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Ao inaugurar a sonhada nova capital do Brasil, em 21 de abril de 1960, o presidente Juscelino Kubitschek, então com 58 anos incompletos e um infarto registrado no ano anterior, exibia o sorriso que caracterizaria para sempre a sua figura pública: de satisfação pelo cumprimento da "meta-síntese" do plano de governo apresentado em 1955 e de alívio, por tê-lo feito dentro do prazo prometido.
Suas artérias agradeciam a possibilidade de alargamento da avenida política desenvolvimentista.
A seu lado, a primeira-dama, D. Sarah, exalava um entusiasmo contido e sereno. Em todas as solenidades. Fosse envergando um mantô de veludo preto ou o vestido de seda bordado com cristais vidrilhos do baile de gala, tratava-se da mais elegante primeira-dama que o Basil já tivera — e teria, não fosse a concorrência com Maria Teresa Goulart, esposa do vice de Juscelino, Jango.
A pompa e circunstância da festa tinha, na multidão de brasileiros que chegaram de toda parte em caravanas, autoridades de cartola e candangos com suas melhores roupas, um caráter plural e democrático.
Ainda hoje a Praça dos Três Poderes, quando livre de cacofonia, reverbera esse alarido agradável dos anos dourados, quando o Brasil se modernizava e apostava no progresso, na civilização, na arte e na cultura.
Diretor-presidente da Casa de Juscelino, Serafim Jardim (85) é o guardião das memórias do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek (1902-1976). Localizado no alto de uma extensa e íngreme ladeira, no centro de Diamantina (MG), o pequeno, mas rico, museu está instalado na casa em que JK passou parte da infância e da adolescência, antes de seguir para Belo Horizonte, formar-se médico e depois seguir a carreira política. Ele foi primeiramente prefeito de Belo Horizonte (1940-1945) e governador do estado (1951-1955). O imóvel tem mais de 150 anos e foi restaurado em 1985 para sua conversão em memorial.
Jardim tornou-se próximo de Juscelino quando o presidente, já cassado pelos militares, voltou de seu exílio na Europa. O ex-assessor de JK é tão admirador do entusiasmo juscelinista que reúne vários grupos de visitantes todos os dias para recordar os feitos do ex-presidente no decorrer de sua também íngreme trajetória política, sua viagem de pós-graduação e conhecimentos a Europa — de onde voltou cheio de ideias —, seu ímpeto desbravador, seu gosto por obras de infraestrutura e projetos de arquitetura moderna, sua linha de conciliação política, espírito republicano e tolerância.
— Brasília foi sem dúvida a obra mais importante de Juscelino, à qual ele se dedicou por três anos e meio, sem descanso. É uma cidade fantástica! — diz Jardim em seu escritório, de onde avista o pé de jabuticaba, fruta preferida de JK, e faz novos planos para a instituição que dirige.
Entre fotos antigas, diplomas, cartas e capas de revistas, Serafim Jardim continua vendo em Brasília um pólo de desenvolvimento, como sonhava Juscelino, mas também a missão capital de aglutinar o país em torno de um projeto viável:
— Se eu tivesse de passar uma mensagem aos políticos de hoje seria: façam como JK e exercitem o diálogo, o entendimento!