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Novembro Azul recomenda exames da próstata para prevenção de câncer

Isabela Vilar
Publicado em 11/11/2022

Por falta de informação, preconceito e até vergonha, muitos homens deixam de fazer exames que poderiam detectar o câncer de próstata a tempo de curá-lo. Prevenção e tratamentos bem-sucedidos, que dependem em boa medida da detecção precoce, são a chave para frear a estatística de quase 16 mil mortes ao ano causadas pela doença.

Na tentativa de reverter esses números, todos os anos a campanha Novembro Azul busca alertar para a necessidade dos exames preventivos. O esforço também mobiliza o Congresso Nacional, que ilumina seu edifício-sede na cor símbolo da campanha, realiza eventos alusivos ao Novembro Azul  e põe em discussão projetos de lei com o objetivo de esclarecer a população masculina sobre o problema.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil (29,2% dos tumores incidentes no sexo masculino), ficando atrás apenas do câncer de pele. Os números do instituto indicam 65.840 novos casos da doença em 2020 e 15.841 mortes registradas no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do ministério da Saúde.

A detecção precoce pode ser feita por meio de exames em homens com sintomas (diagnóstico precoce) ou sem eles (rastreamento). No último caso, o público-alvo é quem tem maior chance de desenvolver a doença. 

— Se há na sua família alguém que tenha tido câncer de próstata, você deve começar o preventivo mais cedo, a partir dos 45 anos. Se não tem nenhum histórico na família, aí, sim, você pode começar aos 50 anos. Na fase inicial da doença, a chance de cura definitiva beira os 95%, ou seja, a medicina pode vencer o câncer de próstata, desde que ele seja descoberto precocemente — lembra o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), médico urologista e incentivador de campanhas como o Novembro Azul.

O senador explicou como é feito o exame do toque retal, único meio de acesso não cirúrgico à disposição do médico para alcançar a próstata e sentir se há alterações no tamanho ou na consistência do órgão. O procedimento, segundo o senador, dura menos de dez segundos e é muito mais simples do que os exames ginecológicos preventivos feitos pelas mulheres.

Alterações indicadas pelo toque, mas também pelos exames clínico e de sangue, podem levar o médico a pedir outros mais complexos, como ressonância magnética e biópsia. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente por alterações percebidas pelo toque retal, o que reforça a necessidade de fazer esse exame.

Ainda segundo Ministério da Saúde, os homens devem procurar atendimento nas unidades básicas espalhadas pelo Brasil, a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). Entre as avaliações oferecidas pelo SUS estão: biopsia de próstata, ultrassonografia de próstata por via abdominal ou transretal e dosagem de antígeno prostático específico. Entre os exames para diagnóstico estão exames clínicos, laboratoriais, endoscópios e radiológicos.

Nelsinho Trad reforça a importância da realização de exames para o diagnóstico precoce da doença (fotos: Edilson Rodrigues/Agência Senado e Getty Images/iStockphoto)

Campanha

A campanha Novembro Azul foi lançada no Brasil em 2011 pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, organização social que se dedica a esclarecer a população sobre o câncer de um modo geral e as doenças cardiovasculares, além de fazer um trabalho voltado especificamente para a saúde do homem. A inspiração veio do Movember, evento que em vários países incentiva os homens a deixarem o bigode crescer como um sinal de conscientização sobre doenças masculinas e o suicídio. O nome Movember resulta de um jogo de palavras que mescla a partícula "mo", diminutivo de moustache (bigode, em inglês) e november (novembro). Intencionalmente ou não, a nova palavra acaba lembrando a ideia de movimento, ação (move).

De acordo com o instituto Lado a Lado, apesar das constantes campanhas de prevenção e alerta para a necessidade de exames, muitos homens com idade avançada ainda relutam em seguir as recomendações do rastreamento. O tema escolhido para a campanha em 2022 é #azultitude, para que eles se sintam incentivados a ter o protagonismo de sua saúde, cuidando dela de maneira integral.

— O câncer de próstata já mata homens o equivalente ao que o câncer de mama mata mulheres. O diagnóstico precoce salva vidas e a prevenção é o exame de próstata, no urologista — aconselha a senadora Zenaide Maia (PROS-RN), também médica.

Mais do que qualquer outro tipo de câncer, o de próstata é considerado um tumor da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos.

— É muito importante que os homens façam os exames periódicos porque o câncer de próstata é silencioso, ele evolui sem ser notado.  Aqueles que, como eu, já chegaram à chamada terceira idade, melhor idade, têm que ter mais atenção porque a doença é mais frequente a partir dos 65 anos. A única forma de garantir a cura do câncer de próstata é o diagnóstico precoce. Daí a importância da conscientização e da campanha realizada anualmente no mês de novembro — adverte o senador Paulo Paim (PT-RS). 

Pelo Twitter, o senador Jader Barbalho (MDB-PA) destacou recentemente o Novembro Azul,  mas lembrou que o homem deve cuidar da sua saúde sempre: “Novembro Azul é uma campanha de conscientização a respeito de doenças masculinas, com ênfase na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata. É fundamental cuidar da saúde o ano inteiro”.

As advertências em nível individual vão culminar em uma sessão especial sobre o Novembro Azul, proposta por Nelsinho Trad, com data ainda a ser confirmada.

