Recife, à frente da Diretoria de Arquitetura e Urbanismo, obra que teria sido influenciada pelos postulados da Bauhaus. Durante o Estado Novo, em razão de críticas a procedimentos governamentais no campo da arquitetura e da engenharia, foi preso, afastado da sala de aula e demitido do cargo na Secretaria Estadual de Viação e Obras Públicas. Mudou-se para o Rio de Janeiro e ganhou projeção como poeta e engenheiro calculista, especialmente ao iniciar parceria com Oscar Niemeyer. Trabalhou no projeto da Pampulha. Em Brasília, encontrou soluções estruturais complexas para dar sustentação às inovadoras formas arquitetônicas de Niemeyer, principalmente às do Palácio do Congresso Nacional.

Niemeyer desenhava (mal) as coisas mais impossíveis. Cardozo calculava e tornava o absurdo possível. Graças a ele, o concreto, pesado, flutua no ar sobre o território da cidade. (Cassio Loretti Werneck)


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Athos Bulcão
(1918–2008)

Pintor e escultor. Nasceu no Rio de Janeiro. Em 1939, abandonou o curso de medicina para dedicar-se à pintura. Em 1945, trabalhou como assistente de Candido Portinari (1903–1962) na construção do painel de São Francisco de Assis, na Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Entre 1948 e 1949, viveu em Paris com bolsa de estudos concedida pelo governo francês. Ali estudou desenho. De volta ao Rio de Janeiro, ingressou no Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e ilustrou catálogos e livros. Entre 1952 e 1958, dedicou-se a fotomontagens. Em 1957, se vinculou à Novacap e colaborou em projetos do arquiteto Oscar Niemeyer: os famosos painéis de azulejos e vitrais para a Igreja Nossa Senhora de Fátima e para o Palácio do Itamaraty. Criou também painéis em azulejo para o Palácio do Congresso Nacional e os volumes geométricos que cobrem as paredes laterais do Teatro Nacional, além de inúmeras outras obras na cidade em que acabou se fixando, como relevos e elementos arquitetônicos para a rede de hospitais Sara Kubistchek, projetada por João Filgueiras Lima.


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João Filgueiras Lima, o Lelé
(1932–2014)

Arquiteto, urbanista e construtor. Formou-se em 1955 na Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro. Em 1957, foi incumbido de acompanhar a construção dos alojamentos de operários em Brasília. Na futura capital, passou a pesquisar componentes industriais para obras em grande escala e com prazos apertados, o que o levou a viajar a países do bloco socialista europeu, de onde trouxe tecnologia que aplicou a partir de 1962 no Centro de Planejamento (Ceplan), da UnB, a convite de Darcy Ribeiro. Com o golpe militar de 1964, o Ceplan foi desativado. Entre seus projetos autorais, estão as sedes de revendedoras de automóveis como a Disbrave e a Planalto, todos em Brasília, nos quais usou sistemas pré-fabricados de construção em série, um dos elementos  mais marcantes de sua carreira. Em 1979, montou fábricas de pré-moldados para a prefeitura de Salvador. A partir de pesquisas e inovações no campo do concreto e da argamassa armada, montou também “fábricas” de escolas e equipamentos comunitários (bancos, pontos de ônibus). Notabilizou-se pelas "fábricas de hospitais" voltadas à construção da rede Sarah Kubitschek de tratamento de doenças do aparelho locomotor, para a qual também desenvolveu objetos hospitalares e sistemas de ventilação e iluminação natural para otimizar a cura dos pacientes. O interesse aos aspectos da pré-fabricação, industrialização não o impediram de recorrer à forma livre e sinuosa, provável influência de Niemeyer. A dimensão autoral, por sua vez, não o afastou da abordagem coletiva em arquitetura, já que priorizou programas de grande alcance social tocados pelo poder público. Um deles, o dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) do Rio de Janeiro,  em colaboração com Niemeyer, e a convite de Darcy Ribeiro, quando secretário de Educação do governo de Leonel Brizola (PDT), herdeiro político do trabalhismo getulista. Em escala federal, esse projeto se converteu nos Centros Integrados de Apoio à Criança (Ciacs).

Viés

Alguns estudiosos veem a semelhança entre os métodos de trabalho de Lelé e o ideário da escola Bauhaus, mas não apontam uma vinculação doutrinária direta entre o arquiteto brasileiro e a escola alemã.


