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De Tiradentes a Chico Mendes, quem são os patronos do Brasil

Da Agência Senado
Publicado em 20/1/2023

Tiradentes, Aleijadinho, Machado de Assis, Santos Dumont, Paulo Freire, Oscar Niemeyer e Chico Mendes. Além de serem personalidades conhecidas — e de grande destaque na história do Brasil — todos têm um título em comum: o de patrono brasileiro.

O educador e filósofo pernambucano Paulo Freire (1921-1997), por exemplo, passou a ser reconhecido como patrono da educação brasileira em 2012. Um dos mais renomados teóricos da educação do século 20, Freire dedicou grande parte da sua vida à alfabetização e à educação da população pobre. Seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido, é considerado um clássico na área. Já o sindicalista e líder seringueiro acriano Chico Mendes (1944-1988), assassinado em 1988 a mando de um  grileiro de terras por seu ativismo político, foi declarado patrono nacional do meio ambiente com a sanção da Lei 12.892, de 2013 (ao fim desta reportagem veja um infográfico com informações sobre os principais patronos brasileiros).

Paulo Freire, patrono da educação brasileira (foto: Arquivo Pessoal)

Mas o que é ser um patrono? Por definição, o título destina-se a alguém que defende uma causa, um ponto de vista. Pode ser um escritor, cientista ou artista escolhido pela academia para ser o tutor de suas cadeiras. Ou ainda um criador, padroeiro, protetor ou representante de uma ideia ou até mesmo da sua classe. 

A escolha dos patronos no Brasil muitas vezes é feita por senso comum e popular. Mas para se tornar oficial, o título deve ser aprovado em lei pelo Congresso.

O consultor legislativo do Senado Francisco José Coelho Saraiva aponta que a patronagem deve ter sentido cívico e ser vinculada a uma personalidade com passado histórico que seja relevante para o presente.

— São as pessoas do presente que se voltam para alguém que atuou, no passado, de um modo marcante e exemplar dentro de determinado âmbito, passando tais pessoas, na medida em que integram o referido âmbito, a ficar sob sua proteção ou tutela. A concessão do título de patrono se faz sempre por meio de uma releitura do passado, que tem por crivo valores culturais e políticos do presente — explicou Francisco, que se dedica à área de cultura e esporte.

Francisco: A concessão do título se faz sempre por meio de uma releitura do passado (foto: Sandro Alves)

A lei que estabelece critérios para a outorga do título de patrono ou patrona (Lei 12.458, de 2011) considera que a honraria deve ser destinada como uma forma de homenagem a pessoas que se destacam ou representam determinadas categorias como unidades militares, classes profissionais, ramos do conhecimento ou artes, academias e instituições, movimentos sociais e eventos culturais, científicos ou de interesse nacional.

Senado

As linhas de Oscar Niemeyer (1907-2012), que recebeu em vida o título de patrono da arquitetura brasileira (Lei 11.117, de 2005), são inconfundíveis na cúpula que abriga o Plenário do Senado e também em seu interior. Na grande parede em aço e espelhos atrás da mesa da Presidência, há espaço para um crucifixo e, em tamanho maior, o busto em bronze do jurista, jornalista, diplomata, escritor e político Ruy Barbosa (1849-1923).

Tamanha distinção se deve ao fato de o baiano Ruy ser patrono do Senado e da advocacia. Ele foi o primeiro ministro da Fazenda e da Justiça do período republicano, representou o Brasil na Conferência de Haia de 1907, que estabeleceu importantes normas de direito internacional, e foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL), que presidiu entre 1908 e 1919. Sua data de nascimento, 5 de novembro, marca o Dia da Ciência e Cultura.

Cúpula do Senado e Niemeyer (acima) e busto de Ruy Barbosa com crucifixo acima no Plenário (fotos: Pedro França/Agência Senado, Roger Pic e Jefferson Rudy/Agência Senado)

Pioneiro

Em 1959 o Congresso Nacional aprovou a primeira lei dando a uma personalidade o título de patrono. O ex-deputado federal alagoano Aureliano Cândido Tavares Bastos (1839-1875) foi designado patrono dos municípios brasileiros (Lei 3.555, de 1959).

Além de ter sido o parlamentar mais novo em sua legislatura, eleito aos 22 anos de idade, Tavares Bastos foi escritor, jornalista, doutor em direito e um dos pioneiros na defesa da pauta federalista e da independência dos municípios.

Um dos nomes mais conhecidos da história do país, o do inconfidente mineiro Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), só recebeu o título de patrono da nação brasileira em 1965, em plena ditadura  (Lei 4.897, de 1965). Tiradentes também é patrono das polícias militar e civil de todo o país.

Para o consultor Francisco, a escolha do herói popular Tiradentes pelos militares teve o propósito de "legitimar a ditadura".

— Essa lei tinha um claro propósito de buscar certa legitimação para a recém-implantada ditadura militar, trazendo a si o símbolo de um herói popular, que atuou contra os poderes coloniais constituídos e foi por eles martirizado, tornando-se, com a proclamação da República, um dos símbolos máximos do heroísmo pátrio. 

Francisco lembra ainda que, curiosamente, quando o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves foi criado como marco da redemocratização do país na Praça dos Três Poderes, em Brasília, não foi o nome de Tancredo, mas sim o de Tiradentes a ser primeiramente inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Tirandentes ante o Carrasco, tela de Rafael Falco (foto: Reprodução)

Para o senador Carlos Viana (PL-MG), Tiradentes espelha "o sentimento da população que conhece a história e não aceita a imposição, a tirania ou injustiças com relação àqueles que trabalham e produzem". O alferes se tornou o primeiro herói brasileiro após a Independência, em 1822, pela participação na Inconfidência Mineira, movimento separatista contra o domínio português.

— Em Minas Gerais nós prezamos muito a história da liberdade —, diz Viana, que ressalta a importância da patronagem como reconhecimento e agradecimento pelos atos do homenageado.

Para Viana, o título de patrono é um reconhecimento pelos atos do homenageado (foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura militar, Tancredo Neves (1910-1985) só ganhou o título de patrono da redemocratização no ano passado (Lei 14.371, de 2022). Advogado, empresário e político, Tancredo de Almeida Neves foi deputado estadual, deputado federal por quatro legislaturas, senador, ministro da Justiça e Negócios Interiores no governo de Getúlio Vargas, primeiro-ministro no governo João Goulart, governador de Minas Gerais e presidente da República eleito pelo Colégio Eleitoral (formado pelas duas casas do Congresso) em 15 de janeiro de 1985. No entanto, em 14 de março, véspera da posse, adoeceu gravemente e morreu em 21 de abril aos 75 anos. Seu companheiro de chapa, José Sarney, assumiu a Presidência e completou o mandato em 1990.

Tancredo só ganhou o título de patrono da redemocratização em 2022 (foto: Reprodução)

Conhecido no Brasil como "o pai da aviação", Alberto Santos-Dumont (1873-1932) ganhou o título de patrono da Aeronáutica (Lei 7.243, de 1984). O inventor e aeronauta foi o primeiro a projetar e construir um balão dirigível que decolou, contornou a Torre Eiffel e aterrizou valendo-se da força de um motor a gasolina. Em 1906, em Paris, Santos Dumont voou com o 14-Bis, avião projetado e construído por ele. O "aparelho mais pesado que o ar" decolou e pousou com um motor de 50 cavalos na presença de integrantes da Comissão Oficial do Aeroclube da França. O título de inventor do avião é disputado por outros aviadores, como os norte-americanos irmãos Wright. No entanto, seu voo em 1903, anterior ao de Santos Dumont, saiu do chão com a ajuda de uma catapulta. O brasileiro também é o inventor do relógio de pulso.