Senadora Zenaide Maia e senadores Paulo Paim e Jader Barbalho: advertências individuais vão culminar em sessão especial sobre o Novembro Azul (fotos: Pedro França/Agência Senado, Marcos Oliveira/Agência Senado e Edilson Rodrigues/Agência Senado)

A doença

A próstata é uma glândula do tamanho de uma noz, cuja função é produzir o líquido seminal, que nutre e transporta os espermatozoides. Presente apenas nos homens, está localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, e envolve a parte superior da uretra, canal por onde passa a urina.

Quando um homem desenvolve câncer de próstata, as células dessa parte do corpo passam a ter um crescimento descontrolado, formando tumores. Esses tumores podem ser benignos ou malignos (câncer).

No início da doença, o paciente pode não apresentar sintomas. Quando há sintomas, os mais comuns são: dificuldade de urinar, demora para começar e terminar de urinar, sangue na urina, diminuição do jato de urina, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite.

De acordo com o Inca, adotar hábitos saudáveis pode ajudar a diminuir o risco de câncer.

Tratamento

O tratamento, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), varia de acordo com o estágio da doença, com as condições clínicas e com desejo do paciente. Entre as opções estão: cirurgia, radioterapia, vigilância ativa (acompanhamento do tumor), hormonioterapia, quimioterapia e radiofármacos. De acordo com o médico Marcus Vinícius Sadi, supervisor da Disciplina de Câncer de Próstata da SBU, os tumores são classificados em níveis que vão de 1 a 5. Nos primeiros níveis, há a opção de apenas acompanhar a evolução.

— Para a maioria dos tumores 1 e alguns 2, o início do tratamento pode incluir somente uma vigilância controlada, que será feita pelo urologista com exames clínicos, laboratoriais e de imagem, sem que isso promova perda de tempo no tratamento ou menor chance de cura em caso de progressão da doença. Há vários critérios a serem individualmente considerados para esses casos — explicou.

A radioterapia é um dos tratamentos empregados para o câncer de próstata (foto: Mark Kostich/Adobe Stcok)

Projetos

No Congresso, projetos tratam de ações e campanhas relacionadas à saúde do homem. Um deles é o PL 4.967/2020, da senadora Rose de Freitas (MDB-ES), que busca oficializar o Novembro Azul em lei. Além da iluminação de prédios públicos com luzes de cor azul, o projeto prevê a promoção de palestras, eventos e atividades educativas todos os anos durante o mês de novembro. A matéria ainda não foi distribuída a nenhuma comissão e ainda não tem relator.

Também em análise no Senado, o PL 3930/2021, do deputado Dr. Zacharias Calil (União-GO), que institui a campanha Novembrinho Azul. A intenção é fazer ações de conscientização e de proteção da saúde de meninos de até 15 anos de idade. O projeto, já a aprovado pela Câmara, está na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), onde aguarda a escolha de um relator.

Outro projeto, já aprovado pelo Senado, determina que as empresas devem fornecer boletins de informação aos empregados sobre o câncer de próstata e outros tipos da doença. De acordo com o PL 4.968/2020, o empregado também deverá ser informado sobre a possibilidade de deixar de comparecer ao serviço para fazer exames preventivos, sem prejuízo do salário, por até 3 dias, dentro do período de 12 meses. O projeto está na Câmara dos Deputados, onde aguarda a escolha de um relator na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP).

Senadora Rose de Freitas e o Congresso iluminado em referência ao Novembro Azul (fotos: Geraldo Magela/Agência Senado e Jefferson Rudy/Agência Senado)

Diabetes

Além de alertar para o câncer de próstata, o mês de novembro também é marcado pela campanha mundial de conscientização para o diabetes, o Novembro Diabetes Azul, já que em 14 desse mês é celebrado o Dia Mundial do Diabetes. A campanha começou em 2007 no Brasil, com iluminações de pontos turísticos em azul e eventos realizados por associações voltadas ao tema do diabetes.

O senador Alexandre Silveira (PSD-MG), autor de requerimento para uma sessão especial com o intuito de destacar o Novembro Diabetes Azul, explica que o objetivo é ressaltar os esforços dos agentes envolvidos na campanha, além de destacar o grave impacto da doença no Brasil, seus fatores de risco e suas potenciais complicações.

Senador Alexandre Silveira (foto: Pedro França/Agência Senado)

Para tornar oficial a campanha no Brasil, um projeto de lei em análise na Câmara busca alterar a Lei 13.895, de 2019, que instituiu a Política Nacional de Prevenção do Diabetes e de Assistência Integral à Pessoa Diabética. O PL 2122/2022, da deputada Rejane Dias (PT-PI), inclui a campanha entre as ações da política.

Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade apontam a doença como a quarta causa de morte no Brasil. O diabetes se caracteriza pela produção insuficiente de insulina ou a má absorção desse hormônio que regula a glicose no sangue e garante energia para o organismo. A insulina tem a função de quebrar as moléculas de glicose (açúcar) transformando-as em energia para manutenção das células do organismo. Quando crônica, a doença pode levar à cegueira, à insuficiência renal e ao surgimento de feridas que muitas vezes exigem até a amputação de dedos, pés e pernas.

Os principais sintomas de diabetes são:

  • Urinar excessivamente;
  • Sentir sede de forma constante
  • Apresentar aumento considerável do apetite
  • Perder peso significativamente
  • Cansar-se com facilidade
  • Ter a vista embaçada ou turva
  • Ser acometido de infecções frequentes, principalmente na pele

Reportagem: Isabela Vilar
Produção: Débora Brito
Edição: Nelson Oliveira
Pesquisa de fotos: Ana Volpe
Edição de fotos e multimídiaBernardo Ururahy
Foto de capa: kleberpicui - stock.adobe.com

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)