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Marianne Peretti
(1927)

Artista plástica franco-brasileira. Única mulher na equipe de Oscar Niemeyer durante a construção da nova capital. É famosa pelos projetos dos vitrais da Catedral, da capela do Palácio do Jaburu (Vice-Presidência da República) e da sala tumular de Juscelino Kubitschek no Memorial JK, além dos painéis do Salão Branco do Congresso Nacional (Alumbramento), do Salão Verde da Câmara dos Deputados (Araguaia), do Panteão da Pátria Tancredo Neves e da fachada do Superior Tribunal de Justiça (STJ).


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Milton Ramos
(1929–2008)

Arquiteto. Fundamental na execução de várias obras de Niemeyer, tem como projetos próprios em Brasília o Iate Clube de Brasília, o Oratório do Soldado e o Instituto Histórico e Geográfico do DF.


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Nauro Jorge Esteves 
(1923–2007)

Arquiteto. Trabalhou na Novacap entre 1956 e 1969 na avaliação e aprovação de projetos, no estabelecimento de normas de construção, na definição e numeração das quadras e no arruamento e ajardinamento de superquadras. “Nada que se referisse a urbanismo ou arquitetura deixou de passar pela minha mão”, disse Nauro Esteves em depoimento ao Programa de História Oral do Arquivo Público do Distrito Federal. Foi um defensor do Plano Piloto de Lucio Costa, mas criou seus próprios projetos, entre os quais: Palácio do Buriti, Hotel Nacional, Conjunto Nacional, Superior Tribunal Militar, Cine Karim, Edifício Casa de São Paulo e Galeria Nova Ouvidor.


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Sérgio Bernardes
(1919–2002)

Arquiteto. Assinou os projetos do Centro de Convenções Ulysses Guimarães e do mastro da Bandeira Nacional na Praça dos Três Poderes.


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Carlos Alberto Naves

Projetou o Santuário Dom Bosco em coautoria com Cláudio Naves e Richard Lima. Os vitrais são de Claudio Naves e foram fabricados pelo artista belga Hubert Van Doorne.


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Lotta
Maria Carlota Costallat de Macedo Soares
(1910–1967)

Arquiteta-paisagista e urbanista autodidata. Idealizou o Parque do Flamengo e, no início dos anos 60, convenceu o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, a construí-lo. Os projetos de urbanismo e arquitetura são de autoria do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909–1964), do Departamento de Urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro, que também projetou o edifício do Museu de Arte Moderna (MAM), erguido no parque. O projeto paisagístico é de autoria de Burle Marx.


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Max Bill
(1908–1994)

Designer gráfico, designer de produto, arquiteto, pintor, escultor, professor e teórico do design. Concretista e aluno da Bauhaus. Suíço, teve uma relação conflituosa com a arquitetura moderna brasileira. O tom ácido de suas críticas levou a reações, inclusive da parte de Lucio Costa. Para Max Bill, com exceção do projeto habitacional Conjunto do Pedregulho, de Affonso Eduardo Reidy, no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, os modernos haviam sucumbido aos excessos da expressão individual, deixando de lado compromissos sociais mais amplos e profundos, ao privilegiarem a forma em detrimento da função. As declarações de Bill, vencedor da Bienal de Arte de São Paulo em 1951, no entanto, foram levadas em consideração por algumas correntes do pensamento arquitetônico e urbanístico brasileiro. 


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Os modernistas de 1922

O estabelecimento de uma arquitetura brasileira em novas bases também estava na pauta do movimento que propôs o rompimento com os ideais estéticos do século 19 em campos como a literatura e as artes plásticas. Os eventos da Semana de 22 seriam "a perfeita demonstração do que há em nosso meio em escultura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual", anunciava o Correio Paulistano, órgão do partido governista paulista, em 29 de janeiro de 1922. Cubismo e futurismo, por exemplo, faziam parte das experiências de brasileiros em contato com as vanguardas europeias, por meio de figuras como a pintora Anita Malfatti. Mas os dois expoentes máximos do movimento polemizaram de maneira estridente sobre o papel da arquitetura moderna. De um modo genérico, Oswald de Andrade considerava os modelos mais racionais (“futuristas”) de arquitetura importada como fundamentais ao processo de “deixar para trás a velharia ornamentada”. Mário de Andrade, mesmo vendo mérito nas inovações, criticava o excesso de racionalismo e a ausência nas novas construções de uma identidade verdadeiramente nacional e de vínculos com a tradição e com a arte.


