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Fundação de Brasília: há 60 anos, país vivia clima de otimismo,modernidade e elegância

Nelson Oliveira
Publicado em 8/5/2020

Ao inaugurar a sonhada nova capital do Brasil, em 21 de abril de 1960, o presidente Juscelino Kubitschek, então com 58 anos incompletos e um infarto registrado no ano anterior, exibia o sorriso que caracterizaria para sempre a sua figura pública: de satisfação pelo cumprimento da "meta-síntese" do plano de governo apresentado em 1955 e de alívio, por tê-lo feito dentro do prazo prometido.

Suas artérias agradeciam a possibilidade de alargamento da avenida política desenvolvimentista.

A seu lado, a primeira-dama, D. Sarah, exalava um entusiasmo contido e sereno. Em todas as solenidades. Fosse envergando um mantô de veludo preto ou o vestido de seda bordado com cristais vidrilhos do baile de gala, tratava-se da mais elegante primeira-dama que o Basil já tivera — e teria, não fosse a concorrência com Maria Teresa Goulart, esposa do vice de Juscelino, Jango.

A pompa e circunstância da festa tinha, na multidão de brasileiros que chegaram de toda parte em caravanas, autoridades de cartola e candangos com suas melhores roupas, um caráter plural e democrático.

Ainda hoje a Praça dos Três Poderes, quando livre de cacofonia, reverbera esse alarido agradável dos anos dourados, quando o Brasil se modernizava e apostava no progresso, na civilização, na arte e na cultura.

A implantação da indústria automobilística, a conquista da Copa do Mundo, a projeção da Bossa Nova e o crescimento da produção cinematográfica estavam entre as conquistas do país no final dos anos 50 e início dos 60

Chegada da população para as solenidades de inauguração de Brasília na Esplanada dos Ministérios. Foto: Arquivo Público-DF


O mar de carros em volta do Palácio do Planalto revela mais que a liberalidade de um dia de festejos. Carros eram parte importante do modelo econômico e de um estilo de vida moderno. Foto: Arquivo Público-DF


A mobilização de crianças em torno de causas públicas era comum no princípio dos anos 60, dentro de uma linha de civismo alegre e gentil. Foto: Arquivo Público-DF


A faixa sobre o automóvel modelo 1911 reflete o ânimo dos brasileiros com um sonho que demorou para se concretizar. Foto: Arquivo Público-DF


A meca do desenvolvimentismo e do modernismo urbanístico e arquitetônico recebeu caravanas de todo o Brasil no dia de sua inauguração. O Brasil estava então unido em torno de um projeto para o presente e o futuro. Foto: Arquivo Público-DF


Brasília recebeu tantos visitantes ilustres antes de sua inauguração, que pode ser considerada o canteiro de obras mais chique da história. À esquerda o então ministro das Relações Exteriores, Horácio Lafer, com o governador da Bahia, Juracy Magalhães. Foto: Arquivo Público-DF


Juscelino Kubitschek no gesto mais repetido durante a inauguração de Brasília e depois imortalizado na estátua que o celebra no Memorial JK, monumento erguido em sua homenagem. Foto: Arquivo Público-DF


Juscelino faz pronunciamento em frente ao Palácio do Planalto por ocasião do hasteamento da Bandeira Nacional. Foto: Arquivo Público-DF


Juscelino, do PSD, e João Goulart, seu vice, do PTB, em frente o Palácio do Planalto, no dia da inauguração de Brasília. Naquele tempo, o vice podia ser eleito em chapa diferente daquela do candidato ao cargo principal. Foto: Arquivo Público-DF


O povo com olhar atento e esperançoso. A nova capital imprimiu um ânimo antes nunca experimentado no país: a confiança para enfrentar desafios em um ambiente democrático. Foto: Arquivo Público-DF


Acrobacias em frente ao prédio do Congresso Nacional. O gramado seria palco de grandes concentrações populares dali em diante. Foto: Arquivo Público-DF


Garoto se junta voluntariamente à participação de militares na solenidade na Praça dos Três Poderes: sinal de reverência, mas também de estar à vontade. Foto: Arquivo Público-DF


Juscelino e o vice João Goulart chegam ao Congresso para a sessão solene de inauguração das instalações do Legislativo, que pela primeira vez reuniriam num mesmo edifício a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Foto: Arquivo Público-DF


Já na tribuna da Câmara dos Deputados, Juscelino acena para os congressistas, que debateram intensamente o projeto de Brasília e o andamento das obras. Foto: Arquivo Nacional/Fundo Agência Nacional


Com o Plenário e as galerias lotadas, o Congresso Nacional, reunido na Câmara, recebe o presidente da República e seu vice para a abertura simbólica e festiva do processo político na nova capital. Foto: Arquivo Público-DF


JK chora durante a missa de inauguração de Brasília e recebe a solidariedade discreta do vice, João Goulart. Foto: Reprodução/Agência Brasília


Convidados se reúnem no Palácio do Planalto para a festa de gala da inauguração de Brasília. Foto: Arquivo Público-DF


Juscelino Kubitschek e D. Sarah na festa de gala da inauguração de Brasília. Assim como o presidente da Novacap, Israel Pinheiro (E), JK veste casaca. A primeira dama usa vestido desenhado pelo estilista Dener Pamplona. Foto: Reprodução/Memorial JK


Perfil

Diretor-presidente da Casa de Juscelino, Serafim Jardim (85) é o guardião das memórias do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek (1902-1976). Localizado no alto de uma extensa e íngreme ladeira, no centro de Diamantina (MG), o pequeno, mas rico, museu está instalado na casa em que JK passou parte da infância e da adolescência, antes de seguir para Belo Horizonte, formar-se médico e depois seguir a carreira política. Ele foi primeiramente prefeito de Belo Horizonte (1940-1945) e governador do estado (1951-1955). O imóvel tem mais de 150 anos e foi restaurado em 1985 para sua conversão em memorial.

Jardim tornou-se próximo de Juscelino quando o presidente, já cassado pelos militares, voltou de seu exílio na Europa. O ex-assessor de JK é tão admirador do entusiasmo juscelinista que reúne vários grupos de visitantes todos os dias para recordar os feitos do ex-presidente no decorrer de sua também íngreme trajetória política, sua viagem de pós-graduação e conhecimentos a Europa — de onde voltou cheio de ideias —, seu ímpeto desbravador, seu gosto por obras de infraestrutura e projetos de arquitetura moderna, sua linha de conciliação política, espírito republicano e tolerância.

— Brasília foi sem dúvida a obra mais importante de Juscelino, à qual ele se dedicou por três anos e meio, sem descanso. É uma cidade fantástica! — diz Jardim em seu escritório, de onde avista o pé de jabuticaba, fruta preferida de JK, e faz novos planos para a instituição que dirige.

Entre fotos antigas, diplomas, cartas e capas de revistas, Serafim Jardim continua vendo em Brasília um pólo de desenvolvimento, como sonhava Juscelino, mas também a missão capital de aglutinar o país em torno de um projeto viável:

— Se eu tivesse de passar uma mensagem aos políticos de hoje seria: façam como JK e exercitem o diálogo, o entendimento!



Reportagem: Nelson Oliveira
Pauta, coordenação e edição: Nelson Oliveira
Coordenação e edição de multimídia: Bernardo Ururahy