Quer receber notificações do portal Senado Notícias?
Faz exatamente cinco anos que o Senado deu início a um projeto de comunicação que busca descomplicar e popularizar a história do Brasil. Trata-se do Arquivo S, uma seção mensal do Jornal do Senado e do Portal Senado Notícias que apresenta episódios decisivos do passado pelo ponto de vista do Poder Legislativo (veja vídeo sobre o Arquivo S no fim desta reportagem).
A matéria-prima das reportagens do Arquivo S é extraída de documentos históricos guardados no Arquivo do Senado: os discursos proferidos, os debates travados e os projetos de lei redigidos pelos senadores ao longo dos últimos dois séculos, no Império e na República.
O Arquivo S é publicado todo mês, sempre na primeira segunda-feira. Ao fim de cada ano, as reportagens são compiladas num livro. A coleção acaba de ganhar o quarto volume. As obras são vendidas, a preço de custo, na Livraria do Senado. As versões on-line podem ser baixadas gratuitamente no site da Biblioteca do Senado.
Desde a estreia, em junho de 2014, o Arquivo S abordou 57 momentos históricos diferentes. Uma das reportagens apresentou o Código de Menores, lei de 1927 que fixou a maioridade penal em 18 anos e acabou com o costume de mandar crianças e adolescentes para a cadeia ao lado de adultos. Outro texto mostrou que o presidente Eurico Gaspar Dutra decidiu fechar os cassinos do país em 1946 sob o argumento de que era preciso salvaguardar a moral e os bons costumes. A maioridade aos 18 anos e a proibição de jogos de azar valem até hoje.
O jornalista Eduardo Bueno, que é autor de best-sellers de história do Brasil e apresentador de um canal no YouTube, diz que a linguagem jornalística e os temas do Arquivo S ajudam a despertar nas pessoas a curiosidade pelo passado do país.
— Quando a história é apresentada como uma mera disciplina escolar, aquela sequência sem fim de nomes e datas, é natural que os jovens a vejam como mais uma chatice que vão ter que aturar até o fim do colégio. Mas, quando a história é mostrada como um processo dinâmico, intenso e cheio de aventura, os jovens começam a se interessar por ela, a curti-la, e a história passa a fazer parte da vida deles mesmo depois da escola. É o que eu faço, é o que o Arquivo S faz.
O canal do jornalista, chamado Buenas Ideias, tem quase 500 mil seguidores. Bueno recorreu ao Arquivo S para produzir um de seus vídeos mais recentes, a respeito do Palácio Monroe, antiga sede do Senado, no Rio. O palácio foi projetado para representar o Brasil na Exposição Mundial de Saint Louis, nos EUA, em 1904, e, depois de abrigar o Senado por décadas, foi demolido pela ditadura militar em 1976 de forma apressada e sem maiores explicações.
— O conhecimento do passado é essencial para exercermos a cidadania — continua Bueno. — A história é uma ferramenta que nos permite enxergar o caminho que nos trouxe até aqui e escolher de forma consciente o caminho que vamos seguir daqui em diante. Como diz aquele velho clichê, um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.
Reportagens do Arquivo S mostram que senadores pegaram em armas na Guerra do Paraguai e na Revolução Federalista e que o projeto da Lei Áurea precisou de apenas um dia para ser discutido e aprovado no Senado.
O Arquivo S, porém, não se limita aos temas clássicos da história. Há textos que tratam da vida cotidiana, como os embates em torno da Lei do Divórcio, em 1977, e outros que resgatam a raiz de questões que estão em pauta hoje, como o surgimento da Previdência Social, em 1923.
Muitas escolas já descobriram o Arquivo S. No Colégio Estadual Francisco Machado de Araújo, em Luziânia (GO), a professora de história Kilvia Alves de Oliveira recorre às reportagens quando percebe que os alunos de educação de jovens e adultos (EJA, o antigo supletivo) estão encontrando dificuldade para entender determinado episódio histórico no livro didático.
— O livro escolar às vezes conta a história de uma forma mais genérica, quase abstrata. O Arquivo S é diferente porque traz as falas e as impressões dos senadores sobre episódios históricos que eles mesmos viveram. Os alunos gostam muito porque é como se o passado ganhasse vida e se tornasse visível e até palpável — diz a professora.
O Arquivo S sobre as epidemias de febre amarela que varriam o Brasil na virada do século 19 para o 20 mostrou que a população da época ainda não entendia que o transmissor da doença era um mosquito. Num discurso, o senador Barata Ribeiro contou, com orgulho, ter batido a porta na cara dos agentes sanitários: “Selam-se todas as caixas d’água nas casas particulares, mas a minha faz exceção. Jamais consentirei que o pedantismo ignorante invada os limites da minha ação de chefe de família”.
— Passei a me interessar não só pela história, mas também pelo Senado e pela política. Fico atento quando aparece algum senador nos jornais da televisão, porque agora tenho noção do papel do Senado — conta o pedreiro Juarez Rodrigues de Souza, de 51 anos, um dos estudantes da escola estadual de Luziânia.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é graduado em história, afirma que o Arquivo S consegue cumprir a missão de descomplicar e popularizar a história do Brasil:
— Alguns dos meus colegas historiadores acabam se prendendo às exigências do meio acadêmico na hora de escrever, e isso pode dificultar a compreensão das pessoas comuns. Os jornalistas, ao contrário, escrevem com a liberdade e a paixão da alma. É por isso que eu gosto do Arquivo S e sou fã de jornalistas que escrevem sobre a história. A história só tem sentido quando é passada para as gerações que vêm depois.
Para comemorar o quinto aniversário do Arquivo S e o lançamento do quarto livro da coleção, a Secretaria de Comunicação e o Arquivo do Senado montaram uma exposição com vídeos, fotos e documentos de parte dos 57 episódios já abordados. Entre os papéis históricos em exibição, está o original da Lei Áurea, com a assinatura da princesa Isabel. A exposição, no Espaço Cultural Ivandro Cunha Lima, no Anexo I da Casa, pode ser visitada até o dia 28.