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Villa-Lobos
(1887–1959)

Compositor, regente e violoncelista. Participou da Semana de 22, o que contribuiu, ao lado de suas experiências pessoais e o contato com artistas europeus, para impulsionar a incorporação de ingredientes populares e regionais ao seu trabalho erudito. Colaborou com o governo de Getúlio Vargas, por meio de um programa de educação musical baseado no canto orfeônico, que reuniu multidões de crianças e adolescentes em eventos cívico-musicais.  


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Hans-Joachim Koellreuter
(1915–2005)

Músico. Professor e pesquisador de origem alemã naturalizado brasileiro, mudou-se para o país em 1937, refugiando-se do nazismo, e se tornou um dos nomes mais influentes na vida musical no país, ancorado na música moderna. Mesclou tecnologia eletrônica, serialismo e a harmonia acústica às influências da música brasileira, criando um estilo de próprio de composição. No Rio de Janeiro, fez amizade com Heitor Villa-Lobos e Mário de Andrade. Teve entre seus alunos dezenas de grandes músicos e compositores populares, incluindo Tom Jobim, Cláudio Santoro, Guerra Peixe, Eunice Katunda e Caetano Veloso. Santoro, Guerra Peixe e Katunda depois romperam com o mestre. Seus lemas foram: não há valores absolutos, só relativos; não há coisa errada em arte; o importante é inventar o novo; não acredite em nada que o professor disser, em nada que você ler e em nada que você pensar; pergunte sempre o porquê.


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Tom Jobim
(1927–1994)

Compositor, pianista, arranjador, cantor e violonista. Teve suas primeiras aulas de piano com o compositor alemão Hans Joachim Koellreutter, que lecionou no Colégio Brasileiro de Almeida, propriedade de sua mãe, dona Nilza Jobim. Ao lado de João Gilberto, foi um dos expoentes da Bossa Nova. Em 1956, tornou-se parceiro do poeta Vinicius de Moraes (1913–1980), com o qual compôs a Sinfonia da Alvorada, a convite de Juscelino Kubitschek, para a inauguração de Brasília.

Marca

Embora conhecido apreciador de serestas e músicas folclóricas, Juscelino foi apelidado de "presidente bossa nova", em razão da marca de modernização que encarnava.

 Dissonância

A bossa nova surge no auge do desenvolvimentismo e reafirma o ideal modernizante dos anos 50, que inclui não apenas música, mas todo um estilo de vida. Tanto as melodias quanto as harmonias e letras das canções da bossa nova se apresentam despojadas dos adornos e da dramaticidade que caracterizavam gêneros dominantes na fase anterior: uma abordagem mais racional das questões amorosas transparece em versos que rejeitam a “dor de cotovelo” e apontam para uma maior autonomia do indivíduo. As frases melódicas são de um feitio livre, incorporando sem problemas as linhas retas (repetição ou pouca variedade de notas), o que é reforçado pelo canto intimista, reverso da grandiloquência tradicional. Ousados intervalos de notas e a similitude entre o que se diz na letra e o que se canta podem lembrar os vãos livres e a relação entre forma e função da arquitetura moderna. A dissonância da harmonia, com a incorporação aos acordes de notas mais distantes na escala, ou mesmo fora do campo harmônico, completam esse quadro de estranheza que chocou muita gente à época, e que, em certa medida, ainda encontra resistências.

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Carlos Drummond de Andrade
(1902–1987)

Farmacêutico de formação, poeta, cronista, contista, ensaísta e tradutor. Em 1925, começou a militar na literatura modernista, mas só publicaria seu primeiro livro (Alguma Poesia) em 1930, sob as bênçãos de Mário de Andrade. A obra contém o ainda hoje polêmico poema No meio do caminho. Naquele ano, foi nomeado oficial de gabinete do secretário do Interior de Minas Gerais, Gustavo Capanema. Em 1934, assumiu a chefia de gabinete de Capanema no Ministério da Educação e Saúde Pública e acompanhou o projeto arquitetônico modernista da sede do MES. Foi com a ajuda de Drummond, que Capanema foi convencido a trazer Le Corbusier para orientar o projeto da nova sede do ministério, que se tornaria um dos primeiros, senão o primeiro, marco da arquitetura moderna brasileira.


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Lina Bo Bardi
(1914–1992)

Arquiteta ítalo-brasileira. Casada com Pietro Maria Bardi, museólogo, historiador e marchand, organizador e diretor do Museu de Arte de São Paulo por 30 anos. Formada pela Faculdade de Arquitetura de Roma. Ao chegar ao Brasil, travou relações com Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Rocha Miranda, Athos Bulcão, Burle Marx, entre outros. É detentora de uma vasta obra, sendo a sede do Masp uma das de maior visibilidade. Criou também a Casa de Vidro, marco da arquitetura de São Paulo, e o Sesc Pompeia, na capital paulista, um dos mais icônicos centros culturais do Brasil. Trabalhou também em projetos de arquitetura em parceira com João Filgueiras Lima, na Bahia. 


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Bruno Giorgi
(1905–1993)

Escultor. A partir do final dos anos 1930, estreou a convivência com modernistas como Mário de Andrade. Em 1943, mudou-se para o Rio de Janeiro, a convite do ministro da Educação Gustavo Capanema. Entre outros trabalhos, fez o Monumento à Juventude Brasileira (1947), instalado na sede modernista do MES, atual Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Para Brasília, produziu Os Guerreiros (popularmente conhecida como Candangos, de 1960, instalada na Praça dos Três Poderes), e Meteoro (1967), afixada no lago do edifício do Ministério das Relações Exteriores (Palácio do Itamaraty).


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Alfredo Ceschiatti
(1918–1989)

Escultor, desenhista, professor. Egresso da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), foi companheiro de Bruno Giorgi e José Pedrosa no ateliê da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Em 1944, criou o baixo-relevo da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, por encomenda de Oscar Niemeyer. No começo da década de 1960, deu aulas de escultura e desenho na Universidade de Brasília (UnB). É o responsável pelas esculturas Justiça, no Supremo Tribunal Federal (STF); As Iaras, no Palácio da Alvorada; e Os Anjos e Os Evangelistas, na Catedral.


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José Alves Pedrosa
(1915–2002)

Escultor e desenhista. Também um filho da Escola Nacional de Belas Artes (Enba). A pedido de Oscar Niemeyer, criou Pampulha, a escultura em bronze para o jardim do Cassino de Belo Horizonte, atual Museu de Arte da Pampulha (MAP). Sua escultura Cabeça de Juscelino Kubitschek, em pedra-sabão, decora o Museu Histórico de Brasília, na Praça dos Três Poderes.


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Alfredo Volpi
(1896–1988)

Pintor. Responsável pelos afrescos nas paredes da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima (na quadra 307/308 Sul) e do Palácio do Itamaraty (painel da profecia de Dom Bosco).


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Nicolas Behr
(1958)

Poeta, ativista ambiental e viveirista. Em Brasília, desde 1974. Associado à chamada Geração Mimeógrafo e à Poesia Marginal, constitui-se como uma manifestação contemporânea do modernismo. Notabiliza-se pela produção de poemas curtos, em verso livre, por meio dos quais converte sua poesia em palco de celebração irônica e humorística da modernidade arquitetônica, que extravasa para o comportamento social e o mundo emocional. Em 1977, lançou Iogurte com Farinha — impresso em mimeógrafo —, do qual vendeu cerca de 8 mil cópias de mão em mão nos bares e outros locais públicos da capital federal. Em agosto de 1978, após ter escrito Grande Circular, Caroço de Goiaba e Chá com Porrada, foi preso e processado pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do governo militar por "porte de material pornográfico". Foi julgado e absolvido no ano seguinte. Recebeu o apoio de Carlos Drummond de Andrade em artigo no Jornal do Brasil. Em 1993, publicou Porque Construí Braxília, cujo título parodia o do célebre livro de memórias de Juscelino Kubitschek.



Reportagem: Nelson Oliveira
Pauta, coordenação e edição: Nelson Oliveira
Coordenação e edição de multimídia: Bernardo Ururahy
Infografia e arte: Claudio Portella
Edição fotográfica: Pillar Pedreira