Santos Dumont decola no 14-Bis, em Paris (foto: Domínio Público)

Mesmo contemporânea, a Lei dos Patronos sofreu uma alteração recentemente. A Lei 13.933, de 2019, definiu que o título de patrono só pode ser atribuído a quem tiver morrido há mais de dez anos. O autor do projeto que originou a norma, senador Lasier Martins (Podemos-RS), explica que a lei, da forma que vigorava, perdia sua autenticidade e seu simbolismo, já que a mudança se aplicava também para as inclusões no Livro Heróis e Heroínas da Pátria.

— Em nosso país, existe a nada meritória tradição de que pessoas vivas se aproveitem de certas brechas legais para a promoção pessoal, algo nada condizente com a valorização de ideais éticos e morais — disse.

Lasier é autor do projeto que mudou a Lei dos Patronos (foto: Pedro França/Agência Senado)

Com uma extensa lista de homenagens a personalidades masculinas, o Brasil tem apenas duas mulheres nomeadas patronas: Rose Muraro, do feminismo (Lei 11.261, de 2005), e Carmen Portinho, do Urbanismo, (Lei 14.477, de 2022). Nascida em 1903 em Corumbá (MS), Carmen Velasco Portinho (1903-2001) foi engenheira geógrafa, engenheira civil, urbanista e professora de matemática. Ao lado de Bertha Lutz, Jerônima Mesquita e Stella Durval, fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Carmen ocupou o cargo de engenheira-chefe na Diretoria de Obras da Prefeitura do Distrito Federal em 1934 e também se tornou diretora do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1951. Foi ainda uma das fundadoras da Revista Diretoria de Engenharia, cuja primeira edição foi publicada em 1932. O periódico foi uma das publicações mais importantes sobre arquitetura moderna no Brasil. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), relatora do projeto que originou a homenagem a Carmen (PL 1.679/2022), destacou a importância da sufragista no urbanismo brasileiro e na busca pela defesa de temas caros ao movimento feminista.  que é a personalidade mais recente a receber o título.

— Na vanguarda da profissão, como uma das três primeiras mulheres a se formarem engenheiras no Brasil, ela abria espaço em um campo de estudo com domínio inteiramente masculino — disse Eliziane na sessão que aprovou a proposta, em agosto do ano passado.  

Carmen Portinho e Eliziane Gama, relatora do projeto que originou a lei (fotos: Arquivo Nacional e Roque de Sá/Agência Senado)

Considerada uma das mais importantes pioneiras do feminismo no Brasil, Rose Marie Muraro (1930-2014) foi uma escritora, intelectual e líder do movimento dos direitos da mulher. Sua obra mais conhecida, de 1983, A Sexualidade da Mulher Brasileira, foi um dos poucos trabalhos sobre o tema até então no país.  

Rose Muraro: pioneira do feminismo (foto: Arquivo Nacional)

Atualmente existem quatro projetos de lei que pretendem patronar cidadãos brasileiros. Entre eles, está a proposta que nomeia o ex-piloto tricampeão da Fórmula 1, Ayrton Senna (1960-1994), como patrono do esporte brasileiro (PL 2.793/2022).

Ayrton Senna pode se tornar patrono do esporte (foto: Instituto Ayrton Senna)

O texto, que já foi aprovado pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), ainda precisa ser votado no Plenário e na Câmara. O relator da proposta, senador Dário Berger (PSB-SC), descreve Senna como um ídolo nacional que representava as esperanças de um povo carente de vitórias e grandes conquistas. 

"Ele proporcionava a alegria das manhãs de domingo, a certeza da vitória. E, em cada conquista, fazia questão de demonstrar o seu orgulho de ser brasileiro", escreve Dário no relatório.

 

Veja quem são os principais patronos brasileiros

Um total de 30 personalidades tiveram os nomes aprovados por lei pelo Congresso e se tornaram patronos de suas áreas. Mas o número de patronos no Brasil é bem maior porque muitos foram lançados por meio de decretos presidenciais, como o do imperador Dom Pedro II, criador do primeiro Corpo de Bombeiros do Brasil e por isso elevado à condição de patrono dos bombeiros militares, em 1955, no governo de Getúlio Vargas. Clique nos nomes abaixo e conheça mais sobre os patronos aprovados pelo Congresso.

Tiradentes (1746-1792) foi membro ativo da Inconfidência Mineira, conjuração que tentou levar a cabo uma revolta contra os portugueses no final do século 18. Foi capturado e condenado à morte por traição à coroa portuguesa em 1792. Enforcado e esquartejado em 21 de abril do mesmo ano, tornou-se um mártir da luta pela independência do Brasil.
Apelidado de "O Pacificador" e "O Marechal de Ferro", Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880), o duque de Caxias, foi militar, político e monarquista. Permaneceu leal ao imperador Pedro I e serviu como mestre de armas de Pedro II. Em 1866, foi nomeado comandante-chefe na Guerra do Paraguai. Com a tomada de Assunção, em 1869, Caxias deu por encerrada sua participação na guerra.
Joaquim Maria Machado de Assis (1839- 1908) é considerado por críticos, estudiosos, escritores e leitores o maior nome da literatura brasileira. Negro, ficou conhecido pela ironia, pelo humor e pela sátira. Sua obra trata de temas como a sociedade brasileira, a política, a religião e a condição humana. Alguns de seus livros mais famosos são Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba. Foi membro fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) foi presidente da República de 1956 a 1961. É lembrado pela campanha desenvolvimentista "50 anos em 5" e pela construção de Brasília. Antes de iniciar a carreira política, Juscelino se formou em medicina e se especializou em urologia, em Paris. De volta ao Brasil, atuou como médico cirurgião junto às tropas mineiras que lutavam contra os paulistas, na Serra da Mantiqueira, durante a Revolução Constitucionalista de 1932.
Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho (1907-2012) é considerado um dos maiores profissionais da arquitetura moderna. Entre 1940 e 1944, projetou, por encomenda do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, que se configura como marco de sua obra. JK o chamou para construir Brasília ao lado do urbanista Lucio Costa. Foi responsável pelos prédios e monumentos mais famosos da capital, como o Congresso Nacional, o Palácio da Alvorada e a Catedral Metropolitana. Também projetou prédios importantes em todo o mundo, como a sede do Partido Comunista Francês, em Paris, e o Centro Cultural Principado de Astúrias, em Avilés, na Espanha. Ao lado do arquiteto franco-suíço Le Corbusier, projetou o prédio da ONU em Nova York.
Graduado em direito, Tancredo de Almeida Neves (1910-1985) iniciou sua carreira política como vereador de São João del Rei (MG). Foi eleito deputado estadual, deputado federal por seguidos mandatos, ministro da Justiça e dos Negócios Internos no governo de Getúlio Vargas, senador, primeiro ministro no governo de João Goulart e governador de Minas Gerais. Participou da campanha das Diretas Já e foi eleito o primeiro presidente da República civil após a ditadura militar pelo Colégio Eleitoral, formado por Câmara e Senado, em 15 de janeiro de 1985, mas morreu antes da posse, em 21 de abril do mesmo ano. Seu vice, José Sarney, assumiu a presidência. 
Francisco Alves Mendes Filho (1944-1988) foi um seringueiro, sindicalista e ativista político. Defensor ativo da causa ambiental, lutou contra a destruição da Floresta Amazônica por madeireiros. Foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC). Em 1988, Chico Mendes foi assassinado por um grileiro de terras local. A morte teve repercussão internacional e ajudou a despertar a consciência sobre a importância da preservação do meio ambiente.
Aleijadinho (1738-1814) é considerado o maior representante do barroco mineiro, sendo conhecido por suas esculturas em pedra-sabão, entalhes em madeira, altares e igrejas, como as capelas do Convento de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em São João Del Rei. Aleijadinho sofria de uma doença que o deixou com dificuldade para se mover, o que o obrigou a trabalhar sentado e usar ferramentas especiais para continuar a criar esculturas.
Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954) foi líder da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, depondo seu 13º e último presidente, Washington Luís, e impedindo a posse do presidente eleito em 1º de março de 1930, Júlio Prestes. Após tomar posse por meio de um golpe de Estado, foi presidente da República de 1930 a 1945. Em 1951 voltou à Presidência eleito e ficou até 1954. É lembrado por reformas importantes durante seu governo, incluindo a criação de leis trabalhistas que promoveram avanços como jornada de trabalho limitada, férias remuneradas e licença por doença. Vargas também foi responsável por criar o Ministério do Trabalho. Foi defensor da industrialização e do desenvolvimento econômico. Cometeu suicídio no ano de 1954, com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
Um dos mais importantes teóricos da educação do século 20 e conhecido pela abordagem crítica e participativa do processo de ensino e aprendizagem, Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) é autor de diversos livros sobre educação, incluindo Pedagogia do Oprimido, considerado um clássico na área e foi traduzido para vários idiomas. Freire defendia a ideia de que a educação deve ser um meio de libertação e de transformação social, e que os estudantes devem ser encorajados a participar ativamente do processo de ensino e aprendizagem.
Engenheira geógrafa, engenheira civil, urbanista e professora de matemática, Carmen Velasco Portinho (1903-2001) foi uma das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em 1922, movimento integrado ao sufragismo internacional, que buscava igualdade entre os sexos e independência da mulher. Carmen foi também engenheira-chefe na diretoria de obras da prefeitura do Distrito Federal e diretora do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Considerada uma das pioneiras do feminismo no Brasil, Rose Maria Muraro (1930-2014) foi uma intelectual e escritora que atuou na defesa da democracia e da mulher. Estudou física e economia, é autora de mais de 40 livros e atuou como editora em 1,6 mil títulos, quando foi diretora da Editora Vozes. Recebeu do Senado os prêmios Teotônio Vilela, em 1999, e Bertha Lutz, em 2008.
Engenheiro e político, Mário Covas Júnior (1930-2001) ajudou a fundar o MDB, único partido político de oposição no período da ditadura militar. Foi cassado em 1969, com a outorga do AI-5. Com a reconquista dos direitos políticos, participou das Diretas Já e foi eleito deputado constituinte. Foi governador de São Paulo (1995-2001) e promoveu medidas para desenvolver o turismo no estado, incluindo a modernização da infraestrutura e a criação de programas de incentivo ao setor. 
Foi uma das poucas personalidades a receber o título de patrono ainda vivo. Morreu de câncer pouco tempo depois da homenagem. 
Nilo Peçanha (1867-1924) assumiu a Presidência da República após a morte de Afonso Pena, em 1909 e governou até 15 de novembro de 1910. Em seu curto governo, promoveu a educação profissional e tecnológica , criou o Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI, antecessor da Funai) as Escolas de Aprendizes e Artífices, precursoras dos atuais Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefets) e o Instituto Nacional de Tecnologia.  
 
Antropólogo, escritor, político, sociólogo, professor universitário, Florestan Fernandes (1920-1995) é considerado um dos mais importantes intelectuais da esquerda no país. Ficou conhecido por sua contribuição à análise da sociedade brasileira, especialmente sobre a questão racial e social. Defendeu a tese de que o Brasil era uma sociedade plural, composta por vários grupos étnicos e raciais, e argumentou que a desigualdade social no país estava ligada à discriminação racial.
Eduardo Gomes (1896-1991) fez sua carreira no Exército até o posto de coronel. Em 1935, comandou o 1º Regimento de Aviação contra a Intentona Comunista. Em 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, foi promovido a brigadeiro. Participou da organização e construção das Bases Aéreas que atuaram no esforço dos aliados na Segunda Guerra MundialTambém foi candidato presidente da República por duas vezes, não vencendo as eleições. Eduardo Gomes foi um dos líderes da campanha pelo afastamento de Vargas após o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, em agosto de 1954. Com o suicídio de Vargas, assumiu o Ministério da Aeronáutica no governo de Café Filho. Em 1964, participou do golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart.
Nelson Freire Lavenére-Wanderley (1909-1985) foi um dos pioneiros do Correio Aéreo Nacional (CAN), participando, como tenente, do primeiro voo do Correio Aéreo Militar, em 12 de junho de 1931. Participou da Segunda Guerra Mundial, no Primeiro Grupo de Aviação de Caça. Foi ministro da Aeronáutica entre abril e dezembro de 1964 e foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas entre 1966 e 1968. Também foi historiador da Força Aérea e estudioso de estratégia militar.
O brigadeiro Jeronymo Baptista Bastos (?-1987) chefiou a delegação brasileira na Copa do Mundo de 1970, no México. Foi vice-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e também representou a extinta Confederação Brasileira de Desportos (CBD) nos Jogos Olímpicos de Roma (1960), de Tóquio (1964) e do México (1968), foi empossado na presidência do Conselho Nacional de Desportos (CND) em 1970 por indicação do presidente Médici.
Escritor, jornalista e doutor em direito e político, Tavares Bastos (1839-1875) foi deputado por Alagoas. Militou contra a centralização do Segundo Reinado em favor de um modelo de governo como o norte-americano. Morreu aos 36 anos e foi homenageado por ter sido um dos pioneiros na defesa da pauta federalista e da independência dos municípios.
Considerado um dos mais renomados intelectuais brasileiros do século 20, Milton Almeida dos Santos (1926-2001) foi um geógrafo, escritor, cientista, jornalista, advogado  e professor. Ganhou diversos prêmios, entre eles o prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud. Sua obra é publicada em diversas línguas e dedica-se sobretudo à problemática de urbanização dos países em desenvolvimento, à pobreza e à geografia da globalização.
Augusto Ruschi (1915-1986) foi um agrônomo, naturalista e ecologista, tornando-se um respeitado especialista em beija-flores e orquídeas do Brasil. Também deixou grande coleção de fotografias e produziu inúmeros desenhos científicos. Foi professor e pesquisador em diversas instituições, como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ruschi foi um defensor ativo da conservação da natureza e da preservação da biodiversidade e um dos primeiros a alertar para a importância da Amazônia e da Mata Atlântica. 
Antônio Carlos Gomes (1836-1896) é considerado o mais importante compositor de ópera do Brasil. Teve carreira de destaque na Europa e foi o primeiro compositor brasileiro a ter uma obra apresentada no Teatro Scala de Milão, na Itália. É autor da ópera O Guarani, baseada no romance de José de Alencar.
Engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto de Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Tércio Pacitti  (1928-2014) participou da criação do primeiro Centro de Computação da Aeronáutica, em meados dos anos 1960, no Rio de Janeiro. Também foi o primeiro reitor militar do ITA, entre 1982 e 1984, quando criou o Curso de Engenharia da Computação. Tércio Pacitti ainda chefiou a Diretoria de Engenharia da Aeronáutica e trabalhou na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), onde fundou o Departamento e o Curso de Informática Aplicada.   
O tenente-coronel Aldo Augusto Voigt (1942-2001) foi oficial especialista em controle de tráfego aéreo. Destacou-se no processo de migração dos centros de controle aérea do Rio de Janeiro, e São Paulo e de Brasília para as novas instalações do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de de Tráfego Aéreo (Cindacta) I. Também reformulou e modernizou o curso de formação de oficiais especialistas em tráfego aéreo da Escola de Oficiais Especialistas e de Infantaria de Guarda, em Curitiba, participando da implantação do Cindacta II (Curitiba), em 1983.
Advogado, escritor e jornalista, o baiano Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1868) era filho de um fidalgo português com uma ex-escravizada. Foi vendido pelo próprio pai como escravizado quando tinha dez anos de idade. Autodidata, ele conquistou judicialmente a própria liberdade aos 17 anos. Ingressou no curso de direito na Universidade de São Paulo (USP), mas, por ser negro, só pôde assistir às aulas como ouvinte. Posteriormente conseguiu uma carta de advogado e, com o conhecimento adquirido, defendeu e libertou na Justiça mais de 500 negros escravizados. Gama também foi ativista político e projetou-se na literatura em função de seus poemas, nos quais satirizava a aristocracia e os poderosos da época.
Tenente-coronel Jorge da Silva Prado (1921-1991) foi especialista em armamento e dedicou toda a sua carreira à área de material bélico. Também foi chefe da Seção de Material Bélico do 1º Grupo de Caça na campanha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. 
Theodor Amstad (1851-1938) foi um padre jesuíta suíço que chegou ao Rio Grande do Sul em 1885 e prestou assistência econômica, social e cultural a colonos agrícolas de origem germânica na então província gaúcha. Foi responsável pela primeira cooperativa da América do Sul, a Caixa Rural de Nova Petrópolis (RS), na área de crédito, criada em 1902, que está em funcionamento até hoje. No ano seguinte, elaborou as primeiras diretrizes para a constituição de cooperativas, antes mesmo que o governo brasileiro editasse a primeira legislação sobre o cooperativismo, em 1907.  
Paulo Paquet Autran (1922-2007) formou-se em direito pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Mas foi no teatro que se destacou. Estreou sua primeira peça em 1947, incentivado pela também atriz Tônia Carreiro. Com um currículo de 90 peças, Autran também fez sucesso no cinema e na televisão, sendo lembrado até hoje pelo papel marcante na novela Guerra dos Sexos.
Alberto Santos Dumont (1873-1932) Santos Dumont foi responsável pelos primeiros balões dirigíveis com motor a gasolina. Projetou e construiu o primeiro avião motorizado que conseguiu decolar, voar e aterrissar de forma controlada. O voo do 14-Bis, em 1906, é considerado um marco na história da aviação. Santos Dumont também é conhecido por ter inventado o relógio e pulso e o primeiro dirigível controlável, chamado de Demoiselle, que foi usado como um protótipo para o desenvolvimento de dirigíveis modernos.
Dom Hélder Pessoa Câmara (1909-1999) foi arcebispo emérito de Olinda e Recife por 21 anos. Um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi grande defensor dos direitos humanos durante a ditadura militar. Desempenhou funções em organizações não governamentais, movimentos estudantis e operários, ligas comunitárias contra a fome e a miséria. Seu primeiro título veio em 1969, de doutor honoris causa pela Universidade de Saint Louis, nos Estados Unidos. Também recebeu vários prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Martin Luther King, nos Estados Unidos e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega. Foi o único brasileiro indicado quatro vezes a Prêmio Nobel da Paz.
José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) foi naturalista, poeta e político que teve papel decisivo na Independência do Brasil. Em 24 de dezembro de 1821, quando a Corte portuguesa determinou que Dom Pedro retornasse a Portugal, José Bonifácio escreveu uma carta pedindo que o príncipe regente ficasse no Brasil. Foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros entre 1822 e 1823. Proclamada a Independência, organizou a ação militar contra os focos de resistência à separação de Portugal. Foi demitido do posto, passou à oposição ao imperador e chegou a se exilar na França por seis anos. De volta ao Brasil e reconciliado com o imperador,  assumiu a tutoria de seu filho Pedro II. Permaneceu como tutor até 1833, quando foi demitido pelo governo da Regência, devido a disputas por poder dentre as facções que o compunham. Como mineralogista, José Bonifácio descobriu quatro minerais, incluindo a petalita, que mais tarde permitiria a descoberta do elemento lítio, e a andradita, batizada em sua homenagem.

 


Estagiário: Vinícius Vicente Lamb, sob supervisão de Patrícia Oliveira
Pesquisa e edição de fotos: Ana Volpe e Bernardo Ururahy
Edição: Maurício Müller
Infografia: Diego Jimenez
Imagem de capa: "Martírio de Tiradentes", de Aurélio de Figueiredo